sexta-feira, dezembro 08, 2006

Esse papo é sério, garoto!

O que é que há?,
você ficou
com a cabeça oca
ou perdeu a medida
e passou a dar bandeira
que seu intento
é ser porra-louca,
cabeça-de-vento
e seguir na zorra
a vida inteira?,
ou será
que essa gorra
tá fazendo você
dormir de touca?,
nessa cabeça
não há massa cinzenta
ou a massa é muito pouca?,
o que é que há
nessa cabeça?,
traça traçando a razão?,
por isso,
quando você fala
exala a boca
essa fala fedorenta?,
o que é que há?,
fala pra mim!,
ou você
não sabe dizer
nem sim nem não?,
tudo bem...
curta o momento
que a juventude é curta,
mas,
não esqueça de crescer
cultivando o pensamento,
senão,
depois,
você vai bater cabeça
e arranjar galo,
vai encher a mão de calo
e não vai ganhar
nem pro arroz nem pro feijão!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Apesar

Apesar de ser
a tônica da família
a dureza crônica,
apesar
do branco
que dá no cardápio
bem na hora
que vem pra mesa,
apesar
da mobilidade da mobília
que do lar vai ao prego,
do prego volta ao lar
e no lar não se demora,
apesar
da maldade do larápio
que nem assim me alivia
e até tamanco
já tomou de mim,
apesar
de não ter seguro-saúde,
poupança
nem lembrança
de ter tido tutu no banco,
apesar
de não usar sapato amiúde
pra não gastar o furo,
apesar de ter miado
e virado bode
o gato que pus na luz,
apesar do botijão
que não pode
nem ouvir falar em gás
porque tem alergia,
apesar
dessa pobreza tenaz,
apesar
de ser um plebeu
que tem
um dia-a-dia medonho
e não tem
nem onde cair morto,
meu irmão,
da baronesa
eu não abro mão,
entorno até ficar torto,
aí,
parati saindo pelo ladrão,
eu encorno
e sonho que sou barão!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Por força da circunstância (O inferno é aqui)

Primeiro,
a circunstância
me fez fintar a escola,
questão de dinheiro,
de feijão e de arroz,
depois,
foi a vez da infância
que precisei driblar
no meio de tiroteio
que fez furo na bola
e pôs um fim no racha,
aí,
quando dei por mim,
já pulava muro
e corria de faixa
com um curumim
que já era andarilho
conhecido na comarca,
pois vivia na cidade
à custa de pistola
e de trouxinha e sacolé,
e não dava no pé
quando vinha a justa,
ele usava tênis,
e tênis de marca,
tinha celular moderno
e fazia filho
em menina da nossa idade
mal o fim da menarca
fazia dela mocinha,
e ria
de se mijar de tanto rir
quando falavam em inferno,
e dizia:
o inferno é aqui!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Auto-retrato

Sou essa figura,
mistura
de rábula e poeta menor
e meu dia-a-dia
é uma parábola chinfrim
escrita em gíria castiça,
mas,
é melhor assim
que com valquíria noviça
tocando sineta
atrás de mim
pra mostrar serviço,
é isso mesmo...
além disso,
sou essa loucura concreta
que me repleta
de mania e veneta
que nenhum dicionário cita,
sou sócio honorário do ócio
e da conversa fiada,
e partidário da dieta
da moela, do chouriço
da lingüiça e do torresmo
regada com muita cachaça,
aí,
cheio dela,
dou de achar graça à toa
e cismo de repetir
o que leio em banheiro de bar,
mas,
um aforismo sanitário
me fez descobrir
que o dinheiro
não é a saída de nada,
pelo contrário,
é a entrada pra vida boa,
bem,
além de prosaico,
sou feio, arcaico,
meio alheio
e não sou nada altivo,
vivo de camiseta,
calça de brim
e mocassim cambeta,
durmo e acordo tarde,
quando pinto e bordo
e o coração
fica tinto e encarde,
me ponho de molho na canção
e sonho de olho aberto,
se tudo anda certo demais
ou alguém me faz mercê
sem razão aparente,
fico cismado,
por fim,
meu camarada,
digo que tanto faz,
que não ligo pra nada,
mas,
tudo me afeta,
e assim
vou indo em frente,
quer dizer,
vou indo de lado
que atrás
vem vindo gente paca
e não sou babaca
de deixar o meu na reta!

Duelo de ditados

Quem ama o feio,
bonito lhe parece,
o ditado diz,
mas,
será que merece
a fama que tem?!,
bem,
sempre achei esse dito
meio infeliz,
não sei
o que me dava na telha
quando o ouvia,
mas,
olhava de esguelha
quem o ditado dizia,
aí,
outro dia,
numa entrevista,
um oculista afamado
esclareceu a questão:
“esse ditado
não condiz com a realidade,
na verdade,
quem ama vê com o coração
e o coração
não tem orelha nem nariz,
portanto,
não pode usar óculos
e, sem óculos,
o coitado não tem visão”,
e concluiu o doutor:
“pego meus pergaminhos
e rasgo em pedacinhos
se ficar provado
que não é cego o amor!”

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Espécie em extinção

Sou otário,
otário de todo,
tão otário
que preciso cochilar
com um olho aberto,
se fechar o outro olho,
é prejuízo certo,
mas,
não me dá estresse,
e tem mais,
sou o único otário que conheço,
por essa razão,
mereço o apodo:
“espécie em extinção”;
mas não tenho culpa não,
a culpa
é da atual malandragem,
malandragem predatória
e nossa história
não cita outra igual,
a culpa
é desse malandro parasita
que não orgulha
a malandragem original,
a culpa
é desse deplorável malandro
com vocação suicida
por falta de visão,
pois esbulha e arrasa o otário
sem contemplação
e vai esgotar o manancial,
apesar
de o otário ser renovável,
e pra esgotar
não mede esforço não,
é teco, xaveco, armação
e muita falta
que falta casa, comida,
escola, condução,
até bola falta...
e é tão sério o problema
que já afetou ecossistema
estrutura e conjuntura,
e já nem encontra eco
no nosso povo
a criação do novo Ministério,
o MECO,
Ministério da Educação
e da Cultura do Otário,
tão necessário
à salvação nacional!,
afinal,
quem é que solanca
e banca a banca?!,
de quem a banca
arranca o vil metal,
e o metal arranca aos mil?!,
e a banca nem se manca!