quinta-feira, agosto 31, 2006

Deu a louca no almanaque!

De fraque e cartola,
o Tarzã deita e rola
na porta de uma boate
e mora com uma dona
que tem uma irmã tranchã
que adora um cipó
e não se importa
que ele a chame de Jane;
sem a capa
e sem o mapa da mina,
o Mandraque teve pane
e acabou dando um nó
num jogo da segundona,
não arranjou o empate
e foi fazer faxina no xilindró
porque já levara a peita;
virou motobói o Jerônimo,
mas,
ainda não aceita,
ainda dói nele
não ser mais herói
já que o sertão virou mar
como previa a canção
e ele não aprendeu a nadar,
e vive com crise de asma,
de ansiedade e de saudade;
por causa de um homógrafo...
melhor dizendo,
de um homônimo
que não tem censura,
o Fantasma teve um baque
e virou um mané,
e noto que não tem mais claque
pra lhe pedir autógrafo
nem fotógrafo
querendo tirar foto da figura;
é...
deu a louca no almanaque!

Meus Santos tomam conta de mim!

Sou prolixo,
minha argumentação
é muito confusa
e me fixo
no que não é importante
quando dou explicação,
fico perplexo
diante de indagação
e já era o nexo,
minha conclusão
é simplória e difusa
e não é persuasiva o bastante,
não sou bom em evasiva,
escapatória ou escusa,
qualquer recusa
abala minha estrutura,
criatura estranha
me deixa sem fala
e mulher me acanha,
encabula e deixa tonto,
e tanto,
que faço firula idiota
e acabo entregando os pontos,
fico pálido
quando conto lorota,
esquálido quando minto
e rubro quando falo besteira,
fico disperso
e sinto tremedeira
em entrevista e discurso,
mas,
quando dou curso à inspiração
e descubro o artista,
meus Santos tomam conta de mim!,
e fico assim,
solto!,
de todo envolto
no verso e na canção!

Veja você

É coisa de tempos idos,
por causa de aposta,
o coitado do Arnaldo
ia ao vício dando início,
todavia,
foi ruim e pagou caro,
nos dois sentidos,
pois,
deu tapa num charo
com mais bosta de gado
do que manga-rosa,
ainda assim,
ficou doidão,
então,
entornou o caldo
e só fez o que não devia,
saiu de luva e capa de chuva
e era um dia encalorado,
chamou de uva e tesão
a baranga
que morava ao seu lado,
e perdeu a prosa
que foi vaiado até pelo marido,
como ficou esfomeado,
comeu paca
e gastou o que tinha
e o que não tinha,
e era unha-de-fome,
e tinha até alcunha,
Mão-de-Vaca,
depois,
decidiu dar um rolé,
todavia,
em vez de ir a pé,
bancou o bandido
e puxou um carango,
mas,
ficou apavorado
ao ver um samango
e pegou a contramão,
conclusão,
foi apanhado,
declarado culpado
e seu nome
lançado no devido rol,
e por anos e anos
viu o sol nascer quadrado,
mas,
veja você,
houve um lado bom,
com o início desastrado,
o coitado desistiu do vício!

terça-feira, agosto 29, 2006

Há dia da caça e dia do caçador

Há dia
em que a sorte
o caçador bafeja,
mas,
passa
e vem o dia
em que mais forte
é a sorte da caça,
assim sendo,
faz bem
quem agradece
e não despreza
nenhum favor,
por menor que seja,
faz muito bem
quem preza
quem o favor lhe fez
e o favor
nunca mais esquece,
e faz bem demais
quem favor faz
quando chega a sua vez,
como há dia da caça
e dia do caçador,
mesmo não sendo santo,
sei que é loucura
sair mal na foto
que essa foto dura,
não cai no esquecimento,
portanto,
e como não sou louco,
adoto esta postura:
sempre tento
fazer o que me cabe
sem parecer
santo de pau oco,
fazendo assim,
se precisar um dia,
quiçá o senhor
lembre bem de mim
e me faça um favor,
e quem sabe
seja um santo favor,
seja um favor e tanto!

segunda-feira, agosto 28, 2006

Você tem o monopólio de mim

Quando olho e não te vejo,
fico mal
porque o afogo
me toma e consterna,
me deixa de perna bamba,
é um tal de pré-coma,
segundo um amigo,
aí,
por mais
que todo mundo torça,
eu não ligo,
e meu samba
vai ficando sem raça,
graça e molejo,
quando olho e não te vejo,
eu fico sem força
que você
é minha inspiração,
e acabo bebendo,
e a bicha
dá cabo do meu fogo
que fica mixa que só vendo,
se jogo,
jogo por jogar,
é um jogo sem desejo,
e me dá aflição
só de pensar em prorrogação,
caramba!,
meu bem,
eu me rendo,
você tem
o monopólio de mim,
por isso,
quando olho e não te vejo,
ficamos assim:
sem viço meu samba
e eu
de perna bamba!

"Vai graxa, dotô?!"

Sou engraxate cem por cento
e repleto de tradição
porque de engraxate
sou rebento,
irmão, neto, genro,
e avô sou até
que engraxate
de caixa na mão
o filho do meu filho já é,
e peguei no ofício
inda guri,
pra ser mais exato,
guri inda bem tenro,
e logo no início
exibi o meu pendor,
e sei bem
que engraxate
se parece com o sapato,
depois que envelhece,
racha e perde o brilho,
mas,
o estribilho não esquece:
“Vai graxa, dotô?!”

Minha ladainha

“Sou safo em penca,
me safo
de encrenca e de rinha
com um pé nas costas,
e nas apostas sou favorito
que só faço bonito
e o povo faz fé em mim
qual faz
no ovo no da galinha!”,
é a ladainha
que repito dia após dia,
mas,
não acredito nem assim
e fico vermelho
mesmo se no espelho
não me fito
pois sei que é bafo,
bafo de boca,
que vacilo por besteira
e peço asilo
à primeira louca
que aparece,
em resumo,
moço,
eu assumo,
minha aptidão
pra ser safo
me enlouquece
que não me calo,
falo muitas e ruins
e das pessoas
ouço poucas e boas,
e minhas falhas
não são fortuitas
e algumas até são loucas,
exemplificando:
de vez em quando,
acho que são dálias
alguns jasmins!

sexta-feira, agosto 25, 2006

A filha da Amélia

Sendo muito sincero,
cri no pedigree
e decidi
me casar com Amália,
a filha mais velha da Amélia
que era mulher de verdade,
mas,
era armadilha
e recebi um castigo
que eu não quero
pro meu pior inimigo,
Amália não é mulher,
é um poço de vaidade,
e tanta tem,
que tem até
na hora da fome,
como é
uma anta também,
embora deteste,
espalha
que adora caviar,
até aí,
tudo bem,
mas,
ela acredita
e come no café,
no almoço e no jantar,
come e vomita,
além do mais,
Amália é uma peste,
se me vê contrariado,
não me poupa,
mais me amua
me deixando de lado
e indo pra rua farrear,
e vai quase nua
que a roupa é uma tira,
mesmo que você se fira,
Amélia,
eu preciso dizer,
sua mais velha
não saiu a você,
Amália é mulher de mentira!

A louca deu na patrícia

No início,
achei que era piada,
mas,
que nada!,
deu a louca mesmo
no seu Lucrécio,
e passou do linde
a loucura do patrício,
ele tá distribuindo
pura e torresmo de brinde
e vendendo loura gelada
com um bom desconto,
e o que mais assusta
é que quanto mais
eu bebo e fico tonto,
menos a loura custa,
é isso sim!,
e mais,
seu Lucrécio
não está mais servindo
tira-gosto passado
ou chouriço
com gosto ruim,
só serve
o que está fresco,
e sorrindo
tem aceitado pendura
e dado refresco ao freguês
ao cabo do mês,
e tá simpático
e com muita verve,
mas,
vejam vocês,
acabei descobrindo
que no patrício
não dera a louca não,
na verdade,
é só felicidade
e felicidade à vera,
a louca deu na patrícia
que do Lucrécio não tinha dó,
não só recorria à sevícia,
e passava pitos no pobre
na frente da gente,
como também
dele tirava o cobre
até o último vintém,
e ainda tinha
um quarto de tonelada,
na fachada,
um buço farto e ruço,
e em cada membro
muitos pêlos,
e tê-los
devia lhe dar prazer
que lembro
que exibia os ditos,
todavia,
a patrícia fugiu pra terrinha
com o Albânio,
um conterrâneo
estrábico e monossilábico,
e deixou o patrício
neste solo
e no colo da Tininha,
mulata que fecha o comércio
mais que traficante,
e é flagrante
que o patrício Lucrécio
tá feliz da vida,
se livrou do estrupício
e ficou
com a cachopa querida,
como ele mesmo diz,
e seu estabelecimento
vai de vento em popa,
só não sei afirmar
se é por causa
da loura barata
ou por causa
da mulata alucinante
que me doura o olhar!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Grêmio Recreativo Escola do Samba no Pé e do Pé no Chão!

O samba da nossa escola
tem garra pra sambar,
abre nosso caminho na marra
e sempre está
com toda a corda,
bandolim, cavaquinho,
guitarra, viola de gamba,
agora,
não há no nosso samba
histeria nem correria
que a gente não tem hora
pra sair nem pra chegar,
e é assim
que nosso samba
pinta e borda,
e é assim
que nosso bamba
pinta o sete
com o breguete,
a fatiota
que veste no dia-a-dia,
que não bota
fraque e cartola,
não que deteste,
é que não tem,
e o craque que vem
e sai na nossa escola
é o tal,
deita e rola com a bola
e se ajeita no samba
que não é fantasia
de revista e jornal,
e a rainha da bateria
é nossa passista mor,
sai de longo
e não anda na pista,
samba
como o figurino manda
e sabe de cor nosso hino,
na nossa escola
cabe gente do tango,
da valsa, do jongo,
gente que não tem
comida no bucho
e gente que na mesa
tem muito rango,
tem gente
bem e mal-vestida,
descalça,
sem calça e sem camisa,
a gente que vive de brisa,
nossa escola
tem beberrão e abstêmio,
ativo e passivo,
mas,
luxo e riqueza
nossa escola não tem não,
nossa escola é isso aí,
a escola
de quem ama o samba
e se chama:
Grêmio Recreativo
Escola do Samba no Pé
e do Pé no Chão!,
se quiser!,
meu irmão,
pode vir!

terça-feira, agosto 22, 2006

Onde já se viu?!

Era tão diferente
que duvido
que essa era
tenha sido real,
que esse tal
de antigamente
realmente tenha existido,
se não é mera quimera,
é besteira de sobejo,
ranço dessa mente
que ficou fraca e senil,
bonde!, realejo!, vaca-leiteira!,
francamente,
minha gente,
onde já se viu?!,
é caduquice absoluta
ver um Rio de Janeiro
com manso curso,
não poluído e piscoso,
e piscoso o ano inteiro,
e com flor, fruta e passarinho,
com Concurso
que escolhia a Misse
com muito requinte,
e a Misse
o pundonor não agredia,
e se dizia pundonor
sem provocar
arrepio no ouvinte,
com pelada em qualquer rua,
em qualquer terreno baldio,
e não era mulher nua,
com senhora
e cadeira na calçada
naquele ameno
finzinho de tarde
e se conhecia o vizinho,
e a gente se saudava,
“bom-dia”, seu Fulano,
e batia papo,
e era tanto papo
que a gente
esquecia da hora,
com ladrão de galinha
que furtava
em nome da fome,
e era tão chinfrim
que fazia alarde,
mais alarde
do que a bichinha,
uma cidade assim,
francamente,
onde já se viu?!,
é...
minha gente,
a insanidade anda a mil!

segunda-feira, agosto 21, 2006

Um amor e tanto

Nosso amor não é vulgar,
do bem amar sabe o sabor,
no nosso amor
não há desejo
a céu aberto
e véu e penumbra
também têm seu valor,
nosso amor
só se deslumbra
com o beijo certo,
beijo de paixão,
nosso amor
é amor de fato,
não é só esse tato
do amor de agora,
amor confundido com tesão,
embora não tenha hora,
nosso amor
só se espraia no ninho
que nosso amor
não se ateia no passeio,
caminho da multidão,
não chama atenção
na areia da praia,
não é um amor vândalo
que faz escândalo
no meio da grama da praça,
nosso amor
não é dessa laia,
nosso amor
tem a nossa graça
e graça somente nossa,
nosso amor
não necessita ser
publicamente concreto
nem é de fazer do prazer
simplesmente uma grita
insolente e devassa,
nosso amor
sabe perceber
carinho e carícia
num gesto modesto,
sabe ser
um olhar discreto
que só ele
é capaz de ver,
nosso amor
sabe saborear
o gemido indecente
que se geme baixinho
e a impudicícia dita
bem rente ao ouvido,
nosso amor é riso,
bastante riso,
o que não quer dizer
riso a todo instante,
e sabe ser pranto
quando é preciso,
pode ser
que alguém diga
que nosso amor
é um amor à antiga,
se é ou não,
eu não sei,
mas,
sei dizer
que nosso amor
é um amor e tanto,
é inundação de bem-querer!

sexta-feira, agosto 18, 2006

Alguém sabe?! (Carnaval aposentado)

Alguém sabe
da Chiquita Bacana
lá da Martinica?!,
alguém sabe se ela
inda é menina bonita?!,
se ela inda cabe na casca
de banana nanica?!,
alguém sabe
se ela inda engalana
algum Carnaval?!,
alguém sabe
se o pessoal
inda se derrete por ela
e tasca na Chiquita
confete e serpentina?!,
alguém sabe
se ela inda pula, dança,
anima bloco e cordão?!,
se ela ainda é o foco
que ilumina e agita o folião?!,
e se o folião
ainda cumula a Chiquita
de lança-perfume?!,
será que ninguém mais
chama por ela?!,
ninguém mais reclama?!,
ninguém mais assume
que ela faz falta?!,
será que só minh’alma
se assalta e perde a calma?!,
Chiquita Bacana
Lá da Martinica
Se veste com uma casca
De banana nanica
Chiquita Bacana...