sexta-feira, junho 27, 2008

Que de pomba tem feitio

O carioca da gema
nem por decreto tomba
e ao Rio é fiel
até debaixo d’água,
e não medra
com água de tromba
que chega ao teto
e arranha-céu afoga,
aquela tromba
que acompanha trovão
que provoca arrepio
até em coração de pedra,
agora,
carioca da gema
não rema contra vento e maré,
nessa situação,
desprega a vela ou pega jacaré,
e no momento do assalto
o carioca é ágil,
dialoga, conversa,
engambela o gajo
pra baixar o ágio,
e argumento tem paca,
mas,
não fala alto
nem adversa o ladrão,
e se cala quando é hora
que não é babaca
e com bala
não quer confusão,
o lema do carioca
é manter o timão na mão,
quer dizer, o Mengão,
e a barca em curso bom,
por isso,
não embarca
em ouriço e canoa furada,
nem se contamina
com discurso à-toa
de arauto do naufrágio
que se vacina
com piada e pilhéria,
carioca é assim,
brincalhão e risonho,
mas,
vá por mim,
frágil e pamonha
o carioca não é não,
se toca
com miséria e desdita
e levanta a grimpa,
se irrita
com lomba de vagabundo
que zomba do trabalho
e abarranca as águas do Rio,
o carioca é demais
e nas águas do Rio
vai fundo e garimpa,
esmiuça e fuça o cascalho
atrás do sonho que mais sonha,
a pepita branca
que de pomba tem feitio!

sexta-feira, junho 13, 2008

Flor da vida

Flor de ignorada semente
que na beira da calçada
de repente brota,
sua quota de sacrfício,
flor despetalada amiúde
de maneira estúpida
por algum passante,
flor cúpida e fragrante
por força do ofício,
ofício
por força da circunstância,
e fragrância forte e rude,
e diferente
pra cada sorte
de vício, de ânsia ou de prosa,
uma pra cada instante,
uma pra cada inquietude,
flor que se esgota
pétala a pétala,
nem margarida nem rosa,
flor da vida!

quinta-feira, junho 12, 2008

Saiba ventar

Vento apressado
do pomar
não leva bom fruto
e o lento leva o passado,
se quiser ser vento,
seja astuto
e saiba ventar,
não se descabele
nem se revele ventania
fora de hora e lugar,
e só cause avaria
em última instância,
e se não der pra evitar,
e cause
a menor que puder,
saiba ser vento,
pause e saiba calar
se de paz e calmaria
precisa o momento,
em janeiro,
saiba ser
aquela brisa
que venta
com constância
e o calor ameniza,
e saiba ser
o vento que avisa
e que venta
a toda brida
e com destemor
a vela engravida
e leva ao cais o veleiro
quando a tormenta está pra chegar!

É paixão?!

Que fogo na pele é esse
que não tem
reza que debele,
grito que amenize
nem reprise que apague?!,
que é capaz
de se valer de qualquer brecha
e de derreter qualquer marco?!,
que rogo da pele é esse
que não há zorrague
que faça calar?!,
que retesa mais que arco
pronto pra remessar flecha
e acertar ponto no infinito?!,
que faz barco largar o cais
e mergulhar em ressaca
sem vela nem remo?!,
que rogo?!,
que fogo é esse
que revela um ser
capaz de chegar ao extremo
de atacar com faca entre os dentes?!,
que em discrentes
é capaz de fazer nascer fé?!,
que desavergonha os mais inibidos
e os mais destemidos
faz tremer e pedir arrego?!,
que faz ficar risonha a criatura mais séria
e a mais acanhada abandonar a clausura?!,
que tira calma e sossego
e pelo avesso vira alma e coração?!,
e o preço
é não achar graça em mais nada
a não ser naquela figura
e até em pilhéria ruim contada por ela,
que queimação é essa
que teima em queimar
e que não passa
com ebó, oração e promessa?!,
que queimação é essa
que queima assim
e que só ela debela?!,
diga pra mim,
é paixão?!

terça-feira, junho 10, 2008

Festa assim não presta

Pode falar de mim,
pode falar
que está escrito
na minha testa
que sou drástico,
eu acato
que está escrito sim
que eu sou
quando trato deste assunto,
não topo festa
lotada de pivete,
seja novo e miúdo,
seja taludo e com topete,
aquele que se mete em tudo,
festa com cerveja morna
em copo de plástico,
e escoltada
por presunto deprimido
e ovo de codorna
abatido qual defunto,
e espetado num gambá
fantasiado de repolho,
e acompanhado
de molho cabeludo,
festa com croquete
carrancudo e rijo,
e o de queijo é chiclete,
festa em que não dá
pra achar conteúdo
em empada e pastel,
e o coquetel
pode ser xixi-de-anjo
ou mijo-de-querubim,
manjo de sobejo
esse tipo de festa,
pra mim,
não presta,
sendo assim,
evite me mandar convite,
agora,
se me convidar,
não tem problema,
no meu lugar,
vou mandar uma perua,
dona Moema,
a mãezinha da minha senhora,
ela adora conversar com a sua!

quarta-feira, junho 04, 2008

Estou feliz

Ninguém tem idéia
de como estou feliz,
estou tão feliz da vida!
que não rogo mais nada,
estou feliz
à maneira de guri
recém-saído da primeira
e já com a vista deitada no bis,
mais que artista
logo na estréia
pela platéia aplaudido
e aplaudido de pé,
mais feliz até
que torcida campeã
após a conquista do bi, do tri,
e no Maracanã, e no Morumbi,
estou feliz
como nunca estive,
estou feliz por todos nós,
mais feliz
que aquele cara
que vive de frozô
e não pára de rir
na capa da revista,
mais feliz
que vovô safadinho
que se esbalda
trocando fralda de netinho
entre as mãezinhas gostosinhas do Leblon,
tá muito bom,
tá bom demais,
estou mais feliz
que camelô
que dá um pique
e escapa do rapa
no meio da multidão,
mais feliz que bruega
de plantão em alambique,
mais feliz que ganhador
da Mega-Sena acumulada,
mais feliz que espanador
em mão de pequena fogosa,
estou mais feliz
que o sujeito feio e brega
que arranjou um jeito
de ganhar a Glória,
a morena
mais gostosa da parada,
mais feliz que sambista
após vitória na Sapucaí,
mais que o Lingote,
o sem pedigree que virou
mascote de açougueiro,
estou mais feliz
que turista estrangeiro
indo, vindo
e curtindo Copacabana
a preço de banana,
estou feliz sim,
feliz por mim,
por você, meu irmão,
por você, minha irmã,
feliz por toda a gente,
e mais feliz ainda
porque sei
que não mereço,
mas,
mesmo assim,
ganhei de presente
mais uma linda manhã!