sexta-feira, dezembro 08, 2006

Esse papo é sério, garoto!

O que é que há?,
você ficou
com a cabeça oca
ou perdeu a medida
e passou a dar bandeira
que seu intento
é ser porra-louca,
cabeça-de-vento
e seguir na zorra
a vida inteira?,
ou será
que essa gorra
tá fazendo você
dormir de touca?,
nessa cabeça
não há massa cinzenta
ou a massa é muito pouca?,
o que é que há
nessa cabeça?,
traça traçando a razão?,
por isso,
quando você fala
exala a boca
essa fala fedorenta?,
o que é que há?,
fala pra mim!,
ou você
não sabe dizer
nem sim nem não?,
tudo bem...
curta o momento
que a juventude é curta,
mas,
não esqueça de crescer
cultivando o pensamento,
senão,
depois,
você vai bater cabeça
e arranjar galo,
vai encher a mão de calo
e não vai ganhar
nem pro arroz nem pro feijão!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Apesar

Apesar de ser
a tônica da família
a dureza crônica,
apesar
do branco
que dá no cardápio
bem na hora
que vem pra mesa,
apesar
da mobilidade da mobília
que do lar vai ao prego,
do prego volta ao lar
e no lar não se demora,
apesar
da maldade do larápio
que nem assim me alivia
e até tamanco
já tomou de mim,
apesar
de não ter seguro-saúde,
poupança
nem lembrança
de ter tido tutu no banco,
apesar
de não usar sapato amiúde
pra não gastar o furo,
apesar de ter miado
e virado bode
o gato que pus na luz,
apesar do botijão
que não pode
nem ouvir falar em gás
porque tem alergia,
apesar
dessa pobreza tenaz,
apesar
de ser um plebeu
que tem
um dia-a-dia medonho
e não tem
nem onde cair morto,
meu irmão,
da baronesa
eu não abro mão,
entorno até ficar torto,
aí,
parati saindo pelo ladrão,
eu encorno
e sonho que sou barão!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Por força da circunstância (O inferno é aqui)

Primeiro,
a circunstância
me fez fintar a escola,
questão de dinheiro,
de feijão e de arroz,
depois,
foi a vez da infância
que precisei driblar
no meio de tiroteio
que fez furo na bola
e pôs um fim no racha,
aí,
quando dei por mim,
já pulava muro
e corria de faixa
com um curumim
que já era andarilho
conhecido na comarca,
pois vivia na cidade
à custa de pistola
e de trouxinha e sacolé,
e não dava no pé
quando vinha a justa,
ele usava tênis,
e tênis de marca,
tinha celular moderno
e fazia filho
em menina da nossa idade
mal o fim da menarca
fazia dela mocinha,
e ria
de se mijar de tanto rir
quando falavam em inferno,
e dizia:
o inferno é aqui!

terça-feira, dezembro 05, 2006

Auto-retrato

Sou essa figura,
mistura
de rábula e poeta menor
e meu dia-a-dia
é uma parábola chinfrim
escrita em gíria castiça,
mas,
é melhor assim
que com valquíria noviça
tocando sineta
atrás de mim
pra mostrar serviço,
é isso mesmo...
além disso,
sou essa loucura concreta
que me repleta
de mania e veneta
que nenhum dicionário cita,
sou sócio honorário do ócio
e da conversa fiada,
e partidário da dieta
da moela, do chouriço
da lingüiça e do torresmo
regada com muita cachaça,
aí,
cheio dela,
dou de achar graça à toa
e cismo de repetir
o que leio em banheiro de bar,
mas,
um aforismo sanitário
me fez descobrir
que o dinheiro
não é a saída de nada,
pelo contrário,
é a entrada pra vida boa,
bem,
além de prosaico,
sou feio, arcaico,
meio alheio
e não sou nada altivo,
vivo de camiseta,
calça de brim
e mocassim cambeta,
durmo e acordo tarde,
quando pinto e bordo
e o coração
fica tinto e encarde,
me ponho de molho na canção
e sonho de olho aberto,
se tudo anda certo demais
ou alguém me faz mercê
sem razão aparente,
fico cismado,
por fim,
meu camarada,
digo que tanto faz,
que não ligo pra nada,
mas,
tudo me afeta,
e assim
vou indo em frente,
quer dizer,
vou indo de lado
que atrás
vem vindo gente paca
e não sou babaca
de deixar o meu na reta!

Duelo de ditados

Quem ama o feio,
bonito lhe parece,
o ditado diz,
mas,
será que merece
a fama que tem?!,
bem,
sempre achei esse dito
meio infeliz,
não sei
o que me dava na telha
quando o ouvia,
mas,
olhava de esguelha
quem o ditado dizia,
aí,
outro dia,
numa entrevista,
um oculista afamado
esclareceu a questão:
“esse ditado
não condiz com a realidade,
na verdade,
quem ama vê com o coração
e o coração
não tem orelha nem nariz,
portanto,
não pode usar óculos
e, sem óculos,
o coitado não tem visão”,
e concluiu o doutor:
“pego meus pergaminhos
e rasgo em pedacinhos
se ficar provado
que não é cego o amor!”

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Espécie em extinção

Sou otário,
otário de todo,
tão otário
que preciso cochilar
com um olho aberto,
se fechar o outro olho,
é prejuízo certo,
mas,
não me dá estresse,
e tem mais,
sou o único otário que conheço,
por essa razão,
mereço o apodo:
“espécie em extinção”;
mas não tenho culpa não,
a culpa
é da atual malandragem,
malandragem predatória
e nossa história
não cita outra igual,
a culpa
é desse malandro parasita
que não orgulha
a malandragem original,
a culpa
é desse deplorável malandro
com vocação suicida
por falta de visão,
pois esbulha e arrasa o otário
sem contemplação
e vai esgotar o manancial,
apesar
de o otário ser renovável,
e pra esgotar
não mede esforço não,
é teco, xaveco, armação
e muita falta
que falta casa, comida,
escola, condução,
até bola falta...
e é tão sério o problema
que já afetou ecossistema
estrutura e conjuntura,
e já nem encontra eco
no nosso povo
a criação do novo Ministério,
o MECO,
Ministério da Educação
e da Cultura do Otário,
tão necessário
à salvação nacional!,
afinal,
quem é que solanca
e banca a banca?!,
de quem a banca
arranca o vil metal,
e o metal arranca aos mil?!,
e a banca nem se manca!

quarta-feira, novembro 29, 2006

Quero asas

Quero-quero,
tero-tero,
tem-tem,
quero ser sabiá,
sim-senhor!,
ser pixarro, joão-de-barro,
quero imitar minha voz
como tão bem faz o mainá
e parar no ar
em meio a um voejo
pra dar beijo em beija-flor,
quero ser
pombo mensageiro,
pombo-correio,
ser sobranceiro albatroz
sobre a imensidão do mar,
ser bem-te-vi,
tico-tico,
periquito-verdadeiro,
santo, rico,
qualquer periquito!,
quero tanto ser rolinha,
uiriri, coleiro, andorinha
mesmo que sozinha
não faça verão,
quero mesmo assim,
quero ter asas de xexéu,
asas de chapim,
quero voar sem susto
sobre espantalhos
e pousar justo no chapéu
que não há melhor lugar,
quero fazer ninho
nos galhos mais altos
e ser vizinho do Céu,
quero dar os saltos
que o pinéu dá
quando canta
e ninguém sabe explicar,
mas,
quero cantar
como o irapuru
que tanto nos encanta,
quero ser quenquém,
alegrinho, jaburu,
capitão-da-porcaria e jururu,
não sei não...
quero ser forte,
ter o porte dos açores,
mas,
sem pendores de falcão
que rapinar
não quero não,
quero ser jandaia, arataia,
voar é magia
e quero voar,
quero-quero,
tero-tero,
tem-tem,
canarinho,
e tanto quero
que um dia
hei de ser passarinho!

sábado, novembro 25, 2006

Salve-se!, salve-se!

Salve!, salve!,
ou melhor,
quer dizer,
ou pior,
salve-se!, salve-se!
quem puder,
homem e mulher,
que os caras têm taras
e comem o que você tiver,
e não tem mais hora nem lugar,
pode ser aqui e agora,
na calada da noite
ou na barulhada do dia,
e não se moite,
não use nem estilingue
nem contrate um King Kong
pra lhe dar garantia
ou pra agarrar o meliante em falgrante,
que alguma ONG
vai te processar
por violação de direitos humanos,
direitos humanos do ladrão!,
afinal,
de suas perdas e danos
vive a economia marginal,
e quem que não colabora
inibe a expansão do PIB
e a distribuição de riqueza,
sem a qual
nunca reduziremos a pó
a divisão de classes,
nunca reduziremos as classes
a uma só classe social,
nunca teremos
nossa pobreza universal:
“olá,
muito prazer,
eu sou o seu ladrão
e vim roubar você,
passe o dinheiro pra cá
e passe todo o dinheiro,
e não seja ridículo,
não se coce
nem esboce reação,
vivo da minha reputação
e não quero motivo
pra lhe dar um tiro,
prefiro dar
sem nenhuma razão,
dá mais emoção
e pro meu currículo,
currículo de ladrão,
esse tiro é muito bom!”

quinta-feira, novembro 23, 2006

Bati de frente com a batida de limão

A sexta-feira tinha tudo
pra ser bacana
e eu ia abafar,
contudo,
comecei a me fiar
no caldinho de feijão
que vinha quente,
e a quituteira era baiana,
e cantei, batuquei, dancei,
e nem sei
em que trecho do caminho
meu queixo caiu,
e caiu literalmente,
bati de frente
com a batida de limão
que a cana era de primeira,
e a batida
não vinha na contramão,
vinha na mão,
na minha,
foi de amargar!,
de repente,
baranga cascuda virou franga
e só na segunda voltei ao lar,
e de bermuda,
e de paletó fui trabalhar,
conclusão:
Raimunda,
minha senhora,
quase me matou,
só não matou
porque dei o fora
e só voltei agora,
dois anos depois,
mas,
no fato
ela ainda fala
por entre os dentes,
panos quentes?!,
nem pensar!,
me trata no berro
e os deveres cotidianos
vão do fogão ao tanque
e do tanque ao fogão,
com escala
no ferro de passar,
e sem rama
sem cerveja
e com dieta completa,
ou seja,
durmo na sala
e não posso nem sonhar
em dar uma chegadinha
naquela cama quentinha
lá do nosso quarto,
e nem digo
que estou farto
porque é o que ela quer,
sou vivo,
meu amigo,
por mais que tente,
ela não me logra,
não vou dar motivo
pra sogra
vir morar com a gente!

terça-feira, novembro 21, 2006

Definitivamente magra

Tenho que ser franco,
não são poucas
nessa enorme fila
e nem têm a mesma idade,
e fazem coisas loucas
que vaidade não tem limite,
é muita tinta pra tintura
que não se admite
cabelo branco!,
e o pêlo,
conforme o lugar,
ela depila,
se for dura,
a fartura de cintura
trata com cinta,
e justa, e inelástica,
é... inelástica,
como custa
embrulhar a gordura!,
e trata o apetite com dieta
e dieta repleta de nada,
nada de batata,
nada de canelone,
fritura?!,
nem morta!,
torta?!,
nem pensar!,
que pensar engorda,
se é abastada,
vai de plástica e silicone,
madruga,
pinta e borda na ginástica,
e malha sem parar,
como não malha
nem atleta recordista,
e tem um esteticista
pra cada ruga,
um massagista
pra cada celulite,
um especialista
pra cada tipo de ‘lipo’,
e um pra ‘lipo’ da ‘lipo’
quando a ‘lipo’ básica
não surte efeito
e a paciente
não fica sem a fase
da corrente monofásica,
pois,
quando fica,
não há base que dê jeito
e fica magra,
definitivamente magra!

sábado, novembro 18, 2006

Vou tomar uma Atitude!

Vou tomar uma Atitude
como aquele prefeito
tomava Providência,
mas,
é preciso ter
jeito e ciência,
é preciso saber
tomar Atitude
pra não tomar
tão amiúde
a ponto de ser
amiúde demais
e ficar tonto,
afinal,
saber tomar Atitude
é uma virtude
que não faz mal
a quem sabe bem
quando uma Atitude cabe,
e mais,
jamais esqueça de tomar
uma Providência importante,
mande comprar mais
e com bastante antecedência,
bem antes que a Atitude acabe!

Sou de Deodoro

Sou povo
e sou de Deodoro,
e desde novo moro lá,
na marmita vai a refeição
e vou aflito trabalhar,
e de condução,
e passando por assalto,
e ando um estirão
depois que salto,
e quando vou,
e quando volto,
e não tenho saída
pois o salário dita
esse padrão de vida,
e o bendito não dá
nem pro necessário,
mês sim, mês não,
pago aluguel,
mês não, mês sim,
é a vez da prestação,
mas,
não ando
de chapéu na mão,
sou de vaquinha
pra churrasco na calçada,
sou de pelada, batucada,
adoro branquinha
e cerveja bem gelada,
e, por incrível que pareça,
a cabeça fica inchada
com fiasco do Mengão,
mas,
não faço fita
nem imploro
atenção a ninguém,
se alguém me ignora,
eu ignoro esse alguém,
e nem quero saber
onde mora,
mas,
veja você,
em compensação,
se esse alguém chora,
na hora,
também choro,
e nem sei a razão?!,
pois é...
se você não sabia,
moço,
chegou o dia de saber,
quem é de Deodoro
também é
de carne e osso,
também tem coração!

sexta-feira, novembro 17, 2006

Amar é teu vício!

Amar é teu vício,
teu vício é amar
e adoras ter amantes,
ter diversos amores,
senhores e senhoras,
e amas esses amores
nos mesmos instantes,
nas mesmas camas e horas,
adoras
esse cio que não estanca
e espanca as almas
que caem em teu vazio,
adoras prazeres casuais
e seus reles quereres
que correm pelas peles
como gosma,
gosma que faz chagas,
mágoas e traumas
que externas
e esmagas entre as pernas
quando gozas,
é a paga que pagas
porque não sabes dizer não
e não dosas o despudor,
é a paga que pagas
porque não cabes
só num amor!

Deixe em paz a Juliana!

De que adianta
essa vida
em esquina e botequim
com esse ar borocoxô
de pierrô-vovô
sem colombina?!,
de que adianta
essa inana insana
desse coração
com batida vulgar
e refrão chinfrim?!:
‘quem me dera...
quem me dera
fosse eu
meio Chico,
meio Caetano,
pra Juliana Paes
olhar pra mim’,
não adianta pagar mico,
mano,
você é roscofe demais,
não tem
um tico de inspiração,
ainda por cima,
se embanana
pra fazer uma estrofe
e a rima é um horror,
é ruim demais,
por favor,
rapaz,
deixe em paz a Juliana!

quinta-feira, novembro 16, 2006

Comecei bem moço

Comecei bem moço,
esperdicei esbarrão
antes da estréia
que não foi épica,
mas réplica
de estréia típica,
típica no alvoroço,
na correria,
na reação da platéia
que não aplaudiu
nem pediu bis,
preferiu a gritaria:
“pega!, pega!, pega!”,
aí,
carteira na mão,
o aprendiz
de mancebo e ladrão
pôs sebo nas canelas
e se safou
dando uma carreira
pelas vias da cidade,
por fim,
parou e olhou o butim:
duas fotografias
meias amarelas
e feias de dar dó,
assim como ele,
identidade pela metade,
um sobrenome só,
assim como ele,
e prata pra mata-fome
que a fome não ia matar,
e olhe lá!

segunda-feira, novembro 13, 2006

Só não me peça pra deixar a boemia!

Já lhe disse,
Neidirene,
tenho coração
pra entrega imediata
e vou botá-lo
em liquidação
em tudo que é vitrine,
de butique chique
a magazine brega,
contudo,
só pra você,
minha perene
Miss Alparcata,
se você quiser,
mulher,
por mais
que vente e neve,
escalo o Himalaia
no dente e na unha,
e só com traje leve,
calção de tricoline
e blusa de cambraia,
e sem mumunha,
se você mandar,
Neidirene,
mando tatuar na testa
“made in USA”
e vou fazer seresta
pra lá de Bagdá,
faço o que for preciso
pra te conquistar,
mulher,
realizo a fantasia
que você quiser!,
só não me peça
pra deixar a boemia!,
que só essa
não dá pra realizar!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Amanhã tem mais!

É o barulho da marmita
e é o grito
na voz mole de um de nós,
é o eco de um Zé ao cabo da faina,
um treco
que tafulha o rabo de pinga
gole após gole
e amaina o pandulho,
e pita um pito barato
e matuta,
e do mata-rato
não sai tanta fagulha,
e destrata e xinga o trem,
mas,
não adianta,
o trem não escuta e não vem
e o Zé se vinga indo a pé,
e vai indo
birosca a birosca,
bordel a bordel,
sem nenhum vintém,
não se enrosca
com ninguém
e sonha com a bronha
que se foi Severina
na nona barrigada
sem sequer se despedir
e a cunhada,
irmã da mulher,
que quebrava um galho
virou fanchona e cafetina
e galho com macho não quer,
só quer cacho com menina,
vai dormir,
Zé,
amanhã tem mais!,
vai dormir,
Zé,
amanhã tem mais!

terça-feira, novembro 07, 2006

Não dá pra fazer samba assim

Como é
que você quer
fazer samba de verdade
sem saudade e lamento?!,
como é
que você quer
fazer samba que ri
do começo ao fim?!,
talvez o argumento
que lhe ofereço
faça você desistir,
não dá pra fazer
samba assim,
vai por mim,
se der,
esse samba
vai se dar mal,
não vai dar seu recado
nem vai fazer cantar o peito,
vai deixar
o cavaquinho sem jeito
e chateado o tamborim,
sem falar no pandeiro
que vai ser o primeiro
a ficar pelo caminho,
é temperamental demais,
se der pra fazer,
o que não acredito,
será um samba autista
capaz de confundir
a nata do terreiro,
de deixar aflito o sambista
e a mulata fora de si,
agora,
se você quer fazer
samba de verdade,
ponha a contento
lamento e saudade!

Não me torture assim!

Por que você é assim?!,
mulher,
qualquer erro meu
é erro à-toa pra você
e você me perdoa
sem eu sequer
pedir perdão,
e você esquece,
e ainda faz por mim
prece e oração,
você me dá a mão
e me guinda quando caio,
e me enaltece
pra quem quiser ouvir,
e eu minto, engano,
saio da linha,
até me ufano de te trair
com uma zinha qualquer,
mas,
você não reclama,
fica feliz quando chego,
de meu nego me chama,
me acarinha
e diz que me ama,
que me adora,
e sinto que não é
da boca pra fora,
quando quero você,
você
é louca amante
e amante completa,
se entrega sem resistir
e não me nega
nenhum prazer,
e se aquieta na cama
quando quero dormir!,
por favor,
mulher,
não seja tão cruel comigo,
dê fim a todo esse mel
e atire sua ira sobre mim,
me fira mais
do que eu já te feri,
e nunca mais me dê abrigo,
faça o que quiser,
mulher,
mas,
por favor,
não me torture mais,
não me torture assim!

segunda-feira, novembro 06, 2006

Falsa como ela só

Falsa como ela só,
na verdade,
a falsidade
com jeito de mulher,
e ela só manobra à falsa fé,
se meneia e roça feito cobra,
e acossa
qualquer peito vago,
acena doce aceno
como se fosse um afago,
faz cena
que só faz quem ama,
quem traz a chama acesa,
mas,
é areia no olhar
enquanto destila
seu canto de sereia
que destila até enfeitiçar,
depois
que se apossa da presa,
instila seu veneno
sem nenhum dó,
sem o menor pudor,
instila seu veneno
até que a presa
morra de tanto amar,
de tanto se humilhar
pra ter o seu amor!

quarta-feira, novembro 01, 2006

É a hora da mulher!

São flores
ganhando cores de amor,
sabor de primavera
chegando ao peito,
o bom jardineiro,
com jeito e carinho,
o caminho desvenda
pétala a pétala,
cheiro a cheiro,
pêlo a pêlo,
e desvenda sem pressa,
que não se interessa
só pelo colher,
espera madurecer a flor
e não se desespera de esperar,
fica atento,
sempre por perto,
sabe aguardar
o momento certo,
sabe bem da magia,
sabe que um dia
a força do amor na flor,
na moça aflora,
é a hora da mulher!

Cobras e lagartos do Oram (Novela das sete)

A gente vê,
você está a pique
de soltar a franga,
falta muito pouco,
tem gente despeitada
que manga um pouquinho,
gente
que não sabe ser fraterna
e essa gente
não significa nada,
pode crer,
a gente vê,
você adora
bater perna em magazine
e fica louco
com a vitrine de calcinha da butique,
fica perdidinho
quando vê
o terninho chique da vizinha,
embora ela tenha apenas
um terço da sua classe,
que a sua é de berço,
lembro do feitio
de suas belas chupetas
pretas, brancas e morenas,
que você
chupava de fio a pavio
e assustava até
aquelas ninfetas mais francas,
a gente vê,
você tem paixão por ruge,
e não é à toa
que ruge qual leoa louca
quando luta com o leão,
daqui a gente escuta
e sente que você
tá barbarizando
com o batom da sua boca,
a gente vê,
você namora
com o biquini da Dora,
aquele de crochê,
e com aquela
canga amarela da Aline
que tem strass, miçanga e paetê,
é bom você saber
que já anda piscando
como se usasse
cílio postiço,
já está andando
como se calçasse
salto bem alto
de bico bem fino,
olhando tudo isso,
fico pensando
e não atino com o porquê
de todo esse esforço
pra manter no exílio seu idílio,
ser menina-moça,
pra que fazer tanta força
se ser moço
não combina com você?!

terça-feira, outubro 31, 2006

Não se faz pagode em qualquer lugar

Se não é
nova campanha
pra esculachar o pagode,
querem me levar à loucura
ou pôr à prova minha fé!,
como é que pode?!...
pagode
em cobertura do Leblon
ao som
de bandoneon, baixo e oboé?!,
qual é?!,
pagode
com gringa balançando
ao sabor de champanha?!,
pra completar,
bandeja de prata,
acho que pro caviar,
e bacana
contando bravata
e a grana que tem no cofre?!,
isso me irrita!,
pagode é uma ova!,
pagode sofre de acrofobia
e tem alegria popular,
tem ginga mestiça de mulata,
pra acompanhar
pinga e cerveja,
batata frita e lingüiça,
e tem pagodeiro
fazendo carinho
em cavaquinho e pandeiro,
pagode tem liturgia e altar,
não se faz pagode
em qualquer lugar!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Orgasmo

Acreditem
porque é verdade,
ontem,
tive um choque
e fiquei pasmo
quando vi,
só com dois toques,
o inútil e a inutilidade
tendo orgasmo!

sábado, outubro 28, 2006

Idéia fixa

A idéia fixa da Alda
é de se tirar o chapéu,
a nega é prolixa
e chega a ter apnéia
quando embala e fala
em aliança, véu e grinalda,
em pança
e umbigo estufado,
seu entusiasmo me deixa pasmo,
ou melhor,
com a devida tremedeira
e encharcado de suor,
e digo cá comigo:
“que fria!,
madrugada
com fralda e mamadeira
em lugar de batucada e boemia”,
e me pergunto:
“será um beco sem saída?!”,
mas pergunto baixo
pra Alda nem desconfiar,
e engulo em seco,
fico atento ao assunto,
simulo alegria e não argumento,
se argumentar,
acho que a nega me mata!,
é...
meu camarada,
dei trela à namorada
e deu no que deu,
já se fez o chá-de-panela
e o casamento já tem data!

terça-feira, outubro 10, 2006

Se só tem tu, vai tu mesmo!

Se só tem tu, vai tu mesmo!,
vai tu mesmo se só tem tu!,
que não surto
ou caio em depressão
nem quando o tutu fica curto,
sem jóia pra empenhar,
vou de peru e papagaio,
depois,
se não der certo
na banca nem no banco,
não me aperto,
também não boto banca
nem banco avestruz,
pois ao rombo,
ao tombo fiz jus,
então,
em vez de três,
faço uma refeição,
se nem pra uma der,
vou de pão
com paio ou chouriço,
se não tiver nem pra isso,
a opção é jejuar,
em compensação,
sem bóia pra esquentar,
economizo gás,
sem jornais pra ler,
não preciso
botar fogo no leocádio
quando cortam minha luz,
e não sou de confusão,
não brigo
nem com o vizinho idiota
que a tela da tevê
bloqueia com a janela
e no meu jogo bota areia,
me ligo no rádio
do surdinho aqui do andar
e consigo vibrar com o Mengão,
posso afirmar
que nem em matéria de sexo
fico perplexo,
caso a Neusa fique tristonha
e perca o pique,
caso a Valéria se esconda
pra não me atender,
caso a Creusa tire onda
e não me dê
nem uma mãozinha,
eu me viro,
me inspiro
com minha vizinha gostosa
e vou de bronha,
e vou todo prosa,
agora,
há uma hora tão séria
que não há lugar pra isso,
é a do samba,
e nessa hora eu me ouriço,
mas,
quando não dá pra sambar,
fico sem viço,
dou féria ao bamba,
saio fora
e vou pra cama descansar
que só o samba me inflama!

quinta-feira, setembro 28, 2006

Trilogia marginal

“Com o ferro na mão,
Duda Cobra-Mal-Criada
não dava chance ao povo
e ganhava no berro”,
obra inicial publicada,
mas já saiu do prelo
o novo romance:
“Quando chegar a sua vez,
dance conforme a canção
no xadrez da Distrital
e de chinelo e bermuda”,
mas,
para que se forme
a trilogia marginal
que o dia a dia do autor
anunciava a todo o vapor,
vem aí a obra final,
“Depois de batido o martelo,
de macacão listado,
aqui da prisão
contemplo a vida
que lá fora é vivida",
a ser editado
após transitar em julgado
o que já foi decidido,
a condenação,
e o estrondoso sucesso literário
só vai perder pro ar explosivo
que o escritor cativo
respira e transpira
pra tirar o seu da reta,
sua meta principal
no recesso carcerário,
que é preciso ser jeitoso
num cubículo ridículo
e com senões à beça:
é quente pra cachorro,
têm surra e curra,
e não peça socorro
que não se ouve quem urra
pois tem gente suficiente
pra abafar qualquer esporro,
Ali Babá
e bem mais de 40 ladrões,
e só há um boi,
quem foi, foi,
e pra visão ser completa,
disenteria, seborréia,
pé-de-atleta,
piorréia, urticária,
infecção urinária,
só mazela abunda na cela,
pra se ter
uma idéia profunda,
uma lista só não chega,
e tudo sem o calor da nega!,
agora,
passada a hora
e passando a vida em revista,
o autor se diz malsucedido,
mas,
o exemplo será seguido
por aquele malandro
que não percebe
que o mundo
o faz de otário
e seguirá sendo perquirido
pelo analista social
que no meandro do assunto
mergulha de cabeça
com seu cabedal
panfletário e mixe,
e só faz borbulha,
e o especialista
acha que vai fundo,
por incrível que pareça,
não atravessaria
nem a fina fatia de presunto
daquele sanduíche
do proprietário sovina
daquela padaria lá da esquina.

sábado, setembro 23, 2006

Sou amor pleno

Sou amor pleno,
pleno amor
do começo ao fim,
e só sei ser assim,
e é tanto amar
que esqueço de mim
e de todo me entrego,
de todo me apego,
e é tanto apego
que chego a renegar
outro aconchego qualquer,
me nego a aceitar
outro abraço,
sequer consigo pensar
em um outro beijo,
vivo um desejo exclusivo
e tão incessante
que não passo
nem um instante
sem querer o meu amor,
é um feitiço
que não arrefece,
apesar disso,
parece pra mim
que não amo o bastante,
sou amor pleno,
pleno amor
do começo ao fim,
e nem sei dizer
se mereço amar assim!

Em vez de uma fada

Alda se esbalda na safadeza,
e a safadeza é tanta
que não fica surpresa
nem se acabrunha
quando dou flagrante,
e flagrante com testemunha,
quem diria
que a menina pudica
ia virar uma baita messalina,
quem supunha
que o jeitinho de santa
era cunha pr’abrir caminho
no coração de algum panaca
e botar a mão na sua gaita,
e botou direitinho,
e eu fui o babaca,
entrei de gaiato
e ainda paguei
vestido, véu e grinalda,
e estou pagando o pato
dia após dia,
e era tido como malandro,
e era tão malandro
que levei rasteira
já na lua-de-mel,
um domingo de Carnaval,
me falou
que ia ao bingo com a titia
e se mandou pra rua,
e a safada
voltou na quarta-feira,
e farta de farra
e no maior fogo,
e o fogo era de pinga,
e veio
só com uma sobra de fio-dental
no meio da popa
e com ginga de cobra criada,
e o pior,
me fez crer na marra
que no jogo
tinha perdido a roupa,
agora,
enquanto
levanto de madrugada,
e de hora em hora,
pra dar de mamar
e trocar fralda do Juquinha
que é muito parecido
com o marido da vizinha,
Alda roda de mão em mão,
é...
em vez de uma fada,
levei uma foda!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Não a cutuque

Não se machuque,
cara,
não a cutuque
com vara curta,
nem com longa,
você nem imagina
a sanha que derrama
quando surta,
vai a dama e vem a fera,
seja menina,
seja mulher,
e não é uma fera qualquer,
fera é à beça,
e dessa a gente não ganha
que ela é astuta,
tem araponga
em tudo que é canto
e manha e truque
pra qualquer disputa,
e luta com qualquer arma,
até com o pranto,
e não se alarma
com muque e força bruta,
torça
pra não arranjar rolo
com essa fera ávida
que fica linda
quando enfrenta a gravidez
e a barriga ainda ostenta,
se não está grávida,
todo mês sangra
e em nenhum sangra de vez!,
essa fera
é fera para o que der e vier,
não seja tolo
de com ela querer briga,
seja ela
amiga, parenta ou mulher!

Olhe pra onde olhar

Não é mole
tocar o bonde,
olhe pra onde olhar,
é só lambança,
olhar sem sentido
de criança triste,
bandido de tocaia
e dedo em riste,
e tome medo, e tome bala,
a fome esfomeada
da arraia-miúda
que rala, e rala,
e nada,
e nada e morre na praia,
e ninguém ajuda,
ninguém socorre,
e o professor tarda,
e retarda o guarda,
e o doutor, e a justiça,
e os três são
de encher lingüiça,
Fulano, Beltrano e Sicrano,
e o pão é pra inglês ver,
“caiu!,
primeiro de maio!”,
aliás,
“primeiro de abril!”,
e sempre caio!,
e da missa
não sei nem a metade,
e nem sei
se tenho vontade de saber!

Por favor, moça

Por favor,
moça,
não brinque de me encantar,
de me enfeitiçar
com o seu moço encanto,
não brinque assim
pra não soltar
as amarras do amor
que amarrei em algum canto,
moça,
não finque
suas garras em mim
pra satisfazer um capricho,
um querer avulso,
impulso banal,
me ouça,
moça,
enquanto ainda é cedo,
não me trate feito bicho,
e se não for por respeito,
que seja por medo,
que pode acabar mal
se fazer amar
pra brincar de amor,
pode provocar
um dissabor atroz,
capaz de fazer do melhor ser
o pior animal,
o animal mais feroz!,
moça,
me deixe em paz
aqui no meu canto
que já vi pranto demais!

terça-feira, setembro 19, 2006

Vá se preparando pra dar o pira

Todo santo dia,
pro santo do dia
você apela,
alicia o meu bom senso
de tudo que é forma,
revela supresa e espanto
com a fisionomia tesa
e faz que não se conforma,
e não pára por aí,
quase vai ao pranto
tentando mudar de assunto
quando pergunto
quem escreveu “te amo”
no seu lenço com batom,
e, pra concluir,
com uma cara-de-pau
que igual nunca vi,
amplia o tom do reclamo
e diz que está disposto a tudo
pra descobrir
quem foi o infeliz
que fez essa piada de mau gosto,
contudo,
já estamos nessa inana
há bem mais de uma semana,
e nada,
nenhuma pista,
ninguém da lista
assumiu a autoria,
portanto,
ou analisamos a caligrafia
de toda e qualquer
pessoa suspeita,
ou, então,
pra não fazer
desfeita a tanta gente amiga,
pra evitar briga
com quem nos quer tão bem,
analisamos somente
a da Letícia,
a boa e bela secretária
que se encaixa
naquela faixa etária
que você tanto admira,
mas,
enquanto não vem
o laudo da perícia,
pra que eu
não entorne o caldo,
te escorne
e te faça ser notícia,
vá se preparando
pra dar o pira,
vá arrumando a mala,
cochilando na sala,
tomando refeição em pensão
e depositando a pensão alimentícia!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Tá bom ou quer mais?!

Fui indo, fui indo, fui indo,
e por pouco,
por muito pouco
não acabei fondo,
que fiquei cantando Il Mondo
à beira da sarjeta
e só fui ouvido
por um ouvido mouco
que nem me deu gorjeta,
inda bem
que Julieta é maneira
e um ás quando faz
o que faz todo mundo,
entretanto,
enquanto todo mundo
se acanha de dizer,
Julieta reclama
quando não difundo
o que ela inventa,
como se assanha
e vai fundo na cama,
e quanto mais faz,
mais Julieta quer fazer,
aí,
se vestiu de ninfeta,
e não esqueceu nem a soquete,
e se meteu na pista,
fez psiu
pra um turista provecto
que pelo aspecto
já deixara os setenta e sete
bem lá pra trás
e,
além de descolar
algum de pronto,
deixou tão tonto o ancião
que logo após
nos fez proposta de casamento
que no mesmo momento
foi aceita por nós dois,
agora,
Julieta virou gringa
e gosta que a chame
de Madame Julliette
e adora falar que sou eu
seu valet du chambre,
e degustamos
fiambre, caviar e champanha
que nos cansamos
de pinga, torresmo, feijão e arroz,
e nos acompanha o ancião,
em resumo,
somos um trio
que faz muito sucesso,
o ancião tem muita grana
e muita grana a gente gasta,
por mais que tente,
é evidente
que o ancião já não basta,
então,
eu assumo a função
porque é preciso,
não fosse
o excesso de frio
de janeiro a janeiro,
seria o paraíso!,
mas,
quando fica frio demais,
a gente se manda da Europa
e vem pro Rio,
e a gente só fica no Copa!,
tá bom ou quer mais?!

quinta-feira, setembro 14, 2006

Olha a Central do Brasil aí, minha gente!

Que lindo!,
que se louve a moçada,
vem apertada no trem
e ainda canta e faz batucada,
e o patrão tá dormindo
que ainda é madrugada,
e o canto do galo
só ouve o operário
que só tem dinheiro
um dia por mês
e só na hora do salário,
e já na estação
se afigura o embalo,
enquanto desbota
a tez da Bianca
que lava e passa pra fora,
pilota o fogão e atura a prole
o dia, o mês, o ano inteiro,
seu companheiro,
Juca da Farmácia,
refresca a cuca,
bole e batuca nas ancas
da Anastácia do Aviário,
patroa do Mário Tintureiro,
não é à toa que o Juca
tanto vai às rinhas
e carrega tantas camisinhas,
e ainda esnoba:
trata-se do quantum satis;
e tudo é amostra grátis,
não é à toa
que tanto voa a Anastácia
quando sai do galinheiro,
mas Bianca e Tintureiro,
como sói acontecer,
não serão os primeiros a saber
dessa roupa suja,
cuja sujeira
o trem inteiro todo dia vê,
isso dói,
magoa,
mas sara,
coisas da vida,
e a vida não pára
e vai adiante,
e vem a partida,
e não há zona,
ninguém sai da linha,
nem desafina,
Dona Ondina,
da copa e da cozinha,
da lingüiça e do torresmo,
o desafio topa,
atiça a chama e doura o samba
do Lisboa da Tesoura,
que a voz da dama
é mesmo muito boa,
e o autor,
qual o mestre Alfaiate,
é um bamba inconteste,
Adelina do Tomate,
e na feira não há igual,
capricha no assobio,
no remate do estribilho,
que mete ficha
desde menina
pelas ruas do Rio,
Zito Pedreira não recua,
deita e rola no apito,
estica e acende o rastilho,
e faz explodir o pessoal,
e Cacau da Meia-Sola,
que de couro manja,
dá uma canja com a cuíca
e põe mais lenha na fogueira,
Maria da Penha,
caixeira do Ceasa
repica a marmita,
que, por pura ironia,
saindo vazia de casa,
parece feita sob medida,
e Dida,
que vive da dita
e a turma respeita,
que só vende bilhete
quem aprende o macete,
em falsete, solta o grito:
"Tá na hora, meu trem,
vem que vem bonito!";
e Doras, Délias, Célias
se enchem de arrepios
e de emoção,
nem as mais velhas
contêm a euforia,
e se contagia outro vagão,
e vai assim,
e mais um acorda
com os acordes do bandolim,
que nem de farda
o guarda dele se desgruda,
e Duda, ás do volante
na Barão de Drummond-Leblon,
engrena uns passos,
Lena Ambulante chega junto,
que é craque nesse assunto,
e mestre-sala e porta-bandeira
não precisam de espaço,
o tabaque do Didi do Boteco
instiga o Neco da Pipoca,
que, após a troca,
é Mimi da Mem de Sá,
e sempre dá o que falar,
mas,
merece ser destaque,
que sabe dizer no pé,
e há até quem diga
que cresce a sua claque,
Dedé Doceira mexe e remexe,
e assanha as cadeiras,
cutuca, futuca,
e encurrala o Miro do Talho,
sujeito afeito
a rabada, alcatra e maminha,
mas o Miro sai pela culatra,
e Dorinha,
rainha do chocalho e da cocada preta,
se embala e ganha a parada,
que a outra desce na outra estação,
Tião das Camisetas costura a evolução,
que não lhe falta talento
pra essa empreitada,
Bento Desenhista,
artista cem por cento,
com inspiração e magia
configura a harmonia,
e, na comissão de frente,
Ismail Maquinista,
que na folga é garçom,
manda, comanda e empolga:
"olha a Central do Brasil aí,
minha gente!"

Só por isso?!

Mulher,
você diz
pra quem quiser ouvir
que eu te faço infeliz,
que não vai desistir
enquanto não me fizer
virar um frangalho
e segue me dando esbregue,
descendo o malho em mim,
e se vale até de ato falho
pra dizer aos quatro ventos
que não tenho talento,
que tenho defeito e falha,
você espalha
que não tenho jeito
nem pra fazer amor
e que quando faço
é um amor chinfrim
que não chega nem ao fim,
por que você age assim,
mulher?!,
o que é que você quer?!,
até diante dos rebentos
você me esculacha,
me tacha
de zero à esquerda,
de perda ambulante
e de canalha,
e garante que sou fruto
de um bruto fracasso genético,
por isso não passo
de um mero tratante
e de um patético salafrário,
por que você reage assim,
mulher?!,
eu não trabalho,
mas seu salário eu recebo
e jogo
porque é necessário
tentar a sorte!,
eu bebo
mas mantenho o porte
e você sabe
que eu não me drogo!,
por que você reage assim,
mulher?!
eu me espalho na boemia
e não passo um só dia
sem ter amante,
mas não te xingo
e, quando posso,
no domingo almoço em casa!,
e só por isso
você me arrasa?!,
só por isso?!

quarta-feira, setembro 13, 2006

Onde há fumaça, há fogo

Onde há fumaça,
há fogo,
e há no jogo
da fêmea e do macho,
e quanto mais
a fêmea é moça,
e quanto mais
o macho é moço,
mais o fogo é intenso
e menos propenso
a trégua e pausa,
e causa mais fumaça,
e a gente vê e sente
a bem mais de légua,
e não há nada que impeça
a propagação desse fogo
nem régua que esse fogo meça,
aí,
por mais
que se faça de louça a fêmea
e fique até sem graça,
por mais
que ainda seja o moço
um esboço de macho,
eles teimam, reteimam
e se queimam nesse fogo,
e não há queimação igual,
afinal,
é a raça que está em jogo!

Empurro com a barriga

Não me iludo,
posso ser tudo,
mas,
burro não sou não,
por isso,
me toco com cobranças,
especialmente de cobrador,
esse ser
que no coração
tem cifrão em vez de amor,
aí,
invoco ditame moral,
falo em quebrar lanças
pra livrar do vexame
a reputação ilibada,
convoco a Osória,
que a patroa é danada
e prega peça
com a maior cara-de-pau,
quer dizer,
faço o que posso
e o que sei fazer,
e ainda faço figa e promessa
pra dar tudo certo,
em geral,
saio do aperto numa boa
e empurro com a barriga
compromisso e promissória,
mas,
quando o bicho pega
e não há conserto,
primeiramente
a gente entrega
o que não é nosso
e vê se dar
pra escapar do bochicho;
no boteco,
capricho no repeteco,
juro que estou duro
e faço tanto apelo
que dá pêlo o português
e mais uma vez
penduro a despesa,
no fim do mês,
com muita esperteza,
adio sine die o pagamento
sem perder o crédito,
mas,
é bom que se diga,
meu argumento
é inédito toda vez;
quando é necessário,
faço uma cena
e passo por otário
se assim desperto pena
e evito pra mim
rolo, bolo, e confusão,
e tem tolo à beça
que ainda entra nessa,
entranto,
quando sinto que o tiro
pode sair pela culatra,
eu me viro
e dou a volta por cima,
com a vista encharcada,
deploro, imploro,
conto história tão triste
com voz tão ambargada
que comovo até psiquiatra,
todavia,
se alguém se arrelia,
põe entrave
e o clima fica ruim,
com o cenho fechado
e grave expressão,
ameaço adotar
a medida extrema,
dar cabo da vida,
só não digo da vida de quem,
até pareço
artista de cinema,
e me gabo do desempenho
que não tem
quem não acredite!,
seja do povo, seja da elite,
enfim,
empurro com a barriga
essa vida inglória
e, nessa lufa-lufa,
de quando em quando,
estufa a barriga da Osória!

terça-feira, setembro 12, 2006

Devagar, moça

Devagar com o andor,
moça,
que é de louça o santo,
devagar com o amor,
moça,
pra não se acabar
numa poça de pranto,
que o amor encanta
em qualquer idade
e é normal o encanto,
quando se encantar,
moça,
com o amor
se aqueça e inflame,
ame à saciedade,
e ame mais e mais,
ame o quanto puder,
enquanto tiver vontade
e de amar você for capaz,
afinal,
o amor é o mais importante,
mas,
não se esqueça
nem por um instante
de sentir por você amor igual!,
se esquecer,
vai sofrer e ficar só,
e vai descobrir o pior,
que não foi
amor de verdade,
devagar com o andor,
moça,
que é de louça o santo,
devagar com o amor,
moça,
pra não se acabar
numa poça de pranto!

segunda-feira, setembro 11, 2006

Viver!

O que posso fazer
se não sou capaz
de viver a vida
sem amor e liberdade
e se da felicidade
o amor me faz cativo?!,
o que posso fazer
se não consigo deixar
de amar a liberdade?!,
se não consigo
do amor me libertar?!,
o que posso fazer
se sem liberdade e amor
minha vida não tem valor?!,
o que posso fazer
se vivo pela metade
pois vivo uma utopia:
não sei viver sem amor
e não vivo sem alforria,
o que posso fazer?!,
viver!

sábado, setembro 09, 2006

Acordei de madrugada

Acordei de madrugada
morto de fome
e ainda torto
que meu porre não some,
não tem solução de continuidade,
e não tem
porque aprendi bem a lição
que me foi vindo com a idade:
“é melhor o opróbrio
do que agüentar sóbrio
tanto tranco, cacete e corre-corre”,
e fiz até questão
de atualizar meu dicionário
deixando em branco o lugar
do indigitado verbete,
bem,
acordei de madrugada
e não havia tocado o despertador
nem o telefone felizmente,
e comecei a lembrar de um cenário,
crente que era
um incômodo interior
de um cômodo de hotel
numa película do Antonioni,
talvez do Felini,
quiçá do Godard, do Glauber ou do Buñuel,
película que eu acho que vi
com a Celine ou com a Moema
que havia brigado com o namorado
que era o Joel, ou o Tuca ou o Valber,
e que vi num cine
em Ipanema ou na Tijuca,
cinema que creio que virou igreja,
edifício ou supermercado,
e lembrar o nome foi tão difícil
que acabei me esquecendo de lembrar,
mas,
como estava gelada a cerveja
e o uísque me abordou,
e por nada recuso seu convite,
tirei com o dente,
apesar da dificuldade,
um tasco de cutícula
e acabei perdendo o apetite,
aí,
cantarolei “Risque”
e veio à minha mente
um verso truncado
numa voz impotente,
quase muda,
e não sei dizer se o verso
era do Camões, ou do Lorca,
ou do Bandeira, ou do Neruda,
e, após imprecações, asneiras
e palavrões de praxe
que até algum relaxe me dão,
pensei cá com meus botões:
“quando a gente esquece até
que já está ficando esquecido,
aí é que a porca torce o rabo”,
e nem havia
levado a cabo esse pensamento
e noutro já estava metido,
já pensava no fiasco
que fez o Mengão
ao não conseguir fazer
nem um só tento no Vasco,
e, não sei se em razão
da insônia ou da birita,
pulei de repente pro churrasco
do aniversário de casamento
do Osmário e da Estelita,
e, sem cerimônia,
saltei pra Atenas
que sempre quis visitar,
quis apenas
que nada fiz pra ir até lá,
aliás,
e não vou esconder não,
desde bem cedo
tenho medo de avião
e navio não me apraz
que guardei a marca
de quando mareei
navegando do Rio a Niterói
numa barca da Cantareira
que partiu de um cais
que já não era chamado
de Caes Pharoux,
e, como sói acontecer,
botei pra fora tutu, torresmo
e couve à mineira,
e houve mesmo o maior rebu,
bem,
já vou indo,
vou tentar dormir agora
que estou me sentindo
como se tivesse levado uma sova,
mas,
só vou dormir
se minha senhora permitir
e se aquele conhecido pernilongo
não decidir
zumbir no meu ouvido
somente pra me sacanear,
e vou dormir
meu sono leve e breve,
que sono longo e profundo
é coisa pra gente nova
qu’inda sente vontade de sonhar,
ainda bem
que já estou aposentado
porque o mundo
já deve estar acordado
cá por essas bandas
e lá pelas dos pandas
já deve ser hora do jantar!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Meu amigo

Apesar da canseira,
meu amigo,
vamos lá,
aproveite,
se deite e enrosque comigo
que está vago o lugar,
e você
não tem mais ninguém,
e não há ninguém mais
que queira
em mim se enroscar,
quem sabe,
assim,
com nossos pecados
lado a lado,
um dos seus
me faça um afago,
em um dos meus
você se esfregue
e ainda consiga pecar?!,
vamos lá,
meu amigo,
não negue a mão amiga
a quem contigo quer se amigar,
se for preciso,
ficaremos calados
pra não dizermos dos defeitos,
dos amores desfeitos,
dos sabores
que já não sabemos saborear,
e não vamos tentar
amar de improviso
pra não provarmos
que já não somos capazes,
nem vamos dar ensejo
a briga e protesto
porque fazer as pazes
já não nos daria
tesão nem prazer,
talvez,
por ironia,
troquemos um beijo
quando estivermos sós
e falemos
dos desejos suspeitos
que ainda pudermos lembrar,
vamos lá,
meu amigo,
vamos correr
esse resto de perigo,
festejar o resto de festa
com o que ainda presta em nós,
o calor que ainda nos resta
e que talvez já não dê sequer
pra fazer um gesto de amor,
amor de homem e mulher!

segunda-feira, setembro 04, 2006

Venda seu peixe

Faça o que quiser,
mas,
não se desaponte,
não se queixe
nem se deixe
levar pelo cinismo,
sequer
se entupa de mágoa
por causa da água
que passa sob a ponte
e de roldão
nos leva na garupa,
é assim
dês que a Eva
deu a maçã ao Adão,
(será que maçã é eufemismo?!)
e vai ser assim até o fim,
e de nada adianta
tanta cara feia
que a água
não pára não,
e quem se aperreia,
quando não apeia
inda moço,
finda mais adiante
como todo mundo,
mas,
com uma agravante,
finda no fundo do poço,
e note,
seja ou não você chique,
esteja ou não no bem-bom,
não deixe de lado
a linha e o bom-tom,
e se dedique ao nado,
nada de esperar o bote
que o que dão por aqui
faz você ir a pique!,
portanto,
vê se nada,
e mais nada,
que esse nadinha de nada
é tudo que dá pra fazer,
vamos lá,
não se apoquente...
e um outro alô,
tente vender seu peixe,
seja baleia, cação ou sardinha,
mesmo sendo chucro
e não sendo
camelô de mão-cheia,
é a renda
da venda desse peixe
que pode dar algum lucro!

sábado, setembro 02, 2006

No saculejo da boléia

No saculejo da boléia,
cada lombada,
cada curva da estrada
abastece a magia
e a analogia
com o molejo da Marinéia acelera,
aí,
dispara a minha idéia,
e a perna treme,
o peito geme
e a vista se turva,
na casa da patroa bacana,
é plebéia de avental,
no fim de semana,
é a tal,
rainha do Piscinão de Ramos
fazendo jus à coroa,
e todos vamos
só pra ver como ela é boa,
e ela arrasa num minibiquini
que parece foto 3x4
em porta-retratos
tamanho família,
e brilha de sol a sol,
e não há pausa nem pra meditação,
é batata,
cada aceno de um pêlo dourado
na pele mulata
causa o maior atropelo,
cotovelo pra lá e pra cá,
empurra-empurra,
surra, discussão e até divórcio,
fora a fila pra entrar na fila
de quem quer entrar no rateio
da sardinha e da cerveja
que ela consome,
e tome adesão ao consórcio
pra ter uma chance mensal
de tirar a rainha no sorteio,
e ainda não dei sorte,
mas não faz mal,
qualquer dia
vai surgir
um aporte de capital,
aí,
vou dar uma lance
que nenhum rival vai cobrir
e Marinéia
vai ser rainha da minha boléia!

O pau comeu no Pagode do Manobra

Folia de Inhaúma
tomou uma bebedeira
e bateu a carteira
de clientes e fãs
da Ternura da Intendente Magalhães
oferecendo três pelo preço de uma,
e o pau comeu,
o endereço do pau
foi o Pagode do Manobra,
que também explora esse serviço,
mas cobra por fora,
e sempre que há bode por lá,
é ouriço pra niguém botar defeito,
quando não morre alguém,
no barato,
ocorre fratura exposta
ou hemorragia interna,
pra quem gosta,
é um prato feito,
têm até gente que aposta
e sujeito com cadeira cativa
no Lanterna Expansiva
pra acompanhar a confusão,
que o bar fica bem ao lado,
e o apelido do pé-sujo
foi dado
devido a mania
que tem o dono,
o dito-cujo leva sempre uma
no bolso frontal do avental
bem abaixo da cintura,
e de seis pilhas grossas,
o que leva sua consorte,
Emília Fossas Fortes,
apesar do nome e do porte,
a ficar no maior alvoroço,
a ponto de perder o sono
o norte e o rebolado,
e a andar meio de lado
com o semblante iluminado,
mas,
voltando à vaca-fria,
do dia do confronto
da Folia com a Ternura
em diante,
em razão de chutes e dentadas,
rolaram pelo chão os apendículos,
o que ensejou um novo quitute,
obra da inspiração do Manobra,
“testículos de cabidela”,
que tem tido muita procura;
e eles viraram elas
da noite pro dia
e sem precisar de cirurgia,
pois bastou simples sutura,
e com o sucesso delas,
esse tipo de bode
tem crescido mais que a economia
e o Pagode passou a cobrar o ingresso!

quinta-feira, agosto 31, 2006

Deu a louca no almanaque!

De fraque e cartola,
o Tarzã deita e rola
na porta de uma boate
e mora com uma dona
que tem uma irmã tranchã
que adora um cipó
e não se importa
que ele a chame de Jane;
sem a capa
e sem o mapa da mina,
o Mandraque teve pane
e acabou dando um nó
num jogo da segundona,
não arranjou o empate
e foi fazer faxina no xilindró
porque já levara a peita;
virou motobói o Jerônimo,
mas,
ainda não aceita,
ainda dói nele
não ser mais herói
já que o sertão virou mar
como previa a canção
e ele não aprendeu a nadar,
e vive com crise de asma,
de ansiedade e de saudade;
por causa de um homógrafo...
melhor dizendo,
de um homônimo
que não tem censura,
o Fantasma teve um baque
e virou um mané,
e noto que não tem mais claque
pra lhe pedir autógrafo
nem fotógrafo
querendo tirar foto da figura;
é...
deu a louca no almanaque!

Meus Santos tomam conta de mim!

Sou prolixo,
minha argumentação
é muito confusa
e me fixo
no que não é importante
quando dou explicação,
fico perplexo
diante de indagação
e já era o nexo,
minha conclusão
é simplória e difusa
e não é persuasiva o bastante,
não sou bom em evasiva,
escapatória ou escusa,
qualquer recusa
abala minha estrutura,
criatura estranha
me deixa sem fala
e mulher me acanha,
encabula e deixa tonto,
e tanto,
que faço firula idiota
e acabo entregando os pontos,
fico pálido
quando conto lorota,
esquálido quando minto
e rubro quando falo besteira,
fico disperso
e sinto tremedeira
em entrevista e discurso,
mas,
quando dou curso à inspiração
e descubro o artista,
meus Santos tomam conta de mim!,
e fico assim,
solto!,
de todo envolto
no verso e na canção!

Veja você

É coisa de tempos idos,
por causa de aposta,
o coitado do Arnaldo
ia ao vício dando início,
todavia,
foi ruim e pagou caro,
nos dois sentidos,
pois,
deu tapa num charo
com mais bosta de gado
do que manga-rosa,
ainda assim,
ficou doidão,
então,
entornou o caldo
e só fez o que não devia,
saiu de luva e capa de chuva
e era um dia encalorado,
chamou de uva e tesão
a baranga
que morava ao seu lado,
e perdeu a prosa
que foi vaiado até pelo marido,
como ficou esfomeado,
comeu paca
e gastou o que tinha
e o que não tinha,
e era unha-de-fome,
e tinha até alcunha,
Mão-de-Vaca,
depois,
decidiu dar um rolé,
todavia,
em vez de ir a pé,
bancou o bandido
e puxou um carango,
mas,
ficou apavorado
ao ver um samango
e pegou a contramão,
conclusão,
foi apanhado,
declarado culpado
e seu nome
lançado no devido rol,
e por anos e anos
viu o sol nascer quadrado,
mas,
veja você,
houve um lado bom,
com o início desastrado,
o coitado desistiu do vício!

terça-feira, agosto 29, 2006

Há dia da caça e dia do caçador

Há dia
em que a sorte
o caçador bafeja,
mas,
passa
e vem o dia
em que mais forte
é a sorte da caça,
assim sendo,
faz bem
quem agradece
e não despreza
nenhum favor,
por menor que seja,
faz muito bem
quem preza
quem o favor lhe fez
e o favor
nunca mais esquece,
e faz bem demais
quem favor faz
quando chega a sua vez,
como há dia da caça
e dia do caçador,
mesmo não sendo santo,
sei que é loucura
sair mal na foto
que essa foto dura,
não cai no esquecimento,
portanto,
e como não sou louco,
adoto esta postura:
sempre tento
fazer o que me cabe
sem parecer
santo de pau oco,
fazendo assim,
se precisar um dia,
quiçá o senhor
lembre bem de mim
e me faça um favor,
e quem sabe
seja um santo favor,
seja um favor e tanto!

segunda-feira, agosto 28, 2006

Você tem o monopólio de mim

Quando olho e não te vejo,
fico mal
porque o afogo
me toma e consterna,
me deixa de perna bamba,
é um tal de pré-coma,
segundo um amigo,
aí,
por mais
que todo mundo torça,
eu não ligo,
e meu samba
vai ficando sem raça,
graça e molejo,
quando olho e não te vejo,
eu fico sem força
que você
é minha inspiração,
e acabo bebendo,
e a bicha
dá cabo do meu fogo
que fica mixa que só vendo,
se jogo,
jogo por jogar,
é um jogo sem desejo,
e me dá aflição
só de pensar em prorrogação,
caramba!,
meu bem,
eu me rendo,
você tem
o monopólio de mim,
por isso,
quando olho e não te vejo,
ficamos assim:
sem viço meu samba
e eu
de perna bamba!

"Vai graxa, dotô?!"

Sou engraxate cem por cento
e repleto de tradição
porque de engraxate
sou rebento,
irmão, neto, genro,
e avô sou até
que engraxate
de caixa na mão
o filho do meu filho já é,
e peguei no ofício
inda guri,
pra ser mais exato,
guri inda bem tenro,
e logo no início
exibi o meu pendor,
e sei bem
que engraxate
se parece com o sapato,
depois que envelhece,
racha e perde o brilho,
mas,
o estribilho não esquece:
“Vai graxa, dotô?!”

Minha ladainha

“Sou safo em penca,
me safo
de encrenca e de rinha
com um pé nas costas,
e nas apostas sou favorito
que só faço bonito
e o povo faz fé em mim
qual faz
no ovo no da galinha!”,
é a ladainha
que repito dia após dia,
mas,
não acredito nem assim
e fico vermelho
mesmo se no espelho
não me fito
pois sei que é bafo,
bafo de boca,
que vacilo por besteira
e peço asilo
à primeira louca
que aparece,
em resumo,
moço,
eu assumo,
minha aptidão
pra ser safo
me enlouquece
que não me calo,
falo muitas e ruins
e das pessoas
ouço poucas e boas,
e minhas falhas
não são fortuitas
e algumas até são loucas,
exemplificando:
de vez em quando,
acho que são dálias
alguns jasmins!

sexta-feira, agosto 25, 2006

A filha da Amélia

Sendo muito sincero,
cri no pedigree
e decidi
me casar com Amália,
a filha mais velha da Amélia
que era mulher de verdade,
mas,
era armadilha
e recebi um castigo
que eu não quero
pro meu pior inimigo,
Amália não é mulher,
é um poço de vaidade,
e tanta tem,
que tem até
na hora da fome,
como é
uma anta também,
embora deteste,
espalha
que adora caviar,
até aí,
tudo bem,
mas,
ela acredita
e come no café,
no almoço e no jantar,
come e vomita,
além do mais,
Amália é uma peste,
se me vê contrariado,
não me poupa,
mais me amua
me deixando de lado
e indo pra rua farrear,
e vai quase nua
que a roupa é uma tira,
mesmo que você se fira,
Amélia,
eu preciso dizer,
sua mais velha
não saiu a você,
Amália é mulher de mentira!

A louca deu na patrícia

No início,
achei que era piada,
mas,
que nada!,
deu a louca mesmo
no seu Lucrécio,
e passou do linde
a loucura do patrício,
ele tá distribuindo
pura e torresmo de brinde
e vendendo loura gelada
com um bom desconto,
e o que mais assusta
é que quanto mais
eu bebo e fico tonto,
menos a loura custa,
é isso sim!,
e mais,
seu Lucrécio
não está mais servindo
tira-gosto passado
ou chouriço
com gosto ruim,
só serve
o que está fresco,
e sorrindo
tem aceitado pendura
e dado refresco ao freguês
ao cabo do mês,
e tá simpático
e com muita verve,
mas,
vejam vocês,
acabei descobrindo
que no patrício
não dera a louca não,
na verdade,
é só felicidade
e felicidade à vera,
a louca deu na patrícia
que do Lucrécio não tinha dó,
não só recorria à sevícia,
e passava pitos no pobre
na frente da gente,
como também
dele tirava o cobre
até o último vintém,
e ainda tinha
um quarto de tonelada,
na fachada,
um buço farto e ruço,
e em cada membro
muitos pêlos,
e tê-los
devia lhe dar prazer
que lembro
que exibia os ditos,
todavia,
a patrícia fugiu pra terrinha
com o Albânio,
um conterrâneo
estrábico e monossilábico,
e deixou o patrício
neste solo
e no colo da Tininha,
mulata que fecha o comércio
mais que traficante,
e é flagrante
que o patrício Lucrécio
tá feliz da vida,
se livrou do estrupício
e ficou
com a cachopa querida,
como ele mesmo diz,
e seu estabelecimento
vai de vento em popa,
só não sei afirmar
se é por causa
da loura barata
ou por causa
da mulata alucinante
que me doura o olhar!

quarta-feira, agosto 23, 2006

Grêmio Recreativo Escola do Samba no Pé e do Pé no Chão!

O samba da nossa escola
tem garra pra sambar,
abre nosso caminho na marra
e sempre está
com toda a corda,
bandolim, cavaquinho,
guitarra, viola de gamba,
agora,
não há no nosso samba
histeria nem correria
que a gente não tem hora
pra sair nem pra chegar,
e é assim
que nosso samba
pinta e borda,
e é assim
que nosso bamba
pinta o sete
com o breguete,
a fatiota
que veste no dia-a-dia,
que não bota
fraque e cartola,
não que deteste,
é que não tem,
e o craque que vem
e sai na nossa escola
é o tal,
deita e rola com a bola
e se ajeita no samba
que não é fantasia
de revista e jornal,
e a rainha da bateria
é nossa passista mor,
sai de longo
e não anda na pista,
samba
como o figurino manda
e sabe de cor nosso hino,
na nossa escola
cabe gente do tango,
da valsa, do jongo,
gente que não tem
comida no bucho
e gente que na mesa
tem muito rango,
tem gente
bem e mal-vestida,
descalça,
sem calça e sem camisa,
a gente que vive de brisa,
nossa escola
tem beberrão e abstêmio,
ativo e passivo,
mas,
luxo e riqueza
nossa escola não tem não,
nossa escola é isso aí,
a escola
de quem ama o samba
e se chama:
Grêmio Recreativo
Escola do Samba no Pé
e do Pé no Chão!,
se quiser!,
meu irmão,
pode vir!

terça-feira, agosto 22, 2006

Onde já se viu?!

Era tão diferente
que duvido
que essa era
tenha sido real,
que esse tal
de antigamente
realmente tenha existido,
se não é mera quimera,
é besteira de sobejo,
ranço dessa mente
que ficou fraca e senil,
bonde!, realejo!, vaca-leiteira!,
francamente,
minha gente,
onde já se viu?!,
é caduquice absoluta
ver um Rio de Janeiro
com manso curso,
não poluído e piscoso,
e piscoso o ano inteiro,
e com flor, fruta e passarinho,
com Concurso
que escolhia a Misse
com muito requinte,
e a Misse
o pundonor não agredia,
e se dizia pundonor
sem provocar
arrepio no ouvinte,
com pelada em qualquer rua,
em qualquer terreno baldio,
e não era mulher nua,
com senhora
e cadeira na calçada
naquele ameno
finzinho de tarde
e se conhecia o vizinho,
e a gente se saudava,
“bom-dia”, seu Fulano,
e batia papo,
e era tanto papo
que a gente
esquecia da hora,
com ladrão de galinha
que furtava
em nome da fome,
e era tão chinfrim
que fazia alarde,
mais alarde
do que a bichinha,
uma cidade assim,
francamente,
onde já se viu?!,
é...
minha gente,
a insanidade anda a mil!

segunda-feira, agosto 21, 2006

Um amor e tanto

Nosso amor não é vulgar,
do bem amar sabe o sabor,
no nosso amor
não há desejo
a céu aberto
e véu e penumbra
também têm seu valor,
nosso amor
só se deslumbra
com o beijo certo,
beijo de paixão,
nosso amor
é amor de fato,
não é só esse tato
do amor de agora,
amor confundido com tesão,
embora não tenha hora,
nosso amor
só se espraia no ninho
que nosso amor
não se ateia no passeio,
caminho da multidão,
não chama atenção
na areia da praia,
não é um amor vândalo
que faz escândalo
no meio da grama da praça,
nosso amor
não é dessa laia,
nosso amor
tem a nossa graça
e graça somente nossa,
nosso amor
não necessita ser
publicamente concreto
nem é de fazer do prazer
simplesmente uma grita
insolente e devassa,
nosso amor
sabe perceber
carinho e carícia
num gesto modesto,
sabe ser
um olhar discreto
que só ele
é capaz de ver,
nosso amor
sabe saborear
o gemido indecente
que se geme baixinho
e a impudicícia dita
bem rente ao ouvido,
nosso amor é riso,
bastante riso,
o que não quer dizer
riso a todo instante,
e sabe ser pranto
quando é preciso,
pode ser
que alguém diga
que nosso amor
é um amor à antiga,
se é ou não,
eu não sei,
mas,
sei dizer
que nosso amor
é um amor e tanto,
é inundação de bem-querer!

sexta-feira, agosto 18, 2006

Alguém sabe?! (Carnaval aposentado)

Alguém sabe
da Chiquita Bacana
lá da Martinica?!,
alguém sabe se ela
inda é menina bonita?!,
se ela inda cabe na casca
de banana nanica?!,
alguém sabe
se ela inda engalana
algum Carnaval?!,
alguém sabe
se o pessoal
inda se derrete por ela
e tasca na Chiquita
confete e serpentina?!,
alguém sabe
se ela inda pula, dança,
anima bloco e cordão?!,
se ela ainda é o foco
que ilumina e agita o folião?!,
e se o folião
ainda cumula a Chiquita
de lança-perfume?!,
será que ninguém mais
chama por ela?!,
ninguém mais reclama?!,
ninguém mais assume
que ela faz falta?!,
será que só minh’alma
se assalta e perde a calma?!,
Chiquita Bacana
Lá da Martinica
Se veste com uma casca
De banana nanica
Chiquita Bacana...

sexta-feira, julho 28, 2006

Tem a ver com uruá

Essa donas são amazonas,
não querem saber
de sócio no negócio
e o negócio delas
tem a ver com uruá,
e está dando certo,
portanto,
trate de ser esperto,
de ficar de olho aberto,
senão,
vai perder a clientela
que elas oferecem
satisfação todo dia
na extensão
que a cliente quiser
e a garantia
é sem limite
pra qualquer apetite,
e, acredite,
não adianta alegar
concorrência desleal,
já há jurisprudência
afirmando que é legal!,
é...
já soou o alarma!,
para não ter
que pedir falência,
parece que o único jeito
é você ter peito
pra lutar com arma igual!,
quer dizer,
com arma adicional!

quinta-feira, julho 27, 2006

Samba ao alho e óleo!

Receita ou partitura,
eis a questão?!,
a questão que sujeita
esta criatura insegura!,
não sei se o feijão cato e cozinho
ou se dou um trato
no cavaquinho e no tarol?!,
não sei se preparo
vianda e verdura
ou se encaro a banda
pra torrar a gordura
e fazer jorrar o colesterol,
não sei se faço acém
com coentro e couve
ao óleo e alho,
como houve por bem
ordenar a patroa,
ou se entro no samba
com a Nilmária,
moleca danada de boa?!,
eureca!,
achei a solução!,
vou cair no samba,
samba ao alho e óleo!,
assim,
vou evitar galho e imbróglio
na minha área,
vai por mim!,
que vou me espalhar no bloco
sem tirar o foco
da obrigação culinária!

quarta-feira, julho 26, 2006

Pomba, que 'piromba'!

Nego me arrasa
e zomba de mim,
é sim!,
e zomba nego idoso,
nego moço e formoso,
nego obscuro e nego famoso,
nego claro e nego escuro,
não raro,
até senhora,
e toda hora
minha casa tomba
e vai pro fosso
que alguém se empomba,
ribomba
e arromba
meu portão chinfrim,
e vem com aquela tromba,
e é só negão da maromba,
e tome pitomba
e bomba na cabeça,
pomba,
que piromba!,
seja lá o que isso for,
não há quem mereça
esta hecatomba,
por favor,
chega de tanta gente com lomba,
de tanta gente
em festa de arromba,
de tanta zorra,
chega de tanta afronta,
porra!,
que só eu pago esta conta!

Zé Arisco

"Marcha soldado,
cabeça de papel,
se não marchar direito,
vai preso pro quartel,"
não,
tu não vais não,
menino de rua,
vais pr'alguma vala
cavada nesse inferno,
neste eterno desatino,
que o fuzil atira,
a bala não é de mentira
e rasga tuas entranhas,
e te perdes,
enquanto abocanhas teu soldo,
soldo de soldado
lotado em ruelas, becos e favelas,
"Pai Francisco entrou na roda,
tocando o seu violão,
pororompompom,
vem de lá seu delegado,
e Pai Francisco vai pra prisão,
como ele vem todo requebrado,
parece um boneco desengonçado...”,
"Zé Arisco entrou na coça,
botou sangue do pulmão,
pororompompom,
o pessoal ficou calado
e Zé Arisco foi pro caixão,
como ele foi muito torturado,
morreu um menor abandonado...”,
assim,
vais indo por aí,
pois quem devia,
não zela por ti,
te larga vestido nessa pele amarela,
azul de fome,
passando em branco,
sem letra e sem nome,
entre pungas e malotes de bancos,
embora verde ainda,
já findas qualquer dia,
e velas, touca, sunga, numa noite fria,
"murcha coitado,
pereça por guinéu,
vão te pegar de jeito,
deixar teu corpo ao léu,
murcha coitado,
pereça por guinéu,
vão te pegar de jeito,
deixar teu corpo ao léu,
murcha coitado,
pereça por guinéu,
..."

domingo, julho 23, 2006

Que derrota!

Que derrota!,
só a muito custo
levantei o ferro
e toquei o barco,
mas,
me perdi na rota
e quase fui a pique,
justo eu
que me encharco
de mares de bebida,
justo eu
que erro todos os bares
e aos bares
diariamente vou a pé,
e saio em linha reta
e de seta não necessito
na hora de ir embora,
justo eu,
quase um mito,
chamado até de alambique
por rivais e concorrentes,
justo eu
que bebo
simultaneamente
quente e gelado,
justo eu
que o expediente
nunca encerro
sem antepenúltima, penúltima,
saideira, expulsadeira
e outras que tais,
justo eu,
beberrão inveterado,
fiquei daquela maneira
e dei à platéia
razão pra achar graça,
e me derrubou a Azaléia,
é isso mesmo,
e um amor de Azaléia,
delicada e bela como a flor,
rapaz,
que mancada eu dei!,
um gole a mais,
mais um chouriço,
mais um torresmo,
e passei vergonha,
e ponha vergonha nisso!,
eu passei da linda
e a linda me venceu,
e fiquei um tanto
mole e bambo,
pudim de cachaça
dançando mambo,
e ela,
que assombro!,
estava ali
esbanjando raça,
rija que nem poste,
e falou assim:
“se encoste aqui
no meu ombro
que eu garanto!”,
e ainda
me sacaneou:
“só não mija em mim!”

sexta-feira, julho 21, 2006

Não há moral que resista!

Tome bandalha!,
tome falcatrua!,
e a gentalha
cada vez mais pálida,
cada vez mais esquálida,
cada vez mais sem dente,
quando sai pra rua,
bóia nua
ao léu da corrente
do esgoto a céu aberto
sem saber ao certo
aonde vai dar,
sem falar
no assédio do ladrão,
quando se apóia,
se apóia
num salário escroto,
e é sacaneada
até no ludopédio
que já deu satisfação,
mas,
do salafrário esperto
não escapa nem um vintém,
a velhacada rapa
cada cobre da escola,
enfia a mão
no do remédio do ancião,
deita e rola
no do rango do pobre,
se deleita
com o que devia servir
pra construir morada
e não permite que sobre
nem um tostão
pra ser investido
no samango subnutrido,
eu lhe peço perdão,
mas,
por mais que eu evite,
não dá
pra não ser pessimista
à vista de tanta descaração,
e a descaração
tanto cresce por aqui
que parece
não ter limite nem solução,
acho até
que não é
só questão de putaria,
é perversão,
perversão total,
perversão genética,
hereditária qual alergia,
aí...
a ética é secundária,
não há moral que resista!

terça-feira, julho 18, 2006

Deixe de moda comigo

Deixe de moda comigo
que você
não me engoda
quando se faz de boba
e vem com essa conversa fiada
de oba-oba
em que só amizade rola,
eu não entro nessa!,
comigo,
essa parada não cola,
estou bem por dentro
desse negócio de amigo
que faz festa
sem maldade,
e mais,
não quero sócio
nessa empreitada
nem adorno na testa,
sei que você
pinta e borda
no centro da roda
quando não estou de olho,
agora,
acabou a sopa,
ou você vira
senhora distinta
e transpira
no forno e no fogão,
ou vai
pro olho da rua,
mas,
nua não vai não,
vai com a roupa do corpo!,
aquela túnica singela,
sua roupa do corpo única,
que as demais eu lhe dei!,
e sei que você sabe
que nela
você já não cabe!

segunda-feira, julho 17, 2006

O normal é não ser são!

Há louco demais,
louco
que não acaba mais,
louco que se gaba de ser
e louco que se gaba
de não ser louco,
louco
que ficou louco de uma vez
e louco que se fez louco
pouco a pouco,
há louco minguado e louco farto,
há aqualouco
e louco que não sai da água,
louco que mágoa guarda
e louco que não guarda,
louco avaro e louco pródigo,
louco caro e louco módico,
louco claro e louco confuso,
há louco
que é um livro aberto,
livro escrito
pra que entenda até analfabeto,
e louco abstruso e secreto
que não desvenda
nem o sábio
mais hábil e louco,
há louco certo e louco errado,
louco desregrado
e louco metódico,
louco culto e erudito
e louco de código bem restrito,
há louco adulto e louco infantil,
louco que vive a mil
e louco desanimado,
há louco,
cá entre nós,
que já era danado de louco
lá no ventre,
louco nato,
e há louco
que ficou louco
após o parto,
ficou louco
em função do contato,
ou, então,
porque fez voto,
há louco
trancado no quarto
e louco
solto no meio da rua,
há louco
que só fica louco
se alguém disser
que ele é louco
e louco
que louco fica
se se disser
que louco ele não é,
é muito louco, né?!,
há louco de feito e de fato
que sempre dá um jeito
de sair bem na foto
e louco que fica na sua,
que não quer sair na foto
de jeito nenhum,
há louco
louco por zero a zero,
por um a um, dois a dois, três a três
por um a zero ou zero a um,
ou por um, dois, três
ou até mais,
e até de uma vez,
pois louco capaz de topar
qualquer placar,
há louco
que acha o fino
imitar louco famoso
e louco que acha horroso
não ser um louco genuíno,
há louco
tão louco pelo seu louco nicho
que é capaz
de se irritar e virar bicho
se vier algum louco
atrás do seu louco lugar
e há louco
que jamais sossega,
não se apega nem ao lar,
há louco titular e louco reserva,
há louco
que é fogo na roupa,
faz a maior zorra
e nos faz ter inveja
de sua régia porra-louquice
e louco cuja maluquice
não nos poupa,
nos faz sentir muito dó,
há louco com e sem medida,
há louco com doidice suja
que ficou louco
por causa de pó, erva,
bebida e jogo,
fuja desse louco
que esse louco é fogo!,
e há o louco por romance
que não perde a chance
de ficar louco
de paixão por uma mulher,
há louco que finge ser esfinge
porque não quer
dar explicação
sobre essa vida louca
e o louco
que fala pelos cotovelos
e o faz literalmente,
e não se cala
apesar de todos os apelos,
há louco inteligente e fidalgo,
e o louco tacanho e grosso,
há louco comum e louco estranho,
louco justo e louco injusto,
há louco
com muita aptidão
pra qualquer coisa louca
e louco com muito pouca,
há louco vetusto e louco moço,
louco esgalgo e louco atarracado,
há louco
que não liga pra nada
e louco ligado em cada tostão,
há louco sem poder
e louco com poder
saindo pelo ladrão,
em geral,
podres poderes,
como disse o Caetano,
há loucos com e sem haveres,
e os sem
não são poucos,
há loucos
de tudo que é sorte,
do louco insano e rasgado
ao louco com porte
e bem posto,
louco por gosto,
o chamado louco por esporte,
conclusão:
em razão da loucura
da conjuntura atual,
o normal
é não ser são!

Essa carne fraca me fez fazer feio

Essa carne fraca
me fez fazer feio
e levar vaia
quando saí de maca
ainda no meio
da primeira etapa,
e cheguei até a pensar
que tinha
o mapa da mina,
que besteira!,
a menina recatada
sob a saia justa
era quem tinha,
quem diria!,
era ela quem tinha...
e a cacofonia
é bem apropriada,
e de saia justa eu fiquei
quando tirei a dela,
que bastou uma soprada
e se apagou a vela,
e eu estava crente
que ia alumiar o ambiente
de ponta a ponta,
é...
a vela que antes algo valia
não vale agora nem um tusta,
bem,
como não sou mais criança,
é hora de mudança,
e já mudei
da água pro vinho,
daqui pra frente,
só vou com o azulzinho!

Que tititi!

Esse tititi
não é um tititi à-toa
e vai dar pano pra mangas,
e pra mangas
de batina e albornoz,
aliás,
cá entre nós,
vai ser a redenção
de uma multidão de otários,
os maridos traídos
para os quais o Ricardão
foi muito mais do que algoz,
pegaram a traição em pessoa
e decano da Associação
dos Usuários da Senhora Alheia
todo prosa numa canga rosa
e com uma pequenina
tanga de crochê
cheia de miçanga e paetê,
agora,
a tranqüilidade marital
é total e manifesta,
você já pode deixar
sua cara-metade
ir com a vizinha
àquela atividade social vespertina
sem recear contrair
aquele probleminha na testa
para o qual não há vacina!

sábado, julho 15, 2006

Uma vez carioca da gema...

Uma vez carioca da gema,
carioca da gema até gemer,
uma vez carioca da gema,
carioca da gema até gemer
de tanto beber gemada
com gema choca,
gema de ovo
sem clara nem casca,
gema de ovo
cada vez mais estranha,
mas,
o carioca da gema não pára,
rema e nada,
e não ganha nem empata,
apanha,
e tome porrada na lata
que o pau come!,
mas não faz mal,
o carioca da gema
nada e rema de novo
e mais ainda se lasca,
e torna a remar e a nadar,
e bóia
que a ladainha
cada vez mais
tem mais abobrinha,
e, por trás,
mais barganha e tramóia,
e de novo
rema o carioca da gema
e nada,
nada de paz,
nada de casa,
nada de escola,
nada de hospital
e nem sinal de emprego,
e o nego carioca da gema
só não se arrasa
porque se consola
com uma talagada de goró,
aí,
não se abala com toró,
com condução
ruim de dar dó,
nem com bala e ladrão,
se for chinfrim então,
nem nota,
e o carioca da gema,
por mais que torça,
já não tem força
pra puxar brasa
pra sua sardinha,
pra encarar
a alta da farinha
que tanta falta
faz ao pirão,
uma vez carioca da gema,
carioca da gema até gemer,
uma vez carioca da gema,
carioca da gema até gemer...

sexta-feira, julho 14, 2006

O meu ideal!

Lá no prédio
mora a Berenice
que foi misse
quando
ainda não havia fio-dental
e foto de misse
publicava o jornal,
e a Berenice me disse
que andava com tédio
e que era hora
de agarrar um ideal,
então,
fiz uma tolice,
lhe ofereci o meu
só pra ser gentil,
mas,
a maluca ficou a mil
e quebrou um pau!,
e como doeu!,
e nem cheguei a botar
meu ideal pra fora!,
onde já se viu?!,
é...
hoje em dia,
não dá mais
pra ser educado
nem pra tentar
fazer uma cortesia,
além de ter apanhado,
fui processado
por assédio sexual,
e o Sinédio,
marido da maluca,
diz que eu não presto
e que está decidido,
vai usar uma bazuca
pra dar cabo
de cabo a rabo
do meu ideal!,
que é até
um ideal bem modesto!,
o que é que eu faço agora,
pessoal?,
mas,
meu amigo,
se você
não for qual o Sinédio,
enquanto meu ideal
não se evapora,
se sua senhora precisar
debelar o tédio,
mande-a falar comigo
que eu lho empresto!

quarta-feira, julho 12, 2006

Alma nômade

Alma nômade,
de quando em quando,
me abandona
sem alerta ou aviso,
deixa a porta aberta
e me deixa solto,
então,
vêm à tona
aquela vontade torta e frouxa
e fico envolto numa colcha
de desejos imprecisos,
mais lampejos
que outra coisa qualquer,
é um efêmero fogo
que não sustenta,
não alenta
bons beijos, bons abraços,
alma nômade
que se desatrela de mim
quando mais preciso dela
e me devasso
num jogo
de não poucas
loucas aventuras,
uma procura
que não tem fim,
minha alma é assim
e me faz inconstante,
me desassossega,
me nega a todo instante
o prazer de fazer
um afago menos breve,
me nega o prazer
de fazer afago
como se deve,
afago profundo,
aí,
vagabundo pela luxúria
aqui e ali,
e vagabundo
com aquela fúria
de quem não sabe o quer,
de quem não sabe sequer
se o que quer quer saber!

quarta-feira, junho 28, 2006

A bem da verdade

Não sou mais moço,
não sou mais
o touro de outrora,
o osso duro de roer,
e a paixão agora
já não me arrebata,
se foi a fase de ouro
e chegou a de prata
quase sem eu perceber
que fui cumulando
cada hora de cada dia,
cada folia de cada madrugada
e acabei herdando
o que me deixou a boemia,
entretanto,
lhe juro
que não cumulei covardia
e ainda brigo
quando mexem comigo,
dou o troco,
seja até soco e pontapé,
mas,
a bem da verdade,
hoje em dia,
essa valentia
já não me serve mais,
pois,
acuado e só no meu canto,
tenho brigado só com o pranto
por causa dessa tal de saudade!

segunda-feira, junho 26, 2006

A quadratura do círculo

O país se ufana do rapaz
e o rapaz se ufana
de ser a glória do país,
como está cheio de grana,
não tem nem receio
de fazer filosofia,
diz que se lixa
pra essa história
de deixar cair a ficha
porque não é orelhão;
então,
quando a bola rola
e a partida principia,
não cai
a ficha da figura
e não se dá a ligação,
mas,
a torcida cai na real
que o artista esfola
e desfigura a coitada
porque cismou
que vai provar
a quadratura do círculo,
e não há no mundo
nada mais profundo,
nada mais genial,
segundo falou
um especialista em mundial
numa entrevista
pra revista, tevê e jornal,
e a malta que pagou
pra ver futebol,
quando o cisco sai,
vê o visco,
o círculo vicioso:
por falta de classe,
o passe é horroso
e quadrada fica a bola,
com bola quadrada,
a jogada não rola,
se não rola a jogada,
não vem o gol,
se gol não vem,
a malta,
pra não deixar
passar em branco
toco, soco, tapa,
erro, rapa e tranco,
em tom choroso,
sai falando
que tem garçom paca
bem mais virtuoso
dando show de madrugada
em pelada no Aterro,
se safando de perrengue
e dando a bola de bandeja,
aquela bela bola
que enseja ao cozinheiro
fazer gol de faca
e dançar no meio da cozinha
merengue, valsa,
tango ou fado,
caramba!,
tá errado,
enseja ao cozinheiro
dançar samba
na bandeirinha de escanteio
depois de fazer gol de placa
em goleiro que se realça
por não engolir frango
nem com salsa e cebolinha!

sábado, junho 24, 2006

Me desculpe, amigo

Me desculpe
o mau gosto
posto que pergunto
“como vai?!”
quando vejo você,
mas,
sai sem querer,
me desculpe,
tocando no assunto,
dou a você o ensejo
de falar um “vou indo...”
de quem já não avança
ou de se enganar
com um “tá tudo bem”
de quem já perdeu
até a esperança,
então,
eu não me empolgo
nem me atrevo
a dizer sorrindo
o usual ‘folgo em saber’
e não digo
que sei que não devo,
enfim,
amigo,
não se ofenda,
não contenda comigo,
entenda o “como vai?!”
como refrão ruim
que a cantar eu sigo,
apesar
de estar ciente
que não cabe
perguntar “como vai?!”
quando se sabe
que quem é normal,
normal minimamente,
certamente
vai indo bem mal!

segunda-feira, junho 19, 2006

Deu ziquizira na atual conjuntura

Parece mentira,
mas,
não é não!,
deu ziquizira
na atual conjuntura,
até a tradicional cuíca
anda com um jeito
muito suspeito,
estica o bolero
e vai à loucura,
quando do bolero sai
e tenta um samba,
empola o pobre tanto
que nem santo agüenta,
ou faz um samba
tão nobre e austero
que até parece feito
pra ser levado
por viola de gamba,
aí,
a ginga do bamba
não ata nem desata,
a mulata vira senhora
e rebola um rebolado
tão fora de moda
que nem dá na vista,
e a roda não vinga,
enfim,
é uma ziquizira tão ruim
que tem sambista
se engasgando com pinga.

quarta-feira, junho 14, 2006

Malandro por osmose

Não o proíbo de os perder,
mas,
tente não perder os estribos
a ponto
de sair no tapa com o fato,
se conforme,
meu chapa,
é bem mais inteligente
já que o que está feito,
feito está,
e pronto, e ponto,
e é preciso ter muita malícia
pra escapar intato,
portanto,
antes de passar recibo
de sua enorme imperícia
e de consumar o prejuízo,
vá à Lapa,
primeiro,
se encoste num poste
de uma esquina
e até pose,
mas sem exagero,
gente fina,
a seguir,
entre num bar,
peça uma dose de quinado
e vá bebericando
bem devagar,
gole a gole,
e dando asas à imaginação
até se sentir em casa,
então,
imagine
um malandro ao seu lado,
não um malandro
sem tino nem psicologia
pra se livrar
de confusão e percalço,
não um malandro
falso, chucro
e sem selo de garantia,
imagine
um malandro genuíno,
malandro de fato
e do sapato bicolor
à brilhantina no cabelo,
tente imaginar
um digno exemplar,
um malandro de valor,
malandro capaz de botar
panos quentes
nos piores atropelos
e de tirar algum lucro
dos maiores danos,
quiçá,
após ter bebericado
a dose de quinado,
você
tenha se tornado malandro,
malandro por osmose!

quinta-feira, junho 08, 2006

Esse ele

Ele aprecia entrada franca
e boca-livre,
conforme a entrada
é mais franca
e a boca é mais livre,
mais ele aprecia,
ele não dorme de touca,
ele é fã de carteirinha
do farinha pouca,
meu pirão primeiro,
ele banca o intelectual
e enuncia
relha e velha expressão
sem preposição
e com adverbial cacofonia:
“sã mente corpo são”;
ele é useiro e vezeiro
em conto e pulo-do-gato,
especialmente,
em conto-do-vigário
e da carochinha,
basta ele achar pela frente
um mais tonto,
mais otário do que ele,
e ele está sempre pronto
a tirar o corpo fora
pra não pagar o pato,
e ele comemora
quando o pato
é pago por alguém,
agora,
ele fica gago, tremilica e até chora
quando tem que pagar
e ele chega a se inflar de indignação
quando o pagão é sua nega,
amigo ou parente chegado,
mas,
se o pagador for inimigo,
sogra, sogro,
cunhada ou cunhado,
ele até malogra feliz
e é capaz de pedir bis
de tanto que se apraz
com o remate do malogro,
enfim,
até aí,
nada de mais,
que há gente assim
em qualquer local
desse disparate global,
é um denominador comum,
mas aqui,
o numerador é atroz,
sua dimensão
faz a fração
ser quase igual a um,
é isso aí!,
entre nós,
esse ele
é pronome bem universal
em gênero, número e grau!

quarta-feira, junho 07, 2006

Sou essa mistura!

De fato,
sou essa mistura!,
mistura
misturada a contento
no momento exato,
a contento e exato pra mim,
aliás,
pelo que sei,
é sempre assim...
e não sei mais nada...
não sei
se fui exuberante fagulha
num contato faiscante
ou uma agulha
que achou no palheiro
alguém que nem procurava,
pra ser verdadeiro,
não posso nem dizer
se havia um intento,
se havia,
se do intento eu constava,
não posso nem dizer
‘do intento saí tanto por cento’,
pois é,
o tanto que sei
é que sou essa mistura,
e, desde então,
me misturei por aí,
às vezes,
a intenção até foi boa,
e daí?!,
se sequer sei dizer
em quanta mistura
me misturei,
mistura de fato,
e, quando ocorreu
de fato mistura,
sequer sei dizer
se foi meio a meio,
se valeu,
se não foi mistura
misturada à toa!,
mistura de nada!,
enfim,
sou assim e só sei dizer:
sou essa mistura!

terça-feira, junho 06, 2006

Tampe o seu nariz!

Não liga pra essa figura
repleta de pose,
contudo,
caso a pose incomode,
imagine o posudo no vaso,
e pode ser ele quem for,
doutor, capitalista,
artista ou atleta,
ou até a boazuda
cheia de frescura
que sacaneia a gente,
a gente dura e miúda,
é bom que se diga,
e como o posudo não cabe
em vaso de flor...
você já sabe
de que vaso estou falando,
e comece
imaginando o todo
pra ter visão completa,
depois,
vá direito aos closes,
e closes a rodo
pra captar cada faceta,
cada careta, veia e trejeito,
não há pose que resista,
bom,
caso falhe
e siga chateando a pose,
passe em revista
um outro detalhe,
som ou aroma,
ou mesmo os dois,
depois,
me diga se a pose
não entrou em coma,
e em coma profundo,
todavia,
não se dobre de rir,
ria só por dentro,
deixe o pobre infeliz
seguir em frente
achando que é o centro do mundo!,
mas,
disfarçadamente,
tampe o seu nariz!

quinta-feira, junho 01, 2006

Fazer sessenta é mole...

Fazer sessenta é mole...
bole positivamente com a gente
que são muitos motivos pra ficar feliz,
muitos motivos...
muitos...
quais são, hein?!,
parece que a gente
fica frente a frente...
é...
é melhor deixar pra lá...
fico imaginando então
como deve ser
fazer sessenta e nove?!,
ou será que já fiz
e nem me lembro?!
puxa...
nem lembro
onde deixei o meu Engov?!,
bom...
não dá mesmo
pra recuperar o que foi perdido,
noite de sono,
manhã curtindo ressaca
e podia ter bebido logo outro gole,
quantos goles não bebidos...
aqueles dias
com a faca e o queijo na mão...
queijo e faca na mão do dono!,
o chefe, o fiscal, o guarda no sinal,
o gerente do banco,
bom...
não dá mesmo
pra apagar aquele blefe esperto,
tão esperto
que nem certo deu
e a patroa
o botou no meu prontuário
como razão pra tentar
a remoção dos meus testículos...
e seria um arranco à-toa...
não dá nem pra imaginar!,
ia ser mesmo ridículo...
sexagenário
e ainda por cima...
felizmente saí ileso
e, como ainda os prezo,
isso até me anima um pouco...
um pouco...
pra que servem mesmo os testículos?!,
enfim,
parabéns pra mim,
agora,
ao lado da minha senhora,
vou apagar...
quer dizer,
sou soprar minhas velhinhas!
(não me goze
nem me desça o malho
que não foi cinismo
nem ato falho
em dose dupla
depois de mais uma dose,
foi só barbarismo,
e não deu tempo pra apagar...,
quer dizer,
não deu tempo pra corrigir),
bem,
preciso admitir
que uma vantagem
o sexagenário tem,
o pessoal botou até o plural
na conta da esclerose
e não deu nenhum galho!

quarta-feira, maio 31, 2006

Prezado Senhor Ladrão

Prezado Senhor Ladrão,
atire,
mas,
se vire pra mirar em mim
e errar o alvo,
assim,
o senhor cumprirá
seu relevante papel
e não mandará
um ser insigificante pro beleléu,
juro que não é
egoísmo mal disfarçado,
é patriotismo puro,
Senhor Ladrão,
que me preservar
é essencial
pra preservação do mercado,
caso eu escape são e salvo
do assalto presente,
o senhor vai poder ir em frente
que vai ter alguém
pra assaltar amanhã
na mesma hora e no mesmo local,
portanto,
não seja afoito,
nem me atrase também,
Senhor Ladrão,
já são quase oito da manhã,
se eu chegar atrasado,
nos põe na rua meu patrão,
por outro lado,
apesar de ser injusto
exigi-la do senhor
já que, na qualidade
de profissional neoliberal,
não pode incluí-la
no seu custo operacional,
soube que o Senhor
ainda não pagou
sua contribuição marginal,
por favor,
entenda
que minha assertiva
nada tem de pessoal,
mas,
se o senhor não contribuir,
não terá inscrição
nem carteira de Ladrão
e não poderei deduzir
no meu imposto de renda
minha colaboração em real,
cheque, jóia, auto, cartão e celular,
e o mais que o senhor
quiser pegar!,
aliás,
contribuição
que me enche de alegria
e de vaidade como cidadão,
posto que eu não passe
de um cidadão de terceira classe
que não faz mais
do que cumprir sua obrigação social
quando apóia e auxilia V. Sa.,
um cidadão de primeira,
a sustentar o alto padrão
de sua atividade produtiva
sem precisar puxar o breque
em razão de crises
e deslizes na economia!
Respeitosamente,
Fulano de Tal

segunda-feira, maio 29, 2006

Foi o bonde que se perdeu!

Você é percussionista precursor
da percussão sem tambor
que não precisa ser percussor
pra fazer a platéia percutir
em toda a extensão da emoção,
você é cantor precursor
do canto que encanta
quando você não canta
porque o encanto
é fazer fluir na idéia a canção,
e mais,
você é artista
e baluarte da encenação
que vai de encontro à arte
pra lhe dar um encontrão,
e abalar, e sacudir,
recontro pra partir o coração,
e parte,
e rolam cacos pelo chão e pela fala,
e com a fala vêm
gotas e mais gotas,
e o perdigoto não rega,
esbodega o broto,
garoto, garota,
donde,
se pode concluir,
não fui eu
que perdi o bonde,
foi o bonde que se perdeu!

Vou perder por aí o juízo

Vou perder por aí o juízo
que o juízo
me atirou na armadilha,
a loucura da vida séria,
ganhar dinheiro e pagar fatura,
e uma pilha pra pagar,
vida sem pilhéria e sem piada,
e dei guinada
do riso maneiro
pra cara emburrada
sem receio de ruga e carquilha,
fui qual cordeirinho
do recreio pra sala de aula
ligado no raio do boletim,
adeus!, pebolim, pelada,
gude e papagaio!,
adeus!, juventude!,
desisti da fuga no meio do caminho
e, sem escala,
voltei pra jaula apertada,
de dia, escritório,
de noite, lar doce lar,
fui do boteco pro consultório
pra levar sermão
e passei a sentir
um treco aqui e outro ali,
ou seja,
adquiri o velório à prestação
e a coroa à vista
que a patroa
meteu o arreio em mim,
e o broto fez a pista,
que broto não vinga
numa vida assim,
aí,
em vez de pinga, cerveja,
rabada e feijoada completa,
dieta
com canja e laranja-seleta,
em vez de show e madrugada,
reunião com a parentada,
em vez de orgia e desfrute,
amor caseiro
com posição e hora marcada,
cheiro e sabor de chuchu,
e nada de repeteco,
em vez do chute a gol que arrepia,
a apatia do tiro de meta,
agora,
avisa a seta quando viro
e entro pra direita ou pra esquerda,
e se divisa
a luz de freio perfeita
quando breco pra não sair do centro,
donde se deduz
que preciso
perder por aí esse juízo
enquanto não é plena a perda
e ainda dá
pra erguer algum caneco!,
se é que ainda dá?!

sexta-feira, maio 26, 2006

Esplêndido prazer!

Que esplêndido contorno
e entorno meu prazer
em torno do seu,
você me contorna
enquanto contorno você,
quanto prazer!,
prazer esplêndido,
que esplêndida montaria
você se torna,
que cavalgada esplêndida,
eu desmonto
e pronto você monta,
e a montada nos desvaria,
e não nos amendronta
nenhum vale,
não há monte
que a gente não escale,
não há ponte
que a gente não cruze,
não há fonte
que a gente não use,
em que a gente
não se molhe,
não há flor nem folha
que a gente
não desflore e desfolhe,
não há sabor
que não aflore,
que a gente
não adore consumir,
sentir todo o gosto,
não há fronteira
que nos tolha,
que a gente não afronte,
não há limite
que nos seja imposto,
nem maneira
que a gente evite
ou não explore,
prazer esplêndido,
esplêndido prazer!

quinta-feira, maio 25, 2006

De improviso

Moa,
meu irmão,
sua improvisação
foi muito boa,
mas,
mesmo de improviso
foi meu riso fuleiro,
riso de quem do pandeiro
tirou miado
e precisou jogar no veado
pra não ser apanhado
pelo dono do bichano,
um Fulano de Tal
torturante como ele só
e com muita prática
que serviço relevante já prestou
à medicina artesanal
dando nó nas tripas,
retirando glândula hepática
e metendo a ripa
em muita gente fina,
sem nem medir pressão arterial,
e fez tudo isso
lá mesmo no quintal
onde corria a batucada,
bem...
como tem medo quem tem
e já não é assim tão cedo...
lá vai uma talagada,
homeopatia,
pra me acalmar a nervosia!!!