sábado, outubro 29, 2005

"O que os olhos não vêem..."

“O que os olhos não vêem,
o coração não sente”,
que grande engano
da sabedoria popular!,
e pra que ninguém tente
dizer que eu minto,
eu vou provar!:
é de amargar
o dano que me faz a pimenta,
me arrebenta o dito-cujo,
e eu sinto
mesmo sem contato ótico,
quase fico louco com a mazela,
quase ponho
o dito-cujo na janela
pra tomar um pouco de ar,
e acho
que ninguém ia se espantar,
no máximo,
iam achar exótico,
e a moda podia até pegar!,
só ando cheio de dedos
e ainda não fiz
porque tenho medo
que vente um vento do cacete,
eu pegue o cacoete
e acabe pedindo bis!

Dê tempo ao tempo

Não se afogue na cachaça
por causa de mulher,
companheiro,
sequer se jogue na fossa
por mais que possa parecer
não haver mais graça,
não se entregue o dia inteiro
à lamúria e ao lamento,
nem descure da aparência,
também não consinta
que a fera minta
e procure alento na luxúria,
na fúria do prazer sem enredo,
mera reticência,
dê tempo ao tempo
e não tenha medo do navegar,
sua vida é o mar!,
marinheiro,
aproveite a calmaria!,
tome pé das correntes,
inserte o acidente na carta,
a maré baixa no roteiro,
vai ajudar lá na frente,
ajeite as avarias da vela,
conserte o leme,
depois,
peça proteção à Iemanjá,
reme e parta,
a qualquer momento
um bom vento se revela,
com ele,
um novo amor virá!

sexta-feira, outubro 28, 2005

Se conselho fosse bom... (I)

Não faça nada,
meu irmão,
se não souber fazer direito
e mais,
faça sempre bem feito,
aliás,
como você não tem fada madrinha
nem varinha de condão,
se não puder ser desfeito,
não vá adiante
sem antes pensar muito
e muito bem!,
vai por mim!,
fazendo assim,
você vai ter alguma chance
de não fazer um papelão,
ou seja,
se proteja cem por cento!,
se possível,
cento e cinqüenta!,
pra não passar vergonha,
e ponha na cabeça
e nunca mais esqueça:
caldo de galinha e água benta
não fazem mal a ninguém!,
portanto,
vamos lá:
não confie só no fado
se se tratar de cartada,
trate de escolher a dedo
e bote de lado
a que for mais arriscada
mesmo se tiver na mão
um trunfo muito bom,
se o medo de perder
tira a vontade de ganhar,
não é menos verdade
que triunfo a qualquer preço
pode ser o começo
de grande derrocada!;
não seja boboca,
fique esperto no seu canto,
atento à demanda da cerveja,
não se lance
de peito aberto à ciranda,
antes veja como a banda toca,
e não avance
em cantada e romance
se não souber quem é a mulher
ou se houver alguém por perto,
mesmo não sendo um macho!;
se não souber bem da platéia,
meu camarada,
não se exponha
explorando fato, cacho ou boato,
não meta na idéia
que é contador de piada
ou craque em fazer caco
se não tiver aquele jeito gaiato,
nem caia na esparrela
de se meter a cantor
se não tiver bossa
ou não souber se é oportuna
por mais que a canção seja bela;
por precaução,
nunca saia
com quem enfurna o que tem
e não se coça
na hora de pagar a despesa;
embora não seja o mais fraco,
só puxe a corda
quando tiver certeza
de que não será forçado
a mudar de repente de lado;
só desembuche
se puder afirmar
que vai falar o que pode ser ouvido,
caso contrário,
fique mudo!;
não seja louco nem otário!,
não entre no jogo,
mesmo se levar partido,
se não souber tudo e mais um pouco
a respeito do sujeito
que vai usar o outro taco;
comece pela borda
mesmo se lhe for garantido
que o mingau já está frio;
e não saia metendo o pau
nem pondo fogo no pavio
se não souber de antemão
o tamanho da explosão,
bem,
meu irmão,
como já diziam antanho,
se conselho fosse bom...

quinta-feira, outubro 27, 2005

Meu retrato

Eu sou assim mesmo,
mistura de rábula
e poeta precário,
levo a esmo cada dia
da discreta loucura
que me repleta
de manias e cismas
que não cita o dicionário,
sou sócio honorário do ócio
e sócio atleta
da conversa fiada,
e vice-versa,
sou partidário da dieta
com moela, lingüiça e torresmo
e regada com aquela cachaça
que atiça em mim
fábula, sofisma e falácia,
graças à eficácia
de um prisma particular
lapidado em banheiro de bar,
consegui descobrir
que o dinheiro não é a saída,
apesar de pagar
entrada e prestação
de boas coisas da vida,
eu sou assim,
calça surrada de brim,
mocassim cambeta
e camiseta chinfrim,
durmo e acordo tarde,
quando pinto e bordo
e o coração fica tinto e encarde,
me ponho de molho na canção
e sonho de olho aberto,
quando tudo está certo demais
ou alguém me faz
favor ou louvor
sem razão aparente,
fico cismado,
eu sou assim
e vou indo em frente,
quer dizer,
vou indo de lado,
que trás de mim
vem vindo gente!

quarta-feira, outubro 26, 2005

Que ironia!

Que ironia!,
é de pura madeira
o manípulo do machado
que sem nenhum dó cesura o tronco!,
que ironia!,
é o nó do coração
abafado pelo ronco do canhão
que desata a paz e a faz virar bandeira!,
que ironia!,
ser sempre capaz
de ser um tenaz discípulo
é que é do bom mestre o grande dom!,
que ironia!,
é diante dos cacos
que o ser consegue preceber
qual é, por inteiro, a sua real dimensão!,
que ironia!,
é na força da mão
ao irmão mais fraco concedida
que a gente conhece o forte verdadeiro!,
que ironia!,
a marca registrada da vida
não é a chegada,
mas a partida!

Tudo se passa como se eu fosse assim!

Se não sou esperto,
não esperto respeito
e ninguém me dá valor,
não devo ter valor nenhum,
por isso,
sempre compro dois
e aceito levar um,
pago pelo prato feito,
não pego arroz nem feijão
e não como no ato
nem carrego pra comer depois,
faço questão
de não dar carteirada
com carteira de estudante
pra não ter direito à meia-entrada,
compro cadeira
e fico exultante com arquibancada,
pago o aviso-prévio
que seu Mévio não me deu,
que o patrão tem sempre razão,
arco com prejuízo, multa, consulta,
quando me indulta o ladrão,
chamo sua atenção,
mas,
com muita educação,
que louco não sou não,
e ponho muito pouco
meus pés no convés do barco
porque acho melhor
quando, no porão,
me enxarco de suor,
acho normal
ser caça em tempo integral,
e qualquer pirralho rouba meu doce!,
por fim,
mesmo sem remumeração,
acho que me enobrece o trabalho!,
na verdade,
minha gente,
e falo meio sem graça,
acho que sou bem diferente,
mas,
como as autoridades
fazem gato e sapato de mim,
tudo se passa como se eu fosse assim!

quinta-feira, outubro 20, 2005

Chega!

PARTE I
Chega desse pingo de pinga,
de catinga de bode
por carência de banho,
desse moleque com ranho
por ausência de vitamina
e de sacode diário na esquina;
chega de gringo sem ginga
virar sambista honorário,
aí... desafina o samba
quando entra na pista
e descamba pro tango
abanando leque feito de mango;
chega de loucura,
essa fartura de nego no guichê
à procura de emprego,
menina fazendo michê pelo rango
e sujeito que dá propina
pra, depois, pichar o samango;
chega desse pessoal cara-de-pau
que acha muito normal
privilégio, caixa dois,
carência de colégio,
hospital e habitação,
até mesmo de arroz e feijão;

PARTE II
chega!,
minha nega,
não agüento mais esse carma,
não tenho mais saco
pra encarar as armadilhas
que essa quadrilha tanto arma,
mas,
sem ilha paradisíaca
pra fugir dessa matilha
e curtir um bom descanso,
vamos juntar ranços, cacos,
trancar o barraco e mandar ver,
pelo menos,
vai ser gozado,
eu tentando ser tarado
e você, ninfomaníaca!,
quem sabe assim,
por fim,
a gente faz sucesso
e ainda arranja grana
com a venda de ingresso?!

sexta-feira, outubro 14, 2005

Não é bravata não!

Não é bravata não,
troquei paletó, gravata,
pisa e peruca grisalha
por camisa de algodão,
bermuda de linho,
boné e sandália,
e veja só você
como é que é,
em razão da muda
mudei vida e bebida
da água pro vinho,
quer dizer,
pra uca e cerveja,
me livrei
da bandida ilusão
de ser o mocinho
do horário comercial
indo atrás
do bandido numerário
e passei a quebrar o pau
ou a fazer chiste
quando a mulher
quer tomar satisfação,
contudo,
como a perfeição não existe...
há um senão,
minha nada simpática
hepática glândula,
pois,
apesar do afago
ou, caso prefira,
do soldo que pago
em boldo-do-chile,
vira e mexe,
ela pira e escândula faz
por escabeche ou trago,
aí,
tome bile
e bile que não acaba mais!

sexta-feira, outubro 07, 2005

É só um jogo?!

Nunca se coloque
em perigo o rei!,
não sou eu que digo,
é a lei!,
então,
que o monarca
fique no roque
pois a fuzarca é fogo
quando não é treino
e o reino está em jogo,
que de peão em peão
enche o papo a rainha,
de esguelha o bispo caminha,
o que não é fácil,
e a casa pode cair
se não for na linha certa,
aliás,
pode cair o palácio,
por sua vez,
o cavalo alerta
e de orelha em pé
faz suas manobras,
salta uma vez, salta duas, salta três,
mas não vai reto,
dobra no meio do trajeto,
e até salta a ré
pra não deixar na mão o rei,
e o rei
acompanha os lances,
os avances, os breques,
mas,
um olho na campanha
e outro olho na lei,
pois sabe,
não havendo empate,
se não souber dar,
vai levar xeque-mate!

Estou seco

Que ela não me escute,
mas,
estou seco
pra calçar um bute,
dar um chute
no pau da barraca,
dar um bico na matraca
e ficar livre do enxeco,
já tô de saco cheio
e não vejo a hora
de poder mandar
essa bruaca pra escanteio
e acabar com seu desfrute,
mas,
se não tiver tento
e der agora,
na certa,
o tombo vai ser feio,
tanto quanto
o rombo no orçamento,
e vou ficar
num beco sem saída,
que a unha-de-fome
é mais esperta
do que eu supunha,
me enrola,
rebola e me dá come,
toca de efeito,
se dá bem em bola divida
e não põe
a grana no meu nome,
portanto,
o jeito
é tocar a vida a dois
e deixar a gana pra depois!

Falta de fósforo

Quase já sem fósforo
pra riscar
e acender a lembrança,
ando qual criança,
dei de fazer lambança
a torto e a direito,
saio pra comprar
garrafa de Mar Morto
e levando tarrafa
pra pegar vinho do porto,
dei de querer depenar
o Bósforo do vizinho gordo
e de tentar navegar
pelo Estreito da Galinha
porque a vizinha
não quis fazer acordo,
e ando jurando
que se foi de véspera o lorto
e numa festa do peru,
mas,
tem um lado que presta,
a patroa fica numa boa
e já não reclama
quando tiro a roupa
e fico nu na cama
enquanto a babá
está me dando sopa!

quinta-feira, outubro 06, 2005

Que zona!

Meu camarada,
que zona!,
nas minhas bochechas,
e sem me dar
ao menos uma deixa,
alguém tirou
azeitona e camarão
da minha empada,
em compensação,
quando dei por ela
e pensei em fazer queixa,
o alguém me telefonou
do meu celular
e jurou me dar o troco:
ameixa e quatro velas;
como não sou louco,
fiquei na minha!,
aí,
tocaram a campainha
e me deram um susto,
mas era
aquela senhora vizinha,
um avião!,
busto de fora,
sem calcinha
e fazendo gracinha
pra cima de mim,
fiquei tonto
e a fim de perder a razão!,
mas,
caro ouvinte,
de pronto,
lembrei do Joaquinzão,
o consorte,
além de muita sorte,
tem dois metros,
cento e vinte quilos
e aquilo roxo,
aí,
o meu ficou frouxo,
soltei um muxoxo,
revirei a munheca
e gritei:
vade retro, dona Teca”;
que zona!,
meu camarada,
fiquei sem recheio na empada
e na parada inda fiz feio!

Assim não dá!

Mulher,
me amarro em você,
mas,
vai por mim,
assim não dá!,
não dá não!,
é sarro, esfregação,
amasso, beijo, abraço,
desejo gemido
ao pé do ouvido
que a gente
chamega sem parar,
entretanto,
na hora H,
você sai fora,
alega
quebranto difuso,
se apega a fuso horário,
pega a falar
de ovário confuso
e me deixa a perigo,
literalmente na mão!,
qual é,
mulher,
assim não dá não!,
não há quem agüente,
você vai acabar
acabando comigo!,
se você quiser,
a gente até se casa,
e sua vida
vai ser conto de fada,
casa, comida, empregada,
carro caro e chofer,
eunuco,
é claro,
que não sou maluco!,
e você
nunca mais
vai andar lisa
que conta e cartão
não vão ter limite,
você só precisa
aceitar meu convite
e ser a rainha
da minha bateria
e do meu carnaval,
e desfilar
do quarto pra sala,
da sala pra cozinha
e da cozinha pro quarto
com aquele salto alto
e sua fantasia natural!,
e mais,
pode fazer
a arte que você quiser,
mulher,
que eu vou atrás
sem perder teu passo
e o compasso do teu samba
que sou bamba nessa parte!

quarta-feira, outubro 05, 2005

Com um canto, eu me contento

Com um canto, eu me contento
(Luiz Moreira)

Embora queira tanto,
não piso nesse terreiro
de qualquer maneira,
primeiro,
peço licença
a quem tem merecimento
e brilha no pedaço,
não que eu seja santo,
mas tenho tato,
meço tudo que faço
e tomo tento no que digo,
que não viso desavença
nem sou aventureiro,
depois,
passo pela porta de serviço,
eu não ligo,
não me apoquento,
não há vergonha nisso
e o trabalho não me humilha,
e se surgir algum atalho,
há de ser,
de fato,
da minha trilha cem por cento,
parte do meu caminho,
que ninguém o corta,
ele não comporta essa arte,
e aviso,
meus amigos,
não preciso de muito espaço,
num pequeno me abrigo,
faço um ninho,
com um canto,
eu me contento.

Não é assim não

Casa de ferreiro, espeto de pau,
com todo o respeito
que merece de mim
a sabedoria popular,
qual nada!,
meu irmão,
não é assim não,
é só modo de falar,
se fosse desse jeito,
mestre-de-obras
moraria em prédio sem cozinha e banheiro,
marceneiro poria as coisas no chão
por falta de armário de madeira,
cobras do ludopédio
não jogariam pelada no quintal
nem tomariam banho de banheira,
assistente social não aceitaria donativo,
papa-defunto seria enterrado sem esquife,
cuteleiro cortaria o bife com garfo e colher,
dono de lupanar não ia arranjar mulher,
empresário do setor auto-motivo
ia sempre andar a pé,
não haveria fé em lar de pregador,
nem remédio no de boticário,
em casa de artista,
não haveria tragédia, drama ou comédia,
colchoeiro dormiria em cama sem colchão,
em moradia de dono de bar,
biriteiro ia ficar a ver navios,
ginecologista saciaria o cio de outra forma,
nunca fazendo amor,
a norma em casa de bamba ou de batuqueiro
seria não haver roda de samba,
por favor,
meu irmão,
não é assim não,
casa de ferreiro, espeto de pau,
é só força de expressão!

Aos meus Orixás

Minha saudação,
meus orixás,
saravá,
que hoje é quarta-feira,
kauô kabiecile,
Xangô,
meu pai,
deus do raio e do trovão,
senhor das pedreiras,
filho de Yemanjá,
que teve de Orânhiã
também Dadá e Xampanã,
saravá, rei de Oyó,
sei que não mereço, mas me abençoas,
sei que me proteges
mesmo se esqueço de te pedir,
perdão,
meu pai,
pra me redimir,
já estão no peji teus axés,
xeré, oxê, coroa, braceletes,
e pra comer
tem amalá, caruru e muito dendê,
em trinta de setembro,
no teu ossé,
pode deixar,
eu lembro de botar no banquete,
acarajé, feijão preto, farofa e arroz;
sois minha mãe,
Iansã,
mãe Oyá,
saravá,
esposa do rei,
epahei,
rainha guerreira,
com tuas pulseiras,
teu colar de balangandãs,
e essa tua beleza,
eu nunca vi outra igual,
tens os ventos, raios,
as tempestades nas mãos,
teu temperamento é pura paixão,
e com firmeza e teus axés,
teu alfanje, teu iruexim,
tanges o mal pra bem longe de mim,
por tua proteção te agradeço,
minha mãe,
em tua mesa tem amalá, acarajé,
em quatro de dezembro, no teu ossé,
pode deixar que lembro de botar
feijão fradinho e muito dendê
e não vou esquecer o milho branco,
saravá, meus dois orixás,
vestidos de vermelho e branco,
saravá,
meu pai,
saravá,
minha mãe,
que é quarta-feira,
por favor,
sua proteção,
com amor e emoção,
Luiz Moreira.

Cada vez mais Rio

O Rio tá cada vez mais rio,
Rio que corre,
escorre pro mar,
e leva casa, rua, ponte,
arrasa quarteirão,
e barracos leva aos montes,
mas janeiro é janeiro,
e não há nada a fazer
com as chuvas do verão,
mas vem fevereiro, março, abril,
e o Rio segue rolante
como antes nunca se viu,
tanto que as águas
nem precisam rolar,
rola o Rio e dá até pra pescar
na Vargas com Rio Branco,
agarrado ao barranco
pra não se afogar,
que o tranco não é mole,
e sai outro gole
que a água anda fria
na Praça da Bandeira,
e na Brasil,
e não é brincadeira,
nem pense em travessia
sem ajuda do pessoal,
aquele que nos alivia
do peso do vil metal,
a gente fica mais leve e flutua,
escoa melhor,
e quando a rua seca,
a turma sapeca
mais taxa, imposto,
contribuição de melhoria,
e mais a gente deve,
e tira esse riso do rosto,
senão tributam sua alegria.

Blefe

Ainda me iludo
com esse moderno teatro:
“Peixe graúdo
de terno e gravata
pego em mutreta polpuda”;
eta! bravata!,
porque o bicho é mixo,
arraia-miúda
que cabe em foto 3x4,
mas,
o pessoal do papo furado
outra vez me empulha,
lança de mão de microscópio,
amplia a agulha
e me mostra um tubarão,
e me faz de palhaço
com esse ópio de segunda,
ou seja,
pegam um sócio bunda
de um negócio oceânico
e fazem o maior estardalhaço,
e o chefe,
sem pânico e sem alarma,
vai no comando da gangue,
chupando nosso sangue
e mamando com a mamata,
e achando graça do assunto,
bebendo champanha
e comendo presunto de parma
no intervalo entre campanhas
e a caminho do Adriático
a bordo de um iate
de pés e cavalos que não acabam mais
e âncoras de mais de dezoito quilates,
enquanto o âncora carismático
de algum jornal afoito
fala com tanta alma e gana
do revés do colarinho branco,
que não me manco
e acabo achando simpático o blefe
e batendo palma
ao ver o mequetrefe entrar em cana
pra sair depois de umas semanas!,
mas,
no fim do noticiário,
sigo com ritual diário
me dando umas bananas!

Sonho

Sonho é balão
sem amarras, sem lastros,
é alforria
de coração amolado,
cansado de bater de rastros,
sonho
não carece de guia, de leme,
nem esbarra na razão,
não teme frio, calor,
alegria, pranto...
as incertezas certas
do dia a dia,
sonho
não abre mão de flor
por recear espinho,
não desiste de amor
por temer desencanto,
não troca de caminho
por causa de pedra,
sonho
medra e arde sem medo,
sabe que sonho sempre cabe,
que pra sonhar
nunca é cedo demais,
jamais é muito tarde!

domingo, outubro 02, 2005

Desilusão

Porta que corta
e sela emoções
em porões sem janela,
subidas e descidas
em infindas escadas,
idas e vindas
em vielas escuras
à procura de entradas
que dão em becos sem saída,
sobre a mesa,
folhas e mais folhas amarelas
preenchidas com um vazio
frio e seco
pela fraqueza
da mão sem esperança
que a lembrança desespera,
exaspera de todo a inspiração!