quinta-feira, outubro 27, 2005

Meu retrato

Eu sou assim mesmo,
mistura de rábula
e poeta precário,
levo a esmo cada dia
da discreta loucura
que me repleta
de manias e cismas
que não cita o dicionário,
sou sócio honorário do ócio
e sócio atleta
da conversa fiada,
e vice-versa,
sou partidário da dieta
com moela, lingüiça e torresmo
e regada com aquela cachaça
que atiça em mim
fábula, sofisma e falácia,
graças à eficácia
de um prisma particular
lapidado em banheiro de bar,
consegui descobrir
que o dinheiro não é a saída,
apesar de pagar
entrada e prestação
de boas coisas da vida,
eu sou assim,
calça surrada de brim,
mocassim cambeta
e camiseta chinfrim,
durmo e acordo tarde,
quando pinto e bordo
e o coração fica tinto e encarde,
me ponho de molho na canção
e sonho de olho aberto,
quando tudo está certo demais
ou alguém me faz
favor ou louvor
sem razão aparente,
fico cismado,
eu sou assim
e vou indo em frente,
quer dizer,
vou indo de lado,
que trás de mim
vem vindo gente!