terça-feira, dezembro 29, 2009

Há muita gente assim

Não sou tão tonto
a ponto de falar
que só há gente
que não dá ponto sem nó,

mas,
vá por mim,
há muita gente assim,

um não se satisfaz com milhão,
outro se sente radiante com vinte,

com vinte reais!,

um é culto, elegante
e a parada
trata com requinte
e bom vocabulário,
o outro
é primário, inculto
e estoura por nada
e trata a barganha
com ameaça e palavrão,

e não é só,

um é de caviar,
camarão
e taça de champanha,
o outro
é de cachaça,
loura gelada e mocotó,

um não apanha
porque tem
secretário pra apanhar,
o outro,
como não tem,
de apanhar não se acanha,

pois é...
tem gente sofisticada
que ao negociar doura a pílula
e tem gente
que nunca ouviu falar
dessa tal de pílula dourada,

mas,
pensando bem,
toda essa gente é igual,
fala o mesmo idioma
e o vil metal
de alguém sempre toma!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Sou capaz de quase tudo

De tudo sou capaz,

aliás,
de quase tudo,

com o direito na mão,
sou um camicase
e luto feito um leão,

sedento,
com ele disputo
gole a gole a água do rio,

com fome,
não há urso
que o salmão me tome,

quando me dá na veneta,
enfrento o desafio
e discurso pelo planeta,

e critico meio mundo,

e critico feio o terceiro
o segundo e até o primeiro escalão,

pois é,
qualquer peleja eu encaro,
já remei até
com colher de sopa
e espantei
baleia e tubarão
com pontapé na popa
e os meus salvei da cheia,

ou seja,
sou capaz de tudo,

aliás,
sou capaz de quase tudo
que mulher feia
e cerveja quente
não encaro
nem pela minha gente!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Carioca cem por cento

Sou carioca,
carioca cem por cento,

moreno,

franzino desde menino

mas,
desde pequeno dou banda
e dou banda até em pé-de-vento,

pra mim,
qualquer hora é hora
e não tem tempo ruim,

bem,
não é bem assim
porque me arrepio
e choro até
só de pensar
nas cheias do Rio
que são cheias demais,
mas,
eu sou freguês
que moro num barranco
e uma vez
levei um tranco
e escapei por um fio
e boiando num sofá,

dá pra acreditar?!,

quando chego
ao conchego do lar
mamado e tonto,
sou obrigado
pelo meu pessoal
a cruzar o corredor,
e um polonês original,

quem diria...
corredor importado
em moradia de pronto!,

por outro lado,
ando pensando
naquele gato
estimado até no soçaite,
aquele gato que não mia,
Light,
e até que não é muito caro,

porém,
pensando bem,
socialite é socialite
e cana não é coisa pra bacana,

no verão,
escancaro a geladeira
que vira ar-condicionado
porque
não tem nada pra gelar
e a galera
se aglomera na cozinha,

paletó
só o de madeira
e uma vez só,
e assim mesmo
porque o morro
faz uma vaquinha,

nosso cachorro,
o Torresmo,
uma hora,
é vigia
e fica de olho
do lado de fora,

outra hora,
quente,
é a alegria da gente
do lado de dentro,

e vai sem molho,
sem sal e sem coentro,

mas,
não peço arrego
e vou cobrando a falta,
a falta de emprego,
e mal
não chuto não,
chuto direito e no canto,
no entanto,
não entro
de jeito nenhum
que atrás de um
vem mais de um milhão,

de quando em quando,
ponho a mesa na rua
que o sonho
da minha Teresa
é jantar fora,
e de Lua
o prato fica repleto,

agora,
a gurizada
vive numa boa
que tem o privilégio
de estudar no exterior,
o colégio não tem teto,

também não tem aula
que nunca tem professor,

e a gurizada fica por aí à toa
que comunidade não é zoo,
portanto,
não tem jaula,

e ociosidade é nitroglicerina,

e há tanto chamarisco
que a gurizada
corre o risco de alçar voo,

mas,
o domingo brilha
e eu me vingo,
entro de porre
na piscina da família,
a caixa-d’água de cem litros
com água de chuva
que em nós
como uma luva não se encaixa,

e presto atenção
especialmente no ladrão
que detesto baixa
e a gente não tem boia,

e a boia vem após,
a bem dizer,
outra etapa do regime
e desse regime
a gente não escapa,
e regime assim é de doer,

por fim,
lá pelas cinco,
zinco pegando fogo
e torrando meu miolo,

no bolo tiro o nove
e a bola rola,

e transpiro
mais e mais
que está em jogo
o futuro do meu time,

descer ou não descer,
eis a questão!,

e torço,
torço duro,
aliás,
sou dureza por inteiro,

mas,
meu time
não sai do chove-não-molha,

o nove
afunda na banheira
e o bandeira não dá mole,
na defesa,
o zagueiro não se move
e o goleiro engole um frango,

e meu time se ferra,

e alguém berra:
“olha a segunda divisão aí, gente!”,

que essa gozação
é frequente por aqui,

e já não me zango
que uma vez
me zanguei demais
e parei
na mão do samango
e acabei no xadrez
e lá fiquei
bem mais de um mês!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Eu sou do "Risque" na vitrola

Se manque,
guria,
e não seja prosa
que eu sou da poesia!,

e não banque a gostosa
pra cima de mim
porque você
não tem manequim,

você é da manhã
com suco
de lima com maçã,
na academia sua todo dia
e não sai por nada da dieta,

eu sou fã
de rua, madrugada,
boemia e botequim,

sou maluco por birita
bife, batata frita
e feijoada completa,

você é do salto alto,
eu sou da alpargata,

você é
do boné de grife,
eu sou do panamá,

e não dá
pra não dar bola
a esse toque final,

você é do rock
no "digital video disk",
eu sou do "Risque" na vitrola!