sexta-feira, março 31, 2006

Sonhar sempre!

Sonhar sempre!,
até quando não souber
que está sonhando,
e seja qual for o sonho,
mas,
nem sempre
sonhar um sonho só,
e continuar sonhando
quando o galo
estiver cantando,
e continuar o sonho
mesmo quando o café
não puder ser mais ralo,
não puder ter sabor pior,
e sonhar deitado, sentado,
e sonhar de pé
quando está esperando,
sonhar
que chegou a sua vez
de chegar ao guichê
e se apossar
do sonho tão sonhado
que tiraram de você,
e sonhar até
quando de sonho
houver escassez no mercado,
questão de oferta e procura,
sonhar que qualquer mistura
há de ser a mistura certa,
seja a mais rara,
a mais clara,
a mais escura,
sonhar de olhos fechados,
mas,
um sonho
que de olhos abertos
não pára de ser sonhado,
sonhar
aquele sonho tão bonito
que faz querer
não dispertar do sono,
faz querer
que o sono seja infinito,
e continuar sonhando
quando estiver disperto,
sonhar um sonho
por mais incerto
que o sonho seja,
por mais
que seja só um sonho,
sonhar sem se importar
se é um sonho distante
ou se um sonho
que já está bem perto,
sonhar... sonhar... sonhar...
ter sonho a todo instante,
sonhar até
que tem um sonho
se um sonho não tiver!

quinta-feira, março 30, 2006

O tempo passa...

Qualquer peripécia
de mulher famosa,
Catarina, Lucrécia, Messalina,
em prosa narrada
me fazia
esbanjar adrenalina;
qualquer foto
de modelo ou vedete
era um terremoto
e não resistia ao apelo,
pintava o sete
e derramava
meus votos de saúde,
e derramava amiúde;
qualquer festa
que via e ouvia
por fresta ou fechadura
me enchia de bravura
e me fazia
manejar minha espada
que não tinha mesmo bainha;
as bacanais
que só vinham a mim
após e pelos jornais
me faziam
derramar a libido,
e assim os Carnavais
de tirar fora halo,
e falo de santo,
dos quais fui excluído
por ser menor
ou um tanto sem grana;
quanta banana
foi descascada a esmo
porque outra fruta
era mesmo muito rala,
quanta luta
desenhada em revista
consumiu o meu melhor,
e sem suor,
que nem suar era preciso,
e bastava pista,
lembrança, aviso, pala
e voltava ao serviço
e nem ficava exaurido,
é isso aí...
mas,
esse tempo já dista,
aqui e agora,
é hora da fala mansa
e da bengala,
e estaria perdido,
teria perdido a graça
sem a esperança
em comprimido
que a drogaria me fia!,
que não dá
pra pagar à vista,
é...
o tempo passa...

quarta-feira, março 29, 2006

Queria ser o vento

Queria ser o vento
que volta e meia
se solta sem receio,
censura e estapeia o estandarte
no meio da batalha,
que do massacre espalha
a loucura e o cheiro acre,
que se esgueira e invade
trincheira e baluarte,
vento que a queimada denuncia
e anuncia a tempestade
que está por vir,
que alenta o barco,
enfuna a vela da escuna,
mas,
sem pedir permissão,
bate em retirada
e inventa a calmaria,
vento que não respeita
prumo, marco ou regalia,
nem aceita pacto
com rumo e direção,
vento que a flor acaricia
com prazer e pudor,
entretanto,
zomba do cacto,
tomba e prostra o jatobá,
vento que venta
quando quer ventar,
quando quer,
mostra a sua sanha
e destrói e arrasa
e arranca casa do lugar,
mas,
a duna constrói com arte,
queria ser o vento
que vem e parte
quando bem quer,
que faz arrepio,
faz tremer de frio,
que é capaz
de arrefecer qualquer calor,
vento que assanha os pêlos
e os cabelos do meu amor!

Esse mandinguento

Está sempre pronto
pra mais um ponto
esse mandinguento,
e nunca é ponto sem nó,
e não é só,
garante
que não faz de bocó
nenhum semelhante
pois entende
que não tem nenhum,
por isso,
está nesse ramo
e vende feitiço e simpatia
a torto e a direito,
e nem morto
se entrega ou rende
quando a magia pega,
e não se satisfaz
só com bruxaria,
explora a alquimia
e melhora a renda,
negocia adamo e panacéia,
e a venda é um espanto,
rende tanto
que o sujeito
meteu na idéia
que é o melhor,
o mandinguento mor,
e de tudo é capaz de fazer
pra nunca mais
deixar de ser!

terça-feira, março 28, 2006

Essa louca não tem limite!

Não achei coisa igual
em compêndio nenhum,
com fogo de palha
ela faz
um incêndio brutal
e se espalha
mais que boato,
que não é só boca a boca,
é tato a tato,
corpo a corpo,
leito a leito,
evite essa louca!,
essa louca não tem limite!,
não lhe serve
a paixão intensa,
cheia de densas emoções,
não... não lhe serve...
só lhe ferve veias e artérias,
só lhe incendeia as entranhas
a luxúria pela luxúria,
a fúria e a miséria
de espúrias sensações,
a sanha de cios desvairados,
ela não quer
que você zele por ela,
não quer que você
seus lábios sele
com beijos apaixonados,
não quer
que um arrepio
revele os desejos dela,
ela não quer o prazer
que um gemido extravasa,
ela quer na pele
marca de ferro em brasa,
quer o berro sofrido
de um ser que se esfacela!

E o macarrão encheu lingüiça

A segunda é sem lei
e o que abunda
não prejudica,
sobretudo figa, fita e birita,
disso tudo eu já sabia
pois é coisa antiga,
agora também sei,
se um ingrediente falta,
até o protagonista do prato,
a pé ou na mão a gente não fica,
a gente Não Muda
Nem Sai de Cima do horário,
vai por mim,
algum especialista
em pulo-do-gato culinário
bota logo outro em pauta,
e foi exatamente assim,
o camarão deu bolo,
mas,
como não é tolo
e tem raça o macarrão,
e só gostava de rolo
quando era massa bruta,
foi à luta e achou solução,
encher lingüiça,
eis metade da missa,
meu confrade;
na metade seguinte,
foi tão feliz
enchendo lingüiça,
tão fundo no requinte,
que tá todo mundo pedindo bis!

sábado, março 25, 2006

Estou farto de mim

Estou farto dessa lista
com o muito que falta,
dessa falta de dindim,
desse quarto chinfrim,
Copacabana no aluguel
e vista suburbana,
esgoto a céu aberto,
fedor e fumaça na janela,
e dela eu flerto
com um urubu maroto
que tá de olho na carniça,
na criança que tá de molho,
como está
minha escassa esperança
de morar perto do mar
e me excitar
com boto traçando tainha,
estou com o saco cheio dela,
dessa Estela mortiça
com sabor de chuchu,
manequim cinqüenta
e meio amarela,
que a praia não vem cá
e ela nem tenta
chegar lá
pra não entrar na vaia,
não tenho mais paciência
pra escutar
essa freqüência modulada
que produz a voz esganiçada
do povo dessa viela
que não tem água
nem tem luz,
não agüento mais o perdigoto
desse gerente escroto,
um zé vacilão,
baba-ovo e arauto do patrão
que me trata a pontapé
pra fazer jus à promoção,
enfim,
estou farto de mim,
dessa vidinha
e desse outro parto
que aí vem
que a gente não tem
nem pra camisinha!

Moreno amor

Mitiga minha solidão,
morena,
com o moreno veneno
que expele a sua pele,
instiga,
morena,
esse dia ameno
que não temdor de espinho
nem o prazer de colher flor,
fustiga,
morena,
essa monotonia
que entedia os dedos,
os distancia do pinho
e do bom sabor da canção
me faz até ter pavor,
mitiga,
morena,
esse meu medo,
esse arremedo de vida
vivida sem graça
e sem emoção,
por favor,
moreno amor,
faça bater o meu coração!

quinta-feira, março 23, 2006

Sozinho um gari doura a Sapucaí

Desista da besteira
de ficar infeliz,
de levar a sério
a falta de luxo,
agüente o repuxo!,
aliás,
é verdade
que o luxo
é capaz de fazer vista,
mas,
vista faz
à maneira do verniz!,
portanto,
enfrente o desafio,
não se grile com realidade,
assimile a melancolia
e não reze pra fidalguia
não vir ao desfile,
que venham
Império e Imperatriz!,
se preze e não torça
pra que em fevereiro
o Salgueiro esteja murcho,
pra que não dê a Mangueira
fruta gostosa
e pra que a Grande Rio
não venha caudalosa
e escoe
qual ribeiro pela pista,
ou, até,
pra que a Padre Miguel
venha sem fé e fervor,
se preze e não torça
pra que venha singela
e sem força
pra se abrir a Portela
e pra que não voe a Beija-Flor,
não faz sentido
essa coisa maluca
de pedir a desunião
da União da Ilha,
da Unidos da Ponte,
da Tijuca e de Vila Isabel,
preste atenção,
é fonte gratuita de animação
o ardor da torcida,
é fonte gratuita
de esplendor e inspiração
essa maravilha de Céu,
portanto,
esqueça ibope,
Tradição,
tope seu desafio
e fantasie a passarela
com sua emoção,
agora é a hora
de aproveitar o embalo
e mostrar no pé
que pode ser também
a tal do Carnaval
quem é bamba
no samba do dia-a-dia,
é hora de expor
seu enredo cotidiano
que começa bem cedo,
antes até do canto do galo,
e só finda
quase de madrugada,
e, entra ano, sai ano,
um pingo de folga,
se tanto,
empolga um domingo,
dia santo
ou feriado nacional,
é hora de mostrar
o desassombro e a garra
com que
você leva na marra
o morro nos ombros,
e não protesta
nem pede socorro,
aí,
modesta Escola,
bola pra frente!,
cresça e apareça
com sua gente,
e não esqueça,
se uma andorinha sozinha
não faz verão,
sozinho um gari
doura a Sapucaí
de vassoura na mão,
e sem subvenção!

Deixe passar o corso

Moço,
deixe passar o corso
que vai indo
pro arquivo morto
levando outro bando,
vai quem foi esquecido
na posta-restante,
quem não suportou
o desmedido esforço
do exercício findo
e quem não agüentou
o balanço no dorso
do passivo circulante;
moço,
não ouse atrapalhar
o avanço do corso
que vai indo
pro arquivo morto
levando outro bando,
vai quem fez o jogo
e perdeu a aposta,
quem tropeçou
em vício, fogo de assalto,
e quem brigou em alto-mar
mas acabou
afundando aqui na costa;
moço,
não se atreva
a bloquear o corso
que vai indo
pro arquivo morto
levando outro bando,
vai quem rolou
quando a encosta desceu,
quem deu
um salto no escuro
e se espatifou no chão
e quem deu duro
mas não alcançou o pão,
aí,
moço,
nada de zombaria
ao passar o corso
que vai chegar o seu dia!

Vai-da-valsa do Maracanã

Cruzei o Maracanã
num divã
cujo estado dava dó,
e tão sujo
que dava asco,
e deparei
com mó de cascos,
frascos e quejandos,
e cruzei o Maracanã
com parcas velas
pra tantos presuntos,
e juntos, e aos bandos,
e crivados de marcas,
e as velas apagava o vento,
e remei
com um tasco de bandô
que nem sei
se era decô ou rococó,
e busquei alento
no meu aulo
sem brilho
e de uma nota só,
aí,
fiz fiasco,
pois,
fizeram a rota antes
dois grã-navegantes,
Aldir e Paulo Emílio,
e vestido o Aldir
de grão-capitão do Vasco,
então,
vestido de Mengão,
naveguei na água-benta
e fiz questão
de levar pimenta
pra temperar
agrião, hortelã e pimentão,
a rabeira da feira
que toda sexta-feira
bóia entre as bolhas
que nem as rolhas
das garrafas de pilóia
das minhas moafas,
meu esteio,
e não me fale em opróbrio,
se cale,
porra!,
que opróbrio
é ficar sóbrio
no meio dessa zorra,
ah... Maracanã,
rio do Paulo Emílio e do Aldir,
só dói quando ‘sou Rio’,
ah... Maracanã,
rio do Paulo Emílio e do Aldir,
só dói quando ‘sou Rio’!

terça-feira, março 21, 2006

Saiba curtir!

Beba seu drinque,
sua cerveja
sua batida de cachaça
com limão ou maracujá,
e brinque até se fartar,
ou seja,
finque o pé
e faça da vida um sarro,
mas,
saiba curtir!,
não faça batida de carro
que não é fruta esse abacaxi!,
vamos lá,
espero que você
venha comigo nessa luta,
que você
entre decidido nessa briga,
não dirija se beber,
e não esqueça a boa maneira
de brindar a pessoa amiga
na hora de ir embora,
a da saideira,
se ela tiver bebido,
mostre que é amigo,
exija que ela não dirija!

segunda-feira, março 20, 2006

Bicho-preguiça

Que preguiça!,
bicho,
você não se eriça
nem com fogo!,
bicho-preguiça,
se sufoca com o calor,
com o afogo de matar,
e não troca de posição
nem se abana
pra não precisar
balançar o abanador,
bicho-preguiça,
você não pede mão
pra não ter
de estender o braço,
só quer a banana
que lhe passo
se já vier sem casca,
olha e vê a borrasca,
mas se molha
só pra não ter
nem que se mexer!,
tanta preguiça,
bicho,
é de doer!,
e é rogo em cima de rogo
e mais rogo por cima,
tenha paciência!,
tanta indolência
é caso de polícia!,
nem se levantar
você se levanta
pra não precisar
se deitar outra vez,
e nem de carícia
de mês em mês
você quer saber
pra não ter que fazer amor,
por favor,
bicho-preguiça,
pára!,
e de mim disponha,
disponha sim!...
se vergonha na cara
quiser tomar,
eu sirvo
e sirvo gota a gota
pra você não se cansar!

sexta-feira, março 17, 2006

Essa água é que é água!

Essa água é que é água!,
e retórica não é não,
na prática,
se trata
da mais purinha
questão de gramática,
me mata-paixão!,
me mata-paixão
pela linda mulata!,
e vou nessa água,
vou passar da linha-branca
e chegar à amarelinha,
à azulzinha, à azuladinha,
e, com a alma eufórica,
vou me afogar em água-benta,
água-bórica, água-branca,
quando acabar essa água,
minha sede vai à luta
e outra inventa,
água-bruta,
água-de-briga, água-de-cana,
e, se bem me lembro,
água-de-setembro
e a antiga e bacana aguardente,
e minha sede avisa
que vai em frente
à procura de mais água,
água-que-gato-não-bebe,
água-que-passarinho-não-bebe,
água-lisa, água-pé, água-pra-tudo,
ou boa-pra-tudo,
aliás,
o melé cura-tudo,
se for preciso,
a gente consome
até aguarrás,
após,
retrós e tome-juízo,
pra manter
o pique borbulhante,
a extravagante isbelique,
e crislotique em seguida,
mas,
como na vida
não há só prazer,
também há bate-bate,
que venha alicate,
que venha martelo,
ou melhor,
três-martelos,
pra ver correr
suor-de-alambique
e suor-de-cana-torta,
e pode vir corta-bainha,
danadinha, doidinha, marvadinha,
santinha, teimosinha,
branquinha, mulatinha,
que seja
em nanicos agavios
de bico e cerveja,
obra de homeopatia,
que venha assovio-de-cobra,
a-que-incha
ou a-que-matou-o-guarda,
bom cupincha
que bebia de farda,
e pode mandar amorosa,
ardosa, dengosa, chica e chica-boa,
cumbica e canjica,
baga e apaga-tristeza,
e até baronesa em pessoa,
que realeza não me intimida,
e que graça teria a vida
sem cachaça?!

quinta-feira, março 16, 2006

Você já nasceu café pequeno!

De um argueiro
você faz um cavaleiro,
de discussão de nada
faz campo de batalha,
faz tempestade em copo d’água
e a maior bulha
por agulha, grampo ou tostão,
parece que você
vai a pé até Manágua
e na mão levando tralha,
e, na verdade,
vai de frescão
e vai saltar
bem antes da Baixada,
você assusta
e aperreia meio mundo
dando a impressão
que vai escalar o Aconcágua
e a seguir o Himalaia,
e sem parada,
e, na realidade,
vai subir só a escada
do primeiro andar pro segundo,
e nem de saia justa está,
você tem chiliques e tremiliques
por tuta-e-meia,
esperneia e se esgoela
pra só pagar meia-entrada
com carteira de estudante vencida,
fica puta da vida
e sai na porrada
por besteira e por titica,
se descabela
por roscas e chorumelas,
explode por bolacha-quebrada,
emenda os bigodes
por um simples abana-moscas,
esculacha e roda a baiana
por qualquer prenda de borra,
faz uma zorra daquelas
e só está em jogo quixiligangue,
vermelha de sangue,
se ajoelha e faz rogo
por um mimo de merda,
se herda bagulho ou porcaria,
faz barulho
e de orgulho se entulha,
você faz das tripas coração,
fica de tanga e mergulha
no limo do Mangue
atrás de ninharia e bugiganga
e é capaz
de ouvir trovão em dia ameno,
sabe de uma coisa...
você já nasceu café pequeno!

Ex-mulher com maridão adinheirado

Como a ex-mulher
tá de marido novo
e numa muito boa,
e sigo um zé-povo
desprovido de numerário,
ou seja,
sigo sem nenhum!,
vou lhe pedir o necessário,
coisa à-toa!,
o do rango, o do celular, o do aluguer,
o do carango zero
que não quero mais
dar sopa por aí
ao andar a pé,
vou pedir o suficiente
pra pagar empregada,
pra trocar o guarda-roupa,
que repetindo o vestuário
pareço estar de farda,
vou pedir o suficiente
pra financiar cerveja, noitada
e pra dar esmola na igreja,
pois,
quem rola essa dívida
fica com a alma lívida
e com a vívida sensação
de estar entrando numa fria,
quer dizer,
numa muito quente,
é... meu irmão,
pense o que quiser,
mas,
ex-mulher com maridão adinheirado
é fado tão bom
quanto ganhar na loteria!

quarta-feira, março 15, 2006

Vou dar nome aos bois

Mesmo havendo boi,
mó de boi,
uma pá de boi,
minha gente,
não é necessariamente
questão lá do sertão,
e nem viola tem,
e só disse o que disse
pra não ser omisso
nem inconseqüente!,
portanto,
bola pra frente,
mas,
sei que na linha tem boi,
por isso,
vou logo dizendo
que não sou boi de piranha
nem do tipo que apanha
qual boi ladrão,
e participo
que dou nome aos bois
pra saciar
a curiosidade de vocês,
e quem não gostar,
mesmo sendo da cidade,
que vá amolar o boi,
e vou dar
dois nomes de uma vez,
um se chama Catuta
e o outro se chama Braseiro,
mas,
na verdade,
é quase tudo que sei...
pois,
ainda não deu pra saber
qual dos dois
foi primeiro à luta,
se levou Braseiro
Catuta no bagageiro
ou se levou Catuta
Braseiro atrás,
aliás,
ainda não sei
nem sei
se hei de saber
qual dos dois
tem mais idade,
qual dos dois
mais come,
qual dos dois é a fome,
qual dos dois
é a vontade de comer,
qual dos dois
ganhou mais fama,
qual dos dois
se deitou na cama,
qual dos dois
mais rama consome,
ainda não sei
nem sei
se hei de saber
se um dos dois trama
e o outro executa,
se um dos dois fala
e o outro
se cala e escuta,
ainda não sei
nem sei
se hei de saber
se um dos dois
no outro se encosta,
se um dos dois
gosta mais da fruta,
se um dos dois
pode que pode
até não poder mais
e o outro vai atrás
porque na frente
não pode ir,
e sei mais,
e vocês hão de convir
que já é até demais,
pois sei que não são só dois
e que quaisquer dois
não são assim tão iguais
nem tão diferentes assim,
e só dei dois nomes
porque a mim
só dois nomes deram
quando me disseram
que dariam nome aos bois!

terça-feira, março 14, 2006

Ninguém vai aturar a fedentina

Achei que era o maior,
que meu cacife
suficiente era
e perguntei ao Cacá,
pensador mor
lá da minha esquina:
“por que
a gente não borrifa
patifa e patife
com extrato de gambá
pra poder usar o olfato
e identificar essa galera
no primeiro contato
e defender nosso dinheiro
de tanta patifaria?”,
quem diria...
gente fina,
mas,
fiz essa besteira!,
entretanto,
e pra meu espanto
pois não é comum,
ele me disse
com algum tato:
“não se encafife não,
Luiz Moreira,
mas,
é burrice sua sacação,
e burrice
que você nem imagina,
porque não dá!,
e não borrife não!,
que se borrifar,
mesmo porção menor
de nossos patifes,
vamos ficar na pior,
ninguém vai aturar a fedentina!”

segunda-feira, março 13, 2006

Flores que mercam amores

Margarida branca,
e negra, e mestiça, e amarela,
Margarida
que na negra rua se abanca
e nua entra na liça,
Margarida bela, linda,
esguia e fogosa ainda,
assanhada qual almeia,
e Margarida
horrorosa, rota e vazia
que mais nada
da vida anseia,
que já não lhe resta
nem uma miséria de gota,
e há ainda
a Margarida que se alheia
e que se põe a vadiar
cheia a olhos vistos,
mas,
não se presta a chorar,
por isto,
ri como se fosse pilhéria,
é um misto
de noviças viçosas e cruas,
inda ontem donzelas,
que contrastam
com as antigas e idosas
que se arrastam,
Margaridas em negras ruas,
e negras, e mestiças, e brancas,
e amarelas Margaridas,
Margaridas frágeis, fáceis, dóceis,
mas,
são elas
fictícias Margaridas,
pois Franciscas e Aparícias,
e são ariscas
e não são francas,
com truques e manhas,
simulam, dissimulam e fingem
que não há outra saída,
que os fregueses,
muitas vezes,
as cercam
e a muque lhes impingem
suas taras e suas sanhas,
umas são caras,
outras já não são não,
mas,
todas são flores,
flores que mercam amores!

segunda-feira, março 06, 2006

Tenho Vila no sangue!

Tenho Vila no sangue!,
sou sangue
do seu sangue,
pela Vila
dou meu pranto, meu suor,
meu melhor,
meu maior sorriso,
e do meu sangue,
quanto for preciso,
é por isso,
meu amigo,
e não se zangue
quando eu digo,
ouvindo Noel,
e Noel
é pra ser sempre ouvido:
“não vacila
quem nasce lá na Vila”;
mas,
se vacilar,
pode acreditar,
só pode ter sido
bobeira de parteira,
que tal artista
não devia
ter nascido por lá;
nascer na Vila,
é ser parte do feitiço,
é ser embalado
no berço do samba,
é ser ninado
em colo de bamba
e com solo
de sambista de primeira,
ser da Vila
é Vila ser e ser assim,
é a magia
de ter Vila no sangue,
nesse sangue
que todo dia
desfila em mim!,
sou Vila e sou da Vila!

sexta-feira, março 03, 2006

Desabafo

De antemão,
por fazer desabafo
a essa altura do campeonato
e por baixar o sarrafo,
por descer o malho
sem tato nem compaixão
no paspalho nacional,
figura com um ar tão tropical,
peço perdão a mestre,
grão-mestre, contramestre,
a quem é mestre
em ser do contra,
a quem sempre tem
solução de mestre à mão
e a quem no papo é mestre
ou é mestre
em encher o papo
de grão em grão,
mas,
não é mole não!,
por mais
que me adestre e amole,
por mais que me abale
e rale pra fazer a cama,
por mais que tente
me dar bem na parada,
por mais que imite
um bom exemplo,
por mais que freqüente
toda a sorte de templo
e fale com crente
de toda sorte de seita,
não acho quem me fale
como é feita a reza
que permite a entrada na dança,
mas,
uma carrada
de gente lesa e lerda
que não vale
nem o que pesa
ganha fama
e mama uma lã de monta
mostrando ao fã
merda e lambança
e apresentando a conta!

quarta-feira, março 01, 2006

Qualquer semelhança é pura coincidência...

Antanho seria estranho
e causaria confusão,
mas,
no carnaval
da atual conjuntura,
é comportamento
corriqueiro e normal,
então,
tomou um banho,
parte de assento,
parte banho-de-cheiro,
reduziu com cinta a cintura
de quarenta e cinco
pra quarenta,
pintou no traseiro uma pinta
com tinta vermelha,
talvez magenta,
na orelha pôs brinco,
fez rabo-de-cavalo
e não se fez de rogado,
porque guerra é guerra,
pegou o embalo de um cabo
que ia pro plantão
e desceu a serra
no maior rebolado,
ambas as mãos nas cadeiras,
e cantando um baião,
embora fosse hora de samba:
‘Olê, mulher rendeira,
olê, mulher rendá...’,
e foi namorar
sem se importar
se era patrão ou patroa,
se era a primeira pessoa
do plural ou do singular,
e fez logo sinal
pra um transeunte
que passava pelo local,
mas,
não me pergunte
o que foi que aconteceu
pois anoiteceu de repente
e eu estava sem lanterna,
e a gente não tem boa visão
lá da taberna
porque a pinga é estrábica,
monossilábica também,
e pega fogo
a fábrica de ginga
de uma gringa
que não tem
jogo de cintura,
mas fatura
com o do alheio
e deixa o ambiente
cheio de poluição,
e nem o mais calmo
e menos beberrão
vê um palmo na frente do nariz,
e quem por ali palpita
emite palpite infeliz
e causa a maior grita,
contudo,
no dia seguinte,
como bom ouvinte
do jornal matinal
que em voz alta
pra toda a vizinhança
lê minha vizinha,
que nos falta
até pra leitura,
soube que ao Anacleto coube,
num bloco lá de Copa,
o “Baralho Que em Copas Não se Fecha”,
um rei muito prosa
com suas mechas rosas
e que tudo topa,
e que a criatura
foi direto pra o bloco
de países da Europa,
foi fazer a tal mudança,
remover as varizes
e fazer sua independência
quebrando um galho aqui,
outro ali,
e, no intervalo,
tocando chocalho
e tomando caipirinha pelo gargalo,
mas,
cabe a lembrança,
qualquer semelhança é pura coincidência...