quarta-feira, março 29, 2006

Queria ser o vento

Queria ser o vento
que volta e meia
se solta sem receio,
censura e estapeia o estandarte
no meio da batalha,
que do massacre espalha
a loucura e o cheiro acre,
que se esgueira e invade
trincheira e baluarte,
vento que a queimada denuncia
e anuncia a tempestade
que está por vir,
que alenta o barco,
enfuna a vela da escuna,
mas,
sem pedir permissão,
bate em retirada
e inventa a calmaria,
vento que não respeita
prumo, marco ou regalia,
nem aceita pacto
com rumo e direção,
vento que a flor acaricia
com prazer e pudor,
entretanto,
zomba do cacto,
tomba e prostra o jatobá,
vento que venta
quando quer ventar,
quando quer,
mostra a sua sanha
e destrói e arrasa
e arranca casa do lugar,
mas,
a duna constrói com arte,
queria ser o vento
que vem e parte
quando bem quer,
que faz arrepio,
faz tremer de frio,
que é capaz
de arrefecer qualquer calor,
vento que assanha os pêlos
e os cabelos do meu amor!