Como seria bom
poder andar por aí
cheio de nada pra fazer,
de mãos dadas com aquela preguiça
que não cabe em foto 3x4,
com a cabeça leve
de quem não sabe
nem quer saber
da missa a metade,
e menos ainda do pátrio,
do mátrio poder,
andar por aí
como quem não tem mulher,
não sabe sequer
se deve o aluguer a alguém
e não tem nenhum vintém,
mas a rua paga em dia,
como seria bom
escancarar aquele bocejo
que as duas mãos
fazem questão de não esconder,
e sentar num canto de via
pelo simples desejo
de outro ponto de vista,
e olhar,
e ouvir,
e cheirar,
e sentir a natureza
com a sutileza do artista
e a pressa do vagabundo,
jogar conversa fora por horas a fio,
discutindo comigo mesmo
a influência do sexo dos anjos
naqueles marmanjos
que têm cio com freqüência,
e girar,
e pirar com esse mundo,
e em passos tão indolentes,
que ficar parado não seria diferente,
não quero muito,
gente,
de fato,
quero mesmo muito pouco,
só um dia por aí,
a esmo,
desocupado,
despreocupado,
exatamente como um louco!