sábado, abril 16, 2005

Um dia só

Quero o prazer de curtir
um dia só
solto em ruas simplesmente abertas,
envolto simplesmente no desejo
de ir ou não ir,
de parar,
de voltar ou não,
sem os apertos da hora certa,
dos planos, do norte,
sem enganos, sem acertos,
um dia só
ao sabor de um vento
que seja obra do querer
cem por cento,
um dia só
pra fazer manobras repentinas
sem que a razão importe,
dobrar esquinas
sem saber se mudam a direção,
circular por uma reta
e descobrir,
sem espanto,
que não é a menor a distância
se não houver dois pontos,
e,
por pura implicância,
contrariar placas, sinais, setas,
que definam a contramão,
um dia só
pra rasgar mapas, guias,
e deixar que voem os pedaços do papel,
e contemplar o céu
sem o acinte daquele olhar
que vai buscar nas estrelas
só o passo seguinte,
e nem consegue vê-las,
um dia só
sem espectador, sem ouvinte.