segunda-feira, abril 16, 2007

De barriga cheia

Quem nasce
em berço de ouro,
quando se queixa,
se queixa de barriga cheia
que não tem
que pedir arrego
e estender a mão
pra se vestir, comer
e conseguir emprego,
nem tem
que fazer crediário
pra existir à prestação,
mas,
quem nasce
em berço comunitário,
meu irmão,
com um montão
de outros pequenos,
se fadiga feito mouro
já no berçário
e está sujeito
a deixar o couro por lá
que é muito feia
a briga pelo peito,
depois,
sem numerário
pra dar lance
e arrematar algum bem
que o dia-a-dia
é um leilão,
tem bem menos
de um terço da chance
que o outro tem
e, via de regra,
não se integra ao páreo
e acaba fazendo feio,
pois,
sem esteio e alavanca,
não arranca,
se arranca,
manca pouco adiante
e estanca e finda
do meio inda distante,
se arranca e não manca
e não estanca
e não se manca
e banca o louco
e arranca o alheio,
quando não cai,
vai pra tranca
ao fim do flagrante,
contudo,
quando não dá tudo
tão errado assim,
em geral,
se arrebenta no trabalho
até se aposentar
e se aposenta no final,
e cheio de avaria,
e com aposentadoria chinfrim,
e nem estrila o coitado,
e vai quebrando um galho
até se quebrar
numa fila de hospital
de mal não diagnosticado!,
mas,
por fim,
tem casa
e casa nova,
a cova rasa!