quinta-feira, dezembro 08, 2005

É... gosto não se discute

Sou que sou
fascinado por condução superlotada,
seja ônibus, pirata ou não,
van, trem ou metrô,
sem esquecer o tal bonde
que a gente sabe bem de onde vem
e que continua passeando pela rua
a qualquer hora do dia,
acho uma delícia
fila, multidão, empurra-empurra,
porrada da polícia
em porta de repartição,
acho o máximo
salário mínimo atrasado,
sou tarado por inflação,
tenho atração por enchente
e sonho com catamarã
na Praça da Bandeira,
só fico contente pela manhã
quando vejo no jornal
muito assalto e bandalheira,
ou uma armação muito legal
pra tomar grana dos incautos,
tenho fixação
em desconto em folha
e em bolha nos pés e nas mãos,
acho sensacional
perda do poder aquisitivo,
contribuição de inativo
e sugiro cartão de ponto,
não há invento igual
a imposto de renda na fonte
e mais ainda me apetece
o gosto do ICMS no alimento,
acho um barato
dar de fato status
a quem mora debaixo da ponte
cobrando taxa de iluminação,
de lixo, de incêndio,
acho divertido
viver qual bicho em jaula
por causa do ladrão
e escola sem aula
por orientação
do pessoal do movimento
ou por falta de verba no orçamento
pra pagar ao professor
o estipêndio devido,
não escondo
que tenho tanto amor por apagão
que chego a ter orgasmo
só de pensar
e que me encho de entusiasmo
só de ouvir falar
em baderna, quebra-querba e corre-corre,
mas,
me arrisco a dizer
que, em primeiro lugar,
vem pra mim confisco
geral, amplo e irrestrito,
em segundo,
aquele bendito chute de artilheiro,
no último instante
frente a frente com o goleiro,
que passa distante
e nos firma na lanterna,
e, em terceiro,
mulher agra, feia, cheia de vício,
um estrupício de tão magra,
e tão indolente
que não trabalha fora
nem encara o batente dentro,
melhor que isso,
só dois disso,
ou, no domingo,
almoço no lar doce lar
com a família da minha senhora
e aquele chucrute
sabendo a coentro
que o cunhado tanto adora,
é... gosto não se discute!