quarta-feira, dezembro 07, 2005

Melhor do que a encomenda

Antes mesmo de comer,
cuspiu no prato o Brás,
veja você,
me saiu
o rapaz
melhor do que a encomenda,
como viu
dois passarinhos a voar,
preferiu soltar o que tinha nas mãos,
pois era o seu
e bem pequenininho,
e saiu correndo atrás,
e nem levou merenda,
e acabou sozinho no mato,
que não carregou cão nem gato,
somente meus parcos reais,
e deixou seus dólares, euros, marcos,
porque não fala inglês, europeu nem alemão,
e pra ser localizado,
em caso de recado ou emergência,
foi discreto,
só deixou a direção
com um punhado de seletos companheiros,
padeiros, leiteiros, peixeiros, açougueiros, tripeiros, verdureiros,
com alguns diletos vizinhos
e com os parceiros do Barrasquinho:
Inocência,
Albina, Joaquim, Delfina e Lisboa,
Ferreira, Serafim e Queluz,
Simões, Macedo e Murilo,
e mais o treinador Batista,
o massagista Loureiro
e o roupeiro Amador,
e com os chefões da Bagaceira Barraína,
da Barrascão à Gomes Sá
e da Barrasco da Gamboa,
e mais alguns fadistas,
ao todo, umas cem pessoas,
e um outro tanto espalhado por diversos cantos,
mas tiveram de jurar por todos os Santos
e beijando os dedos em cruz
que iam guardar seu segredo em sigilo,
e foi avistado pela última vez
disfarçado de freguês,
no boteco do Camilo,
e este disse,
em uma nota feita com a direita,
pois argumentou um treco,
dor ciática na canhota,
após ter alegado,
imunidade diplomática
e alergia a retrato falado
fundado em receita ortopédica,
mas a nota foi enfática:
“oh! cara,
nem que me dopes,
aliás,
nem que me coloques no pau-de-arara,
castigo horroroso
que qualquer um arrasa,
e sinta muita dor,
vou confessar que o Brás
foi trabalhar em Seropédica,
ao lado da casa
de um famoso compositor,
pois fugiu sem deixar pistas a raposa,
fez uma obra de artista,
na verdade,
uma manobra malandra,
colou a foto da Cassandra,
sua esposa,
na carteira de identidade!”