quinta-feira, dezembro 01, 2005

Não morre no meu coração

Não é flor que se cheire
essa bisca,
é arisca, fuleira
e sem eira nem beira,
e não consigo
achar trigo nesse joio,
por mais que joeire
e lhe dê apoio,
quando bate o furor
e ela fica a fim de prazer,
mete a cara e vai em frente
com quem aparecer,
jardineiro ou jardineira,
e nem repara
em jardim e canteiro,
rente ao chão se deita e ajeita
qual planta rasteira e capim,
de repente,
qual trepadeira,
se agiganta por cima,
vícia, tamo, costela-de-adão,
e se arrima no que puder,
no que estiver mais à mão,
bem pode ser
ramo de cânhamo,
vício e suplício,
ou de belas felícias,
deleite e enfeite,
é indiferente ser chamada
de malmequer ou de bem-me-quer,
mas,
por mais que a razão
me conte poucas e boas
e me aponte a indecência
dessa flor infrene,
por mais que o fedor
dessa malícia à-toa,
que o porre me envenene,
essa louca Hortência
não morre no meu coração!