terça-feira, setembro 13, 2005

Apeou do pau-de-arara

Anônima e moça recente,
trouxa e sotaque,
apeou do pau-de-arara na capital
em frente à Central do Brasil,
e sorriu um sorriso diferente,
qual Mona Lisa,
mas ninguém aplaudiu,
aí,
foi atrás da brisa,
do mar de Copacabana,
e não resistiu,
se banhou, se benzeu e dormiu nas areias,
debaixo do luar,
cheia de fantasia nas veias,
mas,
falhou a simpatia,
sob o sol escaldante,
não acordou sereia,
mas amante de ambulante,
e ganhou pão, margarina e traçado,
no boteco da esquina,
onde ouviu o povo falar
dos tais classificados,
que não leu porque não sabia,
mas meteu a cara na faxina
em casa de bacana
e quase entra em cana
por causa de bijuteria,
quis ser doméstica
de uma coroa muito fina,
mas tinha taras a patroa,
e preferiu cuidar da estética alheia
através da massoterapia,
mas a coisa ficou feia
logo na primeira,
e foi encher prateleira de mercearia,
depois, vendeu lula, sardinha na feira,
alugou o caçula da vizinha
pra fazer carreira de mendiga,
foi madrinha de briga de galo na Baixada,
vendeu pomada pra calo na Praça Mauá,
e vatapá, acarajé, xinxim,
numa birosca em São Gonçalo,
fez filé de gato no espeto,
num gueto de Madureira,
e do couro fez pandeiro e tamborim,
fez refresco purgativo
num quintal em Bento Ribeiro,
tentou o burlesco na Tiradentes,
no carnaval,
desfilou no Cais do Porto
pelo Grêmio Recreativo
Bloco Carnavalesco Eu Não Nasci Torto,
improvisou leitos sob marquises,
teve crises de hemoptise,
e houve até um idílio,
do qual restou um filho,
finalmente,
um sujeito do Serviço de Auxílio
ao Retirante Abandonado,
que vive abarrotado de esperanças,
lhe deu uma dica,
e lá foi ela atrás da vida fácil,
pensando em ficar rica
nas vizinhanças do Estácio,
agora é a Rosa do Agreste,
na Vila Mimosa,
encara qualquer um,
qualquer venérea,
acha que a peste não é coisa séria,
e sua hora não é cara!