sexta-feira, setembro 16, 2005

Esse desejo esquisito da patroa

Esse desejo esquisito da patroa,
e na nona gravidez,
me deprime,
não é de grávida sublime
ávida pra matar a vontade,
muito menos encargo banal,
na verdade,
trata-se de infração penal,
instigação ao suicídio,
quer dizer,
ao auto-homícidio
usando as mãos de alguém,
ou incitação ao crime,
veja só,
pargo frito
com creme de aspargos
e gelatina de morango silvestre,
às três horas da matina
do derradeiro domingo do mês?!,
onde já se viu?!,
ela quer que alguém me defenestre
ou que eu seqüestre
o dinheiro de quem tem,
é mesmo de amargar,
gente fina!,
desejo assim
é coisa pra ver
em fita de vídeo alugada!,
ou, então,
em notícia surrealista
sobre alguma artista
dada em coluna social!,
mas,
a patroa é do lar
e sou um pobre pedestre,
um mortal desempregado
sem um pingo de cobre no bolso
e com todo esse alvoroço,
com toda essa zona
que a turma do bonde faz lá fora,
não tem como,
agora,
se Dona Honória,
vizinha da casa seis,
puder doar
um molho de chicória
e jogar aqui na cozinha,
por cima do muro do quintal,
minha cara-metade toma um caldo,
e olhe lá,
e se o desejo deixar algum saldo,
que durma de bruço da próxima vez,
se não evita desejo,
é tiro e queda pra evitar gravidez!