sexta-feira, setembro 16, 2005

Mas vem a hora do castigo

Vida confundida
com conta no banco
em franco progresso,
com fama e sucesso,
um dia,
o neon se derrama,
a magia ecoa e inebria,
o dom embriaga e cega,
e a gente vira rei,
rei dos reis,
e a gente nega, renega
e apaga o metro,
e tira a própria medida
por cetro e coroa,
aí,
sou mais distinto,
mais sei,
sinto bem mais,
sei que não preciso
de conselho ou aviso
de amigo ou amiga
nem de lição antiga,
não preciso mais ver
os olhos vermelhos
de irmão, de irmã,
de ex-paixão, de ex-amante,
precisei cativar antes,
agora é cativo o fã,
e pinto e bordo,
e faço e aconteço,
acordo e ativo a sanha,
consinto a manha e a tara,
meu desejo dispara
e obedeço,
e me despejo,
como sou meu exemplo,
esqueço oração,
despeço meu santo
não mais me confesso
e passo ao largo do templo,
mas vem a hora do castigo,
sem um só coração
disposto a nos dar abrigo,
resta o pranto
e o gosto amargo da solidão!