sexta-feira, setembro 09, 2005

Sou maluco sim, e daí?!

Sou maluco sim,
e daí?!,
repito passos e gestos,
volta e meia,
repito manifestos,
e páro, me agito,
grito, pego embalo e me calo,
faço meia volta e falo,
tiro a roupa,
meto prego
e martelo sem estopa,
e não vou de vento em popa
só porque ele sopra,
pois velo pela vela,
e sopro, assopro,
que alopro se o bolo pegar fogo
por causa dela,
e rolo, enrolo,
faço rogo e até um rolo
se assim se desatola um tolo
ou quem se amola,
porque alguém
não rola a bola
e enrola o jogo,
e disparo e desfaço a volta
em volta dela
pra defazer o laço
e páro meio,
e não passo pra niguém,
vou a Tróia sem cavalo,
faço rodeio
mas não apunhalo o touro,
faço jóia sem argento, sem ouro,
pão sem fermento e centeio,
e sou irmão do joio, do trigo,
de cróia, beata, nata e ralé,
e pra todos ligo,
pois intriga comigo não dá pé,
não liga,
e escalo o espaço, toco o bonde
e vivo na flauta sem escala,
que a ambição não me assalta,
e, se não reboco mala,
não me abala
não saber quem sou
nem pra onde vou,
pois, no fim,
eu vou, tu vais e ele vai,
e ai de quem não quiser ir,
sou maluco sim,
e daí?!,
reconheço que não sou santo
e que não sei a metade da missa,
mas,
padeço ao ver seu pranto,
não tiro doce da mão de criança,
não sou corvo em cima da carniça,
não trato ancião com incúria,
qual fosse estorvo,
e não faço aliança espúria
só pra ganhar uma eleição,
sou maluco sim,
e daí?!