sexta-feira, setembro 16, 2005

"Mea culpa"

Miser ego homo,
e sei como agora!,
mea culpa,
mea culpa,
mea maxima culpa,
tomara!
qu'inda seja hora
de fazer mea-culpa!,
e faço,
durante boa parte,
bom pedaço da vida,
por pretensão,
desatino,
falta de tento e arte,
perdi totalmente o norte,
completamente a medida,
e pensei
que pensava
pensamentos isentos,
e pensei
que pensava
pensamentos genuínos,
e me senti
um arrogante ilhéu,
subida ilha,
ilha fora mapa,
ilha protegida por capa
forte e brilhante,
meu mar!, meu céu!,
e me senti solo e semente
e pensava cada pensamento
como um reto fruto todo meu,
e me senti óvulo e esperma
e pensava cada pensamento
como um bruto feto todo meu,
embora não fosse
palerma o bastante
pra fazer insultos à inteligência
a cada instante,
a cada minuto de cada hora,
nem bastante astuto,
vejo agora!,
passei boa parte da existência
assim pensando,
tinha arroubos de pleno adulto
mas era um crente,
inocente,
um menino bobo!,
mea culpa,
mea culpa,
mea maxima culpa,
pensando assim,
pensei pensar
isentos e genuínos pensamentos
por quase uma vida inteira,
mas o destino pôs fim
nessa besteira,
acabou com essa crendice,
e custo a crer agora
que andei convecido dessa tolice...
um pensamento todo meu...
exclusivamente meu...
e não tive um só pensamento
que não tenha sido
resultado de algum legado,
de alguma herança...
custei um bocado
a deixar de ser criança,
a fazer mea-culpa,
miser ego homo,
e sei como agora,
e mea-culpa faço,
tomara!
não estar além da hora
nem mesmo um passo!,
mea culpa,
mea culpa,
mea maxima culpa!