segunda-feira, setembro 12, 2005

Quero oba-oba

Que conste em ata,
não quero sopa de entulho
nem outro bagulho qualquer,
quero oba-oba
com caviar, scotch, champanha
e muita mulher boa
em camarote bancado
por algum magnata,
quero lotar o pandulho
de picanha, maminha e chope gelado
em boca-livre com grana de campanha,
quero fazer greve
pra pôr cobro ao dever de trabalhar
e poder ganhar o dobro na moleza,
quero ir por aí à toa
de carona numa passeata,
mas com aquela massa bem leve,
e à bolonhesa
ou ao suco da economia de mercado,
quero livre-arbítrio
pra usar meu passe livre
e sair qual maluco-beleza
atrás de algum trio elétrico
sem correr risco de ir em cana,
quero a mulata,
orgulho métrico do nosso sistema,
que manda ver
como rainha da bateria da Banda
‘O Dilema do Ecoequilíbrio
Quando o Boteco Pega Fogo’,
quero jogo, bingo e loteria
de domingo a domingo,
quero,
de graça,
um plácido outro dia
com analgésico e antiácido
pra combater azia e cefaléia,
e colírio pra não dar bandeira,
e aquela pura
que cura tremedeira,
faz esquecer tombo amnésico
e remenda até rombo na idéia,
quero
matar a sede
com cachaça corrente na torneira,
rede na varanda de frente pro mar
pra aproveitar a marisia
enquanto descanso a moringa
e sem precisar tirar um puto do bolso,
quero vela, galinha, alguidar,
fita amarela, farinha, charuto gratuito,
que fazendo mandinga
a gente evita caso fortuito
e força maior,
depois,
quero muita fé
e o melhor minuto de silêncio,
bem diferente do que ouço por aí
e tanto já vi,
quero pra mim
minuto de silêncio
com juros e correção monetária
na bebemoração diária por aí,
e sem bucho,
e sem tristeza,
se não for assim,
juro que viro a mesa,
volto e puxo seus pés,
e puxo os dois de uma só vez!