segunda-feira, setembro 12, 2005

Jogo no Céu

No fim-de-semana
(ih!, falha humana!),
barrosamente o Ary,
gaita na boca,
voz quase rouca,
torce,
esbraveja,
mais que locutor,
ele é a própria peleja,
e a bola rola
de pé em pé,
bate o Jaguaré
o tiro de meta,
e mais atrás,
o Batatais aplaude,
ela decola e vai,
quase reta,
Heleno de Freitas
ajeita a esfera no peito,
com jeito
põe no terreno,
me desculpe...
põe no gramado celeste,
finge que investe,
percebe outra jogada,
ainda mais eloqüente,
e lança,
o Yustrich berra,
ouço aqui na Terra,
mas
não acorda o Feola,
e o Almir
alcança a bola,
catimba,
o Pernambuqinho
carimba sua presença,
mas já não ensaia mais desavença
que agora está em outra praia,
a manobra o Fausto pressente,
se desloca,
fica na sobra e recebe,
que Maravilha Negra,
e avança com classe,
acariciando a pelota
e,
quando nota o eterno espaço,
ao Friedenreich dá o passe,
entre o Céu e o pé
o encaixe é perfeito,
feito pra ela,
então,
El Tigre toca,
imponente,
cheia de arte,
ela parte
rumo ao Mané,
o passo é de balé
e o éter consente,
com as pernas tortas
ele corta pra lá,
pra cá,
e dá mais uma,
mais duas,
muitas fintas,
e o Céu delira,
a Terra suspira lembranças,
e ele vai,
e gira,
e volta,
uma dança!,
e ele avança,
recua,
por fim,
ele solta
quando pinta
o Tim na meia-lua,
que envia ao Neco de trivela,
este, por sua vez,
tabela com Preguinho,
o Doval pede,
recebe e toca para o Valido,
o portunhol é divino,
e quando ela sobra,
cai nos pés do Itália,
e brilha outro cobra,
e partilha a jogada com Brilhante,
um passe perfeito,
e olha o Zizinho,
aí,
com carinho,
e de primeira,
ela recebe
um leve efeito
com o lado da chuteira,
e segue seu caminho,
Domingos da Guia
dá um toque suave
e centra na medida,
e o Diamante Negro,
finaliza com brilho
e de bicicleta,
contudo,
a magia se completa
e ela bate na trave,
na baliza São Castilho,
com leiteria e tudo,
mas,
se não batesse,
defendia o Veludo,
aí,
o Fontana,
com aquela gana,
dá um bico pra frente,
Gentil Cardoso faz embaixadas
e linha de passe
com Silvio Pirilo,
e o princípie Danilo se apresenta
e o Barbosa goza
e morre de rir,
espalma pra escanteio,
e consulta o doutor Rubens,
que, por sua vez,
ausculta o Vavá,
que dá um toque
e chuta
lá do meio da rua
e o Pompéia defende
fazendo acrobacia
ao som do hino do Lamartine,
quem não viu
não faz diéia...
é até covardia!,
você há de convir,
e, ainda por cima,
você,
Ary,
feliz da vida!,
(puxa, outra falha?!)
mais se anima
e faz um chiste
com o Mário Vianna,
que se ufana
do seu troféu,
os 2 n's,
e, dedo em riste,
briga, ralha
"com meio Céu",
mas,
não apita
o fim da partida
e não termina o jogo,
e não há quem segure
o show do Jorge Cúri,
e ele grita:
gooooooooolllllll,
dos deuses do futebol!
e faz coro o Waldyr Amaral,
e já o Saldanha
escancara o paiol
e bota fogo na resenha,
o Nelson anuncia
sua chama tricolor
e põe mais lenha,
se arrepia de amor,
mas a raça
rubro-negramente se inflama,
Zé Maria Scassa,
e o debate se incendeia,
e quase não creio
quando
o dia clareia
e disperto,
mas,
no sorriso aberto
sinto
da emoção do devaneio
a alma ainda cheia!