segunda-feira, setembro 19, 2005

E faço que sei o passo

Contemplo o paço
e faço que sei o passo
que faz o rei,
faço que sei
que seu passo maneiro
não sai da linha,
faço que sei
que o rei capricha
nos pormenores da lei
e que o salsicheiro
segue seu exemplo
quando faz a salsicha,
faço que sei
que o rei não se embriaga
com vinho de suas vinhas
servido em taça de cristal,
faço que sei
que o dinheiro do rei
vem todo da mina real,
não da paga do zé-povinho
dos arredores do paço,
faço que sei
que não tem o rei
emoções ferinas,
relações espúrias,
nem troça da nossa moral
nos braços das concubinas,
faço que a rainha
não inspira, expira
e transpira ciúmes,
nem conspira
com fúria e azedume,
faço que a corte
não cochicha nem comenta,
faço que a patuléia,
quando se espicha e tenta,
se faz ver e ouvir
no interior do paço,
faço que é injúria
dizer que nossa queixa,
que nossa lamúria
deixa o rei de mau humor,
irritadiço e com cefaléia,
faço que é denegrir
o nome do rei
dizer que é omisso,
dado à incúria
e tem prazer
com o vezo
de sentir desprezo
pela fome,
pela penúria plebéia,
faço que sei
tudo isso sobre o rei,
que não sei bem
o que mais posso fazer!