quarta-feira, novembro 16, 2005

Dês que

Nosso patrão é o nosso freguês,
manda, desmanda e tem sempre razão,
dês que
não seja um cliente
com um exíguo bestunto,
ou seja,
dês que
não se queixe da cerveja
que vem quente
pra não lhe causar dano,
nem se deixe afetar pelo copo fosco
pois lavado com detergente natural
e secado em avental de pano
pra evitar poluição,
dês que
esteja disposto a apreciar
o visual do tira-gosto,
especialmente o de presunto,
esverdeado e tosco
por motivo estético,
e seja suficientemente vivo
pra curtir seu ambíguo paladar,
ou melhor,
contíguo ao eclético,
dês que
mostre estima pela vaca,
matéria-prima do churrasquinho,
e não invente de ser engraçadinho,
fazendo pilhéria e tachando de inhaca
o aroma do nosso peixe
frito em nosso óleo polivalente,
dês que
não goze o nosso bom garçom
em razão da esclerose e do coma
nem desfeche grito e pito
quando solta palavrão,
dês que
não discuta religião, política nem carnaval,
e prefira tomar cicuta ou falar de críquete
a falar mal ou fazer crítica ao Vascão,
nosso freguês é o nosso patrão,
manda, desmanda e tem sempre razão,
dês que
não insista
em conferir as comandas
de ponta a ponta,
nem banque o moleque
na frente do nosso caro gerente
questionando sua soma,
e, é claro,
dês que a conta pague à vista
e não use tíquete, cheque nem cartão!