terça-feira, novembro 01, 2005

Fez feitiço comigo essa moça

Que ela não me ouça,
meu amigo,
mas,
essa moça
fez comigo
algum feitiço
que não tem fim,
só pode ser isso!,
espalhou seu retrato
por todos os cantos de mim,
não deixou um só intato,
meu peito tem uma pilha,
até parece álbum de família
e não cabe mais nada,
tenho foto dela na carteira,
aquela colada no carro,
bem ao lado de São Cristóvão,
em casa,
então,
a exposição me arrasa,
por onde ando,
esbarro em uma
e me arrepio,
estão em todos os vãos e vazios,
tenho fotografia
até no quarto-de-empregada,
no sótão, tenho um bando,
há uma enorme na sala
e exala perfume mais forte
que a braçada de flores no jarro,
a da mesinha-de-cabeceira é de morte,
não dorme,
me vigia a noite inteira,
proíbe até que eu fume na cama,
em cima da geladeira,
tenho uma que me dá calafrios,
me leva à loucura,
faz um drama
quando como torresmo, paio e chouriço,
e, além disso,
se transfigura,
pelos olhos solta raios a esmo
quando tomo cerveja,
mas,
veja que engraçado,
o retrato muda da água pro vinho,
fica sossegado
quando varro, passo,
cozinho e lavo a louça,
fez feitiço comigo essa moça,
só pode ser isso!