quinta-feira, novembro 24, 2005

Uai!, buy, buy Brazil!

Uai!, buy, buy Brazil!,
se não se escreve assim,
releve, por gentileza,
que meu espanhol é assim-assim,
tal qual meu inglês,
e o portugês não faz jus à portuguesa,
mas,
fez psiu pra mim
uma moça estranha,
muita banha, buço, tersol,
e cambembe como nunca vira,
aí, já viu!,
sem grana e sem manha,
mas cheio de pressa, gana e animação,
e tudo ficando ruço, indo às avessas,
não prestei muita atenção,
e a Ouvira
virou passado mais-que-perfeito
e nem lhe dei tchau direito,
me lancei ao mar pra vencer a poça,
como sói acontecer,
peguei a nau em Niterói
sem apetrechos, candembe e caniço,
que não ia mesmo pescar nesse trecho,
e passei ao largo de pargo, traíra e pacu
que a Baía nem tem,
cheguei ao Rio
e tentei passar o paco,
e uma sirigaita cafona
que parecia a dona da gaita
quase embarca,
mas,
houve um enguiço
e um baita rebuliço
e me pregaram um peça,
escapei por um fio
mas tenho a marca,
arranha, arde, coça e dói,
mas quem está na água,
se não afoga as mágoas,
amarga a droga da ressaca
e deita carga ao mar,
então,
meti a casaca do jeca-tatu,
fiz par, cama e mesa,
e o caixa do circo com Irene Pelicano,
se não erro,
por causa do berro e do bico,
mas uma beleza de atriz
que ostenta a faixa
com os dizeres:
“dama perene do mambembe”,
e todos os anos,
há mais de sessenta,
da Praça Paris a São Luís,
tenta a fama na estrada,
na excursão daqui pra lá,
me interessei por jacu,
pintada, tiziu, xanxão, anacá,
mas chamaram o meganha
que veio atrás de mim,
quase, outraz vez,
fui pego pelos quadris,
aí me mandei pro Pará,
que me assanha o xinxim
e assim o acarajé,
e nem sei se fazem por lá,
mas levei umas castanhas
e a piranha perequeté
quase me abocanha
de um jeito exótico,
escapei por um triz
e com um simples dano,
uma ardência danada
que curou o antibiótico,
e decidi dar o fora,
a todo o pano,
me meti no Amazonas,
conheci fauna, flora, pororoca
e malocas bem malocadas,
tomei sauna em Manaus,
na zona, franca,
uma senhora
me ofereceu
ninfeta estrangeira, nacional,
e branca, preta, mestiça,
inata ou postiça,
tudo falso,
mas feito na hora,
e cedida por besteira,
mercadoria barata,
pois não tem imposto,
mas,
questão de gosto,
preferi ir à cata
de delícia mais tradicional,
por nuga
entrei no jacaré guisado,
na sopa de tartaruga
e me pus em fuga
que, por causa do defeso,
a polícia em peso
ia vir no meu encalço,
mas, antes de partir,
fui à missa na sé pedir perdão,
pois a gula é pecado,
que seria de mim
se não tivesse essa fé
que me faz crer assim!,
uai, buy, buy Brazil,
releve
se não é assim que se escreve,
mas,
se a gente não vai,
o boi já foi ao Uruguai,
o moço simpático,
ao Paraguai, à Cochabamba,
e vai e vem muamba pela divisa,
e o barulho do foguetório avisa
a chegada de mula e bagulho,
e que alvoroço democrático
faz nosso povo,
simplório, acadêmico,
anêmico, bem nutrido,
velho curtido, guri novo,
e de Acari à Vieira Souto,
e o dinheiro grosso não vai preso,
corre solto,
e sigo teso
e a coisa segue assim,
mulher mirim
a venda no interior,
que suas prendas
têm valor nas capitais,
uai, buy, buy, Brazil,
se não é assim que se escreve,
releve,
que Brasilia anda chinfrim,
e, no mais,
as Gerais,
assim, assim,
em Sampa,
nada em cartaz,
no Rio,
outra trampa saiu no pasquim,
no Nordeste,
seca e ananás,
no Norte,
outra clareira,
que floresta é besteira,
ruim pra urbanizar,
mas, quem sabe,
se agente tiver sorte,
um dia ganha o Oscar,
o Sul esperneia às pampas
e solta o berro,
mas não é de ferro,
então acampa, carneia
e toma o chimarrão,
mas não é só,
uai, by ou buy ou bye Brazil,
que tá demais o tesão
e a aflição vem de trás,
é preciso ungüento,
banho de assento,
mas cem por cento
não fico mais,
aliás,
nem cinqüenta,
meu traseiro não agüenta, uai,
assim sendo,
se não bais,
como diria aquele lusitano
mais brasileiro do que eu,
até um dia,
bye-bye!,
hermano meu,
se é que é assim que se escreve,
se não for,
por favor,
releve, pegue leve,
pois me tornei poliglota
e analfabeto em muitos dialetos,
e gente assim
não nota nenhuma imprecisão,
enfim,
buy bye-bye by Brazil!