quarta-feira, novembro 09, 2005

Aí!, perdeu!, perdeu!

Aí!,
perdeu!, perdeu!,
fique frio!, fique frio!,
não se mexa!, não reaja!, não se agite!,
não grite!, não muja, não chore!,
não implore!, não dê nem um pio!,
nem me fuja!,
meu camarada,
aja como se nada
estivesse acontecendo,
senão lhe meto aquela ameixa,
e não vou ficar lendo seus direitos
porque não sou ridículo
nem me sujeito a mentiras e gracinhas,
direito é coisa minha
quando sou apanhado pelos tiras,
e adiante o meu lado,
não tenha enfarte,
morrendo antes,
e de morte morrida,
você caga meu currículo,
estraga e suja minha parada,
e eu vou ficar puto da vida,
e vai passando logo tudo pra cá,
menos suas contas,
não preciso desse prejuízo
que nem sei a quanto monta,
depois,
boto você pra sair correndo
com votos de boa sorte e chispo,
você parte e toma seu norte,
e, passado o cagaço,
vai penar um bocado
pra se queixar ao bispo,
ao reverendo, ao rabino, ao pastor,
ao inquilino de algum paço,
e, a pedido do doutor delegado,
vai fazer a lista
do que levei e tinha algum valor,
vai fornecer alguma pista,
dando traços ou olhando uma foto,
mas,
não esqueça,
se não tiver virado presunto,
não seja bobo,
não perca a cabeça
ao falar do assunto na tevê e no jornal,
fale muito bem e bem alto
do roubo e do ladrão,
não banque o ignorante,
seja resignado,
como um irmão decente,
inteligente o bastante
pra saber que é culpado
pelo ambiente que motiva o assalto
e ativa o assaltante
que cumpre só seu papel
no contexto social,
e mais,
nunca tope falar mal,
seja qual for o pretexto,
não dá ibope,
a fala de quem reclama
é repleta de fel, de preconceito,
politicamente incorreta,
de qualquer jeito,
você ainda fica me devendo
seus dez minutos de fama,
mais tarde,
faça bastante alarde
com cartaz e faixa
de sua ONG predileta,
mesmo que não adiante,
com essa atitude legal,
sensível às vicissitudes
dos amigos do alheio,
você se encaixa em cheio
no conceito de sujeito normal!