terça-feira, novembro 01, 2005

Ela

Seu sorriso é decote ousado,
seu olhar, pote aberto,
é preciso seu semblante,
transparente qual vitrine,
define o que pensa e sente,
e não faz rodeio
nem manda recado,
fala às claras,
quando começa, não pára,
ela é assim,
começo, meio e fim,
quando ataca, saca,
quando saca, engatilha,
quando engatilha, mira,
quando mira, atira,
e dá tiro certo,
com seu jeito franco,
é preto no branco,
rompante
que desconhece limite,
e não espere brandura
nessa hora,
assim como
se emociona e chora
e com ternura
afaga, acata e se submete,
ela detona, desacata e arremete,
esmaga e fere,
se preciso, mata,
é baluarte no gueto,
guerreira que comanda,
anda na frente e leva o estandarte,
no salão elegante,
a dama tranqüila domina a elite,
dança e desfila,
na hora da prece, é beata,
ora com fervor e abomina o pecado,
na cama,
esquece combatente, madame, devota,
bota pra fora a amante,
mestra na arte de amar,
que não conhece
vexame, fronteira e pudor,
que respira, transpira amor,
ama, goza e faz gozar,
pra quem cultiva e sabe compor,
ao lado do jasmim,
é meiga rosa e enfeita o jardim,
pra quem maltrata a flor,
rasga e fura mais fundo que espinho,
pra quem procura um caminho,
é trilha, ponte
que liga a ilha ao continente,
onde há sede,
é fonte, água abundante,
mas nem tente causar mágoa,
ela muda e vai além do vinho,
azeda, se avinagra,
se dá um boi pra não entrar na briga,
pra não sair, dá toda a boiada,
pra quem necessita,
é fada, é amiga,
entre seus braços,
a alma aflita acha o regaço,
seu seio mata a fome,
a vida se faz no seu ventre,
sabe sentir, rir e chorar,
na paz, é calmaria,
na guerra, ventana e ventania,
sobe nas tamancas,
bota as mãos nas cadeiras,
roda a baiana
e faz a terra ter tremedeira,
é mulher,
mas, quando quer,
desbanca o macho
e fico por baixo,
com muito prazer!