domingo, maio 01, 2005

Amigos, rua, esquina e botequim!

Sou de ato,
ação,
prefiro ir ao fato
a ouvir a narração,
prefiro o risco da calçada
à segurança no regaço da janela,
a pasmaceira e calo no cotovelo,
prefiro andança atarantada,
embalo e atropelo de multidão,
e poeira, cisco no olho, erisipela,
e muito suor,
acho melhor buzinaço no sinal,
marcha engarrafada na primeira,
que ficar de molho no recolho
quase sem dar sinal de vida
e descendo a ladeira em ponto morto,
prefiro arquibancada, geral, bola dividida
a conforto e futebol em miniatura
pela tela da tevê,
que não nasci pra clausura
nem pra ser ermitão ou bicho-do-mato,
ao inverso,
sou de gente presente, contato, corpo a corpo,
sou de prosa, copo e brinde,
sem hora pra chegada,
sem hora pra partida,
topo opinião controvertida, contraponto,
mas conto com verso
pra não deixar que a poesia finde,
sou do riso, da piada,
mas não renego o pranto
quando sossego num canto
pra ouvir a canção e sentir saudade,
na verdade,
sou bem mais chegado à emoção
que ao juízo,
preciso de sonho
até quando me exponho
e enfrento a realidade,
e não me tenta
o coerente cem por cento,
com quarenta fico bem,
talvez bem menos,
não sou do plano anual,
do orçamento mensal,
sou do momento,
do lucro ou dano diário,
não sou chucro nem um perfeito cavalheiro,
não sou louco por dinheiro,
mas não o rejeito,
sou do você,
que senhor não me soa legal,
se for necessário,
não descarto
um aperto de mão formal,
mas sou muito mais
o prazer de um bom abraço,
coração a coração,
prefiro a noite ao dia,
não vou dizer
que tenho alergia
quando respiro outros ares,
que estou farto
e já não consigo ir a outros lugares,
mas já parto
com uma dor que azucrina
e deixa o coração apertado,
de antemão,
sinto falta do meu quarteirão,
não me comparo com ninguém,
pois não fica bem
e cada um fica na sua,
eu sou assim,
amigos, rua, esquina e botequim,
os meus, é claro!