domingo, maio 01, 2005

Carioca cem por cento

Carioca cem por cento,
moreno,
franzino desde menino,
desde pequeno
dando banda em pé-de-vento,
comigo é assim,
qualquer hora é hora
e não há tempo ruim,
crio um gato soçaite
que não mia,
“laite”,
o corredor lá de casa é polonês,
sou freguês das cheias do Rio
e já fiz até salvamentos,
entro no ar-condicionado
quando abro a geladeira,
sem nada pra gelar,
ela me congela,
incêndio lá na favela é lareira,
esquenta o nosso inverno,
o terno é dó de madeira,
e o cachorro é quente,
um dia,
alegria da gente do lado de fora,
no outro,
do lado de dentro,
e sem sal e sem coentro,
chuto a falta de emprego no canto
e não entro,
chego junto do cheque sem fundo,
mas não deixam
sequer fazer um remendo,
boto a mesa na rua,
numa boa,
e janto fora com a patroa,
um chique jantar in vitro,
as crianças estudam no exterior,
que a escola tá sem teto, sem merenda e sem professor,
mas,
no domingo,
eu me vingo,
banho de piscina com a família
na caixa de 100 litros
pra tirar a inhaca,
e não encho,
pra ninguém se afogar,
depois,
com aquela força danada,
vou ao Maraca,
e de geral,
enquanto não acaba,
e pra ver o futebol do Rio
levar outra porrada!