domingo, maio 01, 2005

Cansei de dar vexame

Já tive que dar muito vexame
pra ganhar um troco,
tive que desistir do jogo,
tive que ir pro tatame
pra levar soco de anão japonês
que nem tinha faixa,
tive que encarar centelha
e apagar fogo
pra não ter que dar baixa,
com uma das mãos atrás
e a outra na mangueira,
tive que conter zoeira de enxame
sem violar o estatuto da abelha;
já tive que dar muito vexame
pra ganhar um troco,
tive que dançar
e cantar parabéns em inglês
e ajudar a soprar a vela do bolo
na festa de um totó dissoluto
que era orgulho e consolo da madame,
tive que ouvir bravata,
piada infame,
fazer, desfazer e refazer embrulho
só pra não perder o freguês,
tive que botar paletó e gravata
pra fazer exame gratuito
de fezes e urina;
já tive que dar muito vexame
pra ganhar um troco,
tive que botar batina e saia de escocês
pra escapar de reveses e curtos-circuitos;
tive que fazer reclame na esquina
metido em camisinha tamanho família;
tive que achar estranho
o pedido daquela vizinha boa
e, no lugar de lhe dar o salame,
deixar que a patroa lhe desse um bife;
tive que pagar pela Ilha de Notre Dame
e, pelo preço, ir passear em Recife;
tive até tomar santo-daime
fingindo ser refrigerante;
enfim,
tive que perder
bem antes do começo do certame;
agora,
pra mim,
chega,
cansei de dar vexame!,
só me chame
se não tiver que ser assim!