domingo, maio 01, 2005

Meu moleque, meu menino

Quando brigo e ralho,
meu moleque brinca comigo,
ri à beça e nem se trinca,
desde pirralho é assim,
muda de conversa,
ameniza meus baques,
meus achaques,
quando me revolto,
solto os cachorros e malho a vida,
poetiza meus ataques,
mitiga minhas feridas,
morro de orgulho do meu moleque,
que nunca iniciou nenhum barulho,
mas não aturava esporro
nem bronca de ninguém,
nunca fugiu de uma briga,
pra casa nunca levou desaforo,
fosse o estouro com quem fosse,
que nunca foi de choro,
nunca pediu socorro
nem esmola a ninguém,
e meu moleque sabe muito bem
como é duro esse jogo,
como é fogo um sobrenome só
e agüentar aquele nó
quando a barriga ronca de fome,
e só ter meu corpo quente
pra enfrentar a noite fria,
sabe o que é não ter escola
pra aprender História, Geografia,
sabe o que é não ter na memória
sequer um Natal presente,
mas,
puxa!,
e parecia até magia,
sempre soube dar asas à imaginação,
de saída com linha, pipa, rabiola,
e bucha, e balão,
que voar é não ter limite,
depois,
aceitou o convite da bola,
e com ela foi o tal,
outro igual,
o morro nunca viu,
não fosse o menisco,
seria um craque no futebol,
mas,
como diz o dito,
há males que vêm para o bem,
e o dele não foi em vão,
como meu moleque sempre fez bonito
com alma, voz e viola,
sempre cheio de melodia,
de poesia no coração,
veio o primeiro, o segundo, o terceiro disco,
e agora o mundo inteiro bate palmas,
adora o meu moleque,
e tanto,
que me belisco pra ver se não é sonho
ou, então,
me ponho em prantos
de tanta felicidade,
mas se Deus não existisse,
não estivesse sempre por perto,
guiando nosso destino,
por certo,
não ia poder dizer hoje
o que disse do meu menino!