terça-feira, maio 03, 2005

Nem mesmo assim

Um duende
me prende à madrugada,
mas já não me faz sorrir,
ainda algum galo
tenta uma cantada,
só pra não desistir,
porque é só cruz,
só espada,
por fim,
eu me calo,
fingindo que falo
nas entranhas de meu silêncio
com John Lennon, Janes Joplin,
Elis, Paulo Emílio, Noel,
finjo que falo
sobre aquele brilho,
a clara claridade
que fazia a luz do céu,
que não invade mais a cidade,
nem, ao menos,
me ilumina,
e nem sei
se eles podem me ouvir,
enquanto isso,
chove chuva fina
de foscas estrelas,
e vem recebê-la,
a moça Lua,
nua, crua e cruel,
pois se afoga
em negras poças de chão,
fugindo das minhas mãos,
"se essa rua,
se essa rua fosse minha,
eu mandava,
eu mandava..."
ah... alma minha,
mas,
nem mesmo assim
aquela moça
voltava pra mim
e largava as esquinas,
onde se alucina
em alucinadas fantasias,
uma louca loucura
que não tem mais cura,
porque é mera pluralidade,
pura ausência de censura,
gulosa gula
de um sangue singular
que circula circulação e meia
pelo lado de fora das veias
e menstrua o canal do Mangue,
qual triste hemorragia
em aborto de filho morto,
e nem todo esse desgosto
faz uma única gota
se arrastar pelo rosto,
pois,
já não sou capaz
de chorar poesias
por aquela mulher,
sequer guardo alguma!