terça-feira, maio 03, 2005

A orquestra não sabia de nada

Ao som de Waldir Calmon,
deixaste teu perfume
em meu lenço de cambraia,
raias de ruge, sombra e batom
na minha camisa de linho,
e me juraste baixinho,
num queixume insincero:
"nunca,
nem que o mundo caia
sobre mim,
nem se Deus mandar,
nem mesmo assim",
te negarei meu carinho;
no meu peito ardia um bolero
e o salão parecia feito
só pra nós dois,
depois,
veio um beijo,
que hoje ainda
me encanta os desejos,
o calor dos teus seios
queimando meu corpo,
teu corpo
enfeitando meus braços,
nossos passos
entrelaçando nossas pernas
em compassos infinitos,
o brilho do teu rosto
exposto aos refletores,
o fogo dos teus cabelos
ardendendo para trás,
acirrado pelo sorriso,
teu pesçoco alvo e liso
a mercê da minha boca
e aquele jeito falso-aflito
de prometer coisas eternas,
com a voz quase rouca,
era a fada,
mestra do devaneio,
mas,
a orquestra
não sabia de nada,
e no fim da madrugada
encerrou a minha festa!