terça-feira, outubro 31, 2006

Não se faz pagode em qualquer lugar

Se não é
nova campanha
pra esculachar o pagode,
querem me levar à loucura
ou pôr à prova minha fé!,
como é que pode?!...
pagode
em cobertura do Leblon
ao som
de bandoneon, baixo e oboé?!,
qual é?!,
pagode
com gringa balançando
ao sabor de champanha?!,
pra completar,
bandeja de prata,
acho que pro caviar,
e bacana
contando bravata
e a grana que tem no cofre?!,
isso me irrita!,
pagode é uma ova!,
pagode sofre de acrofobia
e tem alegria popular,
tem ginga mestiça de mulata,
pra acompanhar
pinga e cerveja,
batata frita e lingüiça,
e tem pagodeiro
fazendo carinho
em cavaquinho e pandeiro,
pagode tem liturgia e altar,
não se faz pagode
em qualquer lugar!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Orgasmo

Acreditem
porque é verdade,
ontem,
tive um choque
e fiquei pasmo
quando vi,
só com dois toques,
o inútil e a inutilidade
tendo orgasmo!

sábado, outubro 28, 2006

Idéia fixa

A idéia fixa da Alda
é de se tirar o chapéu,
a nega é prolixa
e chega a ter apnéia
quando embala e fala
em aliança, véu e grinalda,
em pança
e umbigo estufado,
seu entusiasmo me deixa pasmo,
ou melhor,
com a devida tremedeira
e encharcado de suor,
e digo cá comigo:
“que fria!,
madrugada
com fralda e mamadeira
em lugar de batucada e boemia”,
e me pergunto:
“será um beco sem saída?!”,
mas pergunto baixo
pra Alda nem desconfiar,
e engulo em seco,
fico atento ao assunto,
simulo alegria e não argumento,
se argumentar,
acho que a nega me mata!,
é...
meu camarada,
dei trela à namorada
e deu no que deu,
já se fez o chá-de-panela
e o casamento já tem data!

terça-feira, outubro 10, 2006

Se só tem tu, vai tu mesmo!

Se só tem tu, vai tu mesmo!,
vai tu mesmo se só tem tu!,
que não surto
ou caio em depressão
nem quando o tutu fica curto,
sem jóia pra empenhar,
vou de peru e papagaio,
depois,
se não der certo
na banca nem no banco,
não me aperto,
também não boto banca
nem banco avestruz,
pois ao rombo,
ao tombo fiz jus,
então,
em vez de três,
faço uma refeição,
se nem pra uma der,
vou de pão
com paio ou chouriço,
se não tiver nem pra isso,
a opção é jejuar,
em compensação,
sem bóia pra esquentar,
economizo gás,
sem jornais pra ler,
não preciso
botar fogo no leocádio
quando cortam minha luz,
e não sou de confusão,
não brigo
nem com o vizinho idiota
que a tela da tevê
bloqueia com a janela
e no meu jogo bota areia,
me ligo no rádio
do surdinho aqui do andar
e consigo vibrar com o Mengão,
posso afirmar
que nem em matéria de sexo
fico perplexo,
caso a Neusa fique tristonha
e perca o pique,
caso a Valéria se esconda
pra não me atender,
caso a Creusa tire onda
e não me dê
nem uma mãozinha,
eu me viro,
me inspiro
com minha vizinha gostosa
e vou de bronha,
e vou todo prosa,
agora,
há uma hora tão séria
que não há lugar pra isso,
é a do samba,
e nessa hora eu me ouriço,
mas,
quando não dá pra sambar,
fico sem viço,
dou féria ao bamba,
saio fora
e vou pra cama descansar
que só o samba me inflama!