quarta-feira, setembro 24, 2008

Malandro de verdade

Malandro de verdade
não escangalha sua imagem
que não se atrapalha
nem dá nó nas pernas
tentando ser malandro demais,
aliás,
malandro de verdade
na aparência só
não se sustenta,
pensa e atenta
nas coisas internas
que da essência sabe o valor,
sabe que faz
toda a diferença
pra quem quer ser
doutor em malandragem,
malandro de verdade
aparece muito raro,
conhece seu mister de sobra,
tem paciência
e não obra no escuro,
quer dizer,
sem consultar o faro
nem se não lhe disser
seu olhar clínico
que a manobra tem futuro,
malandro de verdade
prima pelo juízo
e sabe escolher o lado,
mas,
sabe ser cínico
quando é preciso
ficar em cima do muro
porque descer
pode ser muito arriscado,
porém,
tem postura
e jogo de cintura
pra não se queimar
no fogo do cinismo,
malandro de verdade
teoriza quando precisa,
mas,
acata a realidade
e trata
de não dar bobeira
à beira do abismo,
malandramente
andando para trás
o malandro vai em frente!

sábado, setembro 20, 2008

A velhice é uma...

Já disse alguém:
“a velhice não é mole”,
e resmungo
quando ouço,
mas,
comungo
com tal afirmação,
e nem foi bem isso
o que alguém disse
e disso eu sei bem,
e com o tal palavrão
eu também comungo,
pois é...
o glutão-mor
que tranqüilo comia
mais de um quilo
e roía até o osso,
agora,
mal come um lapo
que já não tem fome,
todavia,
engole sapo todo dia
no café, no almoço e no jantar,
e engole
sem queixa e alvoroço
que o topete foi embora
e paladar de asilo é bem pior,
mas,
uma regurgitação
pode abalar
a partilha da herança,
então,
por precaução,
a família se mete
e não deixa
que você tome
nem um gole de birita,
se você
cogita de fumar,
a prole grita
e na frente da vizinhança
a mulher lhe dá um pito,
quando você
quer bater papo,
quem é mais moço,
se não estiver
carente de tutu,
a dizer não se limita,
e quem não é
luta com um fiapo de audição
e o que é dito não escuta,
sem permissão,
tevê você não vê,
mas,
quando lhe dão,
você faz confusão
com a imagem nublada
e vê urubu
torcendo pelo Flu,
quando você teima
e tremendo passa a mão
crente
que na empregada
a mão está passando,
ela acha graça
que na miragem
a mão você passa
e se queima
que o quente
que você acha
é panela no fogão,
e a vizinha,
que pra você
é fofa e novinha,
além de balofa,
de trinta tem bem mais,
e a barriga
encafua numa cinta
pra na rua fazer bonito,
mas,
com a janela escancarada,
ela fica nua e não liga não
porque
está cansada de saber
que você se atrapalha
com a memória falha e lerda
e fica sem entender a questão,
fica sem saber
se é História ou Geografia,
pois é...
como alguém
já disse um dia,
a velhice é uma merda!

quarta-feira, setembro 10, 2008

Desabafo carioca

Sou carioca,
mas,
estou cansado
de tanto boboca
metido a malandro,
de tanto canalha
travestido de santo,
de tanta trampa e bandalha,
estou cansado
de ter que encarar
tanto meandro e atalho
pra ir de casa ao trabalho
sem cair na mão do bandido,
sem fazer escala em cova rasa,
afinal,
não sou à prova de bala,
vou pra Sampa,
pessoal,
e vou ficar numa boa
andando a pé por lá,
indo e vindo
à pampa e ao léu,
e subindo e descendo
e correndo da garoa
e caprichando no pedido:
“um chopes e dois pastel, meu!”,
e caprichando até
ficar craque no sotaque:
“um chopes e dois pastel, meu!”;
depois,
com olhos de cifrão,
vou olhar o dinheiro
que pela Paulista
transita aos molhos,
e não tenho nem idéia
do montão de grana
que pela Paulicéia tansita,
mas,
nem o tutu
vai me fazer
perder de vista
a linda paulistana
que a São João ilumina,
e meu itinerário vai ter
Seminário e Quintino Bocaiúva
que me cai como uma luva
um fino Panamá
da Ópera, da El Sombrero,
da Paulista e d’A Esquina,
e da Paissandu lá no Paissandu
e com direito
a bauru no Ponto Chic,
resumindo a ópera,
indo desse jeito,
enquanto não ficar pronto,
vou andar muito por ali,
e ainda vou ter pique
pra saborear o Bixiga
e vou sair de lá
com o rei na barriga,
quer dizer,
com la regina della cucina!,
e vou comer
sushi e sashimi na Liberdade,
e usando o hashi
que aqui nunca usei,
e vou degustar
o filet do Moraes
na Júlio Mesquita,
orgulho da cidade,
e vou cantarolando
canção do Adoniram
de quem sou fã,
e fã incondicional,
e vou fazer a digestão
cruzando a Consolação
de cima a baixo,
e vou respirar
o clima sensacional do Brás,
agora,
bicho,
quando bater
aquela saudade louca
na hora de sossegar o facho,
vou matar a saudade na Boca do Lixo!

terça-feira, setembro 09, 2008

Que decepção da rapaziada!

Que decepção da rapaziada!,
na hora da rabada
mais desejada da região,
a senhora do anfitrião
cismou de servir só agrião,
e o cara
ficara fazendo serão
a convite do patrão
que fez questão
de vir ao banquete,
mas,
havia tanta fome
e o prato especial
era tão esperado
que o apetite frustrado
redundou em vias de fato,
acabou comendo o cacete,
e o pau
só acabou no outro dia
quando o anfitrião,
que não sabia de nada
e que só come
legume da sua horta
e acha rabada indigesta,
retornou do batente,
olhou pela fresta da porta,
pigarreou e entrou sorridente,
e, como de costume,
entrou coçando a testa
que tem alergia bem localizada!

sexta-feira, setembro 05, 2008

Vai se chamar Proxeneta

Nunca levei jeito pra santo
nem sei dizer direito
como deixei o ócio
e virei mercúrio,
mas,
garanto
que só fui saber
que o negócio era espúrio
quando motivei
assomo no meu sócio
ao fazer confusão
na divisão do bolo
pra aumentar meu lucro,
e só fui saber
porque meu associado
não era chucro, beócio nem tolo
e preferiu não arranjar rolo,
saiu de fininho e jogou no veado,
e, no caminho, chamou a justa,
tentei me defender
alegando que defendia
uma profissão antiga,
a mais vetusta talvez,
e que fazia caridade
juntando rapariga e freguês,
a fome e a vontade de comer,
todavia,
pra minha surpresa,
a autoridade ficou uma fera,
deu urros, murros na mesa
e berrou: “proxeneta!”,
e pensei eu
que era nome de alguém,
mas,
ninguém respondeu,
aí,
um português abatido
me ajudou a concluir
que Proxeneta
devia ser o meu apelido,
e dancei sem saber
que não sabia os porquês!,
bem,
o apelido achei porreta,
e já convenci a Lucimar,
o guri que vem por aí
vai se chamar Proxeneta!