quinta-feira, maio 20, 2010

Velhice é subir de madrugada, e madrugada fria e nebulosa, uma trilha estreita, íngreme, escorregadia e com abismo do lado esquerdo e precipício do lado direito, e usando óculos escuros, protetores tapando os ouvidos, luvas de boxe e pés de pato, e carregando a mochila do neto, a valise da filha e o isopor com a cerveja gelada do genro, e guiado por berros e broncas da patroa!, e, a miúdo, parando pra mijar, e, na maioria das vezes, não dá para abrir a barriguilha a tempo, e a barriguilha é sempre fechada antes do tempo.

quarta-feira, março 10, 2010

Tributar é arte

Pensei que era
piada de mau gosto,
qual nada!,
de posse da lei,
fiquei perplexo
pois vi
que era bem pior,
vem aí
o imposto do sexo
e sem abatimento
pra ejaculação precoce
e masturbação
de maior e de menor,
e a cada gozo
o fogoso
vai mudar de faixa,
e nem idoso
vai ficar isento,
vai ter de pagar
ainda que prove
estar de caixa baixa,
e vai pagar
porque já fez
ou porque
sessenta e nove
fazer ainda intenta,
e, esse mês e de tacada,
vão aprovar
a taxa de boemia
e pra madrugada
contribuição de melhoria,
é...
tributar é arte,
a arte
de fazer arte
com a nossa grana,
e vão continuar
levando boa parte,
por essa razão,
meu bom garçom,
eu te rogo,
me perdoa a pressa
e corre
e outra cana
me traze logo
que estão quase
tributando nosso porre!

quarta-feira, março 03, 2010

Não mudo de mulher por nada

A patroa
não me perdoa
quando cochilo
e erro ou vacilo,
e como ecoa o seu berro!,
e dá de gastar com crediário
e de jogar
meu salário no bicho
e no lixo o meu panamá,
e faz escândalo na frente
da gente do meu trabalho,
na verdade,
mente quando me nota
de vândalo e bandalho,
mas,
meu nome bota na lama,
e no lar
chora e faz drama
e consterna a criançada
e me arrasa
a autoridade paterna,
agora,
e creia se quiser,
apesar de tudo,
de mulher
não mudo por nada
que a patroa
é uma serpente
cheia de fome
na hora de amar
e me embosca,
numa boa me pega,
me enrosca,
me abrasa
e me come,
e não sossega o facho
nem quando o macho,
quer dizer,
nem quando a casa não vem abaixo!

quarta-feira, fevereiro 24, 2010

Os treze titulares da seleção

Aí,
mano,
será que sou cartesiano?,
penso, logo existo,
ou,
talvez,
existo, logo penso?!,
pensando bem,
tanto faz como tanto fez,
afinal de contas,
não sou francês,
não sei a quantas ando
nem como anda
minha conta lá no banco,
aliás,
e sendo muito franco,
quem é você
pra me julgar?!,
um pobre mortal
que grita “heureca!”
ao se excitar
com fama e cobre,
mas,
não recita Pessoa e Bandeira
e não loa Dante, Lorca e Kant,
e chora
no final do drama,
e numa cabeceira
de uma cama de motel
se enforca
com a calcinha da boneca
que dá o fora
protegida por um véu
pra não ser reconhecida,
aí, mano,
ser ou não ser (cartesiano),
eis a minha questão!?,
então,
pra não perder a pose,
como outro torresmo
e tomo outra dose
de mel com purinha,
por fim,
no pico da emoção,
me ufano
do meu tirocínio
e dou um close nos treze titulares,
e não me goze,
meu cupincha,
são treze titulares mesmo
que seleção sem eles é besteira:
Ary,
Noel, Aldir, Lupicínio e Cartola,
Caetano, João Nogueira e Pichinguinha,
Garrincha, Chico, Vinícius, Pelé e Silas de Oliveira,
e regendo a seleção Tom Jobim,
e fico vendo as filas
na frente do Opinião
e gente paca
assistindo ao show de bola
e aplaudindo gol de placa!

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Um segundo sem você

Você é a graça da vida!,
do meu sonho, enfeite,
do meu peito,
deleite e sossego,
feito aconchego
de praça florida
em avenida
coberta de pressa,
da ferida aberta,
é compressa,
gaze e unguento,
e ponho
e a dor passa
e a brecha se fecha,
e você
me anima a alma
quando da lida
chego quase morto,
em meio
a vento e temporal,
você é porto e esteio,
e me abraça,
acalma e me dá alento,
ainda por cima,
linda e sensual,
lança no ar
o cheiro do amor
que me faz virar
criança embevecida
no conforto do quarto,
mas,
um segundo sem você
e me afundo
em desespero de aborto
sangrando a esperança do parto!

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

"Quem sai aos seus não degenera"!

Minha nora
é um azougue
e adora mordomia,
e todo dia à fava
manda o domicílio,
e meu filho junto,
e não faz açougue,
quitanda, padaria,
e não é só,
não cozinha,
não lava, não passa
e da mobília não tira o pó,
e ela apela e cala
quem a contraria
e fala no assunto,
todavia,
é nessa ocasião
que meu orgulho
revela a raça da família,
não se aporrinha
nem faz barulho,
se vira como dá
e até do bebê é a babá,
e a nora todo dia
na rua bate perna
e se extrema na gandaia,
é praia, boate, cinema,
academia de ginástica,
na condição
de atração turística,
é a bamba
que se sacode mais
no samba e no pagode,
e faz depilação artística,
alterna
plástica e lipoaspiração
e com silicone
amplia a geografia,
e se interna em spa
pra recuperar a energia,
e não atende nem telefone,
e como rende a internação!,
e no lar,
pra se exercitar,
anda nua na varanda
e não para de dizer:
“o que é bonito é pra se ver”,
mas,
meu filho é fera
e também tem seu dito:
“quem sai aos seus não degenera”!

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Você vai pro "Guinesse"!

Você reclama tanto do fado!,
mas,
enquanto
deplora a situação ruim
e alardeia estado crítico
entre prece e imprecação,
no colchão
maloca a dinheirama,
amiga,
você chora
de barriga cheia
e jamais troca o disco,
parece até dona de botequim!,
qual político em campanha
com sua manha emociona o povão,
comove credor durão,
cobrador arisco
e demove até ladrão
do intento de te assaltar,
e, não raro,
encena cena
em que padece de estresse
e consegue uma façanha,
consegue arrancar
pena e benesse
de avaro avarento!,
é...
a qualquer momento,
mulher,
você vai pro “Guinesse”!

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

É a sua estrada

Vá atrás do seu norte,
rapaz,
é a sua estrada,
e, se puder,
os pés do chão
não tire por nada,
não tire nem por mulher!,
mas,
por precaução,
moço,
reze forte
e leve no bolso
figa, breve e patuá,
de resto,
seja modesto,
preze seu semelhante,
fique distante de briga,
intriga, angu-de-caroço
e principalmente de vício,
e mais,
não é necessário
ficar indiferente ao tutu,
mas,
não se encante
a ponto de ficar tonto
ou de se tornar mercenário,
por revés ou embate
abater não se deixe
e, se cair,
mesmo sendo difícil,
se levante
e trate de ir adiante,
mas,
é importante
aprender a lição
pra seguir
vendendo seu peixe,
porém,
história não invente
que tem gente
que tem boa memória
e quem tem
nem sempre é gente boa,
e não esqueça
que pode aquecer
a cabeça do rival
tentar dar olé
ou ganhar no grito,
e nunca,
nunca cante vitória
antes do apito final,
depois,
por favor,
não pinte
com o perdedor,
ofereça a sua mão,
pois o instante seguinte
uma interrogação sempre é!

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Papel de tolo

Minha deusa
me fez
perder a medida
e no altar
fui parar feliz da vida,
e fiz papel de tolo
já na lua de mel
que a Creusa
ou me deu bolo
ou não me deu bola,
e na piscina entrou nua
e o hotel todo viu
e da sua cola
não saiu mais,
mas,
fez beicinho,
jeitinho
de menina pura,
e fez jura e culpou
o sol e o pilequinho
e implorou meu perdão,
e, quem diria,
caí no anzol e dei,
aí,
arrastei de vez a mala
e no machão
ela entrou de sola,
fez o menestrel
largar esquina e viola
pra tocar pia
e fogão na maloca,
proibiu
cueca na sala
e futebol na tevê,
proibiu
pelada dominical
e até soneca vespertina,
e em troca
nunca me deu nada
que sofria
de cefaleia caseira,
mas,
por filantropia,
vivia faceira
pra lá e pra cá
de domingo a domingo,
era feira, bingo, coquetel,
almoço, café, jantar,
lanche, brunch, chá,
pré-estreia, festival,
e a lista era um colosso,
e nunca ia a pé
que sempre tinha motorista,
aliás,
quando olhei bem o rol,
passei até
a achar natural sair de chapéu
pra não descobrir a rasa e a testa,
agora,
não me resta mais nada
que a Creusa
só me deu despesa
e com uma bela cilada
acabou de me arrasar,
me jogou
pra fora de casa
como um ciclone,
arranjou patrono
e me denunciou
por abandono do lar,
e solicitou pensão
pra ela e pro Bibi,
nosso guri e clone do Ricardão!

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Ninfomania

Se alguém
que quer o seu bem
chama a atenção dessa mulher,
ela se faz de surda
e nem sequer se abala,
ou, então,
se faz de santa, se espanta
e fala em balela e blasfêmia,
mas,
cada vez mais
se chafurda na lama
pois se deita
em qualquer cama
com uma fêmea qualquer
e não rejeita
cacho com macho,
e com dois e com três
e até com bem mais
que nunca diz não,
e não enjeita bis
aceita tara e castigo
e não bufa,
e come e não se sacia,
e o umbigo estufa
e sua fome não para,
seu nome: Ninfomania!

segunda-feira, janeiro 18, 2010

Pra você

Você se lixa
cem por cento
pro que eu digo,

e ao se lixar
você até capricha
no ar e no argumento,

fala
que já não falo
coisa com coisa
porque sou antigo,
caí da moda,
da roda
e nem percebi,

fala
que resvalo
realidade abaixo,
mergulho no irreal
e me sinto
o dono da verdade
quando me sento
em meu trono,
um trono ideal,
é claro,

aí,

segundo você,

escancaro o frenesi
e vou ao fundo do nada
à procura de não sei o quê,

e o nada vasculho
com um facho extinto
e verso minha loucura,

e torço, distorço, confundo,

aumento, invento e tergiverso,

e não me calo,

enfim,
do prólogo até o fim
vou sem escala,
sem régua, trégua ou intervalo,

e o monólogo
não tem pé nem cabeça,

talvez esteja mesmo
ficando louco
e falando a esmo,
e, apesar do rigor,
mereça o que você me fala,

mas,
não minto
quando falo
que não é pouco
o amor
que por você eu sinto,

não minto
quando falo
que amo você,
que amo você demais,

e mesmo rouco
vou continuar falando
que por você
sou capaz de tudo,

só não sou capaz de ficar mudo!

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Meu horário político

Arco com a responsabilidade,
fiz coisas do arco-da-velha,

abusei
e levei ao desespero
a coitada da Amélia,

e traí o amor
de uma mulher de verdade
com uma flor qualquer
de um canteiro da madrugada

e a flor botei fora
sem sequer perguntar sua graça,

fumei, bebi cachaça,

joguei
e ostentei quando ganhei,
e não perdoei o perdedor,

agora,
pedi pra não pagar quando perdi,

pra me exibir
e divertir os presentes,
pra discutir
até os dentes me armei

e fui cruel

e destilei meu fel
na hora da discussão,

sem dó
fiz pilhéria, piada e gozação,

fui credor inclemente
e deixei devedor na miséria,

envenenei
a mente do povão
e reduzi a pó
a reputação de gente séria,

mas,
só de gente que me fez oposição,

sou assim,
é fato,

jogo o jogo
e no fogo a mão
não boto nem por mim,

e pronto,

e sou candidato,

que venha a eleição!,

e conto com seu voto!

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Pra que serve?

Essa verve
pra que lhe serve
se você ferve à toa
e transborda o caldeirão?,

então,
no outro dia,
acorda
e vê que não está
exatamente numa boa,

perdeu o emprego
que falou na frente do patrão
o que nunca devia ter falado,

apanhou
porque foi exagerado,
elogiou demais a vizinha
e o marido vinha bem atrás,

aliás,
pela cozinha,
o zunzum chegou
ao conchego do lar
e ao ouvido da patroa
que determinou o jejum,
suspendeu o chamego
e resolveu
dar folga à rascoa,

e mais,
acorda amassado e no xilindró,
e recorda
que não só se defendeu,
foi bem além,
tirou onda, deu sermão
e desacatou o delegado!,

me responda,
pra que serve
essa sua verve
se à toa
você se empolga e ferve
e transborda o caldeirão?!

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Não dá pra comparar

Grande sacada que nada!,
criatura,
deixe de besteira
e seu peixe ruim
vá vender noutro lugar,

pra início de conversa,
grande sacada
é coisa bem diversa,
é a de cobertura
de edifício
da Delfim Moreira
decorada com requinte
e debruçada sobre o mar,

o papo é o seguinte,
meu camarada,
não dá pra comparar
cachaça com mulher,

em matéria de pinga,
a 51 é boa ideia sim,
e que ideia boa!,
e não dá
pra não apreciar,

mas,
em matéria
de graça e de ginga,
é outro o papo,
boa ideia é a de 20,
e mulher linda,
ainda sem celulite
e manequim 42,

depois,
evite sonhar se puder!