sábado, abril 29, 2006

Se puder

Depois da escolha feita,
ninguém troca de bolha,
e mais que bolha não é não,
portanto,
vê se aceita a verdade,
a realidade nua e crua,
vê se ajeita sua vida
entre a lida e o frevo,
entre o riso e o pranto,
pois é preciso,
tire uma a uma as folhas do trevo,
olhando pra Lua,
morda a rolha e faça o pedido,
depois,
faça figa e torça com força e fé
até ser ouvido,
mas,
se conforme e espere a sua vez
pois a fila é enorme
e quem reclama e estrila
perde um lugar,
quem briga perde dois,
quem blasfema
perde bem mais de três,
agora,
chama a atenção
quem ora
com a oração
que tem no peito,
mesmo que tenha jeito
de poema ou de canção,
logo,
evite blasfemar,
tente não reclamar
e faça por ficar distante
de gente que só quer confusão,
e ore, cante, recite bastante,
se precisar,
ore, cante, recite na raça,
se puder,
ore, cante, recite sem parar!

terça-feira, abril 25, 2006

É bom bem no ponto!

Não é bife,
mas,
é bom bem no ponto!,
tonto!,
sem nenhum desconto
pra não ficar no canto
bancando o xerife,
tomando conta
de quem tá pronto
pra aprontar,
e também sem acréscimo
pra não chegar
àquele péssimo ponto
em que o caminho manca
e vai aos trancos e barrancos,
tonto!,
entretanto,
só o bastante
pra dar uma gravata
no colarinho branco
e deixar o paletó sem ar,
mas não o patrão,
que não é bom
botar essa banca,
ser franco a esse ponto,
tonto o bastante
pra contar uma bravata,
autuar em flagrante
letra e melodia
e tirar de letra
a euforia da mulata,
nunca tonto
a ponto de sair do sério,
perder o critério
e cair em qualquer conto,
até no mais banal,
como o conto da vestal
recém-saída da clausura
que censura
essa vida mundanal,
e cair
sem nem sacar
a pala que lhe deu o adjunto,
o adnominal,
sem sacar que a vestal
da fala se valeu
pra chegar junto
e encobrir o ato falho,
tonto sim!,
mas não assim,
a ponto de virar paspalho
e cair num conto tão chinfrim!

sexta-feira, abril 21, 2006

Guerreiro santo, santo guerreiro

São Jorge,
guerreiro santo,
santo guerreiro,
São Jorge,
cavaleiro e lanceiro
da guarda divina,
por favor,
meu santo,
escuta meu rogo,
ensina o coração da gente
que se acovarda
frente ao bom da paixão
a lancear esse dragão interior
que nos faz
lançar o fogo
que queima o amor,
que teima
em nos fazer queimar
em lutas, disputas e guerras,
São Jorge,
guerreiro santo,
santo guerreiro,
São Jorge,
cavaleiro e lanceiro
da guarda divina,
meu santo protetor,
por favor,
ensina a essa gente aflita
como se encerra
essa sina maldita
que traz tanto pranto,
que emperra tanto a paz!

O único otário que conheço

Embora
não seja mediúnico
nem melhor do que ninguém,
evitei até hoje o pior,
não entrei pelo cano
nem enfrentei dano maior,
e só por uma razão
até agora me dei bem,
careço de malandrice!,
foi o que eu disse,
careço sim!,
e pode rir de mim
que sou otário único
e o único otário que conheço,
e, como por perto
tem esperto demais,
o certo
é tomar precaução,
pôr sempre o pé atrás,
se necessário,
pôr até os dois,
por isso,
não me arrisco
nem petisco
como você faz,
vou de feijão com arroz,
só negocio
se entendo do assunto,
mesmo assim,
pra não ficar
com cara de tacho,
acho
que quem negocia comigo
entende bem mais
e vai chegar junto,
então,
dobro a atenção,
cobro mais de mim
e consigo evitar o perigo,
e não empresto, não fio,
não avalizo, não atesto,
não aposto nem dou fiança,
não arrosto nem arrelio
nenhum adversário
quando não sei
se de fato é preciso
e nem dou volta em pato
pra não me atarantar
com a volta que dei,
e tenho um segredo
que só quem é otário tem,
nunca botei
uma aliança no dedo!

quarta-feira, abril 19, 2006

Já se foi a hora

De fazer alarde
já se foi a hora,
agora é tarde,
já se encerra o dia,
e não há mais
garantia de luz
quando ele já não arde,
que até a do círio é parca,
não é capaz
de afrontar a escureza
que açambarca
a terra inteira,
a um cômodo escuro
o entorno reduz,
a cordilheira
a obscuro contorno,
a incômodo murmúrio
a grandeza do mar,
e lírio, azaléia e antúrio
a uma idéia
tão vaga de beleza
que mais parece
vaga na lembrança,
é tarde pra fazer alarde,
a luz do dia
já não nos alcança,
e cresce,
nos traga a escuridão,
nos assombra e arrepia
qual sombra de assombração!

terça-feira, abril 18, 2006

Porta errada

Se você queria canja
ou galinha-morta,
bateu na porta errada,
companheiro,
batesse na da granja,
a porta engraçadinha
aqui ao lado,
você bateu na do viveiro
onde se cria cobra criada,
onde o mais bobo
tem peçonha
e sanha de sobra,
onde o mais enfastiado
abocanha a vergonha da netinha,
assanha
e desenfronha a vovozinha,
e na quentinha inda leva o lobo
pra matar a fome
durante a madrugada,
portanto,
rapaz,
tenha mão e tome cuidado,
ponha seu bloco na estrada
sem fazer alarde,
e ponha de uma vez...
antes que o foco
da sua atenção
se ponha a mudar de lado,
e não se ponha mais
a bater em porta errada,
pois,
se esse foco se entorta,
quando arde,
já é tarde,
Inês é morta!

quinta-feira, abril 13, 2006

Personalidade!

Não sei se ouvi dizer
que me falaram
que eu teria ouvido
o que de bandeja
me teria dado
um sujeito desconhecido
que nem suspeito quem seja;
não sei também
se pensaram que pensei
ter me dito alguém
o que algum cara
lhe teria falado
que escutara de um terceiro,
e nem sei em que lugar
teria eu escutado isso,
se no serviço, no bar ou no barbeiro,
se é que eu escutei,
o que eu duvido;
enfim,
pelo sim, pelo não,
eu juro,
não vi, não ouvi
e não sei de nada,
não sei
se havia alguma escada,
não sei
quem desceu ou subiu,
nem se alguém
subiu ou desceu,
eu juro,
não sei de nada,
estou boiando,
nem sei
de que muro
vocês estão falando!

terça-feira, abril 11, 2006

E você?!

Não é de desafio não,
não agüenta rio nem mar,
só enfrenta pequeno lago
em dia bem ameno,
é marinheiro de quinta
que nem sequer tem ar
de proeiro ou patrão,
se vangloria de ser mago,
mas não tem nem pinta,
por isso,
pago pra ver,
e se é,
é feiticeiro menor,
por ora,
engatinha em feitiço e magia,
agora,
como cachaceiro,
consegue ser pior,
perde prumo, rumo,
dá vexame e faz estrago
logo que bebe
um trago da braquinha,
fica gago quando acarinha,
tatibitate
quando recebe afago
e aflito em debate ou certame,
e o oponente
não precisa ser perito,
é suficiente um aprendiz,
o infeliz é um fracasso
na hora de mentir,
cora quando mente,
claudica ao ser verdadeiro
e sempre é o primeiro
que dá o braço a torcer,
e não diz ‘não’,
quer dizer,
diz
se ninguém puder ouvir,
enfim,
ele é assim
e a gente sabe
que assim ele é,
e você?!,
como é que você é?!

segunda-feira, abril 10, 2006

Recado

Aprendo todo dia
com sambista bamba
como um bom samba
cativa e conquista a mulata,
arrebata o pé da passista,
contagia o cavaco
e o cavaco aviva a magia,
frente a frente
com um bom samba,
eu estaco e me rendo,
até quando menor me sinto
e minto pra mim
pra não me sentir inda pior,
eu entendo
que inspiração é dom,
dom maior
e dom de poucos,
os poucos que sabem o jeito
de criar o par perfeito:
verso e melodia;
mas,
confesso,
não me rendo
quando minha rima
não prima pela beleza,
não me rendo
quando minha rima,
de tão singela e vazia,
não diz
o que eu queria dizer,
não me rendo
que não sou de me render!,
e me sinto feliz
com minha rima chinfrim,
porque tenho certeza
de que fiz o melhor que podia,
sei que dei a ela
o que de melhor havia em mim!

quinta-feira, abril 06, 2006

Carequinha

Hoje é dia de alegria no Céu,
de muita alegria!,
hoje,
Carequinha,
o Céu é o Céu
que cada criança pede,
hoje é dia
do Meio-Quilo, do Zumbi,
de mais uma vez
o Fred acertar em cheio
e fazendo aquilo
que sempre fez,
a gurizada rir
até não poder mais!,
aliás,
hoje é dia
do Chacrinha dar gargalhada,
balançar a pança
e perguntar:
hoje tem goiabada?!
tem sim senhor!,
hoje tem marmeldada?!
tem sim senhor!,
e o palhaço o que é?!,
é ladrão de mulher!,
hoje é dia de sorrir
da palhaçada do Arrelia,
do Benjamin de Oliveira,
do Piolin,
hoje é dia
de alegria e brincadeira,
e tinha esse dia
de ser assim,
tinha sim!,
tinha de nos deixar
com cara e nariz de palhaço,
nariz e cara
de quem não pára de chorar,
chorar de tanto rir,
tinha de ser dia
de nossa criança rir sozinha,
rir às bandeiras despregadas,
rir até morrer de rir
da sua derradeira palhaçada,
palhaço Carequinha!

quarta-feira, abril 05, 2006

Você ateia fogo em mim!

Melenas
com raias de ouro,
apenas
de tomara-que-caia
e saia branca de cambraia
pra que o tesouro
de todo não se revele,
sua pele,
escultura morena,
você abraseia
as areias da praia
e enleia o mar
que estanca a seus pés
até virar pura espuma,
com esse lume nas veias,
com esse perfume
que enciúma
as mais cheias marés,
com esse jogo
de sorriso sem fim
e olhos azuis,
você me seduz,
você ateia fogo em mim!

Sabe a Vilma

Sabe a Vilma,
minha senhora,
que me adora a Nara,
sabe que a Sara
não pára a câmara
nem dispensa posição
quando me filma,
sabe que a Sâmara
em tentação cai
quando me vê
e perde a noção da hora,
sabe que a Dilma
tem imensa tara
aqui pelo papai,
e com intensa
variação ambiental,
sabe que a Mara
faz questão de dizer
que me acha o tal,
sabe que a Dora
não pode se conter,
chora um chorar sem fim
só de pensar em mim
e nem oculta o pranto,
sabe que exulta a Nilma
e perde a fleuma um tanto
quando da história
sou o tema,
sabe que a Neuma
não sublima
o tesão que tem
aqui pelo gostosão,
sabe que a Glória
me dá mole
e nem faz charme,
sabe que a Carme se anima
na minha presença,
sabe que a Moema,
tomou um gole,
fica tensa,
se inflama e faz celeuma
quando apareço,
sabe que da Bia
acendo toda a chama,
e sabe que mereço
de Lia, Laís e Flora
uma baita atenção,
bem acima do normal,
mas,
nada diz,
não chia nem reclama,
agora,
minha senhora
não engole
e quebra um pau
quando a gente ensaia
de minissaia e gaita de fole,
eu e o Dorgival!

Questão de ortografia (Nem vem que não tem)

Nem vem que não tem,
meu amigo,
pode perder a esperança,
fiança não é comigo,
e sou eu
quem lhe afiança
que não é nada pessoal,
que essa garantia
posso lhe dar,
e só essa,
e olhe lá;
é tão-só
questão de ortografia
que a de fiador é dose,
sempre me arrepia,
aí,
por osmose,
também detesto aval
e não empresto
bem ou valor,
incluindo grana,
resumindo,
prefiro ganhar um inimigo
antes de afiançar
a depois levar
de um amigo uma banana!

O que é felicidade?!

Felicidade,
o que é felicidade?!,
infinita reta?!,
linha sinuada,
inexata e discreta?!,
ponto cá, ponto acolá,
e pronto?!,
será que se trata
de mansa caminhada
por estrada bendita
em planície suave e quieta,
seta em cada encruzilhada,
estrada por onde
a gente caminha
sem encontrar entrave?!,
ou será
andança atribulada
ao pé de uma serra
que cai lá do pico
sobre uma superfície
imprecisa e sem divisa
que esconde arapuca
e sinuca de bico?!,
o que é felicidade?!,
será terra?!,
ar?!, água?!, fogo?!,
será variada
e misturada mistura
de tudo que está em jogo?!,
mas,
cabe falar
que a felicidade
é incessante procura
até pra quem não sabe
que a está procurando,
é luta constante:
desmando versus austeridade,
disputa sem sossego
entre loucura e sanidade,
não dá pra negar
que ela pode ser
um querer aberto,
por todos ter apego
sem se apegar a ninguém
em particular,
ou nunca deixar de ter
o maior apego
mas só por um certo alguém,
não dá pra negar
que felicidade
ora é devaneio,
ora é realidade,
e até
realidade e devaneio
meio a meio!,
ora?!,
o que é felicidade?!,
será que é
o que estou sentindo agora?!

sábado, abril 01, 2006

Falando francamente

Minha cara
cara-metade,
falando francamente,
não precisa ficar fula
nem fingir
que ficou contente,
o fato não vai se repetir,
não vai haver reprise
ou repeteco do ato,
na verdade,
não voltei a ter
a gula de antigamente,
foi só um deslize,
como saí torto do boteco,
ao chegar ao lar
quase morto,
vacilei no comprimido,
em vez
de tomar o de marido,
meu tranqüilizante,
tomei o de amante
que é um barato mas sai caro,
e, é claro,
não dá pra ir adiante
e saciar fome de duas
sem aumento de despesa,
e tenho
cem por cento de certeza
de que você
não vai querer poupar
nas coisas suas
pra arcar
com o gasto ‘pilular’,
não há de querer
deixar de mão
dentista, massagista
e o vasto e rijo Ricardão
que tanto regozijo lhe dá,
portanto,
deixe pra lá!