quinta-feira, agosto 28, 2008

Você vem, passa e vai

Você,
ardente movimento
de morena ebulição,
faz o que não faz
avoamento de andorinha,
você,
plena de graça,
sozinha faz meu verão
quando vem,
passa
bem rente de mim
e me deixa assim,
parado e sem respirar,
e o gracejo não sai,
fica entalado no peito
que você
me deixa encabulado
e sem jeito de gracejar,
e você passa
sem me dar uma deixa...
mas,
não é queixa,
é coração lamentando...
e você vai
levando meu olhar
que não desgruda
dos seus quadris
e o desejo me inunda
e não redunda por um triz,
e não muda a visão
nem depois que você
dobra a esquina,
pois sobra
o apego da retina
que não te deixa sumir
e a imaginação
não me dá sossego,
e é tanto desassossego,
menina,
que até me espanto
porque chego
a me sentir um rapaz,
menina,
você é demais!

A falta que você me faz

É de mister,
mulher,
falar em voz alta
pra escutar toda a gente
e não ficar somente entre nós,
é de amargar
a falta que você me faz,
pra falar a verdade,
virei um poço de saudade
que transborda
quando faço
café, almoço e jantar,
que transborda inda mais
quando arrumo, lavo e passo,
e finda o dia e a faxina não finda,
me ouça,
minha pequenina mais-valia,
e sinta
minha sucinta sinceridade:
assumo,
mulher,
que não sei viver sem você;
e, pra você voltar,
vou jurar o seguinte:
no domingo,
não vou à praia
se não fizer sol
e não fico bravo,
não me queixo nem xingo,
deixo que você saia
e vá ao bingo
depois de lavar louça
e, depois do futebol,
e das vinte às vinte e vinte,
vou ser seu escravo
e não vou beber nem um pingo!

quinta-feira, agosto 21, 2008

Não faz mal a ninguém

Não sei se tem
grau ideal de loucura,
mas,
ser louco,
não muito
nem muito pouco,
não faz mal a ninguém,
aliás,
faz até muito bem,
portanto,
de postura troque agora
e sem pensar tanto
em fora ou mancada,
e a arquibancada
que se choque
se quiser se chocar,
se a centelha
começar a rarear,
troque de mulher,
mas,
não troque só
se houver necessidade,
se lhe der na telha,
troque também,
arranque a calça,
chute paletó e gravata
e pela cidade vá sarandar
de calção e sem cueca,
ou, então, vá ao bar
jogar sueca e contar bravata,
ou se estique nu
no sofá da sala de estar
e escute rock, funk, valsa,
e o dia inteiro fique por lá,
e mais uma pala,
retifique o menu,
no lugar de arroz
e feijão sem tempero,
baião-de-dois e bobó,
no do chá de carqueja,
muita cerveja e retrós,
e durma tranqüilo
após a refeição,
e não dê bola pra turma
que amola você
porque não gosta
do seu cochilo!,
é inveja!,
e a inveja é uma bosta!

quarta-feira, agosto 20, 2008

Um zero à esquerda e uma gota d'água no oceano

Rapaz,
essa menina
é da pá virada
e esquina tem demais,
e você
tem pouca estrada
e nem imagina
do que essa louca é capaz,
quando sente
que vai perder
se bater de frente,
aproveita o embalo,
dá cavalo de pau,
se ajeita e dá ré,
e vai até
você não poder mais,
se a subida vai mal,
aposta na descida
e não mingua
que tem resposta pronta
e bem na ponta da língua,
não quero
estragar seu prazer,
rapaz,
mas,
vou lhe dizer,
cuidado
com as perdas e danos
que essa garota
é de amargar
e, ao seu lado,
você é um zero à esquerda
e uma gota d’água no oceano,
e vai se encher de mágoa!

Que confusão caótica!

O pleonasmo tautológico
me permita,
gente minha,
que é lógico fruto
do meu bruto
e psicológico pasmo,
que confusão caótica!,
e começou
exatamente no momento
em que aquela diva,
viva como ela só
e mais erótica que rainha
em visita ao parlamento!,
deu espetáculo
e exibiu o que não devia
sem dó do seu consorte,
consorte!
que ironia do vernáculo!,
bem,
encurtando o relato,
quando o consorte viu,
acabou-se o que era doce
e a dança
virou briga de foice,
que o diga quem
entrou no picadeiro
e participou do prélio,
dama, cavalheiro,
velho e até criança,
e o consorte
deu chifrada, marrada,
e teve cama-de-gato,
passo de capoeira,
soco pra lá, soco pra cá,
e rasteira e pontapé,
e chave de braço e de perna,
e, o que é pior,
teve até chave
proibida pra menor,
e o local
parecia até um forno
de tanto que a baderna
ardia em torno do brigão,
todavia,
pra admiração geral
e qual apito de juiz
acaba com a partida,
no ato
acabou com a zorra
o grito forte
de uma senhora recatada
e calada até então:
“porra! que corno chato!”;
e, na hora,
o pessoal pediu bis
e, em coro,
caiu na gargalhada,
e o consorte caiu no choro!

sexta-feira, agosto 15, 2008

Até a vista!

Não sou santo, puro,
não sei bem
o abecedário
e já deixei de ser rapaz,
entretanto,
achei conveniente
e rabisquei esse bilhete
anônimo e sem data
que não misturo
alhos com bugalhos
e sei que analfabeto
não é sinônimo de otário,
mas,
fi-lo consciente
e não sou alcagüete,
portanto,
fique tranqüilo,
não deduro ninguém
nem há no bilhete
revide ou bravata,
nem baixo o sarrafo
em nenhum desafeto,
é só um desabafo
feito por um prego
que não tem direito
a enguiço comum
nem a id, ego
ou superego
falho ou omisso,
aliás,
nem sei o que é isso!,
é só o desabafo
de um sujeito
que não tem paz
nem tem sossego,
que vagueia descrente
e com a mente
cheia de grilo
que não tem cabe,
gravata nem padrinho
e não sabe do macete
pra achar o caminho
e se dependurar
num cabide de emprego,
aí,
decidi redigi-lo e me mandar,
mas,
sou pessoa da rasa
e não voa
meu tapete porcaria,
portanto,
não vou pra Ibisa,
vou pra algum canto
lá na casa do cacete
e numa maria-fumaça
sem graça
e com mais avaria
que a camisa
que agora estou vestindo,
e vou indo
que já tá na hora
e da fera já ouvi o berro,
e é primeiro de abril
e o de maio
ela não espera,
mas,
posso lhe dizer
que não vou de escoteiro
porque carrego
no meu balaio
o que ouviu meu ouvido
e que ser cumprido ninguém viu,
e também uma cabaça
que não sou de ferro
e, com a libido
fazendo a pista,
beber cachaça
o meu regalo
vem sendo
mais e mais,
e me nego
a beber pelo gargalo!
Até a vista!