terça-feira, dezembro 18, 2007

A força do sonho

Não há força
que se oponha
à força do sonho
de quem tem fé
no sonho que sonha
e não desiste do sonho
e no sonho insiste sem trégua,
e traça o sonho
sem régua e compasso,
e do tempo se deslaça
e do chão tira o pé
e pelo espaço flutua
quando sonha,
mas,
transpira
em tempo integral
pra botar o sonho na rua,
e mais ainda sonha
quando cai na real
e sonha desperto
pra não deixar
de sonhar o sonho
sequer um instante
e, esteja onde estiver,
o sonho sonha,
esteja já perto
de realizar o sonho
ou ainda bem distante,
não há força que se oponha
à força de quem sonha
certo que o importante
é continuar sonhando o sonho!,
“quem não sabe sonhar
sonha, acorda contrariado
e se amua
porque acordou do sonho,
quem sabe sonhar
sonha, acorda,
ao sonho dá corda
e vai sonhando acordado,
e transpirando
pra botar o sonho na rua!”

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Não dá não!

Sem festa
não presta a vida,
não dá pra viver
só batalhando,
disputando bola dividida
pra marcar mais um tento
e ganhar mais um vintém,
e o adversário violento
entrando de sola,
não dá pra viver
de olho no horário,
traçando pê-efe de corrida
e brigando com o molho
ao fazer a digestão,
e a ferrugem aumentando,
e, de lambujem,
na sua cola andando alguém:
chefe, patrão, patroa;
numa boa,
não dá não,
não dá pra viver desse jeito,
imerso na pressa,
nessa lufa-lufa
que da poesia é o inverso,
e só dando nó em pingo d’água
e lamentando:
carestia, corrupção, efeito estufa;
de quando em quando,
é necessário
deixar de ser otário,
esquecer choramingo e mágoa
e tomar um porre de folia e parati
porque,
mais dia, menos dia,
toda gente morre
e tudo fica ou não fica por aí?!,
mas,
que se exploda essa questão
que essa questão é pra quem fica!

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Galho de arruda

Não caia na esparrela
de pelo ouvido pegar barriga
dando trela a intriga e ruído,
se deixando levar
por atoarda e balela,
o mundo não vai acabar
em razão de um zunzunzum,
também,
de imediato,
não se descontraia
nem se distraia da guarda,
acredite
no fundo de verdade
que todo boato tem,
mudando o enfoque,
se, por um lado,
a criatividade do povão
não tem limite
e sua língua
é do tamanho de um bonde,
e de um bonde com reboque,
por outro lado,
a vontade da malta
de explorar o rebanho
não míngua,
está sempre em alta,
e a malta
pode espalhar falaço e fazer fuxico,
por conseguinte,
não se louve em rumorejo,
mexerico ou boquejo
pra não acreditar em mentira,
mas,
seja bom ouvinte
e confira tudo que ouve
se um calço não quiser levar,
se quiser evitar embaraço e percalço,
agora,
se ficar divido,
sem saber o que fazer
e precisar muito de ajuda,
faça o que eu faço,
na hora faço um trabalho
e passo a usar patuás
e, atrás do ouvido,
galho de arruda!

sexta-feira, novembro 30, 2007

Ditado infeliz

Você cai no meu caminho,
me diz esse ditado infeliz
- “filho de peixe é peixinho”-,
e não quer
que eu fique zangado
nem quer que eu me queixe?!,
ora!,
deixe de moda conosco,
e deixe agora!,
senão
vai ter noção
da minha mágoa
e do poder da minha mão,
é imensa a diferença
entre mim e meu pai,
é da água pro vinho!,
sou fosco e chinfrim
e meu pai
tinha arte, tinha viço, tinha brilho,
fazia parte da nata,
se vestia como um lorde
e era cobra no cavaquinho,
cada acorde
era obra de um virtuose
e o rastilho
que fazia a mulata explodir,
por isso,
era o bamba do morro
e o rei da roda de samba,
e você há de convir
que só tenho pose,
que de fome não morro
porque do meu pai
herdei o nome,
por conseguinte,
acate o que lhe digo,
rapaz:
pinte e borde comigo,
eu não ligo,
mas,
trate de respeitar meu pai,
trate de deixar meu pai em paz,
se não deixar,
eu brigo!

segunda-feira, novembro 26, 2007

Poema natural

Sou carioca da gema
e fã desse Rio,
pelo visto,
um poema do Cristo Redentor,
sou fã desse Rio
que brinda a gente
com o calor da rima
que toma a nossa rua,
que prima
por ser um misto
de manhã sorridente
e luar de Lua linda,
e de Norte a Sul,
sou fã desse Rio
com aroma
de mar e montanha,
desse Rio que apanha
e não se queixa,
que enfeixa sua energia
pra encarar ventania e naufrágio,
e, ágil como só ele sabe ser,
logo, logo desdá o nó,
e nunca deixa de dizer
que está tudo azul,
e cruza os dedos pra dar sorte,
sou fã desse Rio
que não se desespera,
que supera seus medos
com brio e fé variada
e se recusa a ter paúra
até mergulhado
na madrugada mais escura,
sou fã desse Rio
que está sempre disposto
a dar guarida ao forasteiro,
desse Rio
que festeja a vida
com tira-gosto e cerveja
do Anil à Ipanema,
do Leblon a Bento Ribeiro,
me ufano mil por cento
de ser carioca da gema
e fã desse poema natural
chamado Rio de Janeiro
que o ano inteiro
inspira bom astral
e vira carnaval em fevereiro!

quarta-feira, novembro 21, 2007

Vamos lá, aposentado

Não se queixe
nem fique amuado,
vamos lá,
aposentado,
finte o cuco,
não deixe que pinte e borde
como se fosse o dono da manhã,
só acorde quando o sono acabar!,
aí,
capriche no sanduíche
com um bom suco
temperado com hortelã,
se gostar de café,
tome um golinho,
a seguir,
vista calça de linho,
camisa de malha
e sandália de couro,
e não esqueça
o panamá de boa palha
pra formosear a cabeça,
e saia por aí a pé e à toa,
sem escolher logradouro,
aliás,
sua senhora vai adorar
ficar livre de você,
e vá apreciar a natureza,
a ginga e a beleza da mulher
se ainda tiver
prazer de apreciar,
o que mais você quer?!,
quando cansar,
tome uma pinga,
quando tiver fome,
é hora de voltar ao lar!

quinta-feira, novembro 08, 2007

Que meu filho não saia aos seus

Morro de medo
desse arremedo de homem,
um desses
que comem por capricho,
por comer,
esse bicho-homem me cutuca
e me obriga a querer
quando quer ter prazer,
e de dia,
e de madrugada,
e nem sequer me caricia,
e me fere e machuca,
e se satisfaz assim,
e me pretere,
não liga mais pra mim
assim que se satisfaz,
morro de pavor
desse macho de nada
que me faz de capacho
e não me poupa,
me faz levantar mais cedo
pra preparar seu café,
me faz lavar
e passar sua roupa,
me faz cuidar do almoço
e quer seu jantar pronto
e posto na mesa
quando da rua vem tonto
e com cheiro e gosto de mulher,
morro de horror
desse homem micho,
useiro e vezeiro em magoar,
desse bicho-homem
que me acua e faz ser
esse poço de tristeza,
e choro sem dizer um ai,
mas,
com os olhos vermelhos
e de joelhos,
eu imploro:
miserere,
que meu filho degenere
e não saia aos seus,
não saia a mim
nem ao seu pai,
miserere,
que meu filho degenere
e não saia aos seus,
não saia a mim
nem ao seu pai.”

quinta-feira, novembro 01, 2007

Ela tem um quê

Ela mexe,
remexe
e sabe dizer no pé,
enfim,
ela samba como quê,
bem,
até aí,
não tem nada demais,
que, por aqui,
muita mulher samba assim,
mas,
ela tem um quê que ninguém,
ninguém sabe dizer o que é,
sabe-se só
que esse quê faz o samba
ficar em ponto de bala,
embala, empolga
e faz ficar tonto do aprendiz
ao bamba mais graduado,
sabe-se só
que não há sambista
que fique parado
e calado no canto,
que não fique rouco
de tanto pedir bis,
e que o mestre-sala
dá de se exibir na pista
como um louco
e sem pausa nem folga,
e não há um,
um só
que a porta-bandeira
quase morta
não defenestre
por causa do frenesi,
sabe-se só
que dá o tantã
de mandar no batuqueiro
e que seu Cavaquinho,
sempre tão sobranceiro,
dá de gritar:
“faze de mim teu bandolim,
faze de mim teu bandolim!”,
e o samba vai assim
até que ela pressente
que vai raiar a manhã
e sai fora de mansinho,
aí,
a gente chora,
e chora em coro,
e chora um choro
que não tem mais fim!

quarta-feira, outubro 31, 2007

Não perde a pose

É o fim,
mas,
não perde a pose
quando a Dora,
assim que o fita,
se irrita e lhe dá um fora
nem quando Anita
dá com a porta
bem na sua cara,
não perde a pose
quando é apanhado
passando a mão na Sara
e um dobrado corta
pra sair da confusão,
não perde a pose
quando é flagrado
com a boca na botija
e fica sem ir e vir,
e vem sua foto
em todos os jornais,
não perde a pose
quando mija pra trás
ao quebrar um voto
ou mija fora do penico
e todo mijado
na mesma hora paga mico,
não perde a pose
quando abusa da calibrina,
se embriaga e dá vexame
nem quando dopado
joga a partida
e acusa o exame de urina
a droga proíbida,
não perde a pose
quando faz murmúrio,
em perjúrio é pego
ou vem à tona
romance espúrio
com alguma dona,
nem quando,
no mesmo lance,
aliança
e esperança da Rose
põe no prego!

segunda-feira, outubro 01, 2007

É... Perna

Num ai,
mais um vintém se vai
e vintém meu,
e eu
nem sei quem o subtrai,
apesar de ficar fulo,
engulo mais sapo,
papo furado,
babado chinfrim,
lengalengas, debates, embates,
pendengas longas demais,
mas,
no fim,
xongas,
e os songamongas
vão se dando bem,
é... Perna,
é uma terna lembrança
quando lembro teu bordão
ecoando em dezembro
pela Visconde de Abaeté
onde se fazia ceia de Natal
e com comida
a dar com um pau:
“quem tem põe,
quem não tem tira”,
e deitava e rolava o zé!,
e não havia nem avança!,
mas,
você se foi,
a vida
foi ficando mais feia
e cada malandrim que surge
vai aumentando a baderna
e abalando o refrão
que já está assim:
“quem tem não põe,
tira de quem não tem”,
portanto,
urge pedir ajuda aí no paraíso,
é preciso,
Perna,
peça que nos acuda
algum santo ou querubim!

segunda-feira, setembro 24, 2007

"Miserere"

Pra miséria tão séria,
tão miserável miserê,
só se vê uma saída,
pilhéria
e mais pilhéria,
pilhéria até fazer
o miserável explodir
e morrer de rir,
miseriae finis in morte,
morte salvatéria,
enfim,
com o fim da vida,
motivo
vai ter o presunto
pra sorrir em definitivo,
apesar de não ser
politicamente correto
falar em presunto
quando o assunto
é gente e miséria,
entretanto,
como ninguém
tem poder de veto,
vou falando
e imprecando também,
miserere mei,
miserere nobis,
os pobres,
miserere,
Agnus Dei,
e mais,
vou protestando,
em matéria de léria
e de gente que se faz
com a miséria da gente,
a gente também
não fica atrás de ninguém,
aliás,
a gente fica bem na frente!

quinta-feira, setembro 20, 2007

A janela

Nada sei dessa janela,
absolutamente nada,
nem sei se é real ou não,
nunca sei extamente
se está aberta ou fechada,
e se bem ou se mal,
nem se tudo ou nada revela,
não sei nem
se, como toda janela,
tem vidro,
aduela, adufa, tramela,
armela, batente,
nem sei se tem
cremona ou ferrolho,
na verdade,
nem sei se é tela ou foto,
contudo,
boto o olho nela
que a curiosidade
sempre disperta em mim,
é assim,
não sei nada dessa janela,
absolutamente nada,
não sei nem se é real ou não,
nunca sei extamente
se está aberta ou fechada,
e se bem ou se mal,
se tudo ou nada revela,
não sei nem
se, como toda janela,
tem vidro,
aduela, adufa, tramela,
armela, batente,
nem sei se tem
cremona ou ferrolho,
não sei nem se tem cor,
e se tem,
não sei se é branca, amarela
ou se tem
outra cor qualquer,
francamente,
não sei quando é franca,
quando banca a sincera,
mas mente e faz trapaça,
nem quando não é mais
do que mera devassa,
aliás,
não sei nada dessa janela,
não sei nem
se é uma vera janela
ou se de uma quimera não passa!

quinta-feira, setembro 13, 2007

Vamos lá, porra!

Vamos lá, porra!,
vamos deixar de ser otários
e marginalizar de vez
esses vagabundos
que mundos e fundos
surrupiam dos erários!,
vamos lá, porra!,
vamos deixar de ser trouxas
e cobrar explicações
de administrações frouxas
que não evitam a ladroagem
e incitam com a frouxura
a caradura da cachorrada,
vamos lá, porra!,
vamos deixar de ser
manada de cordeiros,
ordeiros carneirinhos
que percorrem os caminhos
que quer a bandidagem
que percorra a carneirada,
vamos lá, porra!,
vamos ter gana,
astúcia, coragem,
vamos marginalizar de vez
essa súcia
que faz uma zorra danada
com nosso dinheiro!,
vamos lá, porra!,
a hora é agora,
chega de bater na trave,
vamos dar o nosso jeitinho,
o jeitinho brasileiro,
e vamos de vez
botar em cana essa cambada,
e jogar fora a chave do xadrez!

quarta-feira, setembro 12, 2007

Liberdade

Não é mote ou refrão
pra ser cantado
ao pé do ouvido,
tem que ser grito
gritado com fé,
gritado sem temor
em louvor à liberdade,
e um grito bem louco
pra ser ouvido
até por ouvido mouco:
“não ao chicote e ao grilhão!,
que a liberdade vença,
e vença aqui e agora,
e que a liberdade
a toda a gente
pertença por igual!”,
liberdade
quer chova, quer faça sol,
seja qual for a crença,
seja qual for a opinião,
liberdade
pra que libertamente
toda a gente
se mova e comova,
e de cor, raça e pendor
se promova independentemente,
“que a liberdade vença
o chicote e o grilhão,
vença aqui e agora,
e que liberdade
a toda a gente
pertença por igual!”

sábado, setembro 08, 2007

Vou pra esbórnia!

Faça drama,
mulher,
faça sim,
faça o que quiser,
entretanto,
se houver pranto,
vá chorar na cama
que a cama é lugar quente,
e lhe adianto
que não vai adiantar,
pra mim,
vai ser indiferente,
vou botar loção e panamá
e vou pra esbórnia!,
pra esbórnia!,
mulher!,
e vou esborniar
até mais não poder!,
vou beber e vou comer
sem querer saber da digestão,
assim que a canção pintar,
vou pegar uma sirigaita
e nós dois
vamos tomar conta do salão,
quando a sirigaita
estiver tonta e quase louca,
com a boca em seu ouvido,
vou fazer a sugestão,
e duvido que a pequena
se atreva a dizer não,
depois,
aquele touro
repleto de libido
vai entrar na arena
e o couro vai comer!
e a pequena
vai tremer na base
e me aplaudir de pé,
e nem vai precisar
pedir bis
que vou bisar direto,
e vou acordar
feliz com meu sonho,
e vou comer no café
aquele sonho
que pra você eu fiz!

terça-feira, setembro 04, 2007

Berra, cabrito, berra!

Berra,
cabrito,
berra a rodo
teu bendito berro,
berra um berro bom
e bem berrado
que é engodo
pra te enganar
o dito popular,
cabrito que não berra
é burro
e burro é bom
só pra quem
dele não tem dó
e nele está montado,
vamos lá,
cabrito,
guerra é guerra,
dá teu berro na marra,
tu não és de ferro
e não tens que suportar
tanta farra com teu couro,
vamos lá,
cabrito,
amarra o bode e berra,
teu tesouro é teu berro
e pode ser de ouro,
berra,
cabrito,
berra!,
e berra agora,
senão,
tua hora vai embora
e teu berro vai ser vão!

segunda-feira, agosto 20, 2007

Por falar em puxar a brasa para a minha sardinha

Se há ensejo,
para a minha sardinha
puxo a brasa
de quando em quando,
quem não puxa?!,
e não vejo nada demais
nessa puxadinha!,
mas,
puxo sem esquecer
que não é só minha a brasa,
sem esquecer
que minha sardinha
não está sozinha nesse mar,
e nem fale pra mim
que dá no mesmo
que no mesmo não dá não,
quando se puxa assim,
o puxar é diferente
e a puxada
é muito bem cuidada,
que a gente
não puxa a esmo,
que agente
puxa sem exagerar,
e até a puxadinha pára
quando a gente sente
que tem
uma sardinha de nada
quando comparada
com a sardinha de outro cara.

terça-feira, agosto 14, 2007

Ela é aquela

Quando
se vê atraída por alguém,
ela pira e vai à vida
sem cautela nem medo,
e nem tira
a aliança do dedo,
e não se cansa
nem se aquieta
enquanto
sua meta não alcança,
ela é aquela
que não respeita limite
e que convite não enfeita,
é direta,
e não aceita um não,
depois que laça,
abraça, beija,
deseja e se entrega,
e bisa a peleja,
pois,
pra ela,
não tem baliza a refrega,
e ela não nega
que não se tolhe,
que não escolhe
hora e lugar
pra ter e dar prazer,
sei bem como ela é
e até brigo comigo,
juro
e rejuro pra mim
a todo instante
que vou embora
assim que puder,
assim
que puder viver
distante dessa mulher!

segunda-feira, julho 23, 2007

A loucura dessa louca pega

Um parafuso a menos,
pelo menos um,
tem essa louca,
quando a gente
vem de samba,
ela descamba
e abusa do bolero,
mantém
lero-lero confuso
frente ao espelho,
sai sem pintura
e lambuza a boca
com batom vermelho
quando vai dormir,
se há razão pra rir,
ela chora,
e vice-versa,
se é hora de prosa,
ela versa
sem métrica nem rima,
e, ainda por cima,
sua falação é tétrica,
um nó só!,
por fim,
vê a coisa cor-de-rosa
quando a coisa tá preta
e a louca fica elétrica,
vá por mim,
não se meta
com essa criatura
que a loucura dela pega,
e como pega!

quinta-feira, julho 05, 2007

Amor é mentira

Por favor,
amor,
minta,
minta descaradamente,
represente sem pudor,
amor é mentira,
mas,
a gente jura que não mente
e não é mentira essa jura,
por favor,
amor,
minta de manhã,
minta de tarde
e, de noite,
no afã de amar,
mais se afoite a mentir,
minta que arde,
que fica louca
de tanto sentir prazer,
e minta com o olhar,
com a boca,
com todo o seu ser,
e minta o riso,
e minta o pranto,
minta o quanto for preciso,
por favor,
não fira o amor,
amor é mentira!

segunda-feira, julho 02, 2007

Por aqui

Não é segredo pra ninguém
que enredo,
que segredo o que não sei
se sei bem
e até o que nem sei
se algum vintém
puder render pra mim!,
e daí
se por aqui
tanta gente faz assim
e ninguém tem medo
de ir em cana?!,
sei que por aqui
muita gente engana,
mente e ludibria,
muita gente angaria a muque
a simpatia do banana
e a do crente
com truque e alquimia!,
sei que por aqui
muita gente desafia
lei, costume, credo e moral!,
quem a honestidade
comemora por aqui
quando dá a virada,
chega ao cume da escalada
e passa a ser o tal?,
quem por aqui chora
de saudade da retidão
quando chega sua hora
de meter a mão na nossa grana?,
quem?!

sábado, junho 02, 2007

Que samba é esse?!

Que samba é esse
que barbariza
a “última flor do Lácio”,
tem pavor do Estácio
e verdadeira ojeriza
a Madureira?!,
não se zangue
com meu reclamo,
mas,
vê-se
que você não é do ramo,
que você
não tem samba no sangue,
você precisa saber
que não é o sujeito
que faz opção pelo samba,
é o inverso,
é o samba
que faz opção pelo sujeito,
e faz de um jeito especial,
via cordão umbilical,
e por toda a vida
lhe cadencia a batida do peito,
por essa razão,
samba é mais que canção,
samba é coração
em verso e melodia!

quinta-feira, maio 17, 2007

Pinga!, pinguço, pinga!

Pinga!, pinguço, pinga!,
siga o impulso...
embora você diga
que tá tudo bem,
que tem tudo na mão,
a pinga se vinga
e não demora não,
aí,
você ginga
e vai indo pra frente
à base de soluço
e faz o percurso
seguindo a serpente,
aqui e ali,
ensaia um discurso,
mas,
à míngua do que falar,
respinga,
arrota uma quase-frase
e a quase-frase repete
e quase
desconjunta o maxilar,
e toma vaia,
e um beiço
o outro beiço besunta,
e se intromete
a língua graúda
e ajuda a besuntar,
e você xinga e pragueja,
e a nega fica louca
quando você chega
cheirando
a rama e cerveja,
e choraminga
promessa oca,
e soluça,
e praticamente
a fuça ingressa
no prato de sopa,
e desmaia na cama
sem tirar
sapato nem roupa
e dá de roncar
e de babar na fronha,
no dia seguinte,
dá uma de pedinte
e pede perdão,
mas,
não toma vergonha,
pega e toma um quente
e alega
que a mão é muito exigente!

terça-feira, maio 08, 2007

Matemática...

Quando alguém
fala bem da matemática,
por razão prática,
fico na minha,
aliás,
fico com o pé atrás,
e me explico
com a fração um quarto,
um quarto de palácio
é somente um quarto,
um quarto de barracão
é muito mais
pois quarto, sala, banheiro, cozinha,
solário e despensa
que dispensa comentário,
em um quarto de palácio,
ou dorme o casal
ou o solteiro
ou a solteira sozinha,
em um quarto de barraco,
há escala pra dormir
até em beira de esteira
que é normal
sair gente pelo ladrão,
gente que vai parar
no barraco da vizinha,
não cabe fogão
a um quarto de palácio,
mas cabe
a um de barracão,
apesar
de ter pouco bico
frente ao montão de bocas
loucas pra fazer
um tico de refeição,
e cabe o botijão de gás
que de tão vazio
enche o saco
e dá frio no estômago,
e esse é o âmago da questão,
mas,
na prática,
a conclusão é canja:
saco vazio não fica em pé
e quem não manja
não tem fé
na aplicação da matemática!

sexta-feira, abril 27, 2007

Sem tir-te nem guar-te

Ela veio
sem tir-te nem guar-te
e não sei nem de que parte,
se daqui,
Apuí, Rodeio, Ubatã,
ou de lá,
Amã ou Calcutá,
não sei
se foi serva de rei
ou Minerva de xamã,
sei que vi sua arte
e me apaixonei
assim que seus olhos
olharam pra mim,
assim que meus olhos
olharam nos dela,
e a cortejei,
e me exibi no samba,
e mostrei que n’angola
da favela era o bamba,
e lhe ofereci o que tinha,
a vida e o coração,
e pedi sua mão,
e com a dela na minha
na frente da nossa escola
bem no meio da Avenida,
a gente embala a multidão
com exibição de primeira,
eu, mestre-sala,
ela, porta-bandeira!

segunda-feira, abril 23, 2007

O forte cheiro da merda

Sei que já não sou moço,
meu amigo,
pra ser mais exato,
perdi o embalo
e me tornei antigo,
é isso aí...
o tato foi me ralando
e ficando ralo,
e já estava grosso
quando dei por mim,
a visão
de abalo em abalo
foi ficando chinfrim
e me deixando na mão,
agora,
pra não ficar de fora,
chego tão perto
que quase beijo o fato,
mas,
não vejo certo nem assim,
como já não ouço bem
nem quando berro,
me calo
e da audição já nem falo,
na hora da refeição,
arfo e como
via mastigação postiça
e tomo ferro
que até iguaria
tem gosto de carniça,
e fui bom garfo um dia,
quem diria!...
a cuca está cheia de hiato
e também meia lerda,
de sorte que o intelecto
virou arapuca,
isto posto,
encerro com o olfato
e a custo um cheiro detecto,
e justo
o forte cheiro da merda!

segunda-feira, abril 16, 2007

De barriga cheia

Quem nasce
em berço de ouro,
quando se queixa,
se queixa de barriga cheia
que não tem
que pedir arrego
e estender a mão
pra se vestir, comer
e conseguir emprego,
nem tem
que fazer crediário
pra existir à prestação,
mas,
quem nasce
em berço comunitário,
meu irmão,
com um montão
de outros pequenos,
se fadiga feito mouro
já no berçário
e está sujeito
a deixar o couro por lá
que é muito feia
a briga pelo peito,
depois,
sem numerário
pra dar lance
e arrematar algum bem
que o dia-a-dia
é um leilão,
tem bem menos
de um terço da chance
que o outro tem
e, via de regra,
não se integra ao páreo
e acaba fazendo feio,
pois,
sem esteio e alavanca,
não arranca,
se arranca,
manca pouco adiante
e estanca e finda
do meio inda distante,
se arranca e não manca
e não estanca
e não se manca
e banca o louco
e arranca o alheio,
quando não cai,
vai pra tranca
ao fim do flagrante,
contudo,
quando não dá tudo
tão errado assim,
em geral,
se arrebenta no trabalho
até se aposentar
e se aposenta no final,
e cheio de avaria,
e com aposentadoria chinfrim,
e nem estrila o coitado,
e vai quebrando um galho
até se quebrar
numa fila de hospital
de mal não diagnosticado!,
mas,
por fim,
tem casa
e casa nova,
a cova rasa!

terça-feira, abril 10, 2007

Domingo de sol

Alguém vaiava, alguém aplaudia,
e o da gandaia fez o mesmo,
aplaudiu a esmo e vaiou à toa,
e foi à praia como faz todo dia,
e, aos domingos,
ainda faz galhofa
com a gente da farofa,
o da miopia crente que via
não viu
que carecia de lente boa
e misturou alhos com bugalhos
ao botar nos is os pingos,
e aplaudiu e vaiou
quem vaiava e quem aplaudia,
o da utopia se julga o tal
e já não é tão novo,
tão moço assim
pra acreditar em ilusão,
o que me faz ficar
com a pulga atrás da orelha,
e ele não vaiou nem aplaudiu,
deu em sua telha fazer passeata
pra mostrar ao pessoal
a visão mais sensata
do xis da questão,
e o grosso do povo,
que navega
nos escombros e assombros
de um dia-a-dia chinfrim
e nos ombros tudo carrega,
engoliu sapo de montão
e pediu bis,
mas,
lá na cobertura de luxo,
brindou o bruxo
com seu sócio esperto
a ventura da negociata,
já está no papo
o negócio pra dar caminho
a garoto da periferia
via promoção de regata
de barquinho de papel
em esgoto a céu aberto,
ô!... garção,
por favor,
outra cana
que não tenho grana
pra tratar a depressão
com nenhuma outra terapia!

quinta-feira, abril 05, 2007

Choveu chuva

Choveu chuva
de molhar pra valer,
chuva de pingo grosso
qual caroço de abacate,
pingo que bate, arde
e faz ferida,
foi chuva
de fazer transbordar
poço seco e fundo,
um colosso de chuva
de deixar o mundo
num beco sem saída,
chuva
que fez ficar a quinta
com toda a pinta de domingo
e bem depois da seis da tarde,
chuva que fez entrar
pela clarabóia escuridão,
e foi cheia
de fazer baleia
sentir falta de bóia,
de levar à paranóia tubarão,
e foi trovão
que fez o chão balançar,
e teve gente tendo treco,
gente no boteco
se afogando em pinga
pra ficar alta
e na enchente
não se afogar,
teve gente à beça
que fez promessa,
mandinga e oração,
e a chuva
não parava não,
parecia que nunca mais
ia amanhecer outra manhã,
mas,
pedi à minha mãe Iansã
e a chuva
virou chuvinha,
uma chuvinha de verão!

sexta-feira, março 30, 2007

O que foi que eu fiz?!

O que foi que eu fiz?!,
quando mandaram,
assisti calado
ou entusiasmado pedi bis;
como prometi,
garanti que era feliz
quando me perguntaram,
e sorri,
e saiu a foto,
e quem assim me viu
sorriu de mim;
também cumpri
outro voto que fiz,
nunca torci
nem meti o nariz
no que não devia,
e, credo-em-cruz!,
tudo escurecia
e me enchia de dó,
mas,
fingi que só havia sol
porque sol é luz,
e repeti
pra quem quis ouvir;
fui resignado aprendiz,
não me ensinaram nada
e nada aprendi
que não chegou
a minha vez,
e não reclamei
nem fiz alarde;
acordei cedo,
dormi tarde,
trabalhei
como um louco
e ganhei pouco,
e ainda fiz afago
em que me fez
de gato e sapato;
pedi perdão
sem ser culpado
e resignado ouvi o não,
e sempre disse sim;
mesmo assim,
pra mim
o dedo aponta
e a conta
sou eu que pago,
e com juro e correção,
e juro que não sei
o que fiz de errado,
não sei e ninguém me diz!

A hora é agora

Sugiro que vá e já,
a hora é agora,
trate de largar a albarda,
meta no vento a espora,
arranje e esbanje talento
na caça da caça
que força não abate
nem tiro de espingarda,
sugiro que vá!,
tá na hora,
deixe que a reta
se torça e empene,
deixe que a seta
na direção dê um giro,
deixe
que a paixão engrene,
sinta sua febre
e minta que é perene,
vamos lá, rapaz,
não espere mais
que não vai
haver mais aviso,
quebre o que for preciso,
o que for preciso quebrar,
mas,
celebre a vida como der,
como puder celebrar!,
tá esperando o quê?,
será
que você prefere esperar
que a vida
se desespere com você?

quarta-feira, março 28, 2007

Sou melhor do que você

Você me chama
de pinguço e bebum,
acha graça do meu soluço,
diz que não como,
que faço jejum
pra ter mais espaço
pra encher de cachaça
e que se vai
mais um neurônio
de um irrisório
patrimônio mental
a cada trago que tomo,
e ainda me chama
de bolha honorário,
otário, simplório,
tudo bem,
siga assim,
“falando mal,
mas falando de mim”,
não devo nada a ninguém,
pago o que devo
com meu salário burlesco
que finda
ainda bem fresco,
e pode fazer devassa
na minha vida,
puxar folha corrida,
pedi certidão em cartório,
e abro mão do sigilo
fiscal, postal, bancário,
abro até do sigilio conjugal,
pois,
se tiver queixa a mulher,
é queixa normal de casório
depois de muitas bodas
e de muito amor e suor,
e posso dizer
de cabeça erguida
que sou melhor,
bem melhor do que você,
porque tomo todas,
mas,
não tomo do pobre
cobre e comida!

segunda-feira, março 26, 2007

Se já vale sair de lona e pedir tudo na porrinha

Não me iludo,
minha gente,
se já vale sair de lona
e pedir tudo na porrinha,
virou zona,
aí,
vale mijar na esquina
a qualquer hora,
até na do rush,
e na frente
de moça ou menina,
e que caia na poça
debaixo de vaia
quem não sair fora,
vale dançar no pagode
blush a blush,
bigode a bigode,
vale ficar nua
em qualquer lugar
fazendo pose pro close,
vale usar e abusar
do pó e do fumo,
e o consumo
não tem mais nicho,
é na praia, é na rua,
e o cara usa e abusa
só pra ficar de bode
ou pra virar bicho,
perder o rumo
e dar um giro
afanando e dando tiro,
e vale até
capar meu salário
alegando que é
em meu benefício,
e alegando mais,
que só um otário
não é capaz de ver
que é grande paca
o sacríficio do Erário
no exercício desse ofício,
que só um otário
não é capaz de ver
como é difícil
ter faca e queijo na mão,
ora,
meu irmão,
eu vejo!,
agora,
se você não vê,
acaba de saber a razão!

quarta-feira, março 21, 2007

É uma joça cabeça fraca

A quem possa interessar,
é uma joça cabeça fraca,
o infeliz
dá murro em ponta de faca
e ainda dá urro pra espalhar,
o cara
é cornudo de carteirinha,
contudo,
o sabido não repara
e diz
que a vizinha
é quem apronta,
ela é que corneia o marido,
e ainda sacaneia o cara,
seu miúdo,
além de cabeçudo
de marca maior,
é um orelhudo de dar dó,
está com mais de doze
e não sabe fazer conta,
mas,
ele não vê
e ainda faz pose
pra tachar de burro
algum coleguinha do guri,
a filha é mocinha
e já vai por aí
na trilha da patroa
e com fama
de ser boa de cama,
entretanto,
como um bom pai,
sobe o tom
e vai ao pranto
quando fala da santinha,
por mais que o chefe
atarefe o babaca,
ele não saca,
e, todo dia,
tiram o cara do páreo
antes da largada
e ele não pia,
dão-lhe esporro
no lugar do socorro
que deviam lhe prestar
e ele se cala,
leva bala e porrada
e nem se assoma,
e o diploma de otário
emoldura e pendura
bem na sala de jantar!

sábado, março 17, 2007

Não discuto futebol

Não dá pra ter otimismo
quando até o futebol
virou roda de fogo,
ficou rota a paixão
e levou a emoção
gota após gota,
e o fanatismo
embotou a razão
e tomou conta do jogo,
virou moda palavrão
dito por senhora,
garota e rapaz
em conflito e quebra-pau,
e, de quebra,
virou moda muito mais,
é crime agora
levar o pendão do time
e pode ser morto o sujeito,
e nego é morto
a torto e a direito,
e não adianta
pedir arrego nem perdão;
no correr da partida,
tem pai
que fica pê da vida
porque o tento não sai
e no rebento planta a mão,
e planta na mulher
se não estiver de plantão
com a cerveja bem gelada;
a situação é tal
que há religioso,
não sei de que fé
nem de que igreja,
famoso pelo hábito
de sair na porrada
com a torcida do rival,
e sai com hábito e tudo,
por isso,
pessoal,
ao estádio já não vou,
escuto pelo rádio,
e com o rádio baixinho
pro vizinho não ficar puto,
no gol,
fico mudo,
e não discuto futebol!

sexta-feira, março 16, 2007

Boto a mão no fogo

Pode dizer,
meu amigo,
que sou demagogo,
bronco e cabeçudo,
pode dizer
que eu não ligo,
e ainda digo pra você
e pra quem mais
quiser me ouvir,
por essa mulher,
boto a mão no fogo,
aliás,
cabeça, tronco, membro,
e boto tudo
sem ela pedir,
eu a conheço bem,
me lembro dela
inda no começo
e já linda e travessa,
e daí?!,
se travesso sou também!,
por ela,
boto tudo em jogo,
vou de mão,
cabeça, tronco e membro,
e preste atenção,
companheiro,
nada de Bombeiro
que quero arder a rodo,
quero arder todo nesse fogo!

Briga, arenga e pendenga dão prejuízo

Pra que tanto choque,
tanta contenda,
pra que tanta injúria,
tanta bala no estoque?,
hein?, pra quê?
Vá por mim,
não se enfureça assim,
não se renda
a essa fúria feroz
que não soma,
que de nós
toma a cabeça
e nos faz perder a paz,
não esqueça
que é mais sensato
medir bem a fala,
fazer da fala uma arte,
e ouvir
é ainda bem mais barato,
pra ser mais preciso,
minha amiga,
meu amigo,
briga, arenga e pendenga
dão prejuízo
até pra quem ganha
que ganha um inimigo!

sábado, março 10, 2007

Que casal curioso!

Que casal curioso!,
ela é a tal,
ágil e fogosa,
e ele é dengoso,
ela tem jeito de espinho
e ele é frágil feito rosa,
ela toma pinga e cerveja
até ficar em coma
e ele saboreia
um bom vinho,
e de uma taça não passa,
ela é decidida,
esbraveja, sacaneia, xinga,
e ele
é da prosa comedida
e só fala baixinho,
ela faz ginástica,
é fanática por futebol
e joga pelada debaixo do sol,
e ele
tem a cútis bem tratada,
e já fez até uma plástica,
ela usa blusão, butes, tênis,
e ele usa sandália
e sobre a malha um camisão,
ela se espalha e faz zorra,
bota até o pé na mesa,
e ainda por cima arrota
e tem o cacoete
de coçar a genitália,
e ele prima
pela discrição e pela fineza,
ela só tem o primário,
mas é pícara pra chuchu,
ele tem mais estudo,
contudo,
o coitadinho é bem tontinho,
ela diz porra, cacete,
e ele,
pênis e meleca
e pênis apenas
quando é necessário,
ela bebe café
em caneca de metal,
e ele,
em xícara chinesa,
e é ela que paga a despesa,
e, veja você,
é dela a cueca
e dele, a calcinha,
ela é Dorival
e ele,
Dorinha,
é forçoso dizer
que é um curioso casal!