terça-feira, dezembro 29, 2009

Há muita gente assim

Não sou tão tonto
a ponto de falar
que só há gente
que não dá ponto sem nó,

mas,
vá por mim,
há muita gente assim,

um não se satisfaz com milhão,
outro se sente radiante com vinte,

com vinte reais!,

um é culto, elegante
e a parada
trata com requinte
e bom vocabulário,
o outro
é primário, inculto
e estoura por nada
e trata a barganha
com ameaça e palavrão,

e não é só,

um é de caviar,
camarão
e taça de champanha,
o outro
é de cachaça,
loura gelada e mocotó,

um não apanha
porque tem
secretário pra apanhar,
o outro,
como não tem,
de apanhar não se acanha,

pois é...
tem gente sofisticada
que ao negociar doura a pílula
e tem gente
que nunca ouviu falar
dessa tal de pílula dourada,

mas,
pensando bem,
toda essa gente é igual,
fala o mesmo idioma
e o vil metal
de alguém sempre toma!

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Sou capaz de quase tudo

De tudo sou capaz,

aliás,
de quase tudo,

com o direito na mão,
sou um camicase
e luto feito um leão,

sedento,
com ele disputo
gole a gole a água do rio,

com fome,
não há urso
que o salmão me tome,

quando me dá na veneta,
enfrento o desafio
e discurso pelo planeta,

e critico meio mundo,

e critico feio o terceiro
o segundo e até o primeiro escalão,

pois é,
qualquer peleja eu encaro,
já remei até
com colher de sopa
e espantei
baleia e tubarão
com pontapé na popa
e os meus salvei da cheia,

ou seja,
sou capaz de tudo,

aliás,
sou capaz de quase tudo
que mulher feia
e cerveja quente
não encaro
nem pela minha gente!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Carioca cem por cento

Sou carioca,
carioca cem por cento,

moreno,

franzino desde menino

mas,
desde pequeno dou banda
e dou banda até em pé-de-vento,

pra mim,
qualquer hora é hora
e não tem tempo ruim,

bem,
não é bem assim
porque me arrepio
e choro até
só de pensar
nas cheias do Rio
que são cheias demais,
mas,
eu sou freguês
que moro num barranco
e uma vez
levei um tranco
e escapei por um fio
e boiando num sofá,

dá pra acreditar?!,

quando chego
ao conchego do lar
mamado e tonto,
sou obrigado
pelo meu pessoal
a cruzar o corredor,
e um polonês original,

quem diria...
corredor importado
em moradia de pronto!,

por outro lado,
ando pensando
naquele gato
estimado até no soçaite,
aquele gato que não mia,
Light,
e até que não é muito caro,

porém,
pensando bem,
socialite é socialite
e cana não é coisa pra bacana,

no verão,
escancaro a geladeira
que vira ar-condicionado
porque
não tem nada pra gelar
e a galera
se aglomera na cozinha,

paletó
só o de madeira
e uma vez só,
e assim mesmo
porque o morro
faz uma vaquinha,

nosso cachorro,
o Torresmo,
uma hora,
é vigia
e fica de olho
do lado de fora,

outra hora,
quente,
é a alegria da gente
do lado de dentro,

e vai sem molho,
sem sal e sem coentro,

mas,
não peço arrego
e vou cobrando a falta,
a falta de emprego,
e mal
não chuto não,
chuto direito e no canto,
no entanto,
não entro
de jeito nenhum
que atrás de um
vem mais de um milhão,

de quando em quando,
ponho a mesa na rua
que o sonho
da minha Teresa
é jantar fora,
e de Lua
o prato fica repleto,

agora,
a gurizada
vive numa boa
que tem o privilégio
de estudar no exterior,
o colégio não tem teto,

também não tem aula
que nunca tem professor,

e a gurizada fica por aí à toa
que comunidade não é zoo,
portanto,
não tem jaula,

e ociosidade é nitroglicerina,

e há tanto chamarisco
que a gurizada
corre o risco de alçar voo,

mas,
o domingo brilha
e eu me vingo,
entro de porre
na piscina da família,
a caixa-d’água de cem litros
com água de chuva
que em nós
como uma luva não se encaixa,

e presto atenção
especialmente no ladrão
que detesto baixa
e a gente não tem boia,

e a boia vem após,
a bem dizer,
outra etapa do regime
e desse regime
a gente não escapa,
e regime assim é de doer,

por fim,
lá pelas cinco,
zinco pegando fogo
e torrando meu miolo,

no bolo tiro o nove
e a bola rola,

e transpiro
mais e mais
que está em jogo
o futuro do meu time,

descer ou não descer,
eis a questão!,

e torço,
torço duro,
aliás,
sou dureza por inteiro,

mas,
meu time
não sai do chove-não-molha,

o nove
afunda na banheira
e o bandeira não dá mole,
na defesa,
o zagueiro não se move
e o goleiro engole um frango,

e meu time se ferra,

e alguém berra:
“olha a segunda divisão aí, gente!”,

que essa gozação
é frequente por aqui,

e já não me zango
que uma vez
me zanguei demais
e parei
na mão do samango
e acabei no xadrez
e lá fiquei
bem mais de um mês!

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Eu sou do "Risque" na vitrola

Se manque,
guria,
e não seja prosa
que eu sou da poesia!,

e não banque a gostosa
pra cima de mim
porque você
não tem manequim,

você é da manhã
com suco
de lima com maçã,
na academia sua todo dia
e não sai por nada da dieta,

eu sou fã
de rua, madrugada,
boemia e botequim,

sou maluco por birita
bife, batata frita
e feijoada completa,

você é do salto alto,
eu sou da alpargata,

você é
do boné de grife,
eu sou do panamá,

e não dá
pra não dar bola
a esse toque final,

você é do rock
no "digital video disk",
eu sou do "Risque" na vitrola!

quinta-feira, novembro 26, 2009

Não vou cobrar direitos autorais

Se não tiver importância,
mas,
importância real,
e no meu rol não estão
ouro, desaforo e xingação,
nem sequer amante da mulher!,
faço que não é comigo
e adiante sigo em paz,
e tem mais,
não peço satisfação
e o passo apresso
pra ganhar distância,
e não fico na bronca
que ao aparelho digestivo
bronca não faz nenhum bem,
mas,
não é conselho não,
meu rapaz,
que sou vivo o bastante
pra não dar conselho a ninguém,
pra todos os efeitos,
é uma explicação
de quem já andou bem mais,
porém,
se gostar,
use e abuse,
direitos autorais
garanto que não vou cobrar!

segunda-feira, novembro 23, 2009

Ida e volta

É a ida de casa pra lida,

é a lida de sol a sol,

é a volta da lida pra casa,

e marmita
e manchete de jornal,

a saída é a birita
que tudo,
tudo é reprise!,

a alta da comida,

o material que falta
no colégio e no hospital,

e uma vaga é um privilégio!,

o trem é uma praga,

o das cinco passa às sete,

e vem cheio,

e a gente entra na raça,

e brinco
no meio da massa
pra evitar uma crise,

mas,
o patrão tem
e grita
com quem se atrasa,

a gente não
e não chama atenção,

bem perto,
o asfalto se inflama,

é mais um assalto
e ninguém,
ninguém vai
atrás do pivete
que se faz de esperto
e anda calmamente
porque já tem fama
e já manda no bando
e na mão tem uma nove
e nem nove ele tem...

começou cedo no vício,
partiu pro ofício
e indício foi deixando,

mas,
ninguém viu!...

eu também não vi,
tive medo de ver
e de conhecer o guri,

hoje chove ou não chove?,

e o meu time?,
outra vez vai ser vice
e aquele outro time
de novo vai ser campeão?,
e mais uma vez o povo
vai me chamar de freguês?,

faço que não dou bola,

mas,
essa gozação me deprime,

e minha escola?,

será que dessa vez
vai chegar em primeiro?,

se não chegar,
por favor,
não me usem
pra explicar o fracasso,
não acusem de velhice
meu passo e meu pandeiro,

como é íngreme!,
como é íngreme essa ladeira!,

besteira!,
Zé,
não desanime!,
mais de um doutor já disse
que nosso motor é de primeira!

quarta-feira, novembro 18, 2009

Não é queixa não

Não é queixa não,
gente,
é constatação,
o tempo tá tão quente
que o pessoal do deixa-disso,
o do tempo
da bandeira branca
pra rasteira e bofetão,
simplesmente se fundiu,
ou será...
bem,
deixa pra lá,
e o pessoal que chegou,
e tem bacana e joão-ninguém,
chegou botando banca
e decidiu
dar sumiço no pendão
e usar tecnologia de ponta
pra atualizar o tempo-quente,
e ataca,
saca, aponta e faz fogo,
e não alivia
jogo do infantil,
gincana de madame
e certame em maternal,
e nesse clima
mais tropical a cada dia,
já se vê
babá de capacete
e colete à prova de bala
por cima do avental,
aliás,
já se fala
em fazer desova
em carrinho de bebê
pra evitar
aquele toque
comercial demais
do carrinho de mercado
e também pra pegar
um bocado dessa onda,
dessa onda de dar choque!

segunda-feira, novembro 09, 2009

Creia em mim

Vá por mim
que como é eu sei bem
que também já fui assim,
moço carente
de cautela e cuidado
e inundado de alvoroço
que ia em frente sozinho
e trela e bola
não dava a ninguém,
nem ao Cartola,
e não tinha quem me desse,
acontece
que você tem!,
e sei que conhece
“O mundo é um moinho”,
e miragem
era o norte do moço
que era seu forte
seu fraco pela quimera,
e mergulhava
de foz em fora,
e a toda hora
me quebrava
no fundo do poço,
e sozinho
caco após caco
catava e colava,
mas,
queixa e cicatriz
a colagem sempre deixa!,
portanto,
por favor,
ouça o que se diz
a respeito de andor
e de santo de louça,
e vá adiante
com jeito e bem passo,
não tanto
como hoje faço
porque dos vinte
já estou bem distante,
mas,
creia em mim
porque definitivamente
sou seu amigo,
e o maior!, o melhor! e o mais antigo!,
é no minuto presente
que o seguinte a gente semeia
e não dá bom fruto semente ruim!

domingo, outubro 04, 2009

Ou melhor

2016!!!!!!!!!!!!!!!!!?
ou melhor
2009!..
2010!!!!!!(?)...?..
...
2014!!!!!!(?)...?..
...
2016!!!!!!!!(?)!(?)...
2017?...

sábado, outubro 03, 2009

segunda-feira, abril 27, 2009

Carioca da gema espúria

O bloco
“Carioca da Gema Espúria”
se entoca no paiol
e não lança perfume
de “Gardênia Azul”
quando se desloca
que não tem esse costume!,

amiúde o bloco avança
pelas artérias da cidade,
circula com fúria
e esquema de morte
e sem vênia
da autoridade da “Saúde”
de norte a sul
as cumula de colesterol,

miseráveis misérias!,

e nós tão vulneráveis!,

e o bloco
não dá férias a ninguém,
dia após dia,
vem em pós
dos meus e dos seus,

é ressaca
e sufoca as Helôs em “Ipanema”,
é furacão
e saca os botões do “Jardim Carioca”,
é erupção
e na “Vila do João” calcina
um sem-fim de Julietas e colombinas,

e da “Cidade de Deus” ao “Joá”
aniquila poemas, canções,
arlequins, pierrôs
e Romeus tupiniquins,

cadê o abrigo?,

meu amigo,
que saudade da “Lapa”!,

e nem criança
escapole da carnificina
que o papão faz caretas
e a engole a muque e a tapa,
ou, então,
a alicia com gorjetas
ou com um velho truque,
meu São Cosme e meu São Damião,
como se fosse doce o que lhe dá,
a criança vicia
no “Cosme Velho” e na “Vila Esperança”
que já não reclama
de não ter mais nenhuma!,

em suma,
esse bloco vai ao ataque
de Rio de Janeiro a Rio de Janeiro
e derrama seus vermes
de “Gericinó” a “Vasco da Gama”,

e sibila
e proclama a quizila
do bandido-carrasco
por Alonsos e Inácios
que do “Estácio” a “Inhaúma”
são destruídos sem dó,

e em “Marechal Hermes”
o pessoal ouve o bus,

e no “Campo dos Afonsos”
o pessoal ouve o baque,
catrapus!,

nesse campo
esse bloco só tem craque!,

e crack, coca, bolinha
e trouxinha de maconha,

e sua peçonha
nos choca
e nos leva ao desespero
que produz mais treva
e o saldo
é mais um presunto
e junto
o caldo que jorrou
e forrou o chão da “Vila Pinheiro”,

e a pupila na escuridão
se dilata à cata de luz!,

SURSUM CORDA!,
irmão,
e rezai!
e luz rogai ao Pai!,

e transborda o Rio
o choro chorado em coro
por quem chora o vazio
que surgiu em “Osvaldo Cruz”,

e alguém tudo viu,
projetil, pistola,
mas,
não perdeu a calma
nem deu bola pro ladrão!?,

e alguém conta piada de valente,

e alguém
deplora a lambança
que prejudica o ambiente
e não se cansa de exigir
a pronta chegada do rabecão,

e alguém fica de porre
e vomita birita e palavrão,

e ninguém,
ninguém ora pela alma do defunto,

e uma lembrança
vem a minha mente:
o João, o Aldir
e aquela “janela de frente...”,

e o assunto de repente morre,

e o arquibaldo
vem da “Pavuna”
e do “Conjunto Pinheiros”
e corre,
atropela canteiros,
se agita, irrita e revolta
e solta seu brado
e berra um bocado...
no “Maracanã”!,

mas,
não tem respaldo
nem acesso à tribuna
e é vã sua grita
e ninguém o escuta,
e se ferra
na volta pra “Bonsucesso”
ao ser arrastado pelo arrastão,

e cada vez mais
perplexo e biruta
fica o povão
e o bloco açambarca
o que lhe dá na veneta
da “Gávea” ao “Parque Anchieta”,

será que esse açambarque
marca mesmo fundo?!,

será que esse açambarque
marca mesmo todo mundo?!,

bem,
a coragem espanta
e acalanta a ignávia
e o “Complexo do Alemão”,

e é o “Campo Grande”
e o bloco se expande
e insiste na tirania
no “Parque Colúmbia”,
ou antes,
na cidadania escarra
e não faz nem “Triagem”
e faz
ficar mais plúmbea “Sepetiba”
e “Inhoaíba” bem mais sombria
e mais pesada a “Barra de Guaratiba”
e mais triste
e mais feio o “Recreio dos Bandeirantes”,

e grassa a tristeza e a beleza se embaça,

e se espalha o receio
como o fogo na palha
em “Botafogo”, “Guaratiba” e “Paquetá”,

e medra o caos
em “Vieira Fazenda”,
na “Praça Mauá” e na “da Bandeira”,

e com “Pedra de Guaratiba”
os maus dão pedrada
em “São Cristóvão”
e em “São Francisco Xavier”,

e todos os dias
há mais retirantes na estrada,
e na “Portuguesa” mais moradias à venda,
mas,
ninguém quer comprar
que o risco não para de subir,

e na “Urca”,
pra andar no fio e não cair,
o aluguer segura a “Taquara”,

e se conspurca
e desfigura mais o Rio,

e não é tédio de cara antigo
que não tem remédio nem cura,

é que o bloco,
digo,
o bando anda a mil,
manda e desmanda
e o vazio vai aumentando
de “Higienópolis” a “Cordovil”,

e muita gente
inda jura pra mim
que nas megalópoles
é assim que a banda toca,

mas eu duvido!,

e o bloco nem se maloca,
munido de fuzil e granada,
aciona o arranque
e faz em “Valqueire”
uma arruaça danada
e mais uma casa captura,

como um “Tanque”
passa por “Cascadura”
e detona e arrasa
mais um alqueire
e se espalha a fumaça,

e nem precisava dizer
que estufa o peito
e com o feito
se rejubila e gargalha
e do efeito estufa
não quer nem saber,

e faz misérias que não estão
no mapa de “Vila Kosmos”,

e no do “Cosmos” também não,

são avarias mais sérias
e avarias menos sérias,

todavia,
dos seus venenos ninguém escapa,

e devassa
e curra “Maria da Graça”
e contamina a pobre menina,

e “Quintino Bocaiúva”,
em protesto,
a luva levanta
e brada: “Assassino!”,
que gesto nobre!,
mas,
não adianta nada
que uma surra toma
e não suporta a pancada,
à toa é morta
mais uma pessoa,
e não é novidade
mais uma unidade na soma,

mas,
soluça um menino
em “Parada de Lucas”
e mais aguça
a fome do bloco
que as botucas arregala,

e tome mais praga,
e praga
em tão larga escala
e tão amarga e daninha
que a coitada da saúva
virou praguinha de nada,

e não para
a chuva de droga
e se esgota e afoga
o “Jardim Guanabara”
e brota uma vala comum,

e um sem-fim de dom-quixotes!,
ideias!, Dulcineias! e Rocinantes!

cadê você, Sancho Pança?!,

e de um lar,
solar ou baiuca,
vem um avião,
e dá rasantes
e faz das suas
com as duas “Freguesias”
e se angustia e desespera
quem espera o desembarque
das mutucas e dos papelotes,

quanto desmancho!,

quanta intemperança!,

e o avião
para no “Centro”,
no “Engenho de Dentro”
e no “Parque União”,

e dá o pinote
quando a justa vem
e dá o bote no “Engenho da Rainha”,

e não vem do “Galeão”
o estrondo do motor
de mais um hediondo avião
que a população assusta
lá no “Humaitá” e cá na “Rocinha”,

e outra flor
fica pálida e cede!,
e retrocede outra crisálida!,
será o fim
do belo e da borboleta?!,
será que não tem fim esse flagelo?!,
será que a ampulheta está no fim?!,

meu irmão,
carioca da boa gema
da “Cidade Universitária”,
de “Sulacap”, do “Rio Comprido”,
estou coa impressão
de que já não há
possibilidade de escape
dessa tremelicação diária
que o trema que foi abolido
não é o arrepio
que o desvario provoca,

e não tape o sol com peneira,
carioca da boa gema,
que essa besteira faz muito mal!,

e cada vez mais
o povo fica mais tonto
que o inimigo
velhaco e ferrenho
com um “Engenho Novo”
de bobo nos faz num instante
em “Vaz Lobo” ou em “Vigário Geral”
ou com o antigo paco
do tal conto-do-vigário
nos engrupe de “Cavalcante” a “Fátima”
e de “Fátima” a “Guadalupe”
a gente simpesmente boia,

o folião desse bloco é de amargar,
e o grandão e o guri,
e devia se chamar “Tauá”
porque “papa-cacau”
aqui na “Gamboa” e lá em “Acari”,
e papa de varão e de mulher,
e papa
de joia de coroa
a bijuteria de guria,
e papa salário de operários
e dos “Bancários”
trocados contados
com o cuidado
que demanda esse mister,

o bloco rapa os nossos bens
e desanda a rir do nosso miserê,
e ri pra chuchu do “Flamengo” a “Timbaú”,

e faz auê
de “Realengo” a “Rubens Vaz”,

e há atropelo
e falta de “Pilares”
de “São Conrado” ao “Riachuelo”,

e em todos os lugares
o pânico nos assalta,

e a malta mata
que tem esse vezo
e sua sanha não tem fim,

no “Jardim Botânico” mata um rico,

em “Copacabana”
mata um coitado teso
e de grana não ganha nem um tico,

na “Lagoa”
defunteia um empecilho
e em “Marcílio Dias”
quem “Pechincha” ou regateia
que essa ousadia não perdoa,

pelo visto,
meu “Santo Cristo”,
foi tanto
contato com a chincha
que ficaram gastos
prato e fiel da balança
e ninguém mais tem privilégio,

não têm
pais de “Magalhães Bastos”
e mães de “Honório Gurgel”,

não têm
a gente de “Colégio”
e a gente de escritório,

e o bloco avança
em cupinchas e afins
do “Rocha” e de “Padre Miguel”,
em compadres e comadres
da “Praça Seca” e de “Nova Holanda”,

e arrocha
“Senador Augusto Vasconcelos”
e morador vetusto de “Rocha Miranda”,

e despedaça
madama em “Benfica”
e ama-seca no “Lins de Vasconcelos”,

e na “Barra da Tijuca”
da bazuca
lança mão na marra
e na hora
se trumbica mais um
e o ex-vivente
o bloco desova
em “Turiaçu” ou em “Curicica”,

será que sente o futum
a gente que mora em “Castelo”?!,

e do “Caju” ao “Cachambi”
o bloco faz
“Zumbi” pular da cova
pra dançar
o “Catumbi” e o caxambu
em passo bem nervosinho,

e pelo caminho
peita a comunidade
e a paz rejeita no aço
da “Cidade Nova” ao “Vidigal”,

e a população
vai perdendo o pé
e ficando histérica
da “Vila da Penha” à “Vila Militar”
e da “Penha Circular” ao “Jardim América”
já há curumim
tendo transtorno mental
e praticando até o haraquiri,

e o bloco teima
da “Penha” ao “Jacarezinho”
em deitar lenha na fogueira
que o que corta
não se importa de queimar
e queima “Pintagueiras”, “Laranjeiras” e “Grumari”,
e mais,
no forno mete vítima
que nem legítima tem pra deixar
e mete de “Roquete Pinto” a “Brás de Pina”,

de fio a pavio
o “Carioca da Gema Espúria”
nos algema
e o vermelho sufoca o Rio,
e esse vermelho
não é vinho tinto, confete nem serpentina,

e vou lhe dar um conselho,
meu irmão,
se conseguir
driblar a despedida
e sair andando do desfile,
inda que saia na penúria
e levando vaia,
se rejubile
que a vida é um prêmio
e não é prêmio de “Consolação”!,

definitivamente,
da cuca e do pé
é doente essa gente
que atua à “Bangu”
pra botar esse bloco na rua
e ficar com o tutu
que o bloco
todo dia surrupia no “Grajaú”,
e a “Tijuca” já não assobia!,

e de “Olaria” a “Tomaz Coelho”,
instrumento a instrumento,
o samba do bloco
pro tormento descamba,

a cuíca
não aproveita a “Maré”
pra sair de “Coelho Neto”
e ir direto
pegar “Jacaré” no “Leblon”,
só se deleita
e fica feliz
quando aborda
um bom cidadão
de canivete na mão
e com pivete ao seu lado,
e aborda
lá no “Moneró”
e cá no “Itanhangá”,
e o que se diz
é que o primeiro
a ser abordado
foi “Bento Ribeiro”
que estava desatento
e lhe deu “Catete”
em vez do capim exigido,
e a ronca malsã ficou na bronca
e mandou o coitado
comer capim pela raiz,

o tantã,
louco varrido
pra debaixo do tapete,
faz pouco saiu de lá,
e já saiu sem “Leme”
e vomitando doideira
e dando esculacho
em quem geme
e por clemência clama,
e “Paciência”
nem com dama tem,
seja de “Madureira”, seja do “Cocotá”,
e dou um exemplo,
a “Glória” destruiu
na entrada de um templo
e na frente de um reverendo!,
e saiu ileso
e dizendo pra toda a gente
que pra ele estava tudo “Anil”,
mas,
quando foi preso,
ficou mudo e sem memória,

o tarol,
de sol a sol
e de “Ramos” ao “Méier”
e do “Méier” a “Água Santa”,
reduz milhões à escravidão
e reduz
sem açamos e sem grilhões
que a covardia é tanta
e tão daninha
que sozinha estraga tudo,
e os bravos
amiúdo o tarol silencia,
os transfixa com cravos
e os afixa
com seus reclamos
na “Santa Cruz” da “Abolição”,

o tamborim é safado,
em “Anchieta”
aponta a baqueta
e a enterra num passante
pra lhe roubar o “Camorim”,
outra baixa diante de “Deodoro”!,
“Baixa do Sapateiro”,
e o desencanto
desponta no “Encantado”
e mais eu choro,
e mais o pranto toma conta de mim,

a reboque do tamborim,
assoma o pandeiro
com a borda da soalha
afiada a toque de caixa,
e retalha “Engenheiro Leal”
e encerra sua estada na terra,
e se apraz com a dor alheia,
e ferida mais feia,
mais amada medalha
que repercute mais na horda
e ao pessoal mais temor incute,

bandolim e cavaquinho
gostam mais de corda
e de perguntar
a quem vem de “Campinho”:
“que time é teu?”,
aí,
apostam
que o incauto
vai falar bem alto:
““Andaraí” no teu gramado!”
mas,
vá por mim,
não se anime
que essa resposta
desgosta muito o par
e já vi
um espertinho
ser estrangulado pelo cavaco
e atirado no buraco pelo bandolim,

é um absurdo,
mas é assim!,

e a torpeza é tanta
e tão frequente,
“Santa Teresa”,
que o surdo
não ouve a petição
de “Vicente de Carvalho”
e um pirralho
envenena e destrói
que o enviúva
da “Vista Alegre” do seu herói
e seu coração menino esbodega,
mas,
o cretino ouve
a sirena da viúva-alegre
e pega um atalho e faz a pista,

assaltar
é o trabalho do chocalho
e o “Alto da Boa Vista”
é um prato feito
pro xique-xique
que sempre dá um jeito
de praticar um assalto por lá,
e o rato manda à toa
chuva de chumbo
e por vintém
de bala e cuia,
quer dizer,
de mala e cuia
pra “Cacuia” manda alguém,

e mais alguém “Irajá”!,

ao passo
que o bumbo
bate como um raio
e de pique
incendeia “Sampaio Correia”
e um braseiro
escaldante e escarlate
por inteiro anuvia o espaço,

o repique
cheio de alegria
repica na “Praia
da Bandeira” a meio pau
bem diante de um pé-sujo,
mas,
não é luto oficial
que o dito-cujo frito
é da arraia e na carteira
nunca teve um puto,
aliás,
carteira nunca teve,

na “Praia de Ramos”
o agogô
tira onda de gigolô
e ronda e mira a massa
que, digamos,
é a prostituta que luta
pra ganhar um dinheirinho
e que dele apanha,
e não apanha pouco,
e a ele passa
o pouco dinheirinho que ganha,

já o reco-reco
fica irritadíssimo
com a esfregação
e se enfuria
com choradeira
de quem está no sufoco
poque está na sua mão
e seu desporto
é atirar em quem se lamuria
e enterrar o morto na “Ribeira”,

e o indigníssimo bamba
puxador do samba
emposta a voz
pra falar que é o terror
de “Jacarepaguá”, “Del Castilho”
“Costa Barros” e “Barros Filho”
porque por lá puxa uns carros
após puxar o gatilho da garrucha
e mandar mais alguns pro beleléu,

o Rio é o estande desse bloco,
meu “Santíssimo”,
e esse bloco é o fardo que o Rio leva
e que o entreva
de “Vargem Grande” a “Vargem Pequena”,
por conseguinte,
ouvinte
de “Ricardo de Albuquerque”,
se cerque
de razão e cuidado
e mande cercar seu lar
de grade e arame farpado,
senão,
sem “Piedade” nem pena,
o invade
esse bloco brega e infame,

e, por favor,
exija já
respeito desse sujeito
que alega necessidade
e mija a torto e a direito
do “Aeroporto” a “Senador Camará”,

enfim,
esse bloco é assim,
e é por esse Rio
que tanto prezo
que chio
e reclamo tanto
por todos os cantos,

é por esse Rio
que amo tanto
e que de meu Rio chamo
que mais e mais eu rezo
e a “Todos os Santos”
suplico paz pra gente
de todas as praças e raças
que a argila não é diferente!,

é por esse meu Rio,
meu irmão,
que paz tanto suplico
a todos os santos
desse Céu de “Vila Isabel”
que tem FEITIO DE ORAÇÃO
graças ao Vadico e ao Noel!

sábado, abril 04, 2009

Don Juin

Tenho pra mim
que por falta não foi,
não foi
por falta de empenho
que comi ruim,
e como insisti!,
também não foi
por discriminação
na hora do bote
que não saí bonito na foto
que tenho dito
desde molecote:
“sem distinção de raça, praça e credo!”,
e dessa linha
nunca me arredei
e ainda não me arredo!,
mas,
quando como sardinha,
camarão eu não arroto,
acredito
que fiz o que pude
com o fito de ter sucesso,
meu irmão,
que agi, reagi
e tomei atitude na hora,
e furei parede,
ignorei recesso
e desafiei boicote
pra jogar minha rede,
e tentei matar a sede
em qualquer pote,
inda assim,
nunca passei
de um bom Don Juin,
tentei
de entrada franca a acesso restrito,
de senhora safada a mocinha incauta,
de mulher baixinha, gordinha,
com anca e abundante culote
a mulher alta, bem fina,
despeitada e desbundante,
e de amazonense a gaúcha,
e tentei fluminense,
botafoguense e vascaína,
e sou urubu!,
e a maioria
me falou não na bucha!,
e não comi a carne
nem sequer roí o osso,
todavia,
nunca liguei
pra ducha fria e angu-de-caroço,
e me encarne se quiser,
meu amigo,
que pra encarnação
não ligo desde moço,
tentei acordar bela adormecida,
mas,
não vou negar
que ela roncou na minha fuça,
cantei bruxa
loura e franzida
e perdi a escaramuça
que levei
pernada da vassoura
e fui parar no caldeirão,
e sair de lá não foi mole não,
mas,
consegui me livrar da parada
e bebi um gole
pra recuperar a energia,
e não esqueci o do santo!,
e havia uma pinguça no balcão,
entretanto,
não fui safo o suficiente
e me embriaguei com o bafo
e entrei pelo cano
e do afano não me livrei,
felizmente,
quando voltei a mim,
não constatei outro dano!,
enfim,
minha gente,
é a minha história
e minha alcunha é Don Juin,
mas,
curiosamente,
lá no bar só dá Don Juan,
só dá bambambã
que pra contar só tem vitória!,
porém,
testemunha ninguém tem!

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Já estou farto

Já estou farto de saber
da tua nova paixão
e de passar pela tua rua
pra ver teu novo lar
à prova de caso pretérito,
já estou farto
desse novo entusiasmo
que incendiou teu coração,
e dizes que o mérito
é do novo querer
que manda no teu peito
e te faz ter alegrias,
já estou farto de saber
que teu novo amor
dos teus dias
o marasmo expulsou
e na tua ciranda deu um jeito,
já estou farto
de ver a nova flor
enfeitando o novo vaso,
a nova rede
e os novos guizos na varanda,
já estou farto
de ficar imaginando
teus novos risos
e o novo nu
que tu penduraste
na parede do teu quarto
pra admirar teu novo prazer,
enfim,
já estou farto de saber
que nunca mais
tu vais voltar pra mim!

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Cantei de fato aquele samba da Mocidade

Acordei cedo,
tomei embalo
e nem tomei café,
estufei o peito
e olhei feio pro garnisé,
e sem medo cantei de galo,
e, pimba!,
peguei a catimba
e acertei em cheio!,
e dei um jeito
no descalabro aqui de casa,
agora,
eu falo alto
e ninguém reclama,
não abro minha mão
nem pra jogar peteca
e não aceito drama,
a geladeira eu assalto
a qualquer hora
e não me arrasa a minha filha
quando me pilha em flagrante,
me deito de cueca
na esteira da varanda
e bem diante da vizinha,
e de cueca samba-canção,
dou banda
no mascote da família
quando ele me aporrinha
e ninguém me esculhamba,
e na cervejada
varo a madrugada
e só paro quando atufo o pote,
e, quando chego,
bufo à vontade
e a patroa
não faz cara feia,
me dá boa-vinda
e me faz um chamego,
e vai pra cozinha
e prepara a minha ceia,
e ainda exclama
que na cama sou um bamba,
pois é,
meu camarada,
acordei cedinho e de fato cantei,
mas,
pra ser mais exato,
cantei aquele samba da Mocidade:
“Sonhar não custa nada...”;
e cantei bem baixinho
pra não acordar minha cara-metade
que até quando ressona minha dona me assusta!

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Não cai em nós como uma luva

Chuva de verão
não cai em nós
como uma luva
porque
a vertente engrossa
e destroça a barreira
que pega a gente
e lá pra foz do Rio
nos carrega a corrente
com geladeira, sofá e fogão,
e a gente
vai sem dar um pio,
e só flutua
após abotoar o paletó,
e vai dar em Ipanema,
e a areia da praia cheia
a arraia-miúda tumultua,
o que não é de bom-tom,
então,
aquela gente boa de lá
blasfema, pragueja e nos maldiçoa,
mas,
meu irmão,
veja que bela ironia,
quem chegou sem ajuda de vela
é recebido por quatro
e as quatro têm serventia,
mostram o lugar do fardo
que está ao aguardo do rabecão,
todavia,
apesar do feriado,
a fiscalização atua
e autua nossa morte forasteira
por não ter passaporte
e autorização
pra morrer dessa maneira
e virar trambolho no calçadão,
e, de olho arregalado e queixo caído,
não sei bem
se em razão da morte ou do susto,
fica ciente o falecido
que vai ter de pagar multa
e de arcar
com o custo do transporte,
e indigente ninguém indulta!

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Primeiro amor

Pra ser franco,
era tão moço,
que, na hora,
fiquei sem saber
o que fazer de mim,
me senti no fundo do poço
e achei que era o fim do mundo,
mas,
sei agora
que não passou de um tranco,
um tranco que me balançou,
todavia,
não tanto assim,
a mossa que ficou
não foi assim tão grande,
o pranto não chegou
a fazer uma grande poça,
nem a fossa durou tanto
quanto acreditei que duraria,
enfim,
moça,
danos e avarias
não foram tão medonhos
e, apesar das fraturas,
não se espatifou a louça,
e o mais duro
não foi ver a fragilidade
das juras de eterna paixão
que essa dor a idade cura,
o mais duro foi o dissabor
de perder a primeira esperança,
primeiros planos, primeiros sonhos,
e foi tão duro
que, depois de tantos anos,
de certa maneira
essa lembrança
ainda muito me consterna,
ainda muito me aperta o coração!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Picando a mula

Quando vi
que o rei estava nu
e o ouvi gritar que trocaria
o seu reino por um cavalo
e notei que era à vera
que não era dia de treino,
estava a pé na estrada
e lavando urubu
que não havia
mais nada pra lavar,
aí,
tremi qual matagal
quando vem a ventania,
mas,
tremendo assim
tive um tremendo estalo
e lembrei
do Mustangue do Sul
que ganhei
num bingo de botequim,
um pangaré
que de sangue azul
não tinha nem um pingo,
todavia,
me pertencia
e era bem real até,
aliás,
lembrei de algo mais,
que de fidalgo
eu não tinha nada,
que a confusão
não era da minha alçada
e que quem foi rei
nunca perde a majestade
que reinar é parecido
com andar de bicicleta!,
então,
dei marcha a ré,
peguei à fula uma reta
e piquei a mula da cidade,
e do monarca
despido e desmontado
nunca mais ouvi falar,
mas,
uma senhora
que parecia muito fula
contou agora este babado,
que no reino da Dinamarca
tem algo que não cheira bem
e não sei bem o que é
e o que é
não vou perguntar
pra não dar bandeira,
e, como não sou dinamarquês,
cedo me mandei do colégio
e tem medo quem tem...
a minha meta
é pegar a primeira barca
e mais uma vez picar a mula
e em outra comarca ir buscar abrigo,
mas,
já sei que não sou amigo do rei de lá
que ser amigo do rei é privilégio do Poeta!

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Depois da hipocrisia, o cinismo

Palpite que nada,
é uma barbada!,
mas,
não acredite
se não lhe convier,
quando tiver vez,
perder a viagem
não vai não,
em vez de fazer
o que sempre fez,
criticar quem manda,
mandos e desmandos,
sacanagem e marmelada,
vai dar uma guinada
e vai trocar
de banda e de norte,
e uma banana
vai dar pra retidão,
e vai ter na cachorrada
prole, consorte e parentada,
e não vai ser mole não,
na ladroagem
vai mandar bala
com afano, armação,
cabala e cambalacho,
e vai ganhar grana de montão,
mas,
de início,
por debaixo do pano
e, em homenagem à virtude,
vai usar a hipocrisia
pra disfarçar seu vigarismo,
mas esse vício é fogo
e o jogo vai jogar
cada vez mais amiúde
e mais abertamente,
e, mais dia, menos dia,
vai dispensá-la
e descaradamente
do cinismo vai lançar mão!

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Olha o Nem Muda Nem Sai de Cima aí!

E se alguém
resolve sacar revolve
por achar que essa rima
é uma bobagem
e não fica bem num samba,
o que é que a gente faz
pra melhorar o clima?,
cruz!, caramba!,
mas,
se alguém sacar,
ao Moacyr Luz
a gente vai pedir ajuda,
aí,
ele vai pegar o pinho
e vai levar
o do Nem Muda Nem Sai de Cima,
e o bloco vai tomar a pista
com o Marquinho
na comissão de frente
pedindo passagem
e abrindo caminho
com o boticão,
e de bloco o presidente manja!,
e como todo mundo,
no fundo,
tem medo de dentista
e esse medo
é coisa muito séria,
e com o Moacyr
dando uma canja,
a briga vai virar
batalha de confete
e vou pintar o sete
e tirar a barriga da miséria
sem tirar meu chapéu de palha!
alô Formiga!, alô Borel!,
olha o Nem Muda Nem Sai de Cima ai!

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Se afoga em pingo d'água

É bom que se diga:
nova malandragem uma ova!,
a que anda em voga
não dá nó
como dava a antiga,
se afoga em pingo d’água,
e só anda em voga
porque
não há mais triagem
e não é mais necessário
ser astuto pra se graduar
e até otário manifesto se gradua,
e não vai adiantar nada
ocupar a rua e fazer protesto
nem dizer
que esse comentário
é choramingo
fruto da mágoa
da malandragem aposentada,
a malandragem
que anda em voga
afronta a prudência
e à toa esmurra ponta de faca,
a inteligência ataca e maltrata
e cede à tentação
e em canoa furada embarca,
e se encharca de pinga
e se atola na droga
e emburra,
e pede esmola,
ou, então,
assalta e mata,
e a maior e melhor prova,
essa nova malandragem
não ginga,
rebola,
e só anda em voga
porque boa escola anda em falta!

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Receio pelo amanhã do calendário de oficina

O vestuário da mulherada
abriu mão de tanto pano
e ficou tão transparente
que a imaginação decidiu
desativar aquela seção
do imaginário varonil
que na geografia dela
vivia mergulhada,
e desativou
do infantil ao veterano,
e, apesar de sexagenário,
peço mais progresso!,
e estou de prontidão
pra não deixar
que invente moda
ou tente frear essa roda
algum reacionário ou dissidente,
mas,
confesso
que me azucrina um receio,
receio pelo amanhã
do calendário de oficina
porque,
quando o vê,
já não exclama a criancinha:
“mamãe!, olha você só de sutiã!”,
“mamãe!, olha você só de calcinha!”,
a vovó já não reclama
nem belisca seu velhinho
que um olhar já não arrisca,
aliás,
já não fascina nem rapaz novinho
e não origina aquele agir solitário
que fez muito moleque
soltar o breque,
virar macho e se sentir herói,
acho até que posso dizer
que tal agir,
hoje em dia,
em razão da desativação
da tal seção do nosso imaginário,
já não sói acontecer
tal qual ontem acontecia!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Um empurrãozinho

Não é necessário ser adivinho
pra saber que você
vai sair do armário
e vai virar drag queen
assim
que levar um empurrãozinho,
e pode achar ruim
e em mim dar esbregue,
pois,
por mais que negue,
com um empurrãozinho,
e não vai precisar de dois!,
você vai se depilar,
tirar bigode
e passar batom carmim,
vai usar salto alto
e qualquer tortura
vai enfrentar
pra melhorar a figura
e entrar
no vestido justo e miúdo
e revestido de pompom
que sua ex-mulher
fez questão de não levar!,
e tudo indica que você
vai botar no sutiã
maçã ou limão
pra fazer o busto
e vai proclamar
que não prejudica
o que abunda
e vai caprichar no air bag
e vai se gabar
de ser clone da Raimunda,
mas,
o perfil postiço
talvez o enraive
e você
se entregue todo
ao feitiço do silicone,
e silicone bote a rodo,
e mais uma dica,
seu telefone celular
vai ser lilás demais
e vai tocar I will survive!,
psiu!,
estou falando com você!,
atenção nesse empurrão,
já imaginou
poder encarnar
uma gata romântica
e ser conhecida
como a pupila da Priscila
que ficou feliz da vida
ao se tornar Imperatriz,
Imperatriz da Mata Atlântica?!,
o que é que você me diz?!,
mas,
vá em frente depressa
que tem mais gente nessa fila!

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Vivo no prego

Vivo no prego
e não nego que vivo
que a bacana
não sou metido
e ao fasto
não sou chegado,
e a grana é curta
e o gasto é comprido,
e minha gente
não furta nem afana,
agora mesmo,
rependurei
pendura do passado
e juntei
ao vasto passivo
despesa do presente
que meu ativo
é pra inglês ver,
não dá pra viver
nem metade do mês,
e, com certeza,
um pendura recente
com algum do futuro
vai ter de ser rependurado,
na verdade,
nem mesmo
na hora de cochilar
passo sem pendura
e faço como se faz
em xadrez superlotado,
penduro uma alça
e me dependuro
que no chão
não há mais lugar,
de maneira a secar
pra usar de manhãzinha,
penduro
a calça cansada
e o blusão destinto
atrás da geladeira
branca e vazia
que angustia e atravanca
o recinto acanhado
que é sala, quarto e cozinha,
mas,
quando se instala o verão,
de porta escancarada,
dá pra utilizar
tal qual ar-condicionado,
e me penduro no frio
que não é farto nem corta,
mas,
me dá arrepio
que careço de costume,
pra ver televisão,
o preço
é me esticar
e ficar pendurado
no som da casa ao lado
que vaza o meu tapume
e adentra minha moradia,
e a fantasia entra em ação,
e o volume
até que é bem bom,
que a audição da vizinha
já não vai lá muito bem,
e, pelo passadio,
eu apelo,
falo macio e repriso
aquele sorriso
amarelo e oco
e não me abalo
nem dou um pio
quando o comerciante,
à guisa de troco,
me pisa e afronta
diante da freguesia,
e o meu brio
com a conta penduro,
e penduro
pelo pão na padaria,
na mercearia,
por arroz, feijão e farinha,
e, na tendinha,
por nobre razão,
pela purinha e pela loura,
que estoura o pobre
sem esse bendito pendura,
pra ir e vir do batente,
aturo aflito
a loucura do dia-a-dia
e me penduro na condução,
mas,
antes de sair,
pra escapar
de crime e acidente,
me penduro
na mão da santa
e é tanta a minha fobia
que penduro em mim
cordão chinfrim
com figa e patuá,
e tive de tirar do quintal
e de pendurar na casinha
a bandeira do meu time
que o pessoal,
pra pisar no meu calo,
deu de chamá-lo de poeira
porque não vive sem lanterninha,
enfim,
essa briga
é uma pedreira
que o prego não é mole,
mas,
apesar da sua censura,
me nego
a pendurar a chuteira,
minha prole que o diga,
e é desnecessário
vir em meu auxílio
falando de camisinha
que tal utensílio
nenhum boticário pendura!