segunda-feira, dezembro 01, 2008

É tempo de festas

É tempo de festas,
de libertar o afeto
e confraternizar,
é tempo
de dar um passo
pra desatar um nó
e deixar um laço no lugar,
de trocar
desprezo por abraço,
é também
o tempo certo
pra aparar as arestas,
pra soltar direto
e de maneira franca
o que está preso na alma
e até bem coberto de pó,
mas,
com calma
e bandeira branca
que a verdadeira balança
nessa terra ninguém tem
e só o dialeto da paz
é capaz
de acordar o irmão
que o desafeto
encerra no peito,
aproveita o Natal,
a emoção, a chama e a graça,
enfeita o coração,
beija, abraça e festeja
tal qual faz a criança,
e canta a canção
de quem ama
e na insensatez
quer dar um jeito
pra esperança
não perder de vez!

quinta-feira, novembro 27, 2008

Pós-pós-moderno

Sem caco e sem bagagem,
com um fraco pelo logro,
mas,
sem queda pra raposa,
e sem moeda
pra comprar
passagem à vista,
só do sogro da esposa
deu pra tomar dinheiro,
e tomei o da entrada
e fiz a pista
no primeiro pau-de-arara
com a cara e a coragem,
e não paguei mais nada,
foi assim
que zarpei de Brocoió,
e só me mandei
porque ficou o dia-a-dia
com o saco cheio de mim,
e pintei essa tela
porque sonhei
com uma bobagem
no meio da viagem,
e eu e ela
acabamos em Babaquara,
todavia,
nem percebi
que fosca e sem sal
a quimera era também,
por sinal,
e cá entre nós,
ainda não sabia
que carecia usar lente
como tanta gente carece,
mas,
sem querer,
acertei na mosca
e, se soubesse,
faria prece
pra agradecer
à santa miopia
o passo inaugural
do pós-pós-moderno
que me fez virar protagonista,
agora,
sou um artista genial
e você me adora
porque me vendo caro,
saio em capa de revista
e, não raro,
no tapa com alguém
que me desgoverno,
e bem amiúdo dou
entrevista a jornal e tevê
porque entendo de tudo!

quarta-feira, novembro 19, 2008

Precaução e água-benta

Com esse bicho revolto
que não poupa ninguém
andando solto
bem nas nossas barbas
e fazendo
qualquer um de alvo,
uma ova!
que vou dar sopa!,
estou são e salvo
porque sou esperto,
vivo de olho bem aberto
e com as barbas de molho,
e meu nicho
é à prova de bala,
e meus santos
estão por todos os cantos
e com eles vivo agarrado,
e lhe dou outra pala,
quando dou uma volta,
vou de blindado
e não vou sem escolta,
aliás,
quem tem,
tem medo
e sabe que o segredo
é tomar precaução
e não deixar
de tomar a água-benta
que sem ela
ninguém agüenta a pressão,
e sabe também
que tudo o mais é balela!

quinta-feira, novembro 13, 2008

Ela criou fama e eu deitei e rolei na Brahma

Ela criou fama
e eu
deitei e rolei na Brahma,
e, cá entre nós,
com moderação,
não faz mal não,
é bom demais,
mas,
faça como eu,
dirija antes,
jamais dirija
durante ou depois,
aliás,
após,
pra cama
vamos os dois,
eu e a minha Brahma!

sexta-feira, outubro 31, 2008

No ponto da Praça da Promessa

De saída,
madrugada ainda,
na pinda e tonto de sono,
esperar condução
no ponto da Praça da Promessa
perdida na Travessa do Abandono,
é de lascar!,
e tem gente à beça esperando,
e a primeira passa em disparada,
e passa a segunda voando pela pista,
e bem rente à calçada passa a terceira,
mas,
não pára não
que no acelerador
o motorista afunda o pé,
e do nosso dissabor
no coletivo alguém ri
e bole com a gente,
e, pensando bem,
quem bole
também é um zé
e não tem motivo pra bulir,
aí,
acena e esbraveja
alguém que ainda
não é bunda-mole,
que ainda está vivo
e tem sangue quente,
e pego a pensar
que é uma pena
que já não me zangue
nem veja razão
pra fazer protesto,
gesto obsceno
e dizer palavrão,
mas,
como todo bom prego,
me sinto
limitado e pequeno
e minto mais uma vez,
alego sensatez
e ronco
de ter ficado
farto de ser bronco
e de impulsivo não ser mais,
e o quarto coletivo dá freada,
mas,
não pára não
que é freada de arrumação,
e somente o quinto pára
e a gente se enfrenta
e inunda o carro
e se apinha
que nem sardinha em lata
e vai à cata de não sei o quê!,
e você ainda vem e tenta
tirar sarro na bunda da gente!,
de saída,
madrugada ainda,
na pinda e tonto de sono,
esperar condução
no ponto da Praça da Promessa
perdida na Travessa do Abandono,
é de lascar!

quarta-feira, outubro 29, 2008

Herói é o bói lá da seção

São feitos pequenos,
mas muito bem feitos,
ele é um herói
e não há
ninguém mais heróico,
mais estóico muito menos,
e tem pinta
de ter menos de trinta,
ele é o bói lá da seção,
e, como sói acontecer,
sabe fazer de tudo,
então,
após o expediente,
um de nós pede ajuda,
e pode ser
um graúdo ou gente miúda,
e tem sempre gente na lista,
imediatamente entra em ação
pedreiro, gasista e bombeiro,
e o coringa ginga,
combate, lança e centra
na pelada do domingo,
e não se cansa
nem pede substituição,
e late de madrugada
que cachorro anda em falta
e, se não latir,
o assalta algum ladrão,
e não adianta pedir socorro,
em dia santo e feriado,
a parada
é ser guia de gringo
em passeio pelo morro
pra descolar um trocado,
e, apesar
de um tanto acanhado,
não faz feio na batucada!,
meu irmão,
herói é o bói lá da seção!

terça-feira, outubro 21, 2008

É mistura de força e fé

Creia em mim,
essa gente
é mistura de força e fé
cozida em fogo bom
por cozinheira de primeira
e com muito jogo de cintura,
e pro lado errado
não se bandeia gente assim,
portanto,
torça o quanto quiser
e torça até um por um
que essa gente
não vai empenar
e não vai empenar
de jeito nenhum!,
vai seguir
levando a vida
no peito e na raça
por mais avessa
que a vida seja
e vai temperar
com cerveja e cachaça
pra diminuir a gastura,
mas,
vai levar a vida direito
e de cabeça erguida
e a compostura
não vai perder por nada,
pode até
não ter fonte de renda
e pode viver
sob ponte ou marquise
embrulhada em jornal,
ainda assim,
não está à venda,
de quando em quando,
até se fere
que prefere ceder e pedir
pra comer e não sucumbir,
todavia,
a imensa maioria
em deslize nem pensa,
não aceita peita e suborno
nem faz acerto ilegal
pra escapar
de transtorno ou aperto,
creia em mim,
essa gente
é mistura de força e fé
cozinhada em fogo bom
por cozinheira de primeira
e com muito jogo de cintura,
e pro lado errado
gente assim
não se bandeia não!

sexta-feira, outubro 10, 2008

É uma pena

Não vale a pena
que na nossa frente
você se faça
de caça inocente
porque essa cena
a gente conhece,
mas,
realmente importa
o que acontece
quando a porta se fecha
e a dama aparente
é deixada de fora,
a mecha então se acende,
o fogo arde pela cama
e se estende
por toda a madrugada,
e a noção da hora
você perde totalmente,
e joga
e prorroga o jogo,
e amanhece e você nem vê,
e vem a tarde,
e novamente a noite chega,
e a pega insiste no açoite
e não desiste do desvario,
esquece prontamente
o touro batido que sai
e se concentra
no touro que entra
mordido de fome
que o cio
não some nem estanca,
e de cena
você só sai morta,
é uma pena
o que acontece
quando essa porta se tranca!

quarta-feira, setembro 24, 2008

Malandro de verdade

Malandro de verdade
não escangalha sua imagem
que não se atrapalha
nem dá nó nas pernas
tentando ser malandro demais,
aliás,
malandro de verdade
na aparência só
não se sustenta,
pensa e atenta
nas coisas internas
que da essência sabe o valor,
sabe que faz
toda a diferença
pra quem quer ser
doutor em malandragem,
malandro de verdade
aparece muito raro,
conhece seu mister de sobra,
tem paciência
e não obra no escuro,
quer dizer,
sem consultar o faro
nem se não lhe disser
seu olhar clínico
que a manobra tem futuro,
malandro de verdade
prima pelo juízo
e sabe escolher o lado,
mas,
sabe ser cínico
quando é preciso
ficar em cima do muro
porque descer
pode ser muito arriscado,
porém,
tem postura
e jogo de cintura
pra não se queimar
no fogo do cinismo,
malandro de verdade
teoriza quando precisa,
mas,
acata a realidade
e trata
de não dar bobeira
à beira do abismo,
malandramente
andando para trás
o malandro vai em frente!

sábado, setembro 20, 2008

A velhice é uma...

Já disse alguém:
“a velhice não é mole”,
e resmungo
quando ouço,
mas,
comungo
com tal afirmação,
e nem foi bem isso
o que alguém disse
e disso eu sei bem,
e com o tal palavrão
eu também comungo,
pois é...
o glutão-mor
que tranqüilo comia
mais de um quilo
e roía até o osso,
agora,
mal come um lapo
que já não tem fome,
todavia,
engole sapo todo dia
no café, no almoço e no jantar,
e engole
sem queixa e alvoroço
que o topete foi embora
e paladar de asilo é bem pior,
mas,
uma regurgitação
pode abalar
a partilha da herança,
então,
por precaução,
a família se mete
e não deixa
que você tome
nem um gole de birita,
se você
cogita de fumar,
a prole grita
e na frente da vizinhança
a mulher lhe dá um pito,
quando você
quer bater papo,
quem é mais moço,
se não estiver
carente de tutu,
a dizer não se limita,
e quem não é
luta com um fiapo de audição
e o que é dito não escuta,
sem permissão,
tevê você não vê,
mas,
quando lhe dão,
você faz confusão
com a imagem nublada
e vê urubu
torcendo pelo Flu,
quando você teima
e tremendo passa a mão
crente
que na empregada
a mão está passando,
ela acha graça
que na miragem
a mão você passa
e se queima
que o quente
que você acha
é panela no fogão,
e a vizinha,
que pra você
é fofa e novinha,
além de balofa,
de trinta tem bem mais,
e a barriga
encafua numa cinta
pra na rua fazer bonito,
mas,
com a janela escancarada,
ela fica nua e não liga não
porque
está cansada de saber
que você se atrapalha
com a memória falha e lerda
e fica sem entender a questão,
fica sem saber
se é História ou Geografia,
pois é...
como alguém
já disse um dia,
a velhice é uma merda!

quarta-feira, setembro 10, 2008

Desabafo carioca

Sou carioca,
mas,
estou cansado
de tanto boboca
metido a malandro,
de tanto canalha
travestido de santo,
de tanta trampa e bandalha,
estou cansado
de ter que encarar
tanto meandro e atalho
pra ir de casa ao trabalho
sem cair na mão do bandido,
sem fazer escala em cova rasa,
afinal,
não sou à prova de bala,
vou pra Sampa,
pessoal,
e vou ficar numa boa
andando a pé por lá,
indo e vindo
à pampa e ao léu,
e subindo e descendo
e correndo da garoa
e caprichando no pedido:
“um chopes e dois pastel, meu!”,
e caprichando até
ficar craque no sotaque:
“um chopes e dois pastel, meu!”;
depois,
com olhos de cifrão,
vou olhar o dinheiro
que pela Paulista
transita aos molhos,
e não tenho nem idéia
do montão de grana
que pela Paulicéia tansita,
mas,
nem o tutu
vai me fazer
perder de vista
a linda paulistana
que a São João ilumina,
e meu itinerário vai ter
Seminário e Quintino Bocaiúva
que me cai como uma luva
um fino Panamá
da Ópera, da El Sombrero,
da Paulista e d’A Esquina,
e da Paissandu lá no Paissandu
e com direito
a bauru no Ponto Chic,
resumindo a ópera,
indo desse jeito,
enquanto não ficar pronto,
vou andar muito por ali,
e ainda vou ter pique
pra saborear o Bixiga
e vou sair de lá
com o rei na barriga,
quer dizer,
com la regina della cucina!,
e vou comer
sushi e sashimi na Liberdade,
e usando o hashi
que aqui nunca usei,
e vou degustar
o filet do Moraes
na Júlio Mesquita,
orgulho da cidade,
e vou cantarolando
canção do Adoniram
de quem sou fã,
e fã incondicional,
e vou fazer a digestão
cruzando a Consolação
de cima a baixo,
e vou respirar
o clima sensacional do Brás,
agora,
bicho,
quando bater
aquela saudade louca
na hora de sossegar o facho,
vou matar a saudade na Boca do Lixo!

terça-feira, setembro 09, 2008

Que decepção da rapaziada!

Que decepção da rapaziada!,
na hora da rabada
mais desejada da região,
a senhora do anfitrião
cismou de servir só agrião,
e o cara
ficara fazendo serão
a convite do patrão
que fez questão
de vir ao banquete,
mas,
havia tanta fome
e o prato especial
era tão esperado
que o apetite frustrado
redundou em vias de fato,
acabou comendo o cacete,
e o pau
só acabou no outro dia
quando o anfitrião,
que não sabia de nada
e que só come
legume da sua horta
e acha rabada indigesta,
retornou do batente,
olhou pela fresta da porta,
pigarreou e entrou sorridente,
e, como de costume,
entrou coçando a testa
que tem alergia bem localizada!

sexta-feira, setembro 05, 2008

Vai se chamar Proxeneta

Nunca levei jeito pra santo
nem sei dizer direito
como deixei o ócio
e virei mercúrio,
mas,
garanto
que só fui saber
que o negócio era espúrio
quando motivei
assomo no meu sócio
ao fazer confusão
na divisão do bolo
pra aumentar meu lucro,
e só fui saber
porque meu associado
não era chucro, beócio nem tolo
e preferiu não arranjar rolo,
saiu de fininho e jogou no veado,
e, no caminho, chamou a justa,
tentei me defender
alegando que defendia
uma profissão antiga,
a mais vetusta talvez,
e que fazia caridade
juntando rapariga e freguês,
a fome e a vontade de comer,
todavia,
pra minha surpresa,
a autoridade ficou uma fera,
deu urros, murros na mesa
e berrou: “proxeneta!”,
e pensei eu
que era nome de alguém,
mas,
ninguém respondeu,
aí,
um português abatido
me ajudou a concluir
que Proxeneta
devia ser o meu apelido,
e dancei sem saber
que não sabia os porquês!,
bem,
o apelido achei porreta,
e já convenci a Lucimar,
o guri que vem por aí
vai se chamar Proxeneta!

quinta-feira, agosto 28, 2008

Você vem, passa e vai

Você,
ardente movimento
de morena ebulição,
faz o que não faz
avoamento de andorinha,
você,
plena de graça,
sozinha faz meu verão
quando vem,
passa
bem rente de mim
e me deixa assim,
parado e sem respirar,
e o gracejo não sai,
fica entalado no peito
que você
me deixa encabulado
e sem jeito de gracejar,
e você passa
sem me dar uma deixa...
mas,
não é queixa,
é coração lamentando...
e você vai
levando meu olhar
que não desgruda
dos seus quadris
e o desejo me inunda
e não redunda por um triz,
e não muda a visão
nem depois que você
dobra a esquina,
pois sobra
o apego da retina
que não te deixa sumir
e a imaginação
não me dá sossego,
e é tanto desassossego,
menina,
que até me espanto
porque chego
a me sentir um rapaz,
menina,
você é demais!

A falta que você me faz

É de mister,
mulher,
falar em voz alta
pra escutar toda a gente
e não ficar somente entre nós,
é de amargar
a falta que você me faz,
pra falar a verdade,
virei um poço de saudade
que transborda
quando faço
café, almoço e jantar,
que transborda inda mais
quando arrumo, lavo e passo,
e finda o dia e a faxina não finda,
me ouça,
minha pequenina mais-valia,
e sinta
minha sucinta sinceridade:
assumo,
mulher,
que não sei viver sem você;
e, pra você voltar,
vou jurar o seguinte:
no domingo,
não vou à praia
se não fizer sol
e não fico bravo,
não me queixo nem xingo,
deixo que você saia
e vá ao bingo
depois de lavar louça
e, depois do futebol,
e das vinte às vinte e vinte,
vou ser seu escravo
e não vou beber nem um pingo!

quinta-feira, agosto 21, 2008

Não faz mal a ninguém

Não sei se tem
grau ideal de loucura,
mas,
ser louco,
não muito
nem muito pouco,
não faz mal a ninguém,
aliás,
faz até muito bem,
portanto,
de postura troque agora
e sem pensar tanto
em fora ou mancada,
e a arquibancada
que se choque
se quiser se chocar,
se a centelha
começar a rarear,
troque de mulher,
mas,
não troque só
se houver necessidade,
se lhe der na telha,
troque também,
arranque a calça,
chute paletó e gravata
e pela cidade vá sarandar
de calção e sem cueca,
ou, então, vá ao bar
jogar sueca e contar bravata,
ou se estique nu
no sofá da sala de estar
e escute rock, funk, valsa,
e o dia inteiro fique por lá,
e mais uma pala,
retifique o menu,
no lugar de arroz
e feijão sem tempero,
baião-de-dois e bobó,
no do chá de carqueja,
muita cerveja e retrós,
e durma tranqüilo
após a refeição,
e não dê bola pra turma
que amola você
porque não gosta
do seu cochilo!,
é inveja!,
e a inveja é uma bosta!

quarta-feira, agosto 20, 2008

Um zero à esquerda e uma gota d'água no oceano

Rapaz,
essa menina
é da pá virada
e esquina tem demais,
e você
tem pouca estrada
e nem imagina
do que essa louca é capaz,
quando sente
que vai perder
se bater de frente,
aproveita o embalo,
dá cavalo de pau,
se ajeita e dá ré,
e vai até
você não poder mais,
se a subida vai mal,
aposta na descida
e não mingua
que tem resposta pronta
e bem na ponta da língua,
não quero
estragar seu prazer,
rapaz,
mas,
vou lhe dizer,
cuidado
com as perdas e danos
que essa garota
é de amargar
e, ao seu lado,
você é um zero à esquerda
e uma gota d’água no oceano,
e vai se encher de mágoa!

Que confusão caótica!

O pleonasmo tautológico
me permita,
gente minha,
que é lógico fruto
do meu bruto
e psicológico pasmo,
que confusão caótica!,
e começou
exatamente no momento
em que aquela diva,
viva como ela só
e mais erótica que rainha
em visita ao parlamento!,
deu espetáculo
e exibiu o que não devia
sem dó do seu consorte,
consorte!
que ironia do vernáculo!,
bem,
encurtando o relato,
quando o consorte viu,
acabou-se o que era doce
e a dança
virou briga de foice,
que o diga quem
entrou no picadeiro
e participou do prélio,
dama, cavalheiro,
velho e até criança,
e o consorte
deu chifrada, marrada,
e teve cama-de-gato,
passo de capoeira,
soco pra lá, soco pra cá,
e rasteira e pontapé,
e chave de braço e de perna,
e, o que é pior,
teve até chave
proibida pra menor,
e o local
parecia até um forno
de tanto que a baderna
ardia em torno do brigão,
todavia,
pra admiração geral
e qual apito de juiz
acaba com a partida,
no ato
acabou com a zorra
o grito forte
de uma senhora recatada
e calada até então:
“porra! que corno chato!”;
e, na hora,
o pessoal pediu bis
e, em coro,
caiu na gargalhada,
e o consorte caiu no choro!

sexta-feira, agosto 15, 2008

Até a vista!

Não sou santo, puro,
não sei bem
o abecedário
e já deixei de ser rapaz,
entretanto,
achei conveniente
e rabisquei esse bilhete
anônimo e sem data
que não misturo
alhos com bugalhos
e sei que analfabeto
não é sinônimo de otário,
mas,
fi-lo consciente
e não sou alcagüete,
portanto,
fique tranqüilo,
não deduro ninguém
nem há no bilhete
revide ou bravata,
nem baixo o sarrafo
em nenhum desafeto,
é só um desabafo
feito por um prego
que não tem direito
a enguiço comum
nem a id, ego
ou superego
falho ou omisso,
aliás,
nem sei o que é isso!,
é só o desabafo
de um sujeito
que não tem paz
nem tem sossego,
que vagueia descrente
e com a mente
cheia de grilo
que não tem cabe,
gravata nem padrinho
e não sabe do macete
pra achar o caminho
e se dependurar
num cabide de emprego,
aí,
decidi redigi-lo e me mandar,
mas,
sou pessoa da rasa
e não voa
meu tapete porcaria,
portanto,
não vou pra Ibisa,
vou pra algum canto
lá na casa do cacete
e numa maria-fumaça
sem graça
e com mais avaria
que a camisa
que agora estou vestindo,
e vou indo
que já tá na hora
e da fera já ouvi o berro,
e é primeiro de abril
e o de maio
ela não espera,
mas,
posso lhe dizer
que não vou de escoteiro
porque carrego
no meu balaio
o que ouviu meu ouvido
e que ser cumprido ninguém viu,
e também uma cabaça
que não sou de ferro
e, com a libido
fazendo a pista,
beber cachaça
o meu regalo
vem sendo
mais e mais,
e me nego
a beber pelo gargalo!
Até a vista!

quarta-feira, julho 30, 2008

Moídos pelo mesmo moinho

Não somos heróis,
anti-heróis nem vilões,
mas,
não vamos ser desertores,
não vamos desistir de nós,
não vamos desistir
das maiores paixões
nem dos menores amores,
vamos lutar
no peito e na raça,
rebeldia após rebeldia,
e às claras,
dando as caras
e roubando a cena
com nosso escarcéu,
e abraçando e beijando
em plena grama da praça,
e vamos lutar
na calada da noite,
trama
levada a efeito
numa cama de hotel,
você sabe
que não somos
mocinhos nem bandidos,
por isso mesmo,
não se afoite
a se meter demais
em nosso caminho,
aliás,
se meter pra que
se somos iguais a você?!,
se somos moídos
pelo mesmo moinho?!

sexta-feira, julho 25, 2008

Que mal eu lhe fiz?

Você me diz
que está bem assim,
sem mim,
que é feliz e sorri,
que mal eu lhe fiz
se tentei
ser o seu ideal
e até o seu querubim?!,
com fé
rezei pro seu santo
e carreguei sua cruz,
a luz apaguei,
mas,
não dormi,
zelei por seu sono
e seu devaneios guardei,
do meu canto
deixei de ser dono
pra virar seu escravo
e satisfazer seus anseios,
falei de luxúria e sacanagem
pra que sua boca
não parecesse impura
e na minha pus
o travo da injúria
que você
não teve coragem de dizer,
e a amargura não foi pouca,
enlouqueci
pra que você
não enlouquecesse,
lhe dei conforto,
fui amante,
amigo, irmão,
porto e abrigo,
não descudei de você
nem por um instante
e não lhe disse um não
que sim
você sempre quis,
tentei ser seu ideal
e até seu querubim,
será que foi esse
o mal que eu lhe fiz?!

quarta-feira, julho 23, 2008

Pisando em ovos

Meu problemas
não são novos,
cara,
nem minha situação
é lá assim tão rara,
mas,
já não sei mais
o que fazer de mim,
ando pisando em ovos
que Moema
faz carga e não me larga,
me policia
o dia inteiro
e veta
exagero e estripulia,
mas,
estou cheio
de comer o trivial,
feijão com arroz
sem sal e sem tempero,
ando a fim
de pintar o sete
com clara e gema,
depois,
besuntar o croquete
ou botar recheio
e saborear um omelete,
mas,
pra dar
o grito de alforria,
“abaixo a dieta,
viva a sacanagem!”
tem que ter coragem,
palito e voz ativa,
enfim,
tem que ser macho,
e, cá entre nós,
não sou tão macho assim!

segunda-feira, julho 21, 2008

Conceição

Louco é pouco,
sou fanático por você,
Conceição,
em caso de mágoa,
se vingue,
por exemplo,
quebre aquele vaso raro
do templo sei-lá-qual-é,
ou me xingue,
dê esporro e reprimenda,
ou venda até
aquele meu panamá
que custou caro pra cachorro,
agora,
não me deixe na mão,
sem você,
fico triste,
mais apático
que peixe fora d’água,
fico sorumbático e me acanho
tal qual estranho no ninho,
sem você,
Conceição,
a existência se revela
um total descalabro,
e também a residência,
sou passarinho
nas pasmaceira da gaiola
e sem alpiste,
sem você,
não abro janela nem jornal,
não dou bola a rádio e tevê,
brigo comigo
por qualquer besteira
e digo não a convite
pra ir de graça ao estádio,
e nem cachaça
me abre o apetite,
e fico morno e bobão,
onde vou encontrar,
Conceição,
cozinheira
assim como você?!,
o que será de mim
sem você
mandando brasa
no forno e no fogão,
aqui da minha casa?!

Você não tem manequim

Se manque
e não banque a gostosa
pra cima de mim
que pra isso não há clima
nem você tem manequim,
além disso,
você é prosa
e eu sou poesia,
você é da manhã
e com suco
de maçã ou de seleta,
aspira ar de academia
e transpira
pela meta muscular,
e da dieta
não sai por nada,
eu sou da madrugada,
fã de boemia e botequim,
e maluco por birita,
torresmo,
bife com fritas
e feijoada completa,
você não faz meu tipo,
se veste
e reveste de grife,
é da moda, da lipo,
da poda e do silicone,
eu sou da palheta,
pra etiqueta não dou bola
e adoro mesmo sem rasura,
você é digital video disk,
eu sou vitrola
e ouço “Risque”
e “Pelo telefone”,
você
fica com um aqui,
fica com outro ali,
torço
pra que você e o moço
tomem precaução
e usem camisinha,
mas,
e acredite se quiser,
essa não é a minha,
não sou dessa mistura,
sou da paixão,
e só namoro mulher
de um homem só,
e não ficamos,
nos amamos
e nos amamos in natura!

sábado, julho 19, 2008

Só mais um minutinho

Chega de zona,
embalo e divertimento,
chega!,
sossegue o facho
que você agora
é senhora aqui do macho,
eu penso, acho e falo,
você cala e ouve,
e em outra fala
não se louve,
e se conforme
com regulamento e patente,
dona-de-casa,
e o uniforme não esqueça
na hora do batente,
tamanco, avental
e lenço branco na cabeça,
e o remova
somente na alcova
pra me esperar de baby-doll,
mas,
não mande brasa
enquanto eu não mandar,
e não adianta
fisionomia feia,
fossa, berreiro, rebeldia,
aqui nesse terreiro,
eu sou o tal,
o galo que canta,
almoça, janta e ceia,
espanta rival e desafeto,
debaixo desse teto,
canto
tanto de madrugada
ao chegar da boemia
quanto ao meio-dia
quando
me fatigo de sonhar,
e brigo e faço zorra
pra você saber
que mando na parada
e não ter coragem
de fofocar com a vizinha
e de botar bobagem na idéia,
porra!!!!!, Zé,
como é que é?!,
minha amada!,
só mais um minutinho,
já estou levando seu café
com geléia e pão quentinho!

quinta-feira, julho 17, 2008

Quando de través
olhei minha praça,
achei um freguês
que tinha bebido
um gole a mais
e estava dando mole,
aí,
superei os medos
no peito e na raça
e fiquei com seus anéis
e seus dedos deixei de lado
que ditado não desrespeito,
e fui meu herói mais uma vez,
aí,
como sói acontecer,
pra massa fui bandido,
“pega!”,
e como dói na hora
da vindita da massa,
aí,
embora
não seja mais criança,
peguei a correr rua acima
que cansa bem mais,
mas,
com “pega!” atrás,
ninguém pára
nem desanima,
e se extenua
o cara que grita,
aí,
fui em frente,
e já ia pra Niterói,
todavia,
não cruzei a Guanabara,
ao botar na barca o pé,
lembrei da mudança,
a gente não mora mais lá,
mora agora aqui
e atua nessa comarca,
aí,
subi com o butim
e voltei com o pó
pra mim e mais três
que somos um grude,
“um por todos,
todos por um”,
e vamos até
morrer juntos,
três defuntos
e mais um
num ataúde só!

sexta-feira, julho 11, 2008

Juro que vou à forra

Estou tão surpreso
de estar assim
que nem em mim
acredito mais,
aliás,
de tão aflito,
estou um horror!,
não estou medindo
esforço nem suor,
pior,
não estou ligando
pra montante
nem pra valor,
perdi o vezo de poupar
e dei de gastar sorrindo,
e paca e bastante
e a rodo e à beça,
e estou quase
ficando sem base,
e precisando de reforço
pra teso não ficar de todo,
me tornei um panaca,
e não sei
se vou sair ileso dessa,
mas,
não deixei
nem por um instante
de acalentar meu desforço,
ora essa, que fase!,
assim que te vi,
fiquei uma pilha,
aí,
por você,
cometi um crime:
virei a casaca na hora;
agora,
torço pelo time da família,
na lapela
pus a Cruz de Malta,
e como é bela!,
como salta!,
como brilha!,
e fico aceso
no dia do jogo
e a pressão fica alta,
é... paixão é fogo!,
o segundo encargo
foi perder peso,
puxa!,
uma ducha fria
que nem estava obeso,
mas,
fui fundo no regime,
passei
a beber café amargo
e a comer só
o que constava da pauta,
e deixei de ser franco
e acabei mentindo:
“não estou sentindo falta
nem de cerveja e goró!”;
em dia de branco,
levo ao bingo
sua titia materna e solteirona
que esbraveja e me humilha
que de materna
essa dona não tem nada,
e dessa safada
inda banco o vício,
e no afã
de bajular a irmã da sua tia,
vivo acendendo vela
e fazendo sacrifício e vigília,
e, no domingo,
madrugo,
mas,
me privo da pelada
e à igreja vou com ela,
em feriado prolongado,
faça chuva ou faça sol,
alugo carro,
pego a estrada
e vou a Tucunduva,
e vou como uma bala,
e sem escala,
e sua madrinha trago,
e pago tudo sozinho,
e vou e volto mudo,
atento à fala da dindinha,
na quarta,
marco mais um tento,
com seu sobrinho
vou ao futebol
que me amarro nele,
ele é um sarro...
é um esbarro aqui,
ali um cacete,
um chute acolá,
e sorvete, quitute, guaraná,
e o danado
se lambuza e farta
e ainda me acusa
de babaca e mão-de-vaca,
e por aí não finda não,
com seu pai escuto fado
noite após noite
e sem pausa nem fim,
e ai de mim
se deixar furo,
se precisar de ar puro
por causa do charuto,
seu irmão
é useiro e vezeiro
em pegar meu dinheiro
e nunca me paga,
e você nem liga,
e ainda me obriga
a ficar de bom humor,
sua cunhada é uma praga
na partida de buraco
e você amarela
quando olha pra ela,
e se molha e se borra,
e a batida não vê,
e dá o curingão
de mão beijada,
e ela bate, late
e torra o meu saco,
é duro tanto dissabor,
mulher,
mas,
quando eu puser
a mão no seu amor,
juro que vou à forra!,
e lhe dou uma dica,
vai ser berro,
ferro a carvão,
tanque, forno e fogão!,
de adorno,
escovão e espanador,
e da fubica
você vai ser
motor de arranque!

quinta-feira, julho 10, 2008

Adeus!

Você é louca,
mulher,
e sua loucura
é mais louca
do que eu supunha,
quando se assanha,
aventura não repudia,
pega à unha o que vier,
e abocanha,
e se entrega com tudo,
sem um pingo de pudor,
sem escudo nem retaguarda,
e não guarda
dia santo nem domingo,
e o delírio é tanto
que você se despenca
atrás de qualquer flor,
não diferença lírio de avenca
nem pensa nos seus
quando está despencando,
você é louca,
louca demais,
e de dentro pra fora,
e de fora pra dentro,
e não vou mais
ser sua escora,
adeus!

sexta-feira, julho 04, 2008

E o ensaio não finda

Você ensaia tanto
e quanto mais ensaia,
mais se apega,
se entrega
e se lança ao ensaio,
e não cansa nem sossega,
e o ensaio não finda,
quando pergunto
por que a estréia não vem,
com desdém,
você alega
que é cedo ainda,
e me preocupo
pensando no assunto,
e acho
que faço uma idéia
do porquê verdadeiro,
medo do fracasso,
da queixa da platéia,
o apupo e a vaia,
um medo ingente
que assusta, amola
e lastima muita gente,
e de saia justa
deixa muito macho,
mas,
andando
em cima da bola
fora do picadeiro
ensaio após ensaio,
você
está marcando passo,
se iludindo
hora após hora
e perdendo tempo
sem ter
tempo a perder,
e maio
já está indo embora!

sexta-feira, junho 27, 2008

Que de pomba tem feitio

O carioca da gema
nem por decreto tomba
e ao Rio é fiel
até debaixo d’água,
e não medra
com água de tromba
que chega ao teto
e arranha-céu afoga,
aquela tromba
que acompanha trovão
que provoca arrepio
até em coração de pedra,
agora,
carioca da gema
não rema contra vento e maré,
nessa situação,
desprega a vela ou pega jacaré,
e no momento do assalto
o carioca é ágil,
dialoga, conversa,
engambela o gajo
pra baixar o ágio,
e argumento tem paca,
mas,
não fala alto
nem adversa o ladrão,
e se cala quando é hora
que não é babaca
e com bala
não quer confusão,
o lema do carioca
é manter o timão na mão,
quer dizer, o Mengão,
e a barca em curso bom,
por isso,
não embarca
em ouriço e canoa furada,
nem se contamina
com discurso à-toa
de arauto do naufrágio
que se vacina
com piada e pilhéria,
carioca é assim,
brincalhão e risonho,
mas,
vá por mim,
frágil e pamonha
o carioca não é não,
se toca
com miséria e desdita
e levanta a grimpa,
se irrita
com lomba de vagabundo
que zomba do trabalho
e abarranca as águas do Rio,
o carioca é demais
e nas águas do Rio
vai fundo e garimpa,
esmiuça e fuça o cascalho
atrás do sonho que mais sonha,
a pepita branca
que de pomba tem feitio!

sexta-feira, junho 13, 2008

Flor da vida

Flor de ignorada semente
que na beira da calçada
de repente brota,
sua quota de sacrfício,
flor despetalada amiúde
de maneira estúpida
por algum passante,
flor cúpida e fragrante
por força do ofício,
ofício
por força da circunstância,
e fragrância forte e rude,
e diferente
pra cada sorte
de vício, de ânsia ou de prosa,
uma pra cada instante,
uma pra cada inquietude,
flor que se esgota
pétala a pétala,
nem margarida nem rosa,
flor da vida!

quinta-feira, junho 12, 2008

Saiba ventar

Vento apressado
do pomar
não leva bom fruto
e o lento leva o passado,
se quiser ser vento,
seja astuto
e saiba ventar,
não se descabele
nem se revele ventania
fora de hora e lugar,
e só cause avaria
em última instância,
e se não der pra evitar,
e cause
a menor que puder,
saiba ser vento,
pause e saiba calar
se de paz e calmaria
precisa o momento,
em janeiro,
saiba ser
aquela brisa
que venta
com constância
e o calor ameniza,
e saiba ser
o vento que avisa
e que venta
a toda brida
e com destemor
a vela engravida
e leva ao cais o veleiro
quando a tormenta está pra chegar!

É paixão?!

Que fogo na pele é esse
que não tem
reza que debele,
grito que amenize
nem reprise que apague?!,
que é capaz
de se valer de qualquer brecha
e de derreter qualquer marco?!,
que rogo da pele é esse
que não há zorrague
que faça calar?!,
que retesa mais que arco
pronto pra remessar flecha
e acertar ponto no infinito?!,
que faz barco largar o cais
e mergulhar em ressaca
sem vela nem remo?!,
que rogo?!,
que fogo é esse
que revela um ser
capaz de chegar ao extremo
de atacar com faca entre os dentes?!,
que em discrentes
é capaz de fazer nascer fé?!,
que desavergonha os mais inibidos
e os mais destemidos
faz tremer e pedir arrego?!,
que faz ficar risonha a criatura mais séria
e a mais acanhada abandonar a clausura?!,
que tira calma e sossego
e pelo avesso vira alma e coração?!,
e o preço
é não achar graça em mais nada
a não ser naquela figura
e até em pilhéria ruim contada por ela,
que queimação é essa
que teima em queimar
e que não passa
com ebó, oração e promessa?!,
que queimação é essa
que queima assim
e que só ela debela?!,
diga pra mim,
é paixão?!

terça-feira, junho 10, 2008

Festa assim não presta

Pode falar de mim,
pode falar
que está escrito
na minha testa
que sou drástico,
eu acato
que está escrito sim
que eu sou
quando trato deste assunto,
não topo festa
lotada de pivete,
seja novo e miúdo,
seja taludo e com topete,
aquele que se mete em tudo,
festa com cerveja morna
em copo de plástico,
e escoltada
por presunto deprimido
e ovo de codorna
abatido qual defunto,
e espetado num gambá
fantasiado de repolho,
e acompanhado
de molho cabeludo,
festa com croquete
carrancudo e rijo,
e o de queijo é chiclete,
festa em que não dá
pra achar conteúdo
em empada e pastel,
e o coquetel
pode ser xixi-de-anjo
ou mijo-de-querubim,
manjo de sobejo
esse tipo de festa,
pra mim,
não presta,
sendo assim,
evite me mandar convite,
agora,
se me convidar,
não tem problema,
no meu lugar,
vou mandar uma perua,
dona Moema,
a mãezinha da minha senhora,
ela adora conversar com a sua!

quarta-feira, junho 04, 2008

Estou feliz

Ninguém tem idéia
de como estou feliz,
estou tão feliz da vida!
que não rogo mais nada,
estou feliz
à maneira de guri
recém-saído da primeira
e já com a vista deitada no bis,
mais que artista
logo na estréia
pela platéia aplaudido
e aplaudido de pé,
mais feliz até
que torcida campeã
após a conquista do bi, do tri,
e no Maracanã, e no Morumbi,
estou feliz
como nunca estive,
estou feliz por todos nós,
mais feliz
que aquele cara
que vive de frozô
e não pára de rir
na capa da revista,
mais feliz
que vovô safadinho
que se esbalda
trocando fralda de netinho
entre as mãezinhas gostosinhas do Leblon,
tá muito bom,
tá bom demais,
estou mais feliz
que camelô
que dá um pique
e escapa do rapa
no meio da multidão,
mais feliz que bruega
de plantão em alambique,
mais feliz que ganhador
da Mega-Sena acumulada,
mais feliz que espanador
em mão de pequena fogosa,
estou mais feliz
que o sujeito feio e brega
que arranjou um jeito
de ganhar a Glória,
a morena
mais gostosa da parada,
mais feliz que sambista
após vitória na Sapucaí,
mais que o Lingote,
o sem pedigree que virou
mascote de açougueiro,
estou mais feliz
que turista estrangeiro
indo, vindo
e curtindo Copacabana
a preço de banana,
estou feliz sim,
feliz por mim,
por você, meu irmão,
por você, minha irmã,
feliz por toda a gente,
e mais feliz ainda
porque sei
que não mereço,
mas,
mesmo assim,
ganhei de presente
mais uma linda manhã!

segunda-feira, abril 28, 2008

Ela dá mole

Vêm o bole-bole,
a esmola e o gole de pinga,
e ela dá mole,
dança e entra pelo cano
e a lambança não breca
nem tira o seu da seringa,
de tão meiga,
de tão leiga e singela,
digere o que lhe dão,
minguado e graúdo,
caipira e urbano,
aguçado e rombudo,
cabeludo e careca,
e se fere e esfola
posto que tudo
engole sem manteiga
que o pão vem puro,
e vem duro e sem gosto,
e ao lado de média rala,
quando há!,
e olhe lá!,
sob o peso do arreio
e com o vezo da rédea,
se encolhe e se cala,
não reclama da desídia
daquela fada madrinha
que dela se esqueceu
e batizá-la não veio,
que perfídia com a coitada!,
e sozinha,
sem norte, sorte e memória,
sem um só sonho seu pra sonhar,
um só pra contar história,
ela só não desiste
porque assiste
a esporte e novela,
e na tela da tevê ela se vê,
e sonha o sonho
que a faz sonhar a mídia,
mas,
diante de assunto tão importante,
a mim
a todo instante pergunto:
vamos ser sempre assim?!

terça-feira, abril 22, 2008

Carteira assinada e alvará

Quando posso,
almoço rango de pensão
e à prestação é o pagamento
que não dá pra pagar à vista,
aí,
sai da lista o jantar
porque o cobertor é curto,
mas,
me sustento
com uma só refeição,
pra não ter surto
de dó de mim,
espanto
humor ruim e depressão
com canto e assobio
e sorrio quando me zango,
e não é receita
de nenhum doutor
que sou cabeça-feita,
a mesma cabeça
que minha senhora
põe a prêmio
quando me solto
pra pintar o sete
e caio na gandaia,
e me farto de cana
e saio atrás de rabo-de-saia
e acabo ficando fora
do grêmio conjugal
mais de uma semana,
e minha patroa
me mete o pau quando volto,
e não dá pra fazer nada
que a culpada
é a Dida Parteira
que esse nó me deu
ao gritar na hora do parto:
“será boa-vida
de carteira assinada
e boêmio com alvará
pra funcionar de madrugada,
e de madrugada só!”

segunda-feira, abril 14, 2008

Irmãs siamesas

Em distinta mesa,
a dama feérica,
a América notável,
saudável e de barriga cheia,
em mesa distinta,
sua irmã siamesa,
e ninguém me diga
que é impossível!,
e América
também se chama,
mas é ama
faminta, malsã e feia,
América que pranteia
a miséria e o desgosto
que em suas veias abriga,
é bem possível
que creia alguém
em pilhéria de mau gosto
de algum paralelo insano
ou de meridiano insensível,
ou em elo vital da corrente
inexplicavelmente
partido e perdido,
mas eu duvido,
creio que o mal
é essa gente
que tem o feio vezo
de se manter indiferente
que só desprezo alberga
e só enxerga seu umbigo,
ou de amigo, ou de parente!

quinta-feira, abril 10, 2008

Fogo de palha

Não há quem
na dela não entre,
também
não dá pra não entrar
que a menina é de amargar,
geme e arde,
treme que nem dançarina
na dança do ventre,
e de baixo pra cima
e de cima pra baixo,
avança e espreme o barbado,
e é bem mais espremeção
do qu’em vagão superlotado
de trem que sai às seis da tarde,
mas,
quando parece
que dessa vez vai,
que são favas contadas
brasa e fogo espalhado,
a danada
faz que se encabula,
a gula do coitado trava
com um berro,
e o cio dela
se esfria por completo
como se tivesse tomado
aquela ducha de água fria,
e o marmanjo se faz de anjo,
implora,
roga que ela relaxe,
e faz as juras de praxe,
aquelas juras...
você sabe...
só aqui... só ali...
é o que cabe nessa hora...
mas,
é malhar em ferro frio
que Amália mantém o veto
e pra casa a mula pica,
e o rapaz se arrasa
e ardendo em sua chama fica,
estou lhe dizendo,
a droga de jogo
que a Amália joga
se chama fogo de palha!

segunda-feira, abril 07, 2008

O que é que você quer mais?!

Por favor,
não se zangue,
sorria
pra tirar sarro
com a cara do cara
porque praga
não sarapanta
quando é rogada
por praguejador chinfrim,
é carro com bateria arriada
e carro assim se nega a pegar,
e empurrar não adianta nada,
ou, então,
é praga-bumerangue
que o praguejador solta,
vai e volta,
e pega no pai da praga;
por conseguinte,
meu ouvinte,
seja vivo
e não seja
motivo de pilhéria,
praga é matéria séria,
garanta já sua vaga
na Academia da Praga Moderna
e com o Mestre Lanterna se adestre,
mais dia, menos dia,
você dará à luz
seu dom de praguejar
e fará jus à fama
de praguejador-mor,
que sua praga
não vai ser trama à-toa,
vai ser boa
e vai dar bom nó
em seus pobres rivais,
e nó cego
pro seu ego massagear,
e o melhor,
você não vai gastar
lá tantos cobres
que a paga é uma balela,
por parcela,
cento e vinte reais
e cento e vinte parcelas só,
o que é que você quer mais?!

terça-feira, abril 01, 2008

Bloco do Sonho

Vai acabar a melancolia
que chegou o dia
do bloco que é porto
pra quem vem e quer ficar,
o bloco de todos vocês,
o bloco de todos nós,
o bloco
que não refuga componente
nem aluga voz,
passista ou batuqueiro
pois é de toda a gente,
não de dois ou três,
chegou o bloco
que não precisa
de mestre de bateria
que se agite, grite e apite
a torto e a direito
pra que ela se orquestre
com o molejo do traseiro
e o sacolejo do peito
da sambista popular
que a pista
é da mulher brasileira
que quer sambar,
e não precisa ser bela,
sambeira nem calipígia,
sequer precisa
ter aquela peitaria,
mas,
se tiver,
não precisa ser rija,
chegou o bloco
que não batiza ala
com nome metido
que tem feição de mote
que embala festinha de cafona
e cheiro de apelido de mascote
de dona cheia do dinheiro
que ao caviar tem aversão,
mas come pra se mostrar,
chegou o bloco
que não chateia
o pessoal da geral
com um samba feito
com o fito de ser confundido
com manual de produto
escrito de jeito
a não ser entendido
nem pelo bamba mais astuto,
chegou o bloco
que não veicula seu enredo
em sinopse patética
tal qual bula de remédio,
e, por cima,
antipoética
qual monopse e ludopédio
que acabei de descobrir
e usei aqui
pensando só na rima,
chegou o bloco
que, se preciso,
vai em frente
totalmente liso,
completamente teso,
mas,
preso a subvenção
a gente não sai não!,
chegou o bloco
que não se esconde,
que no bonde do samba
leva o folguedo Rio adentro
que não tem medo de nada,
e leva de cabo a rabo,
e sem perda,
sem perder o fio da meada,
que não descamba
pra direita, pra esquerda
e com o centro não se ajeita,
e, de onde em onde,
o bloco dá uma parada
pra moçada
regar a melodia
sem perder o pé
e tirar água do joelho
em latrina de espelunca,
nunca na calçada!
que a gente não é
de fazer feio,
de verter essa água
na frente de menina,
moça ou senhora,
nem de deixar
poça fedida no meio da avenida!,
chegou o bloco
que não tem conselho,
dono, patrono, presidente honorário,
que não precisa
de assistente, horário e lugar
que qualquer hora
é hora pra desfilar
e fazer do asfalto passarela
e nela pisar sem salto alto
e sem destaque com tapa-sexo
que não tapa tão bem assim
e, por fim, o sexo escapa,
chegou o bloco
com senso crítico
e infenso a complexo
e discriminação de cor e origem,
mas,
seara que não dá valor
a cara que se vangloria
de ser capa de revista,
craque, artista ou político,
que só o folião é necessário,
o operário do samba
que ama a folia
e não faz drama
nem tem vertigem
ao tocar o dia-a-dia desse barco,
chegou o bloco
que vai ser um marco
no fim da saudade
daqueles Carnavais
que não estão mais
no mapa da cidade,
chegou o bloco
que no coração
vai se concentrar
e aproveitar as brechas
pra atirar um enxame
de flechas musicais
com os Arcos da Lapa!,
e Bloco do Sonho
proponho que se chame!

quinta-feira, março 27, 2008

Casaca e colarinho branco

Ponha a casaca
que você virou
ao sabor do vento
primeiro que soprou,
e nem foi banzeiro,
a peste é opaca
que a cor é o destaque,
o pesado cinzento
de cerimônia, banquete
e bilhete premiado
em sorteio de araque
que nesse meio
niguém tem receio
de rabo-de-foguete,
e cubra seu rabo preso
com o da veste
rubra de vergonha,
esparrame essa colônia
de gabo e menosprezo
que você diz
que nem em camelô
quem é teso vê
porque veio de Paris,
e veio só pra você,
e derrame
o que mandar a madame,
o cheiro
não vai abafar
o fedor infame,
nem o seu nem o dela,
nem o odor
de trem e metrô lotado
ao cabo de um dia de calor,
e só o lembrar me arrepia,
mais uma vez,
esqueça cravado na lapela
o escudo cravejado de brilhantes
da Confraria “Só Pra Inglês Ver”
com uma divisa
que é um esculacho:
“Abaixo a patifaria
e o vale-tudo financeiro”;
antes,
porém,
é preciso
passar no banheiro
e escovar bem escovados
o penteado de vender
imagem na tevê
e o sorriso de fazer
escambos e malandragem,
fabricados ambos
com uns elegantes apliques
e alguns chiques implantes,
e ponto,
você está prontinho
pra mais estanco e sacanagem!,
pra ser franco,
não sei se pareço
ou se sou manco e tonto,
mas,
caladinho
vou tomando na cabeça,
ah...
quase esqueço,
não esqueça o colarinho branco!

quarta-feira, março 26, 2008

Pudim de pinga

Após o retrós,
é o andar que revela
perna desobediente
em percurso
de viradela e corcovo
a dar com o pau
que a calçada está viva,
é o ovo cozido e quente
metido na boca
que inferna voz e discurso,
o bafo do pinguço
é de marafo
e alvoroto estomacal,
de quando em quando,
soluço e arroto,
e não é pouca a saliva,
dá pra domar
incêndio em favela
sem pensar no dispêndio
que do rescaldo
o saldo dá conta,
e há sujeito
que sem alça
ninguém carrega,
há o durão
que não se rende,
nega o porre
e morre negando,
mas,
quando mija,
mija na calça ou no pé,
há até quem exija
respeito e consideração,
é claro que é dedução,
meu caro,
que não se entende
o que ele fala,
há o que vira garanhão
e o que desvira,
há o machão aspa-torta,
o que diz palavrão
de dedo em riste,
o sem medo de ser feliz,
o que entorna
e maldiz sua caspa
e se torna triste,
míngua e se cala
e necessita de porta-voz,
há o que vomita
e dormita caído no chão,
há o submisso
e o inconformado,
o endinheirado e o teso,
o graúdo e pesado
e o sem peso e miúdo,
há o ético contumaz
e o que se compraz
de não ter prurido,
e de todos o mais patético
que é um pouco disso tudo
e faz um pouco de tudo isso,
por fim,
o apelido
na ponta da língua
de todos nós:
pudim de pinga;
e o mais curioso,
quando um bebum
fica furioso
com outro bebum,
aponta pro outro
e se vinga
chamando o outro de pudim!,
enfim,
já vi de tudo,
mas,
agora fico por aqui
que tá na hora de molhar o bico!

terça-feira, março 25, 2008

Pior que sarna, ziquizira e micuim

Por que você
não desencarna de mim?,
por que você não dá o pira?,
não agüento mais
me coçar tanto assim!,
e a rapeira é diária,
asseguro que você
dá mais cafubira
que ziquizira, sarna e micuim,
o que você dardeja
dá coceira maior
que de frieira
urticária e brotoeja,
juro que você
é um problema pior
que oxiúro, eczema e pereba,
tenha dó,
loureba,
você não pára,
se assanha na caradura
e me dá mais chanha
que secreção de potó
e mordedura de caruara,
é já-começa à beça
e me importuna mais
que todas que já senti,
mais que a de contato
com formigueiro, pixica,
pó-de-mico, mucuna e cabixi,
é tão braba a safreira
que arde
e fico em carne viva
como se num braseiro
me tivesse metido,
e o prurido desse encarne
não acaba
nem quando me unto
com medicamento, ungüento
e me trato
com simpatia anticoceira,
nem quando junto os três
e faço tudo de uma vez,
e fico sem alternativa
e a me coçar
de manhã, de tarde e de noite
que o açoite dessa quipã
me dá até insônia,
e me coço em cafua,
no aconchego do lar,
mas,
também
não faço cerimônia,
posso me coçar
na rua e no emprego,
na cara de cliente e patrão,
pra dar vazão à maldita,
e me coço na frente de visita,
seja homem, mulher,
criança, mocinha ou ancião,
e me consomem
irritação e nervosia,
e me roço
onde der pra roçar
se der pra coçar
aonde não alcança minha mão,
credo!,
jereré,
vê se dá no pé e me alivia,
leve esse uredo
pra outra freguesia!

quarta-feira, março 19, 2008

Não desperdice

Não desperdice
o que não se disse,
quando alguém se cala
pode muito bem
estar falando bem mais,
aliás,
quem não fala
não faz firula
e com a palavra
não dissimula
o que lavra
em seu pensamento,
por conseguinte,
seja ouvinte atento,
saiba escutar o silêncio
de olhos bem abertos,
quando
o silêncio fala,
fala bem mais
que milhões
de falares vulgares
cobertos dos óleos
de escorregar e confundir
que o falar
cede a vetos e pressões,
cede a peçonhas,
vergonhas e medos,
mas,
nada impede
o silêncio de contar
os mais secretos segredos,
saiba ouvir,
nunca desperdice
o que não se disse!

terça-feira, março 18, 2008

Deu bode

Bola Seis era esperto,
useiro e vezeiro
em falar abracadabra
e ia dando certo,
e vivia cantarolando:
“só deita e rola quem pode!,
só quem pode deita e rola!”,
mas,
desta vez,
nem chegou perto
que deu bode no jogo
e pegou fogo o circo,
e deixou o hirco
pê da vida o cabra,
Bola Seis
ficou em pé de guerra
e esqueceu até
que bom cabrito não berra
e quis ganhar no grito,
deu um berro aqui,
outro berro ali,
mas,
como não é de ferro,
após um pito sob medida,
e pra não virar bola da vez,
a figura adotou
postura malandra,
baixou a voz
e culpou uma tal de cassandra
que ninguém sabe quem é,
se é mulher ou amiga,
nem se é
com minúscula ou maiúscula,
por fim,
rematou assim:
“em boca fechada,
meu camarada,
não entra mosca!”,
e alguém perguntou:
“mosca ou formiga?”;
por garantia,
Bola Seis fez figa
e gritou com fé:
“Aleluia! Aleluia!”,
e de mala e cuia
na estrada pôs o pé
pra escapar da ingresia
e foi tramar trapalhada
em outra freguesia,
e foi sem escala,
e foi como uma bala!

quinta-feira, março 13, 2008

Coisas do vernáculo

Foi decidido agora
pela tropa da seção
que vai haver serão
e quem não topa
não é bem visto,
isto posto,
querida,
embora a contragosto,
acabei dizendo sim
que aqui defendo nosso pão
e vou ter de ir à luta,
assim sendo,
meu bem,
se achar necessário
ficar puta da vida
e culpar alguém,
não ponha a culpa em mim,
culpe o dicionário,
se inflame e o chame
de receptáculo sem-vergonha
por ter sentido tão indecoroso,
mas,
está decidido,
hoje tem serão
e não tem hora pra acabar,
agora,
quando
a terna avó materna
da nossa filha
tiver aquele acesso de fúria
que a deixa babando
e der espetáculo
na frente da família,
e me chamar
de mentiroso indecente,
vou ser vigoroso,
vou responder à injúria
com queixa e processo
e a vovó
vou botar no xilindró,
coisas do vernáculo!,
meu bem!

sexta-feira, março 07, 2008

A mão que a gente não vê

Levante,
mulher,
que o dia
já vai indo adiante
e não posso ir
sem pão nem café,
espante preguiça e queixa
que noviça
você não é mais,
mulher,
você já devia saber
que a mão
que a gente não vê
não deixa o carrilhão
sossegar nem dormir,
aliás,
já devia saber
que uma fração do dia
é pista importante demais
pra quem sabe
que não pode perder
a vida de vista
sequer por um instante,
pra quem sabe
que viver é não perder
um instante de vida sequer,
levante e diga presente,
mas,
diga da boca pra dentro
e que a convicção
não seja pouca,
mulher,
e siga em frente,
rumo ao centro,
ao sumo da questão,
que o mais relevante
não está na superfície
e a velhice
pode não ser o melhor,
mas,
a opção pode ser bem pior!

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Nem em bruxa dá certo

Nunca vi feiticeira
dar bobeira
tão mole assim
e tão feliz com um nasal
que mais parece chafariz,
no botequim,
pra espanto geral,
deu o gole do santo
e com gosto pagou o trago
do pinguço pedinchão,
e lhe curou o soluço,
fez questão de derramar
pó errado no caldeirão
e, em vez
de poção indigesta,
fez pudim caramelado,
fez festa, afago
e amparou ancião
cansado da lavoura
que achou largado
em posto de saúde,
e, veja você,
perdeu brevê e vassoura
de uma vez só
que teve dó da velhinha
e tomou atitude,
parou em lugar proibido
e a cruzar a rua
ajudou a vovozinha,
pra completar,
bate de frente
com mago envolvido
em estrago e falcatrua,
ajuda com desvelo
gente miúda de orfanato,
não divulga fofoca
nem provoca boato,
não julga sem prova,
nem é de botar
a tesoura em ninguém,
e inova no ofício
que tem o vício
de fazer magia boa
e, em vez de uivo
e gargalhada sombria,
paz e amor apregoa animada,
puxa!,
já li folheto de bruxa
e não vi
desmazelo tamanho
nem no mais progessista,
mas,
pra ser franco,
também
nunca tinha posto a vista
em feiticeira
com cabeleira dessa cor!,
e o cabelo não é preto
nem branco nem ruivo nem castanho!

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Bloco Mete com Vontade

Num passe de magia,
você se planta
na minha frente
com classe de cabrocha
sobranceira e tranchã,
debocha sem medo
do amanhã de manhã,
patrão, refeição, moradia,
e a bandeira
do Mete com Vontade
levanta na marra,
saca dos quadris
farra e folia,
e me ataca e reboca,
e da maloca o bloco zarpa
levando
enredo e comunidade,
e cantando canção que diz
de cortar dobrado
e suado dia-a-dia
que a gente teima em teimar,
de impulsão em impulsão,
o bloco
arpa novo folião
e o povo cresce
e vai adiante,
e com fé
no chão escaldante
a gente queima o pé,
e o bloco sobe na raça
ladeira escarpada
e quem vem atrás
açula quem vai na frente,
e desce escarpa sem arruaça
que desce
em fileira organizada
e quem vai na frente
estimula quem vem atrás,
e dobra a esquina,
que segredo ela guarda?,
nos aguarda que destino?,
mas,
o bloco
não amarela nem desatina,
se recobra da guinada
na balada do hino
e faz o que lhe compete,
Mete com Vontade
o dedo na cara
de placa d’inauguração de hospital
que não tem nem estaca
e de colégio tombado por temporal
e desatenção de autoridade,
Mete com Vontade
o dedo na cara
de privilégio, vantagem e regalia,
e de propina e comissão
que vem de patifaria e ladroagem,
que o Mete com Vontade
encara caminho
de farpa, espinho, dificuldade,
mas,
não aceita treita,
esculacho
nem cambalacho,
e que se frise bem
pra que ninguém esqueça,
o Mete com Vontade
com baixa
se choca e deplora,
mas não se amedronta,
chora, afronta o luto
e toca a vida
de fronte erguida
que o Mete com Vontade
não abaixa a cabeça
nem debaixo
de marquise, ponte e viaduto.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Panamá tem serventia

Acho
que me achei
um bravo macho,
aí,
fiquei todo prosa
e resolvi bancar o vivo,
então,
driblei o cravo
e decidi passar
pelo crivo da rosa
debaixo de uma sacada,
mas,
minha atuação
não foi aprovada
que a chave não achei
nem bati na trave;
noutra ocasião,
em vez de palma
e favo de mel,
recebi uma glosa
da canção e do verso
e a alma ficou louca
com o travo perverso
que restou na boca,
incontroverso gosto de fel;
isto posto,
cabe falar
que o chapéu de palha
calha bem em mim,
inda bem!,
assim,
posso tirar o panamá
e homenagear
com o chapéu na mão
quem passou altivo
pelo crivo da rosa
e não ganhou glosa
do verso e da canção!

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

A folha e o carbono

Sob a folha
o carbono fiel:
estação vem e vai,
vai e vem estação,
vai o verão
e o outono vem e raia,
mas,
folha é vento,
sem sustento,
a folha cai,
e não há sob o céu
estação que vá
e não volte,
nem folha
que não se solte e caia,
e não adianta
poção já descoberta
nem alguém garantir
que há de surgir
santa poção
que há de adiantar,
quando acabar o verão
e o outono chegar,
na certa,
a folha há de cair!
que o carbono
é leal ao escrito
e o escrito
em cada folha é igual!

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Não manga do que devia

Não é legal mangar assim
qual você manga,
tal mangação é de amargar,
você manga na minha lata
do comprimento da manga
do meu paletó monocórdio,
do nó górdio
da minha gravata
que nem com cartilha
minha família desata,
manga de mim
em razão
do meu bobó de camarão
só porque não tem
camarão nem aipim,
manga
porque, na subseção
em que me asso pelo pão,
não passo de um mequetrefe,
o sub do sub do subchefe,
manga do meu clube
porque ele é o lanterninha,
manga sem dó do pobre chinó
que me emprestou a vizinha
e que me cobre o deserto capilar,
manga
da monofagia no meu lar
monossilábico de fato,
um aposento só
e só à farinha
o prato não tem alergia,
manga
porque sou de atamento
e vou embora
em latim ou arábico,
manga de mim
em dia que tem feira
e em dia que feira não tem,
e de janeiro a janeiro,
agora,
não manga do que devia,
do que dá pano pra mangas,
minha mangueira
que o ano inteiro
dá aquela fruta
que sua mullher deixa louca,
tão louca
que, a toda hora,
a fruta quer botar na boca!

Verbo solto

Se pensa que não é sério,
está enganado,
rapaz,
por conseguinte,
seja bom ouvinte
e me acate a sugestão,
trate de guardar
bem guardado,
e não abuse ao usar,
use com critério
e somente
na devida ocasião,
não o solte jamais,
tenha cuidado
com bebida,
euforia imensa,
emoção em demasia,
discussão,
mesmo que não seja tensa,
e o escolte sempre
cem por cento atento,
não deixe
o verbo correr solto,
verbo solto é mar
e o mar pode ser violento,
e mar violento não respeita
medida nem contenção,
mar revolto pode afogar
ou deixar miséria
ou uma séria ferida,
ferida que supura,
não aceita sutura
e cicatrização rejeita,
e pode doer a dor
por toda uma vida
se for um amigo,
um irmão,
um amor arrasado,
ou se o ganho
for alguém estranho
que virou um inimigo danado,
tenha tento
pra não deixar
o verbo correr solto,
verbo solto é mar
e o mar pode ser violento!

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Não era seu dia de sorte

Era dia de boemia
e mais um dia
de vai-da-valsa,
aliás,
todo dia era dia
que o rapaz
não fazia distinção,
botou camisa de fazer vista
sem espalhafato
e calça de feito e conquista,
calçou sapato
de quem sabe onde pisa
e desliza bem,
independente de dama e salão,
depois,
pôs o panamá
de fama e respeito,
por fim,
caprichou no extrato
que fazia brotinho
brotar em seus braços,
e fez os passos
de pegar bonde andando
e foi pegar,
que sujeito assim
não é tonto de ficar
no ponto esperando,
e pousou no estribo
tal qual passarinho,
e não deu estribo
ao seu condutor
que nem insistiu,
e seguiu seu caminho
ao léu do vento
de abrandar calor
sem revoltar cabeleira
que seu chapéu
não era de brincadeira,
na Galeria Cruzeiro,
não queria,
mas,
não era seu dia de sorte
e ficou diante
do desespero do Bento
de quem Iara roubara,
companheira e amante,
e a capoeira
não venceu a garrucha,
o estrebucho se deu
e na bucha veio a morte
com feio ferimento no bucho!

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Uma tal de dama da van

Você apronta sem acanho
e bem além da conta,
depois,
quando estamos sós,
só nós dois,
chora de soluço e solavanco,
de ranho encharcar o buço
e pingar no chão,
perdão implora rasgando blusa
que você não usa sutiã,
e faz jura beijando a cruz,
fura-bolo com fura-bolo,
jurando
que a jura não é vã,
e eu me comovo
com tanta emoção
e de novo banco avestruz,
e te perdôo mais uma vez,
mas,
assim que anoitece,
você esquece que fez
mais uma jura pra mim,
se solta e levanta vôo,
sai à procura de festa,
e da refrega só volta
quando amanhece,
e o pessoal esfrega
a mão na testa
quando me vê,
e comenta
de uma reputação
que na lama chafurda,
e me atormenta
falando de uma fã
d’A Dama do Lotação,
uma tal
de dama da van,
mas,
você que verseja
e apregoa
que paixão é assim,
surda e cega,
me diga:
por que
você graceja
e até me fustiga,
pega no meu pé
e caçoa de mim,
por quê?!

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Água!

Água de fonte boa,
fonte boa de água
que pela serra
não escorre à toa,
escorre
pra saciar tua sede,
escorre
pra regar o cio da natureza,
o da terra,
o do rio,
o do mar,
corre pra te dar certeza
de que tua luta
não vai ser vã,
que amanhã
a fruta tua mão vai colher,
e vai nascer o peixe,
peixe
que em tua rede
vai se aninhar,
água que corre
pra refrescar
teu corpo suado,
cansado de trabalhar,
água boa da fonte
que surge
na cima do monte
se anima
e escorre transparente,
e corre pra toda a gente,
urge vigiar,
não fique à aguarda
de alguém
que guarda monte,
monte você,
e monte já,
não deixe a água acabar!

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Oração pelo Rio

Cidade linda,
mas,
tem capitanias
e a crueldade
dos piores capitães-mores
e seus melhores cães de guarda,
e maiores, e menores,
tem águas turvas e avanias
nas curvas das suas águas,
meu Rio,
o que mais te aguarda ainda?,
mas,
apesar do risco,
do meu Rio não desisto,
luto e não reluto em rezar muitíssimo,
meu Cristo Redentor,
Santíssimo, Santo Cristo, Santa Cruz,
por favor,
ouvi-me a prece,
Piedade! Piedade! Piedade!
que por todos os cantos
a cidade carece tanto de luz,
Todos os Santos,
Santa Tereza, São Conrado,
São Cristóvão, São Francisco Xavier,
tenho certeza
que estarão ao lado de São Sebastião,
que ajudarão o padroeiro
a ter Paciência pra cuidar de seu mister,
resgatar São Sebastião do Rio de Janeiro,
Padre Miguel,
com sua suprema devoção,
ao Céu implore
clemência e Água Santa,
e tanta
que dê pra benzer o Rio
de janeiro a janeiro,
e que a bença não demore,
senão,
em vez de bença,
há de ser extrema-unção!
posto
que o Rio
anda tenso e violento
e a qualquer momento
de mala e cuia
pra Cacuia o Rio vai,
e vai de bala
ou vai de desgosto imenso!

terça-feira, janeiro 29, 2008

Severina, não chore por mim!

Minha gente,
a pista está tão quente
e o clima
tão dantesco e sinistro
que nem a ministro e artista
estão dando refresco,
e, por cima,
já li até
que ladrão roubou ladrão
e não roubou
pelos cem anos de perdão,
do jeito que está,
meu bem,
supeito
que não dá mais pé,
não dá mais
pra ficar por aqui,
estou à beira
de tomar providência,
qualquer diligência,
de preferência,
a primeira que vier,
mas,
não vou dizer
que não gostaria
de ir de avião,
gostaria sim,
não vou
por uma razão,
não quero mais saber
de apertar o cinto;
sinto muito,
muito mesmo,
mas,
estou de partida;
Severina,
não chore por mim,
senão,
de arrependimento morro,
todavia,
vou mesmo assim,
mas volto já,
volto no dia
que o sargento Garcia
botar as mãos no Zorro;
Severina querida,
até por lá!

Não sei dizer

O bicho
segue pegando
que não sossega
nem se entrega
e ninguém consegue
pegar o bicho.
O bicho vai pegar
até quando?!
E bicho
há aos molhos,
e não alivia,
pega de dia,
pega de noite,
e salta aos olhos
que não falta
quem acoite o bicho,
parece moda
e moda
que anda em alta!
Por quê?
Não sei dizer.
Sei só
que o bicho
a indefesa prefere
quando da presa
vai à cata,
e não tem dó,
morde, fere, mata!
Sei que o bicho
agora é nobre,
não é mais pobre
como o bicho de outrora,
virou barão
e mora como um lorde!
Acorde,
meu povão,
telefone,
bote a boca no trombone,
faça alarde,
e faça
antes que seja tarde,
antes que seja muito tarde!

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Você conhece alguém assim?!

Não se deixe enganar
por esse boa-pinta
com jeito
de pessoa legal e distinta,
vai por mim,
se se deixar,
depois não se queixe,
não foi à toa
que esse sujeito
com a fama ruim
se deitou na cama,
ele é o tal
que segue à risca
o manual da boa bisca,
se há chance de ganho,
parte e faz o lance,
e dá um banho
na arte de ser safado,
e dá
até que do pobre
não sobre mais nada,
coitado de quem cai
em sua armadilha
que ele é capaz
de qualquer empreitada,
e, por cima,
não estima ninguém
e com o bem
não tem compromisso,
vai por mim,
pra obter o que quer,
esse filho-da-mãe
é capaz de leiloar pai e filho,
de rifar mãe, filha e mulher!,
por falar nisso,
você conhece alguém assim?!

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Indo e vindo (Grão de feijão preto retinto no breu e caído em chão escuro)

Grão de feijão no breu,
e grão de feijão preto,
e de feijão preto retinto,
e caído em chão escuro,
eu não minto
quando juro que não vejo
nem com vela ou lampejo,
e duvido que alguém veja,
mas,
apesar do negrume,
o queichume que ouço
me enseja
afirmar que a vaca
está indo pro brejo,
e não é privilégio dela
porque,
salvo erro
de um sujeito
calvo como eu,
já foi boi,
já foi novilho paca,
bezerro inda bem moço,
que não tem futuro
filho subnutrido
e sem colégio
e o jeito
é ir atrás do boi
que já foi atrás da vaca,
que maravilha!,
a família reunida
e a vida
curtindo no brejo,
indo e vindo
que esse direito
está garantido!,
mas,
o vai-e-vem é a pé
que o tutu da condução
com esse grão feito também é!

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Bicho, você pirou!

Bicho,
que tal
pegar meu Fusca,
dar um rolé por aí
e deixar as minas
na maior fissura?!,
vai ser legal!,
como é?!,
bicho,
acho que não ouvi...
isso é loucura?!,
é isso?!,
não vi a mudança
e a mudança
nem foi lá tão brusca?!,
deram sumiço nas minas?!,
não se dá mais rolé?!,
não dá pra zerar
o hodômetro do meu Fusca?!,
passou a vida?!,
é isso?!,
bicho,
você ficou louco?!,
quero um termômetro
pra medir tua temperatura...
faz pouco
comprei o Fusca
e comprei zero-quilômetro!,
zerinho!,
bicho,
você pirou!,
vou dar um rolé por aí
com meu Fusca
e vou deixar as minas
na maior fissura,
e vou sozinho
se você não quiser ir!,
vai ser o fino!
e vou ver até
corrida de submarino!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

"Jogo feito!"

“Façam jogo!”,
“façam jogo!”,
é o forte refrão
que o crupiê repete
e repete até dizer:
“jogo feito!”,
e rola a roleta
e a bola solta,
então,
o jeito é torcer,
eta! sorte!,
eta! confusão
de preto e vermelho!,
mas,
volta a volta,
a confusão se desfaz,
uma cor vai vencer,
e grita o crupiê:
“deu vermelho!”,
“deu preto!”,
e o ganhador
se agita e festeja,
e o perdedor
sua sorte deplora,
faz jura e pragueja,
mas não se cura,
perder é do jogo!,
mas,
ganhar é também
e o jogador acredita,
tem fé,
mais hora, menos hora,
a dita vem
e vai bafejar sua jogada,
o jogador é o jogo
e do jogo só sai fora
quando pra jogar
não tem mais nada!

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Coragem de não ter receio da saudade!

Um dia,
o impasse,
fiquei cara a cara
com a outra face,
foto 3x4
em preto e branco
que a três por dois
pegava, mostrava,
olhava e não via,
depois,
veio o terromoto,
e levei o tranco,
e tremeu o meu coreto,
e fiz aquele teatro,
e cheguei a pedir
um patético bis
e repeti a cena
cheio de pena de mim,
mas,
quando o final
em definitivo
decúbito dorsal
parecia a saída,
um motivo
súbito e hermético
foi iodo pra ferida!,
ardeu,
mas,
à canseira deu um fim!,
aí,
entre
realidade e identidade,
me decidi
pela foto da carteira
e consegui o passe!,
e a pose e a classe
de todo não perdi!,
agora,
a toda hora
na foto dou um close,
a três por dois
curto em 3x4 a mocidade,
e não creio mais nessa bobagem
de que é mais um surto de doideira,
é coragem!,
coragem de verdade!,
coragem de não ter receio da saudade!

sexta-feira, janeiro 04, 2008

O amor veio numa taça!

Não há nada que me faça
desmanchar a mancha
da camisa de linho,
mancha do vinho
que caiu da sua taça,
não há nada!,
querida,
é lembrança
do dia mais feliz
da minha vida,
lembrança do dia
em que te conheci
e me senti um principiante
sem cancha nem currículo
diante de você,
um ridículo aprendiz
perdido no caminho da paixão
que bancava o romeu
e tentava chamar sua atenção,
mas,
o vinho caiu na camisa,
eu vi e você me viu,
consegui seu olhar e seu sorriso,
e senti sua mão me tocar
à guisa de pedido de perdão,
e nem era preciso,
o devaneio começou ali,
portanto,
querida,
nada faça,
deixe guardada
lá naquele canto
a camisa manchada,
ela vai testemunhar
a meu favor
quando eu falar:
o amor veio numa taça!

quinta-feira, janeiro 03, 2008

O maior otário da praça (Qualquer semelhança é mera coincidência)

Você é convencido
e metido a malandro,
mas,
que malandro é esse,
meu irmão,
que já dançou
na mão de inocente
e de cliente de berçário
tomou volta?!,
vê-se
que você é otário
e me dá
uma revolta danada
ver um otário como você
sair por aí sem escolta,
um otário
que recebe barbada
e recebe várias,
e barbadas diárias,
mesmo
quando não há corrida,
e todas
do mesmo cara,
e pro mesmo páreo,
e joga em todas
feliz da vida,
e pede bis,
e se ferra,
e por aí não pára,
vai em frente,
xinga e berra
pra toda a gente
tomar ciência da mancada,
e, sem pausa,
se afoga na pinga malvada,
aí,
por causa
da ardência e do soluço,
ginga
tal qual o pinguço da piada,
pensa,
meu camarada,
ignorar é besteira,
qualquer otário menor te logra,
te passa pra trás,
você
é o maior otário da praça,
aliás,
otário
diplomado pela cunhada,
carteira assinada pela sogra
e atestado
passado pela mulher
com a bença dos teus pais!,
o que é que você quer mais?!

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Menina, eu juro!

Menina,
você nem imagina
o que sou capaz
de fazer por você,
danço qualquer dança,
danço a dança
que você quiser
e não me canso de dançar,
por você,
menina,
sou capaz
de perder o apego
por esquina e boemia,
de largar a folia
e de botar aliança no dedo,
sou capaz
de acordar cedo
pra dar nó na gravata,
me enfiar no paletó
e sair por aí
à cata de emprego,
por você,
menina,
lavo, passo, cozinho,
corto, alinhavo e costuro,
e suporto o programa
que você quiser ver na tevê,
e quietinho,
caladinho,
sem drama nem confusão,
enfim,
menina,
eu juro
me tornar seu escravo
e a mão
pode botar
no fogo por mim,
sendo assim,
pra que fazer jogo duro?!

E de boa intenção o inferno está cheio!

Vamos lá,
vamos jogar
com nosso jogo de cintura
e tacar fogo nesse dia morno,
vamos botar o passo
no compasso da folia,
passar o cordão
em torno da cidade
e dar um laço
com a cor dessa raça
que sensualidade
e sabor tem de sobra
por obra e graça da mistura,
vamos lá,
vamos mostrar a quem
da missa não sabe a metade
a flor bela e mestiça
que brotou
na lapela do nosso tropical,
e brotou
de maneira bem natural,
e prescindiu de outras leis,
pra quem não sabe,
eis a explicação:
amor, gravidez e parto,
o mais é besteira ou coisa à-toa,
e, por favor,
de besteira e coisa à-toa
o Brasil já está farto!
vamos lá,
vamos acabar com a precisão,
mas,
meu amigo,
e lhe digo
com o mais fraterno respeito,
suspeito
que você não saiba
ou, caso saiba,
receio
que você não saiba bem:
a necessidade é incolor!
e a maldade é incolor também!,
e de boa intenção o inferno está cheio!