terça-feira, abril 22, 2008

Carteira assinada e alvará

Quando posso,
almoço rango de pensão
e à prestação é o pagamento
que não dá pra pagar à vista,
aí,
sai da lista o jantar
porque o cobertor é curto,
mas,
me sustento
com uma só refeição,
pra não ter surto
de dó de mim,
espanto
humor ruim e depressão
com canto e assobio
e sorrio quando me zango,
e não é receita
de nenhum doutor
que sou cabeça-feita,
a mesma cabeça
que minha senhora
põe a prêmio
quando me solto
pra pintar o sete
e caio na gandaia,
e me farto de cana
e saio atrás de rabo-de-saia
e acabo ficando fora
do grêmio conjugal
mais de uma semana,
e minha patroa
me mete o pau quando volto,
e não dá pra fazer nada
que a culpada
é a Dida Parteira
que esse nó me deu
ao gritar na hora do parto:
“será boa-vida
de carteira assinada
e boêmio com alvará
pra funcionar de madrugada,
e de madrugada só!”