terça-feira, abril 01, 2008

Bloco do Sonho

Vai acabar a melancolia
que chegou o dia
do bloco que é porto
pra quem vem e quer ficar,
o bloco de todos vocês,
o bloco de todos nós,
o bloco
que não refuga componente
nem aluga voz,
passista ou batuqueiro
pois é de toda a gente,
não de dois ou três,
chegou o bloco
que não precisa
de mestre de bateria
que se agite, grite e apite
a torto e a direito
pra que ela se orquestre
com o molejo do traseiro
e o sacolejo do peito
da sambista popular
que a pista
é da mulher brasileira
que quer sambar,
e não precisa ser bela,
sambeira nem calipígia,
sequer precisa
ter aquela peitaria,
mas,
se tiver,
não precisa ser rija,
chegou o bloco
que não batiza ala
com nome metido
que tem feição de mote
que embala festinha de cafona
e cheiro de apelido de mascote
de dona cheia do dinheiro
que ao caviar tem aversão,
mas come pra se mostrar,
chegou o bloco
que não chateia
o pessoal da geral
com um samba feito
com o fito de ser confundido
com manual de produto
escrito de jeito
a não ser entendido
nem pelo bamba mais astuto,
chegou o bloco
que não veicula seu enredo
em sinopse patética
tal qual bula de remédio,
e, por cima,
antipoética
qual monopse e ludopédio
que acabei de descobrir
e usei aqui
pensando só na rima,
chegou o bloco
que, se preciso,
vai em frente
totalmente liso,
completamente teso,
mas,
preso a subvenção
a gente não sai não!,
chegou o bloco
que não se esconde,
que no bonde do samba
leva o folguedo Rio adentro
que não tem medo de nada,
e leva de cabo a rabo,
e sem perda,
sem perder o fio da meada,
que não descamba
pra direita, pra esquerda
e com o centro não se ajeita,
e, de onde em onde,
o bloco dá uma parada
pra moçada
regar a melodia
sem perder o pé
e tirar água do joelho
em latrina de espelunca,
nunca na calçada!
que a gente não é
de fazer feio,
de verter essa água
na frente de menina,
moça ou senhora,
nem de deixar
poça fedida no meio da avenida!,
chegou o bloco
que não tem conselho,
dono, patrono, presidente honorário,
que não precisa
de assistente, horário e lugar
que qualquer hora
é hora pra desfilar
e fazer do asfalto passarela
e nela pisar sem salto alto
e sem destaque com tapa-sexo
que não tapa tão bem assim
e, por fim, o sexo escapa,
chegou o bloco
com senso crítico
e infenso a complexo
e discriminação de cor e origem,
mas,
seara que não dá valor
a cara que se vangloria
de ser capa de revista,
craque, artista ou político,
que só o folião é necessário,
o operário do samba
que ama a folia
e não faz drama
nem tem vertigem
ao tocar o dia-a-dia desse barco,
chegou o bloco
que vai ser um marco
no fim da saudade
daqueles Carnavais
que não estão mais
no mapa da cidade,
chegou o bloco
que no coração
vai se concentrar
e aproveitar as brechas
pra atirar um enxame
de flechas musicais
com os Arcos da Lapa!,
e Bloco do Sonho
proponho que se chame!