terça-feira, janeiro 29, 2008

Severina, não chore por mim!

Minha gente,
a pista está tão quente
e o clima
tão dantesco e sinistro
que nem a ministro e artista
estão dando refresco,
e, por cima,
já li até
que ladrão roubou ladrão
e não roubou
pelos cem anos de perdão,
do jeito que está,
meu bem,
supeito
que não dá mais pé,
não dá mais
pra ficar por aqui,
estou à beira
de tomar providência,
qualquer diligência,
de preferência,
a primeira que vier,
mas,
não vou dizer
que não gostaria
de ir de avião,
gostaria sim,
não vou
por uma razão,
não quero mais saber
de apertar o cinto;
sinto muito,
muito mesmo,
mas,
estou de partida;
Severina,
não chore por mim,
senão,
de arrependimento morro,
todavia,
vou mesmo assim,
mas volto já,
volto no dia
que o sargento Garcia
botar as mãos no Zorro;
Severina querida,
até por lá!

Não sei dizer

O bicho
segue pegando
que não sossega
nem se entrega
e ninguém consegue
pegar o bicho.
O bicho vai pegar
até quando?!
E bicho
há aos molhos,
e não alivia,
pega de dia,
pega de noite,
e salta aos olhos
que não falta
quem acoite o bicho,
parece moda
e moda
que anda em alta!
Por quê?
Não sei dizer.
Sei só
que o bicho
a indefesa prefere
quando da presa
vai à cata,
e não tem dó,
morde, fere, mata!
Sei que o bicho
agora é nobre,
não é mais pobre
como o bicho de outrora,
virou barão
e mora como um lorde!
Acorde,
meu povão,
telefone,
bote a boca no trombone,
faça alarde,
e faça
antes que seja tarde,
antes que seja muito tarde!

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Você conhece alguém assim?!

Não se deixe enganar
por esse boa-pinta
com jeito
de pessoa legal e distinta,
vai por mim,
se se deixar,
depois não se queixe,
não foi à toa
que esse sujeito
com a fama ruim
se deitou na cama,
ele é o tal
que segue à risca
o manual da boa bisca,
se há chance de ganho,
parte e faz o lance,
e dá um banho
na arte de ser safado,
e dá
até que do pobre
não sobre mais nada,
coitado de quem cai
em sua armadilha
que ele é capaz
de qualquer empreitada,
e, por cima,
não estima ninguém
e com o bem
não tem compromisso,
vai por mim,
pra obter o que quer,
esse filho-da-mãe
é capaz de leiloar pai e filho,
de rifar mãe, filha e mulher!,
por falar nisso,
você conhece alguém assim?!

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Indo e vindo (Grão de feijão preto retinto no breu e caído em chão escuro)

Grão de feijão no breu,
e grão de feijão preto,
e de feijão preto retinto,
e caído em chão escuro,
eu não minto
quando juro que não vejo
nem com vela ou lampejo,
e duvido que alguém veja,
mas,
apesar do negrume,
o queichume que ouço
me enseja
afirmar que a vaca
está indo pro brejo,
e não é privilégio dela
porque,
salvo erro
de um sujeito
calvo como eu,
já foi boi,
já foi novilho paca,
bezerro inda bem moço,
que não tem futuro
filho subnutrido
e sem colégio
e o jeito
é ir atrás do boi
que já foi atrás da vaca,
que maravilha!,
a família reunida
e a vida
curtindo no brejo,
indo e vindo
que esse direito
está garantido!,
mas,
o vai-e-vem é a pé
que o tutu da condução
com esse grão feito também é!

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Bicho, você pirou!

Bicho,
que tal
pegar meu Fusca,
dar um rolé por aí
e deixar as minas
na maior fissura?!,
vai ser legal!,
como é?!,
bicho,
acho que não ouvi...
isso é loucura?!,
é isso?!,
não vi a mudança
e a mudança
nem foi lá tão brusca?!,
deram sumiço nas minas?!,
não se dá mais rolé?!,
não dá pra zerar
o hodômetro do meu Fusca?!,
passou a vida?!,
é isso?!,
bicho,
você ficou louco?!,
quero um termômetro
pra medir tua temperatura...
faz pouco
comprei o Fusca
e comprei zero-quilômetro!,
zerinho!,
bicho,
você pirou!,
vou dar um rolé por aí
com meu Fusca
e vou deixar as minas
na maior fissura,
e vou sozinho
se você não quiser ir!,
vai ser o fino!
e vou ver até
corrida de submarino!

sexta-feira, janeiro 11, 2008

"Jogo feito!"

“Façam jogo!”,
“façam jogo!”,
é o forte refrão
que o crupiê repete
e repete até dizer:
“jogo feito!”,
e rola a roleta
e a bola solta,
então,
o jeito é torcer,
eta! sorte!,
eta! confusão
de preto e vermelho!,
mas,
volta a volta,
a confusão se desfaz,
uma cor vai vencer,
e grita o crupiê:
“deu vermelho!”,
“deu preto!”,
e o ganhador
se agita e festeja,
e o perdedor
sua sorte deplora,
faz jura e pragueja,
mas não se cura,
perder é do jogo!,
mas,
ganhar é também
e o jogador acredita,
tem fé,
mais hora, menos hora,
a dita vem
e vai bafejar sua jogada,
o jogador é o jogo
e do jogo só sai fora
quando pra jogar
não tem mais nada!

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Coragem de não ter receio da saudade!

Um dia,
o impasse,
fiquei cara a cara
com a outra face,
foto 3x4
em preto e branco
que a três por dois
pegava, mostrava,
olhava e não via,
depois,
veio o terromoto,
e levei o tranco,
e tremeu o meu coreto,
e fiz aquele teatro,
e cheguei a pedir
um patético bis
e repeti a cena
cheio de pena de mim,
mas,
quando o final
em definitivo
decúbito dorsal
parecia a saída,
um motivo
súbito e hermético
foi iodo pra ferida!,
ardeu,
mas,
à canseira deu um fim!,
aí,
entre
realidade e identidade,
me decidi
pela foto da carteira
e consegui o passe!,
e a pose e a classe
de todo não perdi!,
agora,
a toda hora
na foto dou um close,
a três por dois
curto em 3x4 a mocidade,
e não creio mais nessa bobagem
de que é mais um surto de doideira,
é coragem!,
coragem de verdade!,
coragem de não ter receio da saudade!

sexta-feira, janeiro 04, 2008

O amor veio numa taça!

Não há nada que me faça
desmanchar a mancha
da camisa de linho,
mancha do vinho
que caiu da sua taça,
não há nada!,
querida,
é lembrança
do dia mais feliz
da minha vida,
lembrança do dia
em que te conheci
e me senti um principiante
sem cancha nem currículo
diante de você,
um ridículo aprendiz
perdido no caminho da paixão
que bancava o romeu
e tentava chamar sua atenção,
mas,
o vinho caiu na camisa,
eu vi e você me viu,
consegui seu olhar e seu sorriso,
e senti sua mão me tocar
à guisa de pedido de perdão,
e nem era preciso,
o devaneio começou ali,
portanto,
querida,
nada faça,
deixe guardada
lá naquele canto
a camisa manchada,
ela vai testemunhar
a meu favor
quando eu falar:
o amor veio numa taça!

quinta-feira, janeiro 03, 2008

O maior otário da praça (Qualquer semelhança é mera coincidência)

Você é convencido
e metido a malandro,
mas,
que malandro é esse,
meu irmão,
que já dançou
na mão de inocente
e de cliente de berçário
tomou volta?!,
vê-se
que você é otário
e me dá
uma revolta danada
ver um otário como você
sair por aí sem escolta,
um otário
que recebe barbada
e recebe várias,
e barbadas diárias,
mesmo
quando não há corrida,
e todas
do mesmo cara,
e pro mesmo páreo,
e joga em todas
feliz da vida,
e pede bis,
e se ferra,
e por aí não pára,
vai em frente,
xinga e berra
pra toda a gente
tomar ciência da mancada,
e, sem pausa,
se afoga na pinga malvada,
aí,
por causa
da ardência e do soluço,
ginga
tal qual o pinguço da piada,
pensa,
meu camarada,
ignorar é besteira,
qualquer otário menor te logra,
te passa pra trás,
você
é o maior otário da praça,
aliás,
otário
diplomado pela cunhada,
carteira assinada pela sogra
e atestado
passado pela mulher
com a bença dos teus pais!,
o que é que você quer mais?!

quarta-feira, janeiro 02, 2008

Menina, eu juro!

Menina,
você nem imagina
o que sou capaz
de fazer por você,
danço qualquer dança,
danço a dança
que você quiser
e não me canso de dançar,
por você,
menina,
sou capaz
de perder o apego
por esquina e boemia,
de largar a folia
e de botar aliança no dedo,
sou capaz
de acordar cedo
pra dar nó na gravata,
me enfiar no paletó
e sair por aí
à cata de emprego,
por você,
menina,
lavo, passo, cozinho,
corto, alinhavo e costuro,
e suporto o programa
que você quiser ver na tevê,
e quietinho,
caladinho,
sem drama nem confusão,
enfim,
menina,
eu juro
me tornar seu escravo
e a mão
pode botar
no fogo por mim,
sendo assim,
pra que fazer jogo duro?!

E de boa intenção o inferno está cheio!

Vamos lá,
vamos jogar
com nosso jogo de cintura
e tacar fogo nesse dia morno,
vamos botar o passo
no compasso da folia,
passar o cordão
em torno da cidade
e dar um laço
com a cor dessa raça
que sensualidade
e sabor tem de sobra
por obra e graça da mistura,
vamos lá,
vamos mostrar a quem
da missa não sabe a metade
a flor bela e mestiça
que brotou
na lapela do nosso tropical,
e brotou
de maneira bem natural,
e prescindiu de outras leis,
pra quem não sabe,
eis a explicação:
amor, gravidez e parto,
o mais é besteira ou coisa à-toa,
e, por favor,
de besteira e coisa à-toa
o Brasil já está farto!
vamos lá,
vamos acabar com a precisão,
mas,
meu amigo,
e lhe digo
com o mais fraterno respeito,
suspeito
que você não saiba
ou, caso saiba,
receio
que você não saiba bem:
a necessidade é incolor!
e a maldade é incolor também!,
e de boa intenção o inferno está cheio!