quarta-feira, maio 31, 2006

Prezado Senhor Ladrão

Prezado Senhor Ladrão,
atire,
mas,
se vire pra mirar em mim
e errar o alvo,
assim,
o senhor cumprirá
seu relevante papel
e não mandará
um ser insigificante pro beleléu,
juro que não é
egoísmo mal disfarçado,
é patriotismo puro,
Senhor Ladrão,
que me preservar
é essencial
pra preservação do mercado,
caso eu escape são e salvo
do assalto presente,
o senhor vai poder ir em frente
que vai ter alguém
pra assaltar amanhã
na mesma hora e no mesmo local,
portanto,
não seja afoito,
nem me atrase também,
Senhor Ladrão,
já são quase oito da manhã,
se eu chegar atrasado,
nos põe na rua meu patrão,
por outro lado,
apesar de ser injusto
exigi-la do senhor
já que, na qualidade
de profissional neoliberal,
não pode incluí-la
no seu custo operacional,
soube que o Senhor
ainda não pagou
sua contribuição marginal,
por favor,
entenda
que minha assertiva
nada tem de pessoal,
mas,
se o senhor não contribuir,
não terá inscrição
nem carteira de Ladrão
e não poderei deduzir
no meu imposto de renda
minha colaboração em real,
cheque, jóia, auto, cartão e celular,
e o mais que o senhor
quiser pegar!,
aliás,
contribuição
que me enche de alegria
e de vaidade como cidadão,
posto que eu não passe
de um cidadão de terceira classe
que não faz mais
do que cumprir sua obrigação social
quando apóia e auxilia V. Sa.,
um cidadão de primeira,
a sustentar o alto padrão
de sua atividade produtiva
sem precisar puxar o breque
em razão de crises
e deslizes na economia!
Respeitosamente,
Fulano de Tal

segunda-feira, maio 29, 2006

Foi o bonde que se perdeu!

Você é percussionista precursor
da percussão sem tambor
que não precisa ser percussor
pra fazer a platéia percutir
em toda a extensão da emoção,
você é cantor precursor
do canto que encanta
quando você não canta
porque o encanto
é fazer fluir na idéia a canção,
e mais,
você é artista
e baluarte da encenação
que vai de encontro à arte
pra lhe dar um encontrão,
e abalar, e sacudir,
recontro pra partir o coração,
e parte,
e rolam cacos pelo chão e pela fala,
e com a fala vêm
gotas e mais gotas,
e o perdigoto não rega,
esbodega o broto,
garoto, garota,
donde,
se pode concluir,
não fui eu
que perdi o bonde,
foi o bonde que se perdeu!

Vou perder por aí o juízo

Vou perder por aí o juízo
que o juízo
me atirou na armadilha,
a loucura da vida séria,
ganhar dinheiro e pagar fatura,
e uma pilha pra pagar,
vida sem pilhéria e sem piada,
e dei guinada
do riso maneiro
pra cara emburrada
sem receio de ruga e carquilha,
fui qual cordeirinho
do recreio pra sala de aula
ligado no raio do boletim,
adeus!, pebolim, pelada,
gude e papagaio!,
adeus!, juventude!,
desisti da fuga no meio do caminho
e, sem escala,
voltei pra jaula apertada,
de dia, escritório,
de noite, lar doce lar,
fui do boteco pro consultório
pra levar sermão
e passei a sentir
um treco aqui e outro ali,
ou seja,
adquiri o velório à prestação
e a coroa à vista
que a patroa
meteu o arreio em mim,
e o broto fez a pista,
que broto não vinga
numa vida assim,
aí,
em vez de pinga, cerveja,
rabada e feijoada completa,
dieta
com canja e laranja-seleta,
em vez de show e madrugada,
reunião com a parentada,
em vez de orgia e desfrute,
amor caseiro
com posição e hora marcada,
cheiro e sabor de chuchu,
e nada de repeteco,
em vez do chute a gol que arrepia,
a apatia do tiro de meta,
agora,
avisa a seta quando viro
e entro pra direita ou pra esquerda,
e se divisa
a luz de freio perfeita
quando breco pra não sair do centro,
donde se deduz
que preciso
perder por aí esse juízo
enquanto não é plena a perda
e ainda dá
pra erguer algum caneco!,
se é que ainda dá?!

sexta-feira, maio 26, 2006

Esplêndido prazer!

Que esplêndido contorno
e entorno meu prazer
em torno do seu,
você me contorna
enquanto contorno você,
quanto prazer!,
prazer esplêndido,
que esplêndida montaria
você se torna,
que cavalgada esplêndida,
eu desmonto
e pronto você monta,
e a montada nos desvaria,
e não nos amendronta
nenhum vale,
não há monte
que a gente não escale,
não há ponte
que a gente não cruze,
não há fonte
que a gente não use,
em que a gente
não se molhe,
não há flor nem folha
que a gente
não desflore e desfolhe,
não há sabor
que não aflore,
que a gente
não adore consumir,
sentir todo o gosto,
não há fronteira
que nos tolha,
que a gente não afronte,
não há limite
que nos seja imposto,
nem maneira
que a gente evite
ou não explore,
prazer esplêndido,
esplêndido prazer!

quinta-feira, maio 25, 2006

De improviso

Moa,
meu irmão,
sua improvisação
foi muito boa,
mas,
mesmo de improviso
foi meu riso fuleiro,
riso de quem do pandeiro
tirou miado
e precisou jogar no veado
pra não ser apanhado
pelo dono do bichano,
um Fulano de Tal
torturante como ele só
e com muita prática
que serviço relevante já prestou
à medicina artesanal
dando nó nas tripas,
retirando glândula hepática
e metendo a ripa
em muita gente fina,
sem nem medir pressão arterial,
e fez tudo isso
lá mesmo no quintal
onde corria a batucada,
bem...
como tem medo quem tem
e já não é assim tão cedo...
lá vai uma talagada,
homeopatia,
pra me acalmar a nervosia!!!

terça-feira, maio 23, 2006

Sou batuqueiro

Sou batuqueiro
e batuqueiro só batuca
se puder batucar
o batuque inteiro
sem magoar
pandeiro e tamborim,
e não abro mão de ser assim,
pra mim,
se magoa,
é coisa de nada,
qualquer coisa à-toa,
o que você quiser,
mas não é batucada,
pode ser até batucação
que é coisa de quem
não tem o batuque no lugar,
coisa de quem
mete os pés pelas mãos
quando se mete com o tarol,
então,
cada um batuca o que bem quer,
um batuca e diz que é sol,
um sol que não esquenta,
outro inventa e dó diz que é,
e dá muito dó,
o mesmo dó que dá
quem vem de lá
e vem cheio de si,
batuca em fá
e diz que é batuque em mi,
e mais feio ainda é
quem vem de ré
e faz o batuque andar pra trás,
meu camarada,
essa coisa maluca
é qualquer coisa
ou coisa qualquer,
se quiser,
chame de batucação!,
mas,
de batucada
não chame não!

sexta-feira, maio 19, 2006

Que porcaria!

Quando a porca torce o rabo,
brabo fica o porco
ronca e mete bronca,
mas,
fica surda a porca
e manda o porco amolar o boi,
sacando que já foi
pro brejo a vaca,
aliás,
que foi pro brejo a porca,
chafurda na lama o porco
pra não criar fama de burro
nem dar com os eles n’água,
mas,
dá murro o porco
em ponta de faca
que a porca está cheia,
cheia de sérias mágoas,
então,
quando parece
não haver solução,
oferece o porco
mundos e fundos,
mais fundos que mundos,
cartão e conta sem limite,
e faz convite fascinante:
férias eternas
em Palma de Maiorca!,
é o bastante,
a porca se acalma e abre as pernas!

quinta-feira, maio 18, 2006

Reze!

Não esqueça:
na cabeça não bata
se não estiver certo
de que se trata de prego;
se puder virar rolo,
não dê nó cego
que é nó
que não se desata;
só fale em solar
se souber
que não se trata de bolo
e se não houver
mulher por perto,
se falar,
ela pode querer se casar;
desconfie de consolo
que pode haver dolo
e não ser colo nem ombro,
e você pode ficar acostumado;
não se fie só no desassombro
que de desassombrado
o cemitério está cheio,
e o receio às vezes é tão saudável;
seja sério,
mas,
não tanto a ponto
de ser bastante tonto
pra não juntar o útil ao agradável;
mesmo se parecer inconsútil,
procure tacha, emenda, costura,
afinal,
quem procura acha;
se renda se for mais barato
do que não se render;
tenha a sua versão,
mas,
saiba que pode não ser
a melhor versão do fato
e que revisão talvez caiba;
e sempre se preze,
mas,
não seja pernóstico
não banque o tal,
não despreze
nem lese os demais;
aliás,
seja ateu, agnóstico,
descrente em geral,
se quiser ter paz
pra seguir em frente,
faça como eu,
reze!,
que rezar mal nunca faz!

terça-feira, maio 16, 2006

Promessa é promessa

Cobrei fundo do Viriato
o fato que me prometeu,
eu sou assim
que sou de um fim de mundo
onde ninguém capa o mato
pra não pagar promessa,
onde de promessa ninguém escapa,
eu sou de uma plaga
onde quem de uma vez
a promessa não paga,
paga lapa a lapa,
mês a mês,
mas faz a paga,
sou de plaga
em que não se brinca
com promessa,
pois,
quem por bem não paga,
paga então no tapa,
e tem até gente
que no promitente a faca finca,
minha plaga fica distante à beça,
tão distante,
que nem sei se lá já chegou o mapa,
mas,
me ouça,
se um dia você chegar,
não faça promessa,
agora,
se promessa fizer,
não deixe de pagar
e pague na hora,
que sua linda mulher
inda é moça pra enviuvar!

sexta-feira, maio 12, 2006

"Juris tantum"

Você abusa da gala e da prosa
e mal-usa a seleção natural
quando fala do seu DNA,
segundo você,
não há nada tão especial,
conclusão:
posa de patrão do mundo
e não faz caso
da macacada do macacão;
mas que besteira!,
você está na mesma lida,
é empregado da vida
tal qual outro qualquer,
carteira assinada
por prazo indeterminado
e fundo de garantia,
mas,
o prazo acaba um dia
e sequer a garantia é nova,
a garantia
é o fundo da cova,
seja rasa ou não,
e essa constatação
arrasa a sua presunção
que não é juris et de jure,
mas juris tantum,
portanto,
pode ser rebatida,
desmentida e muito mais,
aliás,
saiba mais sobre as locuções,
procure as definições do Houaiss!

quinta-feira, maio 11, 2006

A simpatia saía às avessas

Sem saber que caía,
caí na conversa,
ele sabia fazer simpatia,
mas,
eu não sabia
que a simpatia
saía às avessas,
e não é história não,
comecei pedindo dinheiro
pra pagar o que devia,
ele fez simpatia pra vir grana,
o dinheiro não veio,
todavia,
veio promissória
e só não fui em cana
porque meti meu jamegão,
entretanto,
não desisti não,
voltei e pedi
pra fechar bom negócio
que estava quase fechado,
pois bem,
ele se pôs a fazer
simpatia de fechamento
e foi tão fundo
que o negócio deu errado
um segundo depois,
bem,
como sou insistente,
talvez louco,
e carecia de apartamento
um pouco maior,
fui em frente,
ele fez simpatia de melhor moradia,
então,
o maior não veio não,
perdi o menor que tinha
e tive aumento na prestação,
já ia jogar a toalha
quando lembrei da Amália,
minha vizinha,
ela estava a fim de casamento
e não saía de cima de mim,
aí,
muito esperto,
peguei da Amália
retrato e calcinha,
e corri atrás da falha,
pedi casório imediato
e ele tinha no repertório
bela simpatia,
que ironia...
a simpatia deu certo!,
casei com ela naquele dia!

quarta-feira, maio 10, 2006

Vesti a camisa

É...
vesti a camisa
que me deram o aviso
e quem avisa amigo é,
disseram
que era preciso vesti-la
pra evitar perigo
que não capta
minha popular pupila
pois não está apta a captar,
disseram
que era preciso vesti-la
pra não ter
que ficar na fila
à guisa de desempregado,
um nobre pobre-coitado
que não tem o que fazer,
o que comer,
o que vestir,
disseram
que era preciso vesti-la,
senão,
ia arranjar quizila
com os caras do bonze
e me inserir
em camisa de onze varas,
vesti a camisa
que me deram o aviso
e quem avisa amigo é,
e não sei
qual é o piso da classe,
não sei
se vou ter passe
ou se vou precisar
ir e vir a pé
pra melhorar a constituição,
não sei
se vou ter vale-refeição
ou se vou fazer regime,
não sei
em que posição vou jogar
caso me escale o treinador,
não sei
de que time a camisa é
nem se o time tem torcedor!
mas...
já vesti a camisa
que quem avisa...
sei lá?!

Varig, Varig, Varig!

Vôos por todos os céus,
por céus de todos,
céus sem distinção,
vôos de todas as gentes,
cores e raças
tão diferentemente iguais,
aliás,
irmãos voando lado a lado,
vôos oficiais de presidente,
vôos de gente como eu,
amadores simplesmente,
e benditos vôos de seleção:
é campeão!, é campeão!,
dê-me a taça:
tintim!,
Galeão,
bonitos vôos do meu peito
que você me deu asas,
asas que levo comigo,
asas que divido contigo agora,
hora de te tirar do hangar
pra alçar mais vôos,
que não vou ficar
sem esse seu jeito
brasileiramente amigo de voar!,
Varig, Varig, Varig!

terça-feira, maio 09, 2006

Já não se faz mais...

Quando dá bode
e o cabrito berra aqui,
dá pra ouvir
lá na Terra do Fogo,
quiçá em Camberra ou Serra Leoa,
como é que pode?!,
vamos abrir o jogo
numa boa?!,
já não se faz mais cabrito
como se fazia antigamente,
cabrito silente
que ia com o cabriteiro,
passava pela portaria
sem acordar o vigia,
fosse diurno ou noturno,
e sem ser visto pelo porteiro,
agora,
cabrito adora ser
um misto de cantor de rock
e de locutor de futebol,
deve ser um choque
pra um escroque
de alto gabarito
esse salto do cabrito
que degenerou do ancestral,
faz esporro, pede socorro,
e a deixa pista
em revista e em jornal,
mas,
o escroque atual é coisa nova,
já não liga pra nada,
não liga
nem pra prova divulgada!,
dá gargalhada e diz que não!,
é...
quer dizer,
mé...
já não se faz mais escroque
qual escroque da antiga
que tinha algum pudor,
dava algum valor à reputação!

segunda-feira, maio 08, 2006

Brado do gordinho

Abaixo a opressão da balança!
que me mantém
refém de um enlatado dietético,
me desfigura e me deprime
que me trata
com o peso da mão do estético,
a chibata de um teso regime totalitário,
que enrança
meu estado culinário de direito
e oprime a massa, a birita e o confeito;
abaixo a tirania da fita tétrica!,
por métrica passa
e intensa a ditadura da verdura
e rejeita democracia na gastronomia,
por isso,
reprime a liberdade de despensa
e de cozinha com censura às receitas,
na verdade,
espezinha doce, chouriço e fritura,
qual fosse crime saborear uma iguaria;
abaixo a fita métrica!,
abaixo a balança!,
e que venha a cerveja,
que venha o macarrão,
que nade em salgado o feijão!
abaixo a fita métrica!,
abaixo a balança!,
e que venha a cerveja,
que venha o macarrão,
que nade em salgado o feijão!

Suave e tenra ave

Suave e tenra ave
em movimento tão leve
que não consegue notar o ar,
suave e tenra ave
em movimento tão breve
que não o percebe o tempo,
e o tempo tudo circunscreve,
tenra ave,
nave naturalmente alada
que escreve delicada poesia
quando voa
o mais vadio vôo,
que o vôo mais à-toa
veste como uma luva
a canção da natureza,
chuva, sol, noite, dia,
frio, flor,
calor, folha no chão,
suave e tenra ave,
tenra e suave beleza,
nada mais há
que meu peito
tão suavemente acolha,
nada mais há
que com tanto jeito,
que tão tenramente
em minha emoção se crave!

Acorda!, meu bem

Acorda!,
meu bem,
vem ver a borda clara
desse dia lindo
que se escancara
e vai encobrindo
a surpresa madrugada,
acorda!,
meu bem,
vem ver a beleza da vida
que a vida está acordada,
que a vida é aqui e agora,
e não demora,
é rara e cara cada hora,
e contada volta a volta,
e o ponteiro não pára,
avoluma o ontem
sem piedade
e o ontem é bruma
e fonte de saudade,
vamos lá,
meu bem,
acorda!,
vem ver o inteiro carinho
da claridade do dia
persuadindo canto a canto
os cantos todos da cidade,
abrindo caminho
pra todo esse encanto
que se escondia
sob o manto da escuridão,
vem,
meu bem,
vem agora,
não demora não!

Quebra-cabeça

Por incrível que pareça,
somos adultos,
somos cultos até,
mas,
o amor inda é
um quebra-cabeça
que não sabemos compor,
de quebra,
damos atenção a zunzum,
baixamos o nível por intrigas
e trocamos insultos sem pudor,
fazemos confusão
por coisas fúteis
e brigamos brigas inúteis
que não levam a lugar nenhum,
só nos fazem perder
o respeito e a razão,
não sei
se já ando sujeito à alucinação
ou sonhando à beça
um sonho sem valor,
mas,
proponho uma solução:
que tal um manual
que ensine a amar,
a encaixar
cada peça do amor?!

sexta-feira, maio 05, 2006

Paguei o preço do prazer

A fome,
apetite farto,
a sede sem limite,
a dama sem nome
e a cama no quarto,
cela ambígua e diminuta
com parede retinta
que fazia jus
à luz amarela e exígua
do abajur de poucas velas,
e o glamour da puta
cansada da cinta apertada
e cheia de ser puta,
e a meia e a liga,
e a navalha entre elas,
navalha pronta pra briga,
pra quem achasse graça,
pra quem
não pagasse a conta,
fosse pinta ou fosse praça,
e a bebida farjuta,
no prato o queijo,
do mata-rato a fumaça fedida,
e deu finta a meretriz
que na boca não dava beijo,
de todas as sedes,
essa a puta não matava,
e saciou sem paixão e pudor
as outras sedes do aprendiz,
depois,
água de talha, toalha e sabão
pra lavar as migalhas
que ficaram à flor da pele,
reconheço que não foi poesia,
embora se revele agora
como poesia em mim,
é o que posso dizer,
foi assim meu começo,
paguei o preço do prazer.

quinta-feira, maio 04, 2006

Caitituando

Confesso pra quem quiser ouvir
que vou me caitituar
até conseguir
cem por cento de sucesso,
até que você me coloque
no primeiro lugar da sua parada,
mulher,
vai ser da pesada a caitituagem!,
pra que você me escute
o dia inteiro todo dia
e sem interlúdio nem intervalo,
até abuso da dosagem
e uso tratamento de choque,
pode acreditar,
mulher,
eu vou me caitituar
até que você me escute
onde quer que você esteja,
seja no embalo da rua,
seja nua no chuveiro
extasiada com o prelúdio
de uma ensaboada fantasia,
vou me caitituar
até que você me escute
dormindo, acordada,
chorando, sorrindo,
e vou em frente me caitituando
sem trégua, régua e compasso,
e só vou parar,
mulher,
quando você estiver
completamente caitituada
e me caitituando nos meus braços!

Me dá o meu boné!

Estou de saco cheio de andar pronto
e às tontas no meio de tanto conto,
já perdi a conta de quantos contos são,
é o conto da conta que vem
e o produto não vem não,
é o naco de nota de conto de réis
que o astuto põe na mão do otário
e o outro naco,
só se o sujeito for eleito,
são contos diários com e sem horário,
descontos que não descontam nada,
pontos que nada somam,
impostos que tomam
até o que você não tem
e os postos não funcionam
que não têm funcionários a postos,
é o conto da embalagem que fala em pitéu
e o que está embalado é murundu,
mistura de chuchu com fel,
é o conto da viagem especial e segura
com traslado até em trem-bala,
e você vai em trem de carga,
faz escala no deserto
e amarga hospedagem
em hotel a céu aberto
pra contar as estrelas que ele tem,
é o conto do remédio, da planta medicinal
que não cura o que deve,
é o conto do prédio mais leve que o ar
que da planta só sai em forma de gaivota
ou que cai quando fica pronto
que não se cumpriu a norma,
estou cheio de ser um Zé,
cheio de tanto conto e lorota,
me dá o meu boné!

quarta-feira, maio 03, 2006

Ave em ação (Questão ornitológica)

Era uma vez um pavão
que ia e vinha
e se pavoneava de montão,
mas,
tinha só uns tico-ticos
e, com tal quantia,
não ia ganhar a cara andorinha
que o enlouquecia
quando andorinhava pela cidade
balançando seu balaio,
então,
dispensou a vaidade
e voou um dia inteiro
à cata de dinheiro,
entretanto,
precisava de tanto
que acabou precisando
do velho papagaio!
(veja no Aurélio do que se trata),
mas,
teve um dissabor
e ficou uma arara
com um caminheiro
barbudinho, com bigodinho
e metido a assobiador,
mas não pôde dar um pio!,
que deu uma de águia o sombrio,
mostrou o pica-pau
e botou a andorinha no bagageiro,
e o pavão ficou na saudade,
todavia,
lendo um poema de um cisne
cheio de penas do pavão
e que o cisne fizera montado na ema,
ficou sabendo a andorinha
que tinha feito besteira,
que a vida bela prometida
era balela pura,
pois,
na verdade,
o caminheiro era feio
que nem corredeira,
mistura de carcará e avestruz,
aí,
gritou credo-em-cruz!
e voltou correndo,
mas encontrou o pavão
vivendo com uma galinha
que a andorinha conhecia
de outros Carnavais,
então,
jesus-meu-deus!,
foi uma confusão danada,
aliás,
um estrupício
pra ninguém botar defeito,
e nem o violeiro,
que merecia respeito
porque na função
era muito capaz,
deu jeito no salseiro,
e um pica-pau
que passava pelo local,
por dever de ofício,
meteu a passarada no viveiro!

Berlineta Interlagos

O que não consegui
com galanteios e afagos,
consegui por meio da mística
da Berlineta Interlagos,
amarrei aquela gracinha!,
Julieta,
a diva quase ficou louca
e eu nem conhecia
a sua faceta automotiva,
se preferir,
faceta automobilística,
mas,
a glória foi transitória e pouca,
pouco cantei vitória
e nem deu
pra chegar junto de fato,
que a Julieta
só com a Berlineta
queria contato e assunto,
e a Berlineta nem era minha,
era de um chapa
que ainda papa a Julieta,
pois é...
depois da inglória luta,
fiz a devolução
e a Julieta bateu pé
pra ir com a Berlineta!,
e não minto se disser
que fez uma puta questão!

The End!

Sou herói,
como sói ocorrer
nesse caso,
sei dizer
onde me dói o calo,
mas não falo,
pois,
como um herói que se preza,
e assim reza o credo
do nosso sindicato,
me arraso, me ralo
e não peço socorro,
me viro como posso,
não tiro o pé do sapato
nem o pé do mato arredo
quando o cachorro
dá no pé,
sou e faço qual faz o herói
e sei que até
dei um bom passo,
afinal,
comecei como bói,
mas,
o que mais rói e arde,
o que mói mais mesmo,
é não poder
comer o que engorda,
torresmo, macarrão, feijão,
é ter que suar, correr, pular corda,
senão samba
quem está na corda bamba,
enquanto isso,
a horda descaradamanete
o batente finta
bem na minha frente,
pinta e borda no ócio
sem nenhum pudor
e ainda festeja
o primeiro de maio
qual trabalhador festeiro,
dorme e acorda tarde,
bebe cerveja
e come paio e chouriço,
ainda bem,
e quem diria
que eu acabaria
falando isso,
ainda bem
que está chegando
a hora da aposentadoria
e vou poder
sair bem de fininho dessa roda,
desse negócio tão fora de moda,
e talvez seja até capaz
de trilhar caminhos
que me levem à glória
em histórias em quadrinhos,
o que também rende bem mais,
The End!

terça-feira, maio 02, 2006

Criou fama, deite-se na cama!

Sou praticamente uma flecha
quando disparo,
mas,
tem gente
que fala que sou lerdo,
sou leve
quanto deve ser
um bom peso-mosca,
mas,
tenho a pecha
de ser um baita fardo,
não guardo
o que ganho ou herdo,
gasto a gaita
e não temo ficar teso,
mas,
me acusam de ser
um avaro sem tamanho,
o saber não é raro
nem a cultura tão fosca,
tão tosca assim,
mas,
sempre ouço falar
que o preparo é chinfrim,
que não estou à altura
de ocupar o cargo,
não sou o mais bonito,
mas,
mesmo que me enfeite,
só falam que sou feio,
é... moço,
pode até ser amargo,
mas,
aceite o dito
que ele acertou em cheio:
criou fama, deite-se na cama!

segunda-feira, maio 01, 2006

Você o viu por aí?!

Ei!, psiu!,
você o viu por aí?!,
ouvi dizer
que anda a mais de mil
e bem mais que mil de nós,
que só sai,
só vai e volta
com escolta e polícia,
que manda e desmanda,
e não manda mais notícia,
que anda distante
e distante de bandas,
cirandas e rouxinóis,
sinistro, não?!,
você o viu por aí?!,
se o viu,
tem registro?!,
afinal,
viu ou não viu?!,
será que ele sumiu?!,
será séria
ou fictícia a matéria
que sai em tevê e jornal?!,
será só a versão oficial do fato?!,
será que ele
não admite mais emoção,
não permite mais
contato imediato de primeiro grau?!,
se você o viu,
viu certo?!,
chegou bem perto?!,
sentiu cheiro, sabor, emoção?!,
o calor de beijo e abraço?!,
deram um bordejo por aí,
dando a mão
e partilhando o passo?!,
ei!, psiu!,
você o viu por aí?!,
ou será
que ele nunca existiu?!,
será que são ilusões
as canções dele que escuto?!,
será tudo fruto da imaginação?!