sexta-feira, maio 05, 2006

Paguei o preço do prazer

A fome,
apetite farto,
a sede sem limite,
a dama sem nome
e a cama no quarto,
cela ambígua e diminuta
com parede retinta
que fazia jus
à luz amarela e exígua
do abajur de poucas velas,
e o glamour da puta
cansada da cinta apertada
e cheia de ser puta,
e a meia e a liga,
e a navalha entre elas,
navalha pronta pra briga,
pra quem achasse graça,
pra quem
não pagasse a conta,
fosse pinta ou fosse praça,
e a bebida farjuta,
no prato o queijo,
do mata-rato a fumaça fedida,
e deu finta a meretriz
que na boca não dava beijo,
de todas as sedes,
essa a puta não matava,
e saciou sem paixão e pudor
as outras sedes do aprendiz,
depois,
água de talha, toalha e sabão
pra lavar as migalhas
que ficaram à flor da pele,
reconheço que não foi poesia,
embora se revele agora
como poesia em mim,
é o que posso dizer,
foi assim meu começo,
paguei o preço do prazer.