quarta-feira, maio 31, 2006

Prezado Senhor Ladrão

Prezado Senhor Ladrão,
atire,
mas,
se vire pra mirar em mim
e errar o alvo,
assim,
o senhor cumprirá
seu relevante papel
e não mandará
um ser insigificante pro beleléu,
juro que não é
egoísmo mal disfarçado,
é patriotismo puro,
Senhor Ladrão,
que me preservar
é essencial
pra preservação do mercado,
caso eu escape são e salvo
do assalto presente,
o senhor vai poder ir em frente
que vai ter alguém
pra assaltar amanhã
na mesma hora e no mesmo local,
portanto,
não seja afoito,
nem me atrase também,
Senhor Ladrão,
já são quase oito da manhã,
se eu chegar atrasado,
nos põe na rua meu patrão,
por outro lado,
apesar de ser injusto
exigi-la do senhor
já que, na qualidade
de profissional neoliberal,
não pode incluí-la
no seu custo operacional,
soube que o Senhor
ainda não pagou
sua contribuição marginal,
por favor,
entenda
que minha assertiva
nada tem de pessoal,
mas,
se o senhor não contribuir,
não terá inscrição
nem carteira de Ladrão
e não poderei deduzir
no meu imposto de renda
minha colaboração em real,
cheque, jóia, auto, cartão e celular,
e o mais que o senhor
quiser pegar!,
aliás,
contribuição
que me enche de alegria
e de vaidade como cidadão,
posto que eu não passe
de um cidadão de terceira classe
que não faz mais
do que cumprir sua obrigação social
quando apóia e auxilia V. Sa.,
um cidadão de primeira,
a sustentar o alto padrão
de sua atividade produtiva
sem precisar puxar o breque
em razão de crises
e deslizes na economia!
Respeitosamente,
Fulano de Tal