segunda-feira, maio 29, 2006

Vou perder por aí o juízo

Vou perder por aí o juízo
que o juízo
me atirou na armadilha,
a loucura da vida séria,
ganhar dinheiro e pagar fatura,
e uma pilha pra pagar,
vida sem pilhéria e sem piada,
e dei guinada
do riso maneiro
pra cara emburrada
sem receio de ruga e carquilha,
fui qual cordeirinho
do recreio pra sala de aula
ligado no raio do boletim,
adeus!, pebolim, pelada,
gude e papagaio!,
adeus!, juventude!,
desisti da fuga no meio do caminho
e, sem escala,
voltei pra jaula apertada,
de dia, escritório,
de noite, lar doce lar,
fui do boteco pro consultório
pra levar sermão
e passei a sentir
um treco aqui e outro ali,
ou seja,
adquiri o velório à prestação
e a coroa à vista
que a patroa
meteu o arreio em mim,
e o broto fez a pista,
que broto não vinga
numa vida assim,
aí,
em vez de pinga, cerveja,
rabada e feijoada completa,
dieta
com canja e laranja-seleta,
em vez de show e madrugada,
reunião com a parentada,
em vez de orgia e desfrute,
amor caseiro
com posição e hora marcada,
cheiro e sabor de chuchu,
e nada de repeteco,
em vez do chute a gol que arrepia,
a apatia do tiro de meta,
agora,
avisa a seta quando viro
e entro pra direita ou pra esquerda,
e se divisa
a luz de freio perfeita
quando breco pra não sair do centro,
donde se deduz
que preciso
perder por aí esse juízo
enquanto não é plena a perda
e ainda dá
pra erguer algum caneco!,
se é que ainda dá?!