quarta-feira, julho 30, 2008

Moídos pelo mesmo moinho

Não somos heróis,
anti-heróis nem vilões,
mas,
não vamos ser desertores,
não vamos desistir de nós,
não vamos desistir
das maiores paixões
nem dos menores amores,
vamos lutar
no peito e na raça,
rebeldia após rebeldia,
e às claras,
dando as caras
e roubando a cena
com nosso escarcéu,
e abraçando e beijando
em plena grama da praça,
e vamos lutar
na calada da noite,
trama
levada a efeito
numa cama de hotel,
você sabe
que não somos
mocinhos nem bandidos,
por isso mesmo,
não se afoite
a se meter demais
em nosso caminho,
aliás,
se meter pra que
se somos iguais a você?!,
se somos moídos
pelo mesmo moinho?!

sexta-feira, julho 25, 2008

Que mal eu lhe fiz?

Você me diz
que está bem assim,
sem mim,
que é feliz e sorri,
que mal eu lhe fiz
se tentei
ser o seu ideal
e até o seu querubim?!,
com fé
rezei pro seu santo
e carreguei sua cruz,
a luz apaguei,
mas,
não dormi,
zelei por seu sono
e seu devaneios guardei,
do meu canto
deixei de ser dono
pra virar seu escravo
e satisfazer seus anseios,
falei de luxúria e sacanagem
pra que sua boca
não parecesse impura
e na minha pus
o travo da injúria
que você
não teve coragem de dizer,
e a amargura não foi pouca,
enlouqueci
pra que você
não enlouquecesse,
lhe dei conforto,
fui amante,
amigo, irmão,
porto e abrigo,
não descudei de você
nem por um instante
e não lhe disse um não
que sim
você sempre quis,
tentei ser seu ideal
e até seu querubim,
será que foi esse
o mal que eu lhe fiz?!

quarta-feira, julho 23, 2008

Pisando em ovos

Meu problemas
não são novos,
cara,
nem minha situação
é lá assim tão rara,
mas,
já não sei mais
o que fazer de mim,
ando pisando em ovos
que Moema
faz carga e não me larga,
me policia
o dia inteiro
e veta
exagero e estripulia,
mas,
estou cheio
de comer o trivial,
feijão com arroz
sem sal e sem tempero,
ando a fim
de pintar o sete
com clara e gema,
depois,
besuntar o croquete
ou botar recheio
e saborear um omelete,
mas,
pra dar
o grito de alforria,
“abaixo a dieta,
viva a sacanagem!”
tem que ter coragem,
palito e voz ativa,
enfim,
tem que ser macho,
e, cá entre nós,
não sou tão macho assim!

segunda-feira, julho 21, 2008

Conceição

Louco é pouco,
sou fanático por você,
Conceição,
em caso de mágoa,
se vingue,
por exemplo,
quebre aquele vaso raro
do templo sei-lá-qual-é,
ou me xingue,
dê esporro e reprimenda,
ou venda até
aquele meu panamá
que custou caro pra cachorro,
agora,
não me deixe na mão,
sem você,
fico triste,
mais apático
que peixe fora d’água,
fico sorumbático e me acanho
tal qual estranho no ninho,
sem você,
Conceição,
a existência se revela
um total descalabro,
e também a residência,
sou passarinho
nas pasmaceira da gaiola
e sem alpiste,
sem você,
não abro janela nem jornal,
não dou bola a rádio e tevê,
brigo comigo
por qualquer besteira
e digo não a convite
pra ir de graça ao estádio,
e nem cachaça
me abre o apetite,
e fico morno e bobão,
onde vou encontrar,
Conceição,
cozinheira
assim como você?!,
o que será de mim
sem você
mandando brasa
no forno e no fogão,
aqui da minha casa?!

Você não tem manequim

Se manque
e não banque a gostosa
pra cima de mim
que pra isso não há clima
nem você tem manequim,
além disso,
você é prosa
e eu sou poesia,
você é da manhã
e com suco
de maçã ou de seleta,
aspira ar de academia
e transpira
pela meta muscular,
e da dieta
não sai por nada,
eu sou da madrugada,
fã de boemia e botequim,
e maluco por birita,
torresmo,
bife com fritas
e feijoada completa,
você não faz meu tipo,
se veste
e reveste de grife,
é da moda, da lipo,
da poda e do silicone,
eu sou da palheta,
pra etiqueta não dou bola
e adoro mesmo sem rasura,
você é digital video disk,
eu sou vitrola
e ouço “Risque”
e “Pelo telefone”,
você
fica com um aqui,
fica com outro ali,
torço
pra que você e o moço
tomem precaução
e usem camisinha,
mas,
e acredite se quiser,
essa não é a minha,
não sou dessa mistura,
sou da paixão,
e só namoro mulher
de um homem só,
e não ficamos,
nos amamos
e nos amamos in natura!

sábado, julho 19, 2008

Só mais um minutinho

Chega de zona,
embalo e divertimento,
chega!,
sossegue o facho
que você agora
é senhora aqui do macho,
eu penso, acho e falo,
você cala e ouve,
e em outra fala
não se louve,
e se conforme
com regulamento e patente,
dona-de-casa,
e o uniforme não esqueça
na hora do batente,
tamanco, avental
e lenço branco na cabeça,
e o remova
somente na alcova
pra me esperar de baby-doll,
mas,
não mande brasa
enquanto eu não mandar,
e não adianta
fisionomia feia,
fossa, berreiro, rebeldia,
aqui nesse terreiro,
eu sou o tal,
o galo que canta,
almoça, janta e ceia,
espanta rival e desafeto,
debaixo desse teto,
canto
tanto de madrugada
ao chegar da boemia
quanto ao meio-dia
quando
me fatigo de sonhar,
e brigo e faço zorra
pra você saber
que mando na parada
e não ter coragem
de fofocar com a vizinha
e de botar bobagem na idéia,
porra!!!!!, Zé,
como é que é?!,
minha amada!,
só mais um minutinho,
já estou levando seu café
com geléia e pão quentinho!

quinta-feira, julho 17, 2008

Quando de través
olhei minha praça,
achei um freguês
que tinha bebido
um gole a mais
e estava dando mole,
aí,
superei os medos
no peito e na raça
e fiquei com seus anéis
e seus dedos deixei de lado
que ditado não desrespeito,
e fui meu herói mais uma vez,
aí,
como sói acontecer,
pra massa fui bandido,
“pega!”,
e como dói na hora
da vindita da massa,
aí,
embora
não seja mais criança,
peguei a correr rua acima
que cansa bem mais,
mas,
com “pega!” atrás,
ninguém pára
nem desanima,
e se extenua
o cara que grita,
aí,
fui em frente,
e já ia pra Niterói,
todavia,
não cruzei a Guanabara,
ao botar na barca o pé,
lembrei da mudança,
a gente não mora mais lá,
mora agora aqui
e atua nessa comarca,
aí,
subi com o butim
e voltei com o pó
pra mim e mais três
que somos um grude,
“um por todos,
todos por um”,
e vamos até
morrer juntos,
três defuntos
e mais um
num ataúde só!

sexta-feira, julho 11, 2008

Juro que vou à forra

Estou tão surpreso
de estar assim
que nem em mim
acredito mais,
aliás,
de tão aflito,
estou um horror!,
não estou medindo
esforço nem suor,
pior,
não estou ligando
pra montante
nem pra valor,
perdi o vezo de poupar
e dei de gastar sorrindo,
e paca e bastante
e a rodo e à beça,
e estou quase
ficando sem base,
e precisando de reforço
pra teso não ficar de todo,
me tornei um panaca,
e não sei
se vou sair ileso dessa,
mas,
não deixei
nem por um instante
de acalentar meu desforço,
ora essa, que fase!,
assim que te vi,
fiquei uma pilha,
aí,
por você,
cometi um crime:
virei a casaca na hora;
agora,
torço pelo time da família,
na lapela
pus a Cruz de Malta,
e como é bela!,
como salta!,
como brilha!,
e fico aceso
no dia do jogo
e a pressão fica alta,
é... paixão é fogo!,
o segundo encargo
foi perder peso,
puxa!,
uma ducha fria
que nem estava obeso,
mas,
fui fundo no regime,
passei
a beber café amargo
e a comer só
o que constava da pauta,
e deixei de ser franco
e acabei mentindo:
“não estou sentindo falta
nem de cerveja e goró!”;
em dia de branco,
levo ao bingo
sua titia materna e solteirona
que esbraveja e me humilha
que de materna
essa dona não tem nada,
e dessa safada
inda banco o vício,
e no afã
de bajular a irmã da sua tia,
vivo acendendo vela
e fazendo sacrifício e vigília,
e, no domingo,
madrugo,
mas,
me privo da pelada
e à igreja vou com ela,
em feriado prolongado,
faça chuva ou faça sol,
alugo carro,
pego a estrada
e vou a Tucunduva,
e vou como uma bala,
e sem escala,
e sua madrinha trago,
e pago tudo sozinho,
e vou e volto mudo,
atento à fala da dindinha,
na quarta,
marco mais um tento,
com seu sobrinho
vou ao futebol
que me amarro nele,
ele é um sarro...
é um esbarro aqui,
ali um cacete,
um chute acolá,
e sorvete, quitute, guaraná,
e o danado
se lambuza e farta
e ainda me acusa
de babaca e mão-de-vaca,
e por aí não finda não,
com seu pai escuto fado
noite após noite
e sem pausa nem fim,
e ai de mim
se deixar furo,
se precisar de ar puro
por causa do charuto,
seu irmão
é useiro e vezeiro
em pegar meu dinheiro
e nunca me paga,
e você nem liga,
e ainda me obriga
a ficar de bom humor,
sua cunhada é uma praga
na partida de buraco
e você amarela
quando olha pra ela,
e se molha e se borra,
e a batida não vê,
e dá o curingão
de mão beijada,
e ela bate, late
e torra o meu saco,
é duro tanto dissabor,
mulher,
mas,
quando eu puser
a mão no seu amor,
juro que vou à forra!,
e lhe dou uma dica,
vai ser berro,
ferro a carvão,
tanque, forno e fogão!,
de adorno,
escovão e espanador,
e da fubica
você vai ser
motor de arranque!

quinta-feira, julho 10, 2008

Adeus!

Você é louca,
mulher,
e sua loucura
é mais louca
do que eu supunha,
quando se assanha,
aventura não repudia,
pega à unha o que vier,
e abocanha,
e se entrega com tudo,
sem um pingo de pudor,
sem escudo nem retaguarda,
e não guarda
dia santo nem domingo,
e o delírio é tanto
que você se despenca
atrás de qualquer flor,
não diferença lírio de avenca
nem pensa nos seus
quando está despencando,
você é louca,
louca demais,
e de dentro pra fora,
e de fora pra dentro,
e não vou mais
ser sua escora,
adeus!

sexta-feira, julho 04, 2008

E o ensaio não finda

Você ensaia tanto
e quanto mais ensaia,
mais se apega,
se entrega
e se lança ao ensaio,
e não cansa nem sossega,
e o ensaio não finda,
quando pergunto
por que a estréia não vem,
com desdém,
você alega
que é cedo ainda,
e me preocupo
pensando no assunto,
e acho
que faço uma idéia
do porquê verdadeiro,
medo do fracasso,
da queixa da platéia,
o apupo e a vaia,
um medo ingente
que assusta, amola
e lastima muita gente,
e de saia justa
deixa muito macho,
mas,
andando
em cima da bola
fora do picadeiro
ensaio após ensaio,
você
está marcando passo,
se iludindo
hora após hora
e perdendo tempo
sem ter
tempo a perder,
e maio
já está indo embora!